Sunday, February 25, 2007

Destino do homem é aspirar o impossível


Pedro J. Bondaczuk


As extraordinárias descobertas feitas pela Voyager 2, não somente nesta sua atual passagem por Netuno, mas nas etapas anteriores de sua jornada de 12 anos pelo Sistema Solar, têm inúmeras lições a nos ensinar. Em geral, costumamos nos abstrair do fato da Terra ser mera "poeirazinha" microscópica , se comparada com a imensidão da nossa galáxia, a Via Láctea, onde o Sol, para nós tão grandioso e assustador, não passa de uma estrelinha de quinta grandeza. Imagine o leitor em relação ao universo!

No entanto, esquecemo-nos de nossa pequenez. Apegamo-nos a coisas banais, mesquinhas, sem nenhuma importância, pelas quais vivemos e morremos, quando poderíamos aspirar coisas maiores. E nos julgamos grandes e importantes por isso. Deveríamos colocar os dotes de nossa inteligência a serviço de outra coisa, que não fosse a corrida em busca de algo criado pelo próprio homem, o dinheiro, e que agora é "deificado" pela maioria. Mas não agimos com racionalidade e bom senso. Não, pelo menos, no que diz respeito a objetivos a serem alcançados.

O astrônomo Carl Sagan, uma das mentes mais agudas e lúcidas do nosso tempo, afirmou, certa feita: "Ninguém que esteja vivo hoje poderá sobreviver até o século XXII. E, no entanto, haverá um século XXV, e um século C e um século M. Nós ocupamos um minúsculo segmento de um fio extremamente longo de tempo".

A simples distância da Terra a Netuno, que em termos astronômicos não passa de uma manchinha num mapa celeste, mostra bem a extensão da nossa pequenez. E no entanto, demonstra que podemos ser grandes, imensos, se colocarmos a nossa inteligência em coisas construtivas. Se a usarmos para descobrir maravilhas hoje sequer suspeitadas, no universo além, muito mais excitantes do que as mais febris criações dos melhores autores de ficção científica.

A Voyager 2 revelou, por exemplo, em janeiro de 1986, as chamadas "luas pastoras" de Urano, que sustentam um anel de carvão ao redor desse planeta. Não fosse esse genial (e relativamente barato) artefato interplanetário, o homem jamais conheceria esse arco negro, por ele ser totalmente impossível de ser detectado pelo mais potente instrumento de observação que se possa inventar.

Ao contrário do que muita gente pensa, a exploração espacial tem um caráter prático muito maior do que pode parecer. O ser humano, com sua capacidade de adaptação, certamente irá povoar muitos desses planetas que a sonda nos desvendou. É claro que nossa geração jamais verá essas maravilhas. Nem, provavelmente, as cem ou mil próximas. Não importa. Mas se esse animal inteligente souber controlar um dos seus instintos básicos, o "tânico" (de destruição) e direcionar a sua inteligência no rumo certo, dando vazão à sua criatividade, fatalmente será senhor de todo o Sistema Solar e alhures. É até uma questão de lógica. E de ousadia, principalmente...

(Artigo publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 26 de agosto de 1989).

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