Wednesday, February 21, 2007
Vaidade e corrupção
Pedro J. Bondaczuk
A corrupção, tema tão velho quanto o próprio homem, voltou, desde maio de 2005, a freqüentar as manchetes – se é que algum dia chegou a sair delas – repetindo, com outros personagens e circunstâncias, o que ocorreu em 1992, com o escândalo PC Farias, ou com o caso dos “Anões do Orçamento” e vai por aí afora, regressivamente.
O interessante é o tom apocalíptico adotado por alguns editorialistas e comentaristas políticos que, mesmo que não se dêem conta, deixam implícita, em seus textos, a mensagem de que tudo está perdido, de que nas próximas horas o País deixará de existir, e outras elucubrações neuróticas do gênero.
É verdade que compete aos formadores de opinião tratarem não somente deste, mas de tantos outros problemas que afetam a comunidade. Mas é preciso ponderação, equilíbrio e, sobretudo, muito bom-senso ao proceder às análises. Até porque, estas podem estar equivocadas, por mais lógica e verossimilhança que venham a apresentar. Opinião é uma coisa, propaganda política velada é outra, muito diferente.
O professor Eduardo Gianetti da Fonseca, no ensaio “Ética e Inflação”, publicado no boletim “Braudel Papers”, edição janeiro-fevereiro de 1993, cujo trecho peço licença para reproduzir, para fundamentar minha tese, observou, com muita propriedade: “O problema moral não é, certamente, algo exclusivo do Brasil. Ele existe desde o tempo em que a filosofia grega, a partir de Sócrates, voltou-se para a reflexão sobre os princípios da conduta humana e a distância entre o existente e o desejável”.
Cada geração tem a tendência de achar que é decisiva para a História, que os dramas que a afetam são os maiores, que os perigos a que o Planeta está exposto são os mais graves (e até podem ser, não duvido). No entanto, passam, como tudo e todos no mundo, e a Terra continua em seu giro pelo espaço. Em condições piores, é verdade, mas continua. Requer-se, pois, dos formadores de opinião, mais objetividade e menos retórica. Afinal, a verdade não tem donos.
Diante do noticiário atual, dá para repetir as palavras de uma crônica intitulada “Vae Soli!”, publicada por um jornal do Rio de Janeiro em 1892, uma raridade que “garimpei” em meus arquivos implacáveis, que diz, em certo trecho: “Um dia desta semana, farto de vendavais, naufrágios, boatos, mentiras, polêmicas, farto de ver como se decompõem os homens, acionistas e diretores, importadores e industriais, farto de mim, de ti, de todos, de um tumulto sem vida, de um silêncio sem quietação, peguei uma página de anúncios e disse comigo: ‘Eia, passemos em revista as procuras e ofertas, caixeiros desempregados, pianos, magnésias, sabonetes, oficiais de barbeiro, casas para alugar, amas de leite, cobradores, coqueluche, hipotecas, professores, tosses crônicas’”.
Ah, a propósito, estas palavras foram escritas por um profundo conhecedor da natureza humana. Seu autor foi o que os norte-americanos chamam de “self-made man” (não sei se a grafia, em inglês, é mesmo esta) – o homem que se faz sozinho – tendo de superar tremendos obstáculos impostos pelo preconceito: pelo fato de ser mulato, gago, epiléptico e de nunca ter freqüentado escola. Claro que me refiro a um dos maiores escritores brasileiros (e, por que não, mundiais) de todos os tempos, fundador da Academia Brasileira de Letras: Machado de Assis. Como se observa, as cassandras de mau-agouro não são novas e já causaram tédio, com a sua histeria, aos nossos avós, nos estertores do século retrasado.
A corrupção existe e precisa ser combatida (é o óbvio ululante, diria Nelson Rodrigues), não se pode negar. E claro que não nego. Pelo contrário. Mereceria maior ênfase do que aquela que tem sido dada. Mas será que tudo, de fato, está perdido no País, como muitos dão a entender? O que se deve procurar são soluções e este é o papel maior dos analistas, daqueles que dissecam os fatos com um certo distanciamento, ou que pelo menos deveriam proceder dessa forma. O festival de retórica que circula por aí (pelo menos da forma que a maioria das críticas é colocada) não passa, pois, do que Eclesiastes captou tão bem: “Vaidade, vaidade...”, nada mais do que vaidade...E prefiro acreditar que seja só isto e não coisa muito pior!
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