Síntese e sugestão
Pedro J. Bondaczuk
Há escritores que têm o raro talento de, em pouquíssimas palavras, elaborar textos criativos, inteligentes e completos, posto que curtos. São exímios “sugestionadores” e conseguem transformar os leitores, se não em parceiros de criação, pelo menos em cúmplices das teses que expõem.
Fique claro, porém, que não há nada de errado com quem escreve textos extensos, livros com vários volumes, às vezes com 5 mil páginas ou mais. Claro, desde que o assunto abordado assim o exija e que não haja palavras supérfluas, não seja repetitivo e que, sobretudo, exista sólido e extenso conteúdo no que escreveu. Ou seja, que não se trate de mera “enrolação”. Como leitor compulsivo, prefiro este tipo de escrita, que “vale o quanto pesa”.
Todavia, quem conta com capacidade de síntese, diz mais coisas, em menor espaço. Pode nem ser tão didático (e não é) quanto quem escreve textos bastante longos, mas leva a vantagem da variedade e do talento de sugestionar o leitor. Ou seja, seus livros nunca são “samba de uma nota só” e não comportam uma única interpretação, mas tantas quantas forem seus leitores. Tratam, por exemplo, de dezenas de assuntos, num único volume, ao passo que, quem não conta com essa capacidade de síntese, precisaria de uma dezena ou mais deles para dizer as mesmas coisas.
Já tive a oportunidade de editar contos curtíssimos, de escassos dois parágrafos, e que ainda assim foram completos, com começo, meio e fim. Ou seja, coerentes, instigantes e verossímeis. Quem achar que é fácil escrever desta maneira que o tente, para ver que as coisas não são o que parecem. É difícil! Dificílimo! Para a maioria dos escritores, é até impossível.
Claro que o valor de qualquer obra literária não está em sua extensão. Há muito texto capenga, sem rumo, direção ou sentido, composto de poucas palavras. São tão ruins, que nem dá para considerá-los “Literatura”. Como também há produções extensíssimas, que requerem tempo imenso para serem lidas, sumamente atrativas.
Há livros “massudos” que o leitor até reluta em tirar da estante e muito menos em abrir. Mas... quando começa a leitura, não quer mais parar, tamanha é a capacidade do autor de torná-lo “cúmplice”. O que conta, de fato, em Literatura, portanto, é sempre o conteúdo (está implícito que a forma seja rigorosamente correta, clara e lúcida). Todavia, que a capacidade de síntese, de um escritor talentoso e criativo, é uma arma a mais para seu sucesso, disso não resta a menor dúvida.
A Literatura é muito mais sugestão do que descrição. Quanto maior for a perícia de um escritor em despertar (e mexer com) a imaginação dos seus leitores, maior será seu potencial de prender sua atenção e torná-lo cúmplice da sua criação. Jorge Luís Borges afirmou, anos atrás, que nós, literatos, não criamos os contos e romances que nos são atribuídos. Limitamo-nos a “sugerir” as histórias, que são, na verdade, completadas ao gosto de cada um pelos que as lêem.
Sobre a poesia, nem é necessário ressaltar o quanto tem de sugestão. É um tipo de texto feito a caráter para a emoção e a imaginação, muito mais do que ao mero raciocínio. Abundam metáforas de toda a sorte que nos fazem viajar e adaptar as palavras escritas ao nosso gosto e à nossa realidade pessoal.
Em contos, novelas, romances e peças de teatro, por sua vez, não descrevemos os personagens de sorte a torná-los “reais”, de carne e osso. Para tanto, seria necessária uma fotografia, já que uma única imagem vale por mil palavras. Limitamo-nos a descrever características gerais deles, ou seja, se são gordos ou magros, altos ou baixos, maltrapilhos ou bem-vestidos etc.etc.etc. Cada leitor complementa a imagem que faz do sujeito que pretendíamos descrever à sua maneira. O mesmo vale em relação a cenários.
Por mais que descrevamos determinada casa, por sua vez, quem lê nosso texto interpreta nossa descrição (por mais perfeita e detalhada que seja) de uma forma pessoal, nunca igual à que imaginamos. Limitamo-nos a descrevê-la em linhas gerais, determinando se ela se localiza em uma favela e não passa de um barraco mambembe, se fica em um bairro de classe média e tem relativo conforto, posto que não tenha luxo ou se é alguma mansão, com todos os requintes que o dinheiro pode comprar.
Nunca, por exemplo, um romance, ao ser adaptado para o cinema, tem os “mesmos” personagens e cenários que o escritor criou, embora, não raro, sejam até melhores do que os da sua imaginação. É provável, por exemplo, que a heroína de algum dos meus contos, embora bela mulher, esteja infinitamente distante da beleza de uma Júlia Roberts (como, também, pode ser muitíssimo mais bonita) Ou que o sujeito cuja história estou narrando não tenha a mais remota semelhança com Tom Cruise.
Daí ser altamente desejável ao escritor que desenvolva sua capacidade de sugestão, mediante uma linguagem coloquial e amigável, que faça do “parceiro” da sua obra, o leitor, seu grande e competente cúmplice e não o afugente com cansativas e, em geral inócuas descrições.
Pedro J. Bondaczuk
Há escritores que têm o raro talento de, em pouquíssimas palavras, elaborar textos criativos, inteligentes e completos, posto que curtos. São exímios “sugestionadores” e conseguem transformar os leitores, se não em parceiros de criação, pelo menos em cúmplices das teses que expõem.
Fique claro, porém, que não há nada de errado com quem escreve textos extensos, livros com vários volumes, às vezes com 5 mil páginas ou mais. Claro, desde que o assunto abordado assim o exija e que não haja palavras supérfluas, não seja repetitivo e que, sobretudo, exista sólido e extenso conteúdo no que escreveu. Ou seja, que não se trate de mera “enrolação”. Como leitor compulsivo, prefiro este tipo de escrita, que “vale o quanto pesa”.
Todavia, quem conta com capacidade de síntese, diz mais coisas, em menor espaço. Pode nem ser tão didático (e não é) quanto quem escreve textos bastante longos, mas leva a vantagem da variedade e do talento de sugestionar o leitor. Ou seja, seus livros nunca são “samba de uma nota só” e não comportam uma única interpretação, mas tantas quantas forem seus leitores. Tratam, por exemplo, de dezenas de assuntos, num único volume, ao passo que, quem não conta com essa capacidade de síntese, precisaria de uma dezena ou mais deles para dizer as mesmas coisas.
Já tive a oportunidade de editar contos curtíssimos, de escassos dois parágrafos, e que ainda assim foram completos, com começo, meio e fim. Ou seja, coerentes, instigantes e verossímeis. Quem achar que é fácil escrever desta maneira que o tente, para ver que as coisas não são o que parecem. É difícil! Dificílimo! Para a maioria dos escritores, é até impossível.
Claro que o valor de qualquer obra literária não está em sua extensão. Há muito texto capenga, sem rumo, direção ou sentido, composto de poucas palavras. São tão ruins, que nem dá para considerá-los “Literatura”. Como também há produções extensíssimas, que requerem tempo imenso para serem lidas, sumamente atrativas.
Há livros “massudos” que o leitor até reluta em tirar da estante e muito menos em abrir. Mas... quando começa a leitura, não quer mais parar, tamanha é a capacidade do autor de torná-lo “cúmplice”. O que conta, de fato, em Literatura, portanto, é sempre o conteúdo (está implícito que a forma seja rigorosamente correta, clara e lúcida). Todavia, que a capacidade de síntese, de um escritor talentoso e criativo, é uma arma a mais para seu sucesso, disso não resta a menor dúvida.
A Literatura é muito mais sugestão do que descrição. Quanto maior for a perícia de um escritor em despertar (e mexer com) a imaginação dos seus leitores, maior será seu potencial de prender sua atenção e torná-lo cúmplice da sua criação. Jorge Luís Borges afirmou, anos atrás, que nós, literatos, não criamos os contos e romances que nos são atribuídos. Limitamo-nos a “sugerir” as histórias, que são, na verdade, completadas ao gosto de cada um pelos que as lêem.
Sobre a poesia, nem é necessário ressaltar o quanto tem de sugestão. É um tipo de texto feito a caráter para a emoção e a imaginação, muito mais do que ao mero raciocínio. Abundam metáforas de toda a sorte que nos fazem viajar e adaptar as palavras escritas ao nosso gosto e à nossa realidade pessoal.
Em contos, novelas, romances e peças de teatro, por sua vez, não descrevemos os personagens de sorte a torná-los “reais”, de carne e osso. Para tanto, seria necessária uma fotografia, já que uma única imagem vale por mil palavras. Limitamo-nos a descrever características gerais deles, ou seja, se são gordos ou magros, altos ou baixos, maltrapilhos ou bem-vestidos etc.etc.etc. Cada leitor complementa a imagem que faz do sujeito que pretendíamos descrever à sua maneira. O mesmo vale em relação a cenários.
Por mais que descrevamos determinada casa, por sua vez, quem lê nosso texto interpreta nossa descrição (por mais perfeita e detalhada que seja) de uma forma pessoal, nunca igual à que imaginamos. Limitamo-nos a descrevê-la em linhas gerais, determinando se ela se localiza em uma favela e não passa de um barraco mambembe, se fica em um bairro de classe média e tem relativo conforto, posto que não tenha luxo ou se é alguma mansão, com todos os requintes que o dinheiro pode comprar.
Nunca, por exemplo, um romance, ao ser adaptado para o cinema, tem os “mesmos” personagens e cenários que o escritor criou, embora, não raro, sejam até melhores do que os da sua imaginação. É provável, por exemplo, que a heroína de algum dos meus contos, embora bela mulher, esteja infinitamente distante da beleza de uma Júlia Roberts (como, também, pode ser muitíssimo mais bonita) Ou que o sujeito cuja história estou narrando não tenha a mais remota semelhança com Tom Cruise.
Daí ser altamente desejável ao escritor que desenvolva sua capacidade de sugestão, mediante uma linguagem coloquial e amigável, que faça do “parceiro” da sua obra, o leitor, seu grande e competente cúmplice e não o afugente com cansativas e, em geral inócuas descrições.
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