Sunday, February 06, 2011




Mais do que líder regional, um vencedor

Pedro J. Bondaczuk

A América Latina em geral, e a Central, em particular, estão bastante orgulhosas com a concessão, ontem, do Prêmio Nobel da Paz ao presidente da Costa Rica, um jovem político de 48 anos, chamado Oscar Arias Sanchez. É verdade que a premiação causou surpresa em vários círculos, já que os três favoritos eram o argentino Raul Alfonsin, a filipina Corazón Aquino e a Organização Mundial de Saúde, entidade da ONU que desenvolve uma verdadeira cruzada contra a Aids no mundo.

Mas ninguém, por maior má vontade que possa ter, pode dizer que não houve justiça na atribuição dessa honraria. Ela foi, sobretudo, coerente. Afinal, premiou alguém que trava uma batalha (vista por muitos como "quixotesca") pelo estabelecimento da paz numa região miserável e atormentada, que nunca soube o que era isso.

Em 24 de setembro passado, nós comentamos, neste mesmo espaço, que a América Latina estava vivendo um raro período de surgimento de novos estadistas. De líderes autênticos, de cabeça limpa, que não estão intoxicados de "ideologismos", que apenas fanatizam povos e os conduzem a dolorosas aventuras. E entre estes, destacamos a figura de Oscar Arias. É difícil dizer qual é o principal mérito do presidente da Costa Rica. Para nós, no entanto, é a sua determinação. A paixão com que defende aquilo em que acredita. É a sua crença nos homens e nos destinos de seu pobre e sofrido continente.

Foi impressionante a paixão com que defendeu, desde o princípio, o seu plano de paz para a América Central, desde o início do ano, quando ele era desacreditado e até ridicularizado. Quando ganhava apenas menções em pé de página nos noticiários e na maior parte das vezes, nem isso.

Mas vagarosamente, com extrema paciência, o mandatário foi tecendo a sua rede de compromissos. Dialogou com todos os que era preciso; cedeu no que foi possível dentro dos limites da prudência; convenceu os recalcitrantes e viu finalmente coroado de êxito seu esforço, em 7 de agosto passado, quando com quatro de seus colegas centro-americanos, firmou o histórico acordo.

Mas Arias, embora um apaixonado pela sua causa, não é um visionário. Sempre mostrou ser pragmático e ter os pés bem plantados no chão da realidade. Ele sabia que o pacto assinado na Guatemala era somente um começo de uma caminhada e não o fim dela. Iniciou, então, uma série de contatos.

Foi aos Estados Unidos tentar convencer o presidente Ronald Reagan a não interferir. Moveu céus e terra, falou com políticos, convenceu radicais. Mesmo tendo na superpotência do Norte seu principal sustentáculo, chegou a se indispor com a Casa Branca. Hoje, ele não é mais um mero dirigente da pequena Costa Rica. Nem somente um líder regional de respeito. É, com toda a justiça, uma personalidade mundial do nosso tempo. Oscar Arias Sanchez é, sobretudo, um vencedor!

(Artigo publicado no Correio Popular em 14 de outubro de 1987).

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