Monday, February 14, 2011




Preservação do “nome”

Pedro J. Bondaczuk

Há pessoas pobres, paupérrimas, com remotíssimas chances de melhorar a condição econômica e, por conseqüência, a social (algumas, virtualmente, não têm nenhuma), que apregoam que o único e valioso patrimônio que possuem é seu “nome”. Querem referir-se, com isso, ao prestígio de honestidade que gozam e que lhes causa orgulho e satisfação, o que é saudável e louvável. Abominam a fama de “caloteiras” que possam, eventualmente, num deslize movido pela necessidade, vir a ostentar. Desdobram-se para que isso jamais lhes aconteça. Não raro, circunstâncias adversas levam esses indivíduos a terem, lá um belo dia, seu comportamento, enquanto consumidores, posto em xeque. Acabam envolvidos em tramóias alheias, de espertalhões desalmados, e vêem manchada (pelo menos na sua concepção) a única coisa que têm de tão preciosa, o tal do “nome”, sem que consigam evitar, por mais que se esforcem.
Nunca entendi determinada legislação, tida e havida como justa e benigna que, no entanto, a mínima lógica comprova ser daninha e má. Uma delas é a que trata sobre a questão dos juros. Há um piso oficial para eles, mas não um teto. E se este existe, é desavergonhadamente desrespeitado. O mais ingênuo dos ingênuos, o mais desinformado dos desinformados (quem sabe até as pedras de um caminho), sabem dos abusos que se cometem nessa questão.
Da minha parte, evito comprar o que quer que seja a prazo, já que, quem o faz, sem se aperceber, adquire “um” produto e paga, não raro, dois (ou até mais), com os tais dos juros embutidos nos preços. Quem se vê em dificuldades para saldar tal compromisso é que é enxovalhado, tratado como infrator e coisas e tais. Tem, por conseguinte, seu “nome” maculado. Já quem cobra preço abusivo é visto como “vítima” nessas circunstâncias. Recorre a todos os meios possíveis e imagináveis de todas as i9nstâncias existentes para a sua proteção para coagir o devedor. E não reluta um único instante em abalar sua reputação. É o que menos lhe importa.
Já vi comerciantes protestarem dívidas em atraso de menos de R$ 50,00. O devedor fica inscrito na relação dos “maus pagadores” dos serviços de proteção ao crédito da vida e inúmeras portas se lhes fecham por causa dessas pendências, sem que seja levada em conta uma única atenuante. Tudo é contra ele. Juntam-se infinitas agravantes para complicá-lo.
Pior é que esses credores agem com olímpica arrogância, com inominável prepotência, como se fossem donos do mundo. E, em certa medida, de fato são. Sequer propõem qualquer acordo ou negociação ao aflito devedor. Vão logo protestando o infeliz em atraso e a seguir executando o título de crédito (via de regra abusivo e injusto) que têm em seu poder. Têm a seu favor leis iníquas, perversas, estúpidas, votadas, aprovadas e sancionadas por políticos que “elegeram” com seu dinheiro e que, convenhamos, não são nenhum primor de honestidade. A injustiça dessa legislação, embora evidente e gritante, não é publicamente questionada. E muita, muitíssima gente perde seu mais precioso patrimônio (reitero, em alguns casos, o único) por picuinhas. Faço essas observações, quero deixar claro, apenas em nome da lógica, já que não devo um tostão furado a nenhum desses avarentos, a esses doentes que se apegam tanto ao dinheiro como se este lhes fosse garantir a imortalidade. Não garante (felizmente), é claro.
Quanto à questão dos nomes, há outro aspecto, que não este, que me chama a atenção. Vocês já notaram como eles, em geral, se casam com as pessoas que os têm? Claro que quando os pais os dão, não têm noção de que isso virá a ocorrer. Escolhem-nos ao acaso, aleatoriamente, baseados em suas fantasias, e os registram ou para homenagear (parentes ou santos da sua devoção), ou para manifestar apreço por ídolos da música popular ou do esporte, ou porque leram em algum livro e gostaram da sonoridade. Quase nunca pensam em significados. Todos, porém, os têm.
Os nomes mais sonoros e pomposos, não raro, significam coisas corriqueiras, banais, triviais. O meu, por exemplo, quer dizer somente “pedra”. Querem coisa mais comum do que essa? No entanto... quantos Pedros famosos desfilam história afora! Para denominar pessoas, são usados, desde que os primeiros espécimes da nossa espécie surgiram sobre a Terra, vários elementos da natureza, como bichos, árvores, frutas, acidentes geográficos, o mar, o sol, a lua e vai por aí afora. E isso nos mais de 20 mil idiomas e dialetos que há no mundo.
Claro que há pais que levam a fantasia longe demais e dão nomes exóticos, quando não ridículos e malucos, aos seus rebentos. Com isso, submetem-nos, anos depois, a vexames de toda a sorte, por causa, em geral, de um impulso momentâneo, embora não seja essa, claro, a intenção. As autoridades deveriam vetar essa atitude tola e impedir que determinados nomes, nitidamente ridículos, fossem dados a recém-nascidos, livrando-os, por conseguinte, de futuros e desnecessários constrangimentos e chateações. Não o fazem. Por que? Sabe-se lá.
Muita gente, por seu turno, é mais conhecida por apelidos – que recebe na escola, no trabalho, no clube ou seja onde for – do que da forma como foi registrada em cartório. Quando não são ofensivos, estes demonstram afeição e intimidade por parte dos que os impõem. Não raro, contudo, a intenção é mesmo a de constranger, quando não de ofender e, acima de tudo, humilhar, o apelidado, tornando-o motivo de riso e zombaria dos basbaques. E quanto mais este se rebela, mais o apelido pega.
Se, porém, uma pessoa é mais conhecida por um apelido, do que pelo nome, é porque, em geral, este é inadequado. Não condiz com a personalidade e o jeito de ser e de se comportar do nomeado. John Steinbeck escreveu, a respeito, no romance “A Leste do Éden”: “Os nomes são um grande mistério. Jamais pude saber se o nome é moldado pela criança ou se a criança muda para se ajustar ao nome. Mas uma coisa se pode ter certeza: sempre que um ser humano tem um apelido, é prova de que o nome que lhe deram estava errado”. Será? Por hoje, fico por aqui. Voltarei oportunamente ao tema, que não deixa de ser fascinante, posto que absolutamente dispensável e inútil.

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