Palavra que é um paradoxo
Pedro J. Bondaczuk
O que o futuro nos reserva? Esta é uma pergunta que fazemos a nós mesmos, e aos outros, a todo o momento, sem que encontremos uma resposta convincente, lógica ou pelo menos razoável. Há alguém que possa responder essa questão com 100% de acerto? Obviamente que não! E com 90%? Também não! E com 50%? Idem! E com 10%? Ainda não! E com 1%? Talvez, mas a probabilidade de errar ainda é altíssima. Exagero meu? Longe disso! Raciocinem comigo.
Como vocês podem dar a mínima garantia, a que mais se aproxime da exatidão, sobre o que ainda não aconteceu e que não há a mais remota certeza que acontecerá? “Bem, pode-se prever isso, e com alguma chance de acerto”, dirá o leitor. Se pode mesmo? A própria palavra “previsão” é um tremendo paradoxo, imensa contradição. Significa, em sentido lato, “ver previamente”. Ou seja, enxergar o que ainda não aconteceu e que, portanto, não existe. Se não existe... não podemos ver. Podemos, somente, imaginar. Não há, por conseguinte, nenhuma previsão de fato. Ninguém vê o abstrato, o imaginário, o que não existe, concordam? O que há é imaginação, adivinhação ou seja lá o que for.
A previsão, portanto, não é campo de atuação para jornalistas, que lidam com fatos. Há, é verdade, os que se arriscam a prever acontecimentos. Praticam, por conseguinte, o antijornalismo. O que não aconteceu ainda, obviamente, não é notícia, matéria-prima da sua atividade. A previsão, todavia, é campo fértil para nós, escritores, sobretudo para os que lidam com ficção. Nós, sim, podemos “prever” o que quisermos, pois não temos compromisso algum com a “verdade” e nem com a “realidade”. Buscamos, ao urdir nossas histórias, a verossimilhança. Esta, todavia, sequer é fundamental em nossa atividade. É desejável, porém não indispensável.
Essa questão do futuro, ou seja, do segundo seguinte ao que estamos vivendo, sempre foi, é e será um tema fascinante para reflexões. Por exemplo, esse tempo que ainda não chegou é sempre projetado por nós, em nossa mente, como potencialmente melhor do que o presente. Essas projeções, porém, são ditadas, apenas, por nossos desejos e pela fantasia. Raramente se baseiam em fatos e sequer levamos em conta os imprevistos.
Não se trata de ser pessimista, mas baseados na pura lógica, se pode afirmar que o futuro, pelo menos o mais remoto (não o imediato), caso venha a existir para nós (podemos, óbvio, morrer antes) sempre tende a ser pior do que o presente. Por que? Porque nele há imensa probabilidade de perdermos entes que amamos, de pagarmos duro preço pelas oportunidades que desperdiçarmos, de termos que conviver com frustrações e decepções que acumularmos e da certeza de que envelheceremos, nossas forças e entusiasmo declinarão, o mundo estará mais povoado e, por isso, mais poluído, depredado e tenso e os problemas pessoais e sociais haverão de se multiplicar. E, sobretudo, nele estará o nosso fim. É preciso mais argumento?
A mera preocupação com esse tal futuro, sem prévia ação, no sentido de “construí-lo” (reitero, ele é, antes de tudo, abstração, pois concretamente “ainda” não existe) achando que as coisas irão se concretizar por si sós, à nossa revelia, é uma estupidez sem tamanho. Se quisermos que nossos projetos se concretizem (e isso se os tivermos) temos que agir nesse sentido. E jamais teremos certeza de sucesso. Precisamos estudar, trabalhar e nos preparar com método, organização e aplicação, dia a dia, anos a fio para termos alguma chance, posto que remota. Ainda assim, não há segurança nenhuma de êxito (nunca há e para ninguém).
Reitero o que já escrevi inúmeras vezes: não temos sequer certeza de que amanheceremos vivos amanhã, quanto mais sobre os resultados dos nossos esforços num remoto e nebuloso futuro. Como “prever”, ou seja, como “ver previamente”, com antecedência não importa se de segundos ou décadas, isso que ainda não aconteceu, e acertar? Caso venhamos a nos preparar adequadamente, se aprendermos todo o conhecimento a que tivermos acesso, nossas possibilidades de sucesso “talvez” cresçam, e exponencialmente. O êxito será, pelo menos potencialmente (mas talvez minimamente), viável.
Mas não há quem não se ocupe, de uma forma ou outra, com o futuro. Essa preocupação, desde que moderada, é saudável e desejável. Contudo, é preciso ter em mente, reitero e insisto na reiteração, que o futuro não passa de abstração, de mero potencial, de simples vir-a-ser. Pode se concretizar rapidamente, transformando-se, em infinitésimos de segundo, no presente, como pode nunca acontecer, em decorrência da nossa mortalidade.
Sua matéria-prima, portanto, são os sonhos, as esperanças, as projeções da mente e da imaginação. A realidade é o momento presente, tão curtíssimo, mais rápido do que um piscar de olhos, e o passado, caudaloso e extenso. Morris West destaca, no romance “O Navegante”: “Vive-se um minuto depois do outro, vive-se uma hora, vive-se um dia. O futuro é o que se sonha. A realidade é o momento presente apenas, cada batida do coração”. Sonhemos, intensa e profusamente. Mas nos preparemos para quando, ou se, o futuro se fizer presente.
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
Pedro J. Bondaczuk
O que o futuro nos reserva? Esta é uma pergunta que fazemos a nós mesmos, e aos outros, a todo o momento, sem que encontremos uma resposta convincente, lógica ou pelo menos razoável. Há alguém que possa responder essa questão com 100% de acerto? Obviamente que não! E com 90%? Também não! E com 50%? Idem! E com 10%? Ainda não! E com 1%? Talvez, mas a probabilidade de errar ainda é altíssima. Exagero meu? Longe disso! Raciocinem comigo.
Como vocês podem dar a mínima garantia, a que mais se aproxime da exatidão, sobre o que ainda não aconteceu e que não há a mais remota certeza que acontecerá? “Bem, pode-se prever isso, e com alguma chance de acerto”, dirá o leitor. Se pode mesmo? A própria palavra “previsão” é um tremendo paradoxo, imensa contradição. Significa, em sentido lato, “ver previamente”. Ou seja, enxergar o que ainda não aconteceu e que, portanto, não existe. Se não existe... não podemos ver. Podemos, somente, imaginar. Não há, por conseguinte, nenhuma previsão de fato. Ninguém vê o abstrato, o imaginário, o que não existe, concordam? O que há é imaginação, adivinhação ou seja lá o que for.
A previsão, portanto, não é campo de atuação para jornalistas, que lidam com fatos. Há, é verdade, os que se arriscam a prever acontecimentos. Praticam, por conseguinte, o antijornalismo. O que não aconteceu ainda, obviamente, não é notícia, matéria-prima da sua atividade. A previsão, todavia, é campo fértil para nós, escritores, sobretudo para os que lidam com ficção. Nós, sim, podemos “prever” o que quisermos, pois não temos compromisso algum com a “verdade” e nem com a “realidade”. Buscamos, ao urdir nossas histórias, a verossimilhança. Esta, todavia, sequer é fundamental em nossa atividade. É desejável, porém não indispensável.
Essa questão do futuro, ou seja, do segundo seguinte ao que estamos vivendo, sempre foi, é e será um tema fascinante para reflexões. Por exemplo, esse tempo que ainda não chegou é sempre projetado por nós, em nossa mente, como potencialmente melhor do que o presente. Essas projeções, porém, são ditadas, apenas, por nossos desejos e pela fantasia. Raramente se baseiam em fatos e sequer levamos em conta os imprevistos.
Não se trata de ser pessimista, mas baseados na pura lógica, se pode afirmar que o futuro, pelo menos o mais remoto (não o imediato), caso venha a existir para nós (podemos, óbvio, morrer antes) sempre tende a ser pior do que o presente. Por que? Porque nele há imensa probabilidade de perdermos entes que amamos, de pagarmos duro preço pelas oportunidades que desperdiçarmos, de termos que conviver com frustrações e decepções que acumularmos e da certeza de que envelheceremos, nossas forças e entusiasmo declinarão, o mundo estará mais povoado e, por isso, mais poluído, depredado e tenso e os problemas pessoais e sociais haverão de se multiplicar. E, sobretudo, nele estará o nosso fim. É preciso mais argumento?
A mera preocupação com esse tal futuro, sem prévia ação, no sentido de “construí-lo” (reitero, ele é, antes de tudo, abstração, pois concretamente “ainda” não existe) achando que as coisas irão se concretizar por si sós, à nossa revelia, é uma estupidez sem tamanho. Se quisermos que nossos projetos se concretizem (e isso se os tivermos) temos que agir nesse sentido. E jamais teremos certeza de sucesso. Precisamos estudar, trabalhar e nos preparar com método, organização e aplicação, dia a dia, anos a fio para termos alguma chance, posto que remota. Ainda assim, não há segurança nenhuma de êxito (nunca há e para ninguém).
Reitero o que já escrevi inúmeras vezes: não temos sequer certeza de que amanheceremos vivos amanhã, quanto mais sobre os resultados dos nossos esforços num remoto e nebuloso futuro. Como “prever”, ou seja, como “ver previamente”, com antecedência não importa se de segundos ou décadas, isso que ainda não aconteceu, e acertar? Caso venhamos a nos preparar adequadamente, se aprendermos todo o conhecimento a que tivermos acesso, nossas possibilidades de sucesso “talvez” cresçam, e exponencialmente. O êxito será, pelo menos potencialmente (mas talvez minimamente), viável.
Mas não há quem não se ocupe, de uma forma ou outra, com o futuro. Essa preocupação, desde que moderada, é saudável e desejável. Contudo, é preciso ter em mente, reitero e insisto na reiteração, que o futuro não passa de abstração, de mero potencial, de simples vir-a-ser. Pode se concretizar rapidamente, transformando-se, em infinitésimos de segundo, no presente, como pode nunca acontecer, em decorrência da nossa mortalidade.
Sua matéria-prima, portanto, são os sonhos, as esperanças, as projeções da mente e da imaginação. A realidade é o momento presente, tão curtíssimo, mais rápido do que um piscar de olhos, e o passado, caudaloso e extenso. Morris West destaca, no romance “O Navegante”: “Vive-se um minuto depois do outro, vive-se uma hora, vive-se um dia. O futuro é o que se sonha. A realidade é o momento presente apenas, cada batida do coração”. Sonhemos, intensa e profusamente. Mas nos preparemos para quando, ou se, o futuro se fizer presente.
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