Intervenção reprovável, desastrada e inoportuna
Pedro J. Bondaczuk
As ações das forças ditas de paz da Índia no Sri Lanka, destacadas com a finalidade de garantir um acordo de cessar-fogo nas regiões Leste e Norte da ilha, estão sendo desastradas, contraditórias e dignas de reprovação. Afinal, o pacto em questão foi firmado para acabar com o genocídio do povo tamil, envolvido numa luta separatista, de quatro anos, para a criação da República do Eelam.
Ocorre que um simples incidente, que poderia ter sido contornado, caso houvesse habilidade diplomática do pseudo mantenedor da ordem (que na verdade levou mais desordem à região), já custou mais de 600 mortes de parte a parte. A cidade de Jaffna, de 150 mil habitantes, está sitiada e a população civil local foi colocada num fogo cruzado.
Nem nos momentos mais agudos da guerra civil, as tropas cingalesas agiram assim. E pensar que o primeiro-ministro indiano, Rajiv Gandhi, interveio na questão para evitar um "massacre" da minoria étnica na ilha! O que, afinal, as suas tropas estão fazendo?! Como justificar um morticínio desse porte perante a comunidade internacional?
Tudo começou quando 17 separatistas presos e que iam ser conduzidos a Colombo, para julgamento, resolveram dar cabo da própria vida, mediante a ingestão de cianureto. Cinco puderam ser salvos. Doze, passaram a servir de "bandeiras" de luta para a guerrilha, com suas mortes. Foram os pretextos que os "Tigres", o grupo mais organizado dos rebeldes, precisavam. O acordo, no fim das contas, teve resultado consensual: descontentou a "gregos e troianos". Ou melhor, a tamis e cingaleses.
Num ambiente de tensão, deixado por quatro anos de conflito armado, o que os indianos esperavam encontrar? Gente trocando amabilidades e pedindo desculpas pelas mortes de parentes do adversário que cada um perpetrou? Uma atitude desse tipo até que seria desejável, mas é impossível, em se tratando de qualquer conflagração.
A guerra, especialmente a civil, deixa muitas feridas, que levam anos para cicatrizar e às vezes nem cicatrizam. Cabe a quem assume a função de árbitro uma ação caracterizada por muito tato, por capacidade de diálogo e disposição até para fazer concessões. O Sri Lanka está pagando um preço muito caro por aceitar a intervenção "amiga" da Índia. Com uma amizade deste tipo, quem precisa de inimigos?!!
(Artigo publicado na página 22, Internacional, do Correio Popular, em 18 de outubro de 1987).
Pedro J. Bondaczuk
As ações das forças ditas de paz da Índia no Sri Lanka, destacadas com a finalidade de garantir um acordo de cessar-fogo nas regiões Leste e Norte da ilha, estão sendo desastradas, contraditórias e dignas de reprovação. Afinal, o pacto em questão foi firmado para acabar com o genocídio do povo tamil, envolvido numa luta separatista, de quatro anos, para a criação da República do Eelam.
Ocorre que um simples incidente, que poderia ter sido contornado, caso houvesse habilidade diplomática do pseudo mantenedor da ordem (que na verdade levou mais desordem à região), já custou mais de 600 mortes de parte a parte. A cidade de Jaffna, de 150 mil habitantes, está sitiada e a população civil local foi colocada num fogo cruzado.
Nem nos momentos mais agudos da guerra civil, as tropas cingalesas agiram assim. E pensar que o primeiro-ministro indiano, Rajiv Gandhi, interveio na questão para evitar um "massacre" da minoria étnica na ilha! O que, afinal, as suas tropas estão fazendo?! Como justificar um morticínio desse porte perante a comunidade internacional?
Tudo começou quando 17 separatistas presos e que iam ser conduzidos a Colombo, para julgamento, resolveram dar cabo da própria vida, mediante a ingestão de cianureto. Cinco puderam ser salvos. Doze, passaram a servir de "bandeiras" de luta para a guerrilha, com suas mortes. Foram os pretextos que os "Tigres", o grupo mais organizado dos rebeldes, precisavam. O acordo, no fim das contas, teve resultado consensual: descontentou a "gregos e troianos". Ou melhor, a tamis e cingaleses.
Num ambiente de tensão, deixado por quatro anos de conflito armado, o que os indianos esperavam encontrar? Gente trocando amabilidades e pedindo desculpas pelas mortes de parentes do adversário que cada um perpetrou? Uma atitude desse tipo até que seria desejável, mas é impossível, em se tratando de qualquer conflagração.
A guerra, especialmente a civil, deixa muitas feridas, que levam anos para cicatrizar e às vezes nem cicatrizam. Cabe a quem assume a função de árbitro uma ação caracterizada por muito tato, por capacidade de diálogo e disposição até para fazer concessões. O Sri Lanka está pagando um preço muito caro por aceitar a intervenção "amiga" da Índia. Com uma amizade deste tipo, quem precisa de inimigos?!!
(Artigo publicado na página 22, Internacional, do Correio Popular, em 18 de outubro de 1987).
No comments:
Post a Comment