Sunday, February 20, 2011




Presente de grego de Fidel

Pedro J. Bondaczuk

O presidente cubano, Fidel Castro, com muita astúcia, aproveitou-se de um incidente, ocorrido em 1980, para livrar-se de milhares de cidadãos indesejáveis, na maioria irrecuperáveis para o convívio social. Quem caiu nesse monumental conto do vigário na ocasião foi o governo do então presidente norte-americano Jimmy Carter, ávido por somar uns pontinhos a mais em sua guerra ideológica contra o caudilho marxista da ilha do Caribe.
Tudo começou em 6 de abril daquele ano, na embaixada do Peru, em Havana. Dez mil cidadãos de Cuba, descontentes com o que acontecia em sua pátria, ocuparam o jardim da missão diplomática peruana numa questão de horas. A polícia de Fidel não poderia entrar no local para expulsar a pancadas e trambolhões tantos desertores, sob pena de um sério incidente internacional.
Foi quando Carter entrou na jogada. Fez um desafio ao dirigente cubano para que permitisse que todos os cubanos que desejassem deixar o país o fizessem sem restrições. Garantiu que os acolheria nos Estados Unidos. Para surpresa de todos, Castro aceitou o jogo. Mas encontrou um jeito de tornar as cartas favoráveis para ele. Ou melhor, resolveu trapacear.
Entre abril e maio de 1980, o porto de Mariel transformou-se num verdadeiro formigueiro. Dezenas de milhares de pessoas, utilizando tudo o que flutuasse e que lembrasse, mesmo que remotamente, um barco, se dirigiram para lá com seus parcos pertences pessoais.
O líder marxista, porém, subrepticiamente, como quem não quer nada, começou a infiltrar entre os “marielitos” (como os emigrantes passaram a ser conhecidos) elementos incorrigíveis, que qualquer governo gostaria de se livrar.
Prostitutas, gigolôs, rufiões, ladrões, doentes mentais e toda a escória que havia em Cuba foi infiltrada entre os peregrinos, que buscavam a sua nova terra da promissão. São estes que agora estão se amotinando nas prisões norte-americanas, onde tiveram que ser “guardados”, depois do monumental presente de grego de Fidel.
Cuba, por uma questão até de decência, resolveu aceitá-los de volta, num acordo recentemente sacramentado com os Estados Unidos. Eles, contudo, não desejam voltar. Sabem o que os espera em Havana. Perto do que Castro deve estar lhes preparando, as prisões norte-americanas são, com toda a certeza, um verdadeiro paraíso. E esclareça-se que nem todos os marginais vão regressar.
A boa vontade súbita do governo da ilha nem iria tão longe assim. Para que haja tamanho desespero entre os prisioneiros, dá para se imaginar a recepção que os aguarda em sua pátria que, afinal de contas, nunca os desejou por perto.
Por que seres humanos chegam a este ponto, de forma a se tornarem venenos onde quer que possam ir? Está aí uma boa questão para os sociólogos, antropólogos e juristas de plantão refletirem.

(Artigo publicado na página 14, Internacional, do Correio Popular, em 24 de novembro de 1987)


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