Sunday, February 21, 2010




Intervenção reprovável, desastrada e inoportuna

Pedro J. Bondaczuk

As ações das forças ditas de paz da Índia no Sri Lanka, destacadas com a finalidade de garantir um acordo de cessar-fogo nas regiões Leste e Norte da ilha, estão sendo desastradas, contraditórias e dignas de reprovação. Afinal, o pacto em questão foi firmado para acabar com o genocídio do povo tamil, envolvido numa luta separatista, de quatro anos, para a criação da República do Eelam.

Ocorre que um simples incidente, que poderia ter sido contornado, caso houvesse habilidade diplomática do pseudo mantenedor da ordem (que na verdade levou mais desordem à região), já custou mais de 600 mortes de parte a parte. A cidade de Jaffna, de 150 mil habitantes, está sitiada e a população civil local foi colocada num fogo cruzado.

Nem nos momentos mais agudos da guerra civil, as tropas cingalesas agiram assim. E pensar que o primeiro-ministro indiano, Rajiv Gandhi, interveio na questão para evitar um "massacre" da minoria étnica na ilha! O que, afinal, as suas tropas estão fazendo?! Como justificar um morticínio desse porte perante a comunidade internacional?

Tudo começou quando 17 separatistas presos e que iam ser conduzidos a Colombo, para julgamento, resolveram dar cabo da própria vida, mediante a ingestão de cianureto. Cinco puderam ser salvos. Doze, passaram a servir de "bandeiras" de luta para a guerrilha, com suas mortes. Foram os pretextos que os "Tigres", o grupo mais organizado dos rebeldes, precisavam. O acordo, no fim das contas, teve resultado consensual: descontentou a "gregos e troianos". Ou melhor, a tamis e cingaleses.

Num ambiente de tensão, deixado por quatro anos de conflito armado, o que os indianos esperavam encontrar? Gente trocando amabilidades e pedindo desculpas pelas mortes de parentes do adversário que cada um perpetrou? Uma atitude desse tipo até que seria desejável, mas é impossível, em se tratando de qualquer conflagração.

A guerra, especialmente a civil, deixa muitas feridas, que levam anos para cicatrizar e às vezes nem cicatrizam. Cabe a quem assume a função de árbitro uma ação caracterizada por muito tato, por capacidade de diálogo e disposição até para fazer concessões. O Sri Lanka está pagando um preço muito caro por aceitar a intervenção "amiga" da Índia. Com uma amizade deste tipo, quem precisa de inimigos?!!

(Artigo publicado na página 22, Internacional, do Correio Popular, em 18 de outubro de 1987).

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