Wednesday, February 28, 2007

REFLEXÃO DO DIA


O que torna o ser humano grande não são suas eventuais habilidades físicas, por maiores que possam ser. É o incomensurável poder da sua mente, cujo potencial não tem limites, se o indivíduo se dispuser a usar, sempre, essa “ferramenta” que o diferencia dos demais seres viventes, com eficácia, competência e constância. Foi ela que possibilitou o desenvolvimento das artes, da ciência, da tecnologia e de tudo o quanto de belo, grandioso e espetacular a espécie já construiu. Ela é que deve ser, permanente e incansavelmente cultivada e não a fugaz beleza do corpo que o tempo corrompe e enfeia ou a passageira força física que uma simples gripe ou eventual infecção deterioram e aniquilam. A maioria das pessoas não tem essa consciência. Teima em buscar o supérfluo e a não fazer conta do essencial. Trata-se de um aprendizado que vai demandar não alguns parcos anos, mas séculos, milênios e gerações. Haverá, todavia, tempo para isso?

Lembranças da várzea - 15


Pedro J. Bondaczuk


Os pontas do Flamenguinho – numa época em que essa função não só existia (hoje não existe mais), mas era extremamente valorizada – merecem um capítulo a parte nestas reminiscências. Eram jogadores fundamentais no vitorioso esquema tático que adotei, pelas qualidades técnicas que tinham e pelo alto rendimento que sempre mostraram em campo. Com um condicionamento físico invejável (e raro na várzea) os dois titulares – Jair, na direita e Vicentinho, na esquerda – atravessavam temporadas inteiras sem serem substituídos uma só vez, nem por eventuais contusões e muito menos por quedas de rendimento. Embora fisicamente não lembrassem, em nada, os grandes pontas da época, nossa torcida chamava o Jair e o Vicentinho de Garrincha e Canhoteiro, respectivamente, por causa dos seus dribles.
Seus reservas imediatos, embora tecnicamente não ficassem nada a dever aos donos das posições, como pessoas tinham comportamentos (dentro e fora de campo) diametralmente opostos a ambos. Eram temperamentais, briguentos, aguerridos e um tanto irresponsáveis. Marrom, por exemplo, só jogava bem se ingerisse um copo, tipo americano, cheio até a boca, de cachaça. Era um tanto folclórico e, na vila, era alvo de inúmeras brincadeiras (não raro, de mau-gosto) dos colegas. Diga-se, a seu favor, porém, que jamais se zangava ou apelava com ninguém. Levava tudo na esportiva, por mais que tentassem o tirar do sério.
Claro que em jogos de campeonato eu evitava utilizar esse jogador. Felizmente, nunca precisei. Dificilmente algum árbitro deixaria de observar seu estado de semi-embriaguez e o Flamenguinho até correria riscos de ser punido, com perda de pontos e até com suspensão, por isso, caso estivesse em campo em algum jogo oficial. E sóbrio, o Marrom (que tinha esse apelido por ser mulato) não rendia absolutamente nada. Sempre achei isso muito esquisito.
Usei-o, apenas, em uma única partida, e quando disputávamos, ainda, a Segunda Divisão. Foi um risco, eu sei, mas valeu a pena. Nosso ponta-direita reserva desmontou, com seus dribles desconcertantes – que lembravam muito os do Garrincha – todo o esquema defensivo do adversário. Tomou tantas faltas, que provocou a expulsão do seu marcador. Felizmente, o Jair tinha uma saúde de ferro e era, invariavelmente, o primeiro a chegar ao vestiário, sempre disposto a jogar. E jogava! E bem!
Vicentinho, por seu turno, era exemplar, tanto como atleta, quanto pelo seu comportamento fora do gramado. Em termos de vida, era a “cópia” exata, o “clone” do Neuclair, de quem era amigo inseparável. Profundamente religioso, católico praticante, era cursilhista e dava aulas para candidatos ao casamento numa igreja de São Caetano do Sul. Aconselhava todo o mundo e encabeçava as rezas no vestiário, antes e depois de cada jogo.
Em campo, todavia, era um leão. De pequena estatura, canhoto nato, tinha um drible infernal, progressivo e desconcertante. Mas a sua principal virtude era a perfeição nos cruzamentos para a área. Não errava, praticamente, nenhum. Punha a bola onde quisesse, como se a lançasse com as mãos. Graças a ele (e ao Celso, logicamente, a nossa maior estrela), Tatinho, o nosso centroavante, e artilheiro em todas as competições que disputou, consagrou-se como o melhor cabeceador da várzea sancaetanense.
O reserva do Vicentinho, Marinho, era seu irmão. Nunca, todavia, conheci duas pessoas mais diferentes do que esses dois. A começar pela compleição física. Enquanto um era baixinho, pernas curtas e um tanto atarracado, o outro era alto, com quase 1,80m, esguio e veloz. Mas não tinha nem metade do domínio de bola do irmão. E não cruzava tão bem. Mas tinha, como característica, entrar driblando em diagonal e arrematar com precisão para o gol adversário. Ou seja, nas raras vezes que entrou como titular, não se constituiu no “garçom” do Tatinho. Preferia, nessas ocasiões, ele próprio, fazer os seus gols. E invariavelmente fazia. Era um dos astros do nosso segundo quadro.
Ao contrário do Vicentinho, Marinho era mulherengo e boêmio. Mas foi um dos melhores amigos que já tive na vida. Essa amizade, aliás, prejudicou-o, bastante, como jogador. Eu evitava de lhe dar a camisa titular, para escapar de eventuais críticas, de que o estaria protegendo. Nunca misturei vida pessoal com minhas atividades de técnico. Não daria certo!
É verdade que o Vicentinho era mais útil no meu esquema tático. Mas, como o Marinho chutava bem com os dois pés, eu poderia utilizá-lo, sem nenhum problema, na ponta-direita, para se revezar com o Jair. Nunca o fiz, contudo, para que não dissessem que eu privilegiava os amigos na escalação do time. Era ele o meu companheiro de aventuras amorosas, principalmente em Mauá, para onde íamos, freqüentemente, por causa da fama que essa cidade ostentava, de ter as garotas mais bonitas da região. E, parodiando Vinicius de Moraes, “que me perdoem as feias, mas beleza é fundamental!”
Era raro o dia em que cada um de nós não arrumava uma menina diferente, nessas sortidas pelas noites do ABC. Não queríamos, na ocasião, nada sério, nenhum compromisso, mas só pequenas e inconseqüentes aventuras. Afinal, tínhamos, ambos, míseros vinte e um anos e uma energia para ninguém botar defeito. Entendíamo-nos apenas pelo olhar e nunca trocamos, uma só vez, palavras que fossem um pouco mais ásperas ou agressivas. Éramos mais do que amigos, verdadeiros irmãos (embora não consangüíneos), inseparáveis e leais um com o outro. Mas apenas fora de campo...

Tuesday, February 27, 2007

REFLEXÃO DO DIA


O Talmud acentua que “quem salva uma só vida faz como se salvasse o mundo inteiro; quem destrói uma só vida faz como se houvesse destruído o mundo inteiro”. E não importa se esta for humana, animal ou vegetal. Embora muitos não se dêem conta disso, todos temos a ver com todos e com tudo o que nos cerca. Os que têm mais condições, os que são mais fortes, mais instruídos, mais sábios, têm, claro, maior responsabilidade, embora ninguém possa e nem deva se eximir dela. Sejamos, pois, hoje e sempre, agentes da construção e jamais da destruição. Saibamos valorizar, proteger e perpetuar esse milagre, esse privilégio, essa aventura maravilhosa que é a vida.

Conflito e interação


Pedro J. Bondaczuk


O relacionamento harmonioso entre as pessoas é o fator determinante do grau de civilização de um povo. Quanto mais respeito existe entre os indivíduos, sem que os diferenciais da posição social, da intelectual e da idade (entre outros), interfiram, mais civilizada é a sociedade. Esse entendimento, evidentemente, não pressupõe ausência de conflitos, mas sua sábia administração, naquilo que os sociólogos denominam de "interação".
A humanidade, na presente geração, está muito avançada, neste aspecto, em relação a um passado não tão remoto. A escravidão de pessoas era um fato normalíssimo no Brasil, por exemplo, até recentemente (1888). Hoje, embora exista, é tida como atitude abominável.
Mas a espécie humana ainda está extremamente atrasada se atentarmos para o ideal, para o ápice da civilização (a absoluta liberdade dentro dos limites democráticos, ou seja, onde a nossa termine no ponto em que a do próximo comece; a espontânea fraternidade entre todos os indivíduos e a solidariedade total) que talvez jamais venha a ser alcançado, mas que deve ser incansavelmente perseguido.
Enquanto houver dominadores e dominados, exploradores e explorados, privilegiados e excluídos, estaremos distantes "milhões de anos-luz" da absoluta racionalidade, que por enquanto continua sendo apenas aspiração e não realidade. O predomínio dos instintos sobre a razão está muito longe de ter acabado.
A diversidade de opiniões (seja a respeito do que for) é sempre salutar. Em raríssimos temas duas pessoas, livres para pensar e externar o que pensam, concordam integralmente. Até sobre o conceito que a lógica diz que deveria ser óbvio para todos e absolutamente consensual, o da existência de Deus, há discordâncias. Uma parte considerável dos quase seis bilhões de indivíduos que povoam o Planeta nega que haja qualquer divindade.
E entre os que crêem que ela exista, há profundas divergências, que vão desde a sua unicidade (muitos acreditam em muitos deuses), até sua forma, extensão e poder. E é bom que seja assim. É o homem exercendo sua racionalidade. Irracional é tentar fazer, a força, com que alguém pense como nós. E o número de vítimas de guerras, que tiveram por pretexto razões religiosas (envolvendo um grupo tentando impor seus pensamentos e conceitos a outro através de armas) ascende a milhões ao longo da história.
Claro que tais guerreiros não podem ser enquadrados na definição de "civilizados". As divergências (sejam de que natureza forem), em vez de conduzir as pessoas à confrontação e até ao homicídio (como ocorre), deveriam agir no sentido da sua aproximação, enquanto seres inteligentes e livres.
Os verdadeiros democratas sabem que democracia não é a ausência de conflitos. Esta só ocorre nas mais ferozes ditaduras, onde o pensamento do tirano conta com exclusividade. O ditador é o único "dono da verdade", até por definição. Sente-se senhor da vida e da morte dos que estão submetidos à sua tirania, amparado, é claro, na força bruta, tendo a cumplicidade de seguidores fiéis (que só mantêm fidelidade enquanto seus interesses são satisfeitos).
A história provou inúmeras vezes que sociedades desse tipo nunca prosperam. As maiores potências da atualidade são aquelas onde os conflitos não são extintos, mas administrados com sabedoria e relativa justiça por instituições criadas para esse fim. É o caso específico dos Estados Unidos. Ou dos países que integram a União Européia.
Mesmo ali, no entanto, ainda há muito, muitíssimo, exagerado autoritarismo, que nasce dentro da família (com a ausência de diálogo em casa de pais que "mandam" e não "ponderam") e se espraia por toda a sociedade.
O escritor britânico H. G. Wells destaca: "O estimulante conflito das individualidades é o fim último da vida pessoal e todas nossas utopias não são senão esquemas para melhorar essa interação".
O dramaturgo Nelson Rodrigues tem uma forma mais direta e saborosa de dizer isso. Afirma que "toda unanimidade é burra". E é mesmo. Na maioria dos casos, reflete unicamente "preguiça de pensar". Ou domínio de alguém sobre muitos, na maioria das vezes determinado por ameaças (sutis ou ostensivas, não importa).
A Carta Universal dos Direitos Humanos das Nações Unidas, muito mencionada e pouquíssimo cumprida, sentencia que "todos os homens nascem livres, com igualdade de direitos e obrigações". Mas não é preciso ser nenhum gênio para perceber que isto não passa de "letra morta". Por incrível que possa parecer, e por maiores que tenham sido os avanços no relacionamento entre os indivíduos, ainda há escravidão --- explícita e disfarçada --- em várias partes do Planeta.
Estima-se por volta de 200 milhões o número de pessoas que têm sua liberdade e sua dignidade covardemente violadas, sem que ninguém faça nada para coibir ou evitar. Uma geração que age dessa maneira, que tolera tal comportamento, não pode ser considerada civilizada. Que todos os homens deveriam ser iguais em direitos e deveres é bastante óbvio, embora nem todos (ou raríssimos) entendam isso. Até porque, há um fator biológico que atua como argumento decisivo e que suprime na prática eventuais veleidades de superioridade: a morte. Quem pode contra esse nivelador?

Monday, February 26, 2007

TOQUE DE LETRA




Pedro J. Bondaczuk

(Fotos: Do site oficial da A. A. Ponte Preta e Maurício Val e Bruno Miani da VIPCOMM)

PONTE ACUMULA MAIS DUAS DERROTAS

A Ponte Preta, na semana que passou, sofreu duas derrotas, ambas fora de casa, em jogos válidos por competições diferentes. Na Quarta-Feira de Cinzas, jogando no Estádio Independência, pela Copa do Brasil, perdeu para o Vila Nova, de Nova Lima, por 1 a 0. Sábado, foi a Barueri, e foi derrotada pela equipe local, de virada, por 2 a 1, pelo Campeonato Paulista da Série A-1. Ambas partidas tiveram um ponto em comum: a ausência de poder ofensivo da alvinegra campineira. Isso ocorreu pelo motivo de sempre na presente temporada: deficiência do meio de campo. É verdade que o menino Ezequiel não comprometeu nesses dois jogos, mas não foi aquele meia armador que a Ponte tanto precisa, que chame a responsabilidade, organize jogadas e faça lançamentos precisos para os homens de área. Com isso, o time paga um preço muito caro, em termos de pontos perdidos, que são irrecuperáveis. Faz uma campanha de razoável para ruim, exatamente pela ausência dessa peça fundamental na equipe, que municie o matador Finazzi. Nesta semana, o problema tem que ser resolvido, já que na sexta-feira se encerra o prazo de inscrições de novos atletas para a disputa do Campeonato Paulista. Mas que quem vier seja reforço, de fato, e mereça essa designação. Que venha para jogar, para somar, para resolver a carência e não para ser apenas mais um, em um plantel já bastante inchado. Do que a Ponte Preta precisa é de qualidade, não de quantidade. Tomara que as coisas não fiquem apenas na conversa dos cartolas e nem em meras promessas.

A MESMA INCOMPETÊNCIA DE SEMPRE

O Guarani teve, na semana passada, dois jogos no Brinco de Ouro, o que, antes deles acontecerem, despertou fundadas esperanças na torcida de que o time, finalmente, desmentisse, em campo, os críticos e provasse que não é tão ruim quanto dizem. Quem esperava uma performance pelo menos razoável, todavia, mais uma vez se frustrou. Na quarta-feira, o Bugre jogou uma partida burocrática, sonolenta e sem imaginação e não saiu de um chato 0 a 0 diante do apenas esforçado Atlético Goianiense. Conseqüência? Foi eliminado (pela primeira vez em sua história) logo na primeira fase da Copa do Brasil. No sábado à noite, o Guarani recebeu o fraco Mogi Mirim, que faz campanha muito ruim no Campeonato Paulista da Série A-2 e é um dos candidatos ao rebaixamento. “Hoje a gente lava a égua”, pensou o esperançoso torcedor bugrino, antes do jogo. Novo engano. Resultado? Outra frustração! O time não saiu de um lamentável empate, por 1 a 1, e por pouco não perde mais uma, perante a sua torcida. Não fosse, como já virou costume, a brilhante atuação do goleiro Buzzetto, e o vexame estaria configurado. Sorte que os resultados ajudaram o Bugre, caso contrário, estaria amargando, de novo, a perigosa zona de rebaixamento, com a qual o clube parece ter se acostumado.

ARBITRAGENS PROBLEMÁTICAS

Não gosto de atribuir derrotas da Ponte Preta a erros de arbitragem, mas, a exemplo do que ocorreu ao longo de 2006, os homens do apito seguem prejudicando, e muito, a Macaca. Não contesto a honestidade dos árbitros. Não se trata disso. O que ocorre é que eles são muito ruins mesmo, salvo uns dois ou três, que apitam direitinho. Na quarta-feira, por exemplo, o time de Campinas deixou de trazer um precioso empate para o segundo jogo por interferência da arbitragem. O gol que decidiu a partida em favor do Vila Nova foi feito, nitidamente, com a mão. Todo mundo viu, menos o juizão. Já contra o Grêmio Barueri, o árbitro viu penalidade máxima num lance absolutamente normal, envolvendo o pequenino Luciano Gigante e o grandalhão Anderson. Esse gol desestabilizou a Ponte e permitiu a virada do time da casa. Já está se tornando chato esse negócio das arbitragens errarem sempre a dano da Macaca. Não basta o time não estar jogando nada? Atenção, homens do apito: sejam mais criteriosos no seu trabalho, para que prevaleça, sempre, o resultado obtido no campo, e apenas ele, sem nenhuma interferência que fuja das regras!

EMPATE FOI A GOTA DE ÁGUA

Waguinho Dias não é mais o técnico do Guarani para a seqüência do Campeonato Paulista da Série A-2. A gota de água, que levou o treinador a pedir o boné e se desligar do clube, foi a ridícula apresentação da equipe, no empate de sábado, no Brinco de Ouro, por 1 a 1, com o modesto Mogi Mirim. A saída já era mais do que esperada. Já no empate do Bugre com o Taubaté, Waguinho havia demonstrado seu descontentamento com a fragilidade do time. Alguns jogadores do atual plantel são muito ruins e não têm condições de vestir a camisa, sequer, de qualquer clube da Segunda Divisão, ou seja, da Série B do Campeonato Paulista, quanto mais a de uma entidade tão tradicional, como é o Guarani. Outros, que mostram até bons predicados técnicos, fazem (pelo menos é o que parece) corpo mole e se escondem durante os jogos. É possível que a troca de treinador venha a dar uma sacudida na equipe, para que ela pelo menos saia das proximidades da zona de rebaixamento. Caso contrário... O que o torcedor poderá esperar será, apenas, o pior. De novo.

BRUNO SAI COMO HERÓI DO CLÁSSICO

O goleiro Bruno, do Flamengo, que começou a carreira no Atlético Mineiro, mas que, estranhamente, não vingou no Corinthians, saiu como o grande herói, ontem, no clássico pelas semi-finais da Taça Guanabara, do rubro-negro diante do Vasco. Fez excelentes defesas no tempo normal de jogo, que terminou com o placar de 1 a 1. E na decisão por pênaltis, pegou duas bolas importantíssimas e contou com a sorte na terceira, que foi chutada para fora. Dessa forma, o Mengão chega a mais uma decisão carioca, em sua longa e gloriosa história, frente ao surpreendente Madureira, por quem foi goleado, há poucos dias, por 4 a 1. Certamente é uma sensação inenarrável, a de Bruno, de se tornar ídolo da maior torcida do Brasil e em pleno Maracanã, o “templo do futebol br4asileiro”. Enquanto isso, o Corinthians, que sequer tentou segurar o atleta em seu plantel, continua trocando goleiro após goleiro, sem que nenhum se fixe na condição de titular. Parabéns ao jovem atleta. Isso sim é que é dar a volta por cima, e com classe.

SÃO PAULO FAZ HISTÓRIA, DE NOVO

O São Paulo, ao vencer o tinhoso Bragantino, ontem, no Morumbi, em jogo válido pelo Campeonato Paulista, mais uma vez fez história. Completou 25 partidas consecutivas sem derrota, na sua segunda maior série invicta desde que foi fundado. É verdade que o tricolor não jogou uma partida brilhante, mas fez o suficiente para vencer e se manter a apenas um ponto de distância do líder Santos. Seu grande destaque foi o lateral Jadilson, que barrou nada mais nada menos do que o pentacampeão Junior, e foi o autor do belo gol que assegurou a nova vitória são-paulina. É verdade que muita água ainda deverá rolar por baixo da ponte neste Paulistão, que em 2007 será decidido não por pontos corridos, mas com a volta do mata-matas. Todavia, tudo indica (e mais do que nunca) que a decisão da competição deverá envolver o Santos, atual campeão e em busca do bicampeonato, e o São Paulo, atualmente o clube mais bem organizado e com melhor plantel do futebol brasileiro. A menos que alguma zebra interiorana galope pelos campos paulistas e arrebate o título desses bichos-papões, é o que se pode esperar.

RESPINGOS...

· O Noroeste foi surpreendido, em casa, pelo América e não saiu de um empate, por 1 a 1, com o time de São José do Rio Preto (agora de treinador novo).
· Um time que vem pintando como provável classificado entre os quatro melhores, para disputar o título do Paulistão deste ano, é o Paulista de Jundiaí. Ontem, os comandados de Wagner Mancini derrotaram o São Bento, por 2 a 1, em plena Sorocaba.
· O Santos, de Wanderley Luxemburgo, redimiu-se da derrota da semana passada para o São Bento, na Vila Belmiro, e mesmo com um time misto, foi a Marília e derrotou o time local por 1 a 0. Importantíssimo o resultado do Peixe.
· Araújo parece estar voltando aos seus melhores dias. Ontem, fez dois belos gols, na goleada do Cruzeiro, no Mineirão, por 4 a 1.
· E o Corinthians segue patinando no Campeonato Paulista. Limitou-se a empatar, em pleno Pacaembu, com o fraquíssimo Rio Branco, por 1 a 1. E teve, mais uma vez, dois jogadores expulsos. Parece que as expulsões já viraram rotina dos comandados do truculento Emerson Leão.

* E fim de papo por hoje. Entre em contato, para críticas e sugestões.


pedrojbk@hotmail.com

REFLEXÃO DO DIA


Na busca pela luz interior, temos que cultivar, o mais que pudermos, o otimismo e valores positivos, mesmo quando as circunstâncias nos aprontarem das suas. Não temos o direito de ser pessimistas, amargos ou desanimados e muito menos de difundir esses sentimentos aos que nos rodeiam ou que convivam conosco! E isto até por um motivo egoísta, para a preservação da nossa saúde, pois como constatou o filósofo norte-americano Will Durant, em seu clássico “Filosofia da Vida”: “A fé, a esperança e o amor parecem expandir-se em cada célula do nosso corpo; a dúvida, o medo e o ódio contraem-nos os tecidos, como se fossem venenos – e fisicamente são venenos”. Portanto, para não nos envenenarmos e muito menos envenenar os que amamos...o melhor é seguir a trilha do bom-senso.

Outra grande ironia



Pedro J. Bondaczuk


A obra do mestre holandês Vincent Van Gogh mostra o quanto os contemporâneos de um gênio podem se equivocar na avaliação de um talento. Não cabe aqui discutir sobre seu possível distúrbio mental, que o levou a ser internado no asilo de Saint-Paul-de Mausolè, em Saint-Rémy, onde, aliás, pintou telas maravilhosas, hoje disputadas a peso de ouro pelos grandes museus e pelos colecionadores particulares do mundo todo.
O que se questiona é o senso estético do seu tempo, que fez com que esse homem atormentado por mil demônios tivesse uma existência profundamente infeliz. Não há amargura maior para um indivíduo, especialmente se for um artista, do que ver aquilo que acredita ser ridicularizado e diminuído pelos que o cercam.
Van Gogh passou por essa amarga experiência em inúmeras oportunidades. Bem que o seu irmão, Theo, um bem-sucedido marchand em Paris, tentou, por todas as formas e meios, transformar essa pessoa que tanto amava, mas que era encarada como ovelha negra da família, em um pintor de sucesso.
Quantos esnobes não adquiriram, nessa época, quadros que não passavam de mera empulhação, hoje completamente esquecidos (quando não utilizados, apenas, para aproveitar as telas ou as molduras e nada mais) como sendo trabalhos geniais! Como se sabe hoje, não eram! E, o pior de tudo, é que esses mesmos senhores emproados, com ares de entendidos, tiveram, sob seus narizes, uma autêntica obra de gênio, que não souberam entender. Pior para eles. A vida tem dessas ironias.
Em novembro de 1987, o atormentado mestre holandês do século XIX, amante das luzes, das cores e da gente simples dos campos, superou seu próprio recorde, quando o seu “Os lírios”, pintado num período em que era considerado irremediavelmente louco, foi arrematado, em um leilão, em Nova York, por US# 53,9 milhões (incluindo os 10% de comissão dos leiloeiros).
O quadro de maior valor anterior, por sinal, também era de Van Gogh: o famoso “Os girassóis”, adquirido por uma empresa de seguros japonesa, em março desse mesmo ano, por US$ 39,9 milhões. Cifras monumentais, como estas, não deixam de ser uma trágica ironia, envolvendo esse gênio, marcado, permanentemente, pela incompreensão e pela tragédia.
Quantas vezes Van Gogh não dependeu da boa vontade do irmão, ou dos amigos, e mesmo de pessoas caridosas, estranhas para ele, para ter, simplesmente, o que comer?! Quantas portas não lhe foram fechadas e quanta arrogância alheia, de pigmeus mentais, não teve que suportar?!
E, no entanto, era um desses seres raros, que de quando em quando os céus enviam ao mundo, para ilustrar os néscios e para encantar os tristes, criando beleza, virtualmente, do nada. Extraindo harmonia de cores e revérberos existentes somente na palheta de seus próprios sonhos.
Se esse pintor genial era, de fato, louco, como se chegou a acreditar, o que dizer das bilhões de pessoas que hoje apenas sobrevivem, sem sequer a mínima noção que de fato existam? Quem pode traçar, sem erros, os limites entre o normal e o anormal? E entre o gênio e o esquizofrênico? Sim, quem pode?

(Crônica publicada na página 11, Internacional, do Correio Popular, em 13 de novembro de 1987)

Sunday, February 25, 2007

REFLEXÃO DO DIA


O que procuro, ao escrever, é uma certa luz interior, que me desperte empatia com os semelhantes. É colocar no texto todos os princípios que me foram incutidos por meus pais, por meus mestres e pelos milhares de escritores que li e que me tornaram no que sou. Na maioria das vezes, tenho conseguido isso, a julgar pelos comentários sobre minhas crônicas, feitos na internet ou nas cartas e nos e-mails que recebo. Às vezes, porém...Dou magníficos escorregões e recebo ásperas (e merecidas) reprimendas públicas, por esses mesmos meios. Essas críticas, apesar de machucarem o ego, são preciosíssimas, até aquelas mal-educadas e com palavras chulas, feitas com o objetivo deliberado de me ridicularizar. Procuro aceitá-las com humildade e evito polemizar. É verdade que às vezes a vaidade fala mais alto e dou respostas um tanto quanto atravessadas para os mais atrevidos. Tolice minha, claro!

Destino do homem é aspirar o impossível


Pedro J. Bondaczuk


As extraordinárias descobertas feitas pela Voyager 2, não somente nesta sua atual passagem por Netuno, mas nas etapas anteriores de sua jornada de 12 anos pelo Sistema Solar, têm inúmeras lições a nos ensinar. Em geral, costumamos nos abstrair do fato da Terra ser mera "poeirazinha" microscópica , se comparada com a imensidão da nossa galáxia, a Via Láctea, onde o Sol, para nós tão grandioso e assustador, não passa de uma estrelinha de quinta grandeza. Imagine o leitor em relação ao universo!

No entanto, esquecemo-nos de nossa pequenez. Apegamo-nos a coisas banais, mesquinhas, sem nenhuma importância, pelas quais vivemos e morremos, quando poderíamos aspirar coisas maiores. E nos julgamos grandes e importantes por isso. Deveríamos colocar os dotes de nossa inteligência a serviço de outra coisa, que não fosse a corrida em busca de algo criado pelo próprio homem, o dinheiro, e que agora é "deificado" pela maioria. Mas não agimos com racionalidade e bom senso. Não, pelo menos, no que diz respeito a objetivos a serem alcançados.

O astrônomo Carl Sagan, uma das mentes mais agudas e lúcidas do nosso tempo, afirmou, certa feita: "Ninguém que esteja vivo hoje poderá sobreviver até o século XXII. E, no entanto, haverá um século XXV, e um século C e um século M. Nós ocupamos um minúsculo segmento de um fio extremamente longo de tempo".

A simples distância da Terra a Netuno, que em termos astronômicos não passa de uma manchinha num mapa celeste, mostra bem a extensão da nossa pequenez. E no entanto, demonstra que podemos ser grandes, imensos, se colocarmos a nossa inteligência em coisas construtivas. Se a usarmos para descobrir maravilhas hoje sequer suspeitadas, no universo além, muito mais excitantes do que as mais febris criações dos melhores autores de ficção científica.

A Voyager 2 revelou, por exemplo, em janeiro de 1986, as chamadas "luas pastoras" de Urano, que sustentam um anel de carvão ao redor desse planeta. Não fosse esse genial (e relativamente barato) artefato interplanetário, o homem jamais conheceria esse arco negro, por ele ser totalmente impossível de ser detectado pelo mais potente instrumento de observação que se possa inventar.

Ao contrário do que muita gente pensa, a exploração espacial tem um caráter prático muito maior do que pode parecer. O ser humano, com sua capacidade de adaptação, certamente irá povoar muitos desses planetas que a sonda nos desvendou. É claro que nossa geração jamais verá essas maravilhas. Nem, provavelmente, as cem ou mil próximas. Não importa. Mas se esse animal inteligente souber controlar um dos seus instintos básicos, o "tânico" (de destruição) e direcionar a sua inteligência no rumo certo, dando vazão à sua criatividade, fatalmente será senhor de todo o Sistema Solar e alhures. É até uma questão de lógica. E de ousadia, principalmente...

(Artigo publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 26 de agosto de 1989).

Saturday, February 24, 2007

REFLEXÃO DO DIA


A comunicação – quando exercitada com amor, e com o genuíno desejo de, não apenas penetrar na mente das pessoas e sondar seus desejos, angústias e necessidades, mas lhes apontar caminhos para a solução dos seus problemas – é uma arte. Trata-se, porém, de imensa responsabilidade, principalmente quando o veículo utilizado é o texto e quando seu alvo é o público em geral. Nunca se sabe em quais mãos a crônica, o artigo, o ensaio (ou seja lá que tipo de texto for) vão cair. Desconhece-se, por exemplo, o estado de espírito desse leitor no momento da leitura, sua condição de saúde, se está feliz; se, ao contrário, sofre por alguma razão (como perda de um ente querido, demissão, doença própria ou de alguém da família etc.); se é ou não influenciável pelo que ouve ou que lê e assim por diante. Rogo a Deus, pois, para que minhas mensagens confortem, aliviem e estimulem sempre e jamais sejam causa de sofrimento!

Brasa


Pedro J. Bondaczuk

Eu tenho brasas no peito,
em grandes, ígneos lampejos
porque sinto ser afeito
a conquistar meus desejos.

O meu corpo está queimando,
está ardendo, lentamente,
em desejos, ansiando
por esse seu corpo quente.

É algo que me consome,
com método, com furor.
Querida, eu estou com fome:
com muita fome de amor.

Porque sou fogo que arde,
transforma lenha em carvão.
e, mais cedo ou mais tarde,
desperto sua tensão.

E, bem à minha maneira,
sem qualquer método ou nexo,
mesmo que você não queira,
acendo fogo em seu sexo.

Vencida a resistência,
você entregue, afinal,
hei de amá-la, com ciência,
numa cópula animal.

Eu serei breve e preciso
em meu consciente carinho.
você irá ao Paraíso,
sem que conheça o caminho.

Seu corpo, tenso e vibrante,
se contorcendo, em espasmo,
conhecerá o delirante
prazer que causa o orgasmo.

Satisfeitos, corpos lassos,
os desejos saciados,
mantê-la-ei nos braços,
dormiremos abraçados.

E durante todos dias
de uma vida inteirinha,
mostrarei as alegrias
de você ser sempre minha.

Viverei, com muito amor,
realizado e satisfeito.
Seja minha, por favor,
pois tenho brasas no peito!

(Poema composto em São Caetano do Sul, em 7 de maio de 1964).

Friday, February 23, 2007

REFLEXÃO DO DIA


Muitos confundem o exercício da solidariedade e crêem que ela é fruto, apenas, de sentimentos, ou, em sentido pejorativo, de “sentimentalismo”. Todavia, é uma atitude prática, racional e que reflete sabedoria e poder. Nossas ações são como molas. Com a mesma força que as “comprimirmos”, ou seja, as executarmos, elas voltarão para nós. Se nossos atos forem positivos, construtivos e solidários, embora às vezes assim não nos pareça, seremos tratados da mesma forma. Em caso contrário, nossa vida se tornará um inferno e só poderemos esperar, dos que prejudicamos, vingança, revanche e violência. Não se pode, pois, deixar de concordar com Frei Beto quando afirma que a “solidariedade é sinal de alta clarividência”. Sempre!

Genial e misterioso


Pedro J. Bondaczuk


O ano de 1985 assinalou os 50 anos da morte de uma das personalidades mais controvertidas e fascinantes da literatura de língua portuguesa (e, por que não dizer, mundial), não apenas como o originalíssimo e criativo escritor que foi, paradigma de toda uma geração de poetas (no Brasil e no além mar), mas, e sobretudo, como ser humano, arredio, atormentado e misógino até, mas que através dos seus textos conseguia despertar (continua despertando) profunda empatia nos leitores.

Referimo-nos a Fernando Antonio Nogueira Pessoa, que faleceu em 30 de novembro de 1935, no Hospital São Luís dos Franceses, em Lisboa, onde havia sido internado na véspera, em decorrência de uma "cólica hepática", conforme diagnóstico dos médicos locais.

Publicou, em vida, com o seu nome de batismo, apenas um livro: "Mensagem", em 1934. No entanto, não se trata, como os leigos podem imaginar, daqueles escritores do tipo do mexicano Juan Rulfo, de uma única e solitária obra, mesmo que genial. Pelo contrário. Sua produção foi copiosa, variada, densa e, sobretudo, estilisticamente prolífica e original, o que o torna tão interessante, principalmente para os amantes da boa poesia.

A quase totalidade daquilo que foi publicado, enquanto vivo, o foi sob vários outros nomes, que não o seu. É verdade que, postumamente, isso acabou sendo corrigido. E outros tantos livros tendem ainda a surgir, já que somente uma parcela ínfima dos papéis que deixou foi analisada e organizada. Também, pudera! Foram deixados 25.426 documentos originais, dos quais 18.816 manuscritos, em letra quase indecifrável. Depois de morto, foram publicados os seguintes livros com seu nome de batismo: "Poesias", "Poesias Inéditas (1930-1935)", "Poesias Inéditas" (1919-1930) e "Quadras ao Gosto Popular".

Pessoa preferia não qualificar de "pseudônimos" (como qualquer um faria), as múltiplas denominações de autoria de que se valia. Em vez disso, definia-as como "heterônimos". E justificava, argumentando que a cada nome utilizado, correspondia um estilo, próprio, único e inconfundível. E não exagerava. Era como se houvesse, de fato, vários indivíduos diferentes, reais, de carne e osso, produzindo os poemas, que na verdade eram só dele, frutos exclusivos do seu talento, da sua versatilidade e da sua inspiração.

Pelo que sei, trata-se de caso único na literatura mundial, principalmente no que se refere à variedade temática e estilística. Quem lê, por exemplo, os textos assinados tanto por Fernando Pessoa, quanto por Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro Campos, se não souber nada a respeito dos heterônimos, jamais será capaz de imaginar que todos, indistintamente, foram escritos por um único e mesmo escritor!

Esse é, obviamente, o aspecto mais mencionado e estudado da sua criação. Os poetas fictícios que criou são três entidades completas e complexas. Martin Claret ressalta, a esse propósito, em seu livro "O Pensamento Vivo de Fernando Pessoa": "Não só deu-lhes vida psicológica, mas inventou seus traços físicos, seus pequenos gostos e manias e até fez suas assinaturas". É o cúmulo do preciosismo!

O próprio escritor explicou, em carta a Adolfo Casais Monteiro, a origem desses personagens: "Ricardo Reis nasceu em 1887 (...), no Porto, é médico e está presentemente no Brasil. Alberto Caeiro nasceu em 1889 e morreu em 1915: nasceu em Lisboa, mas viveu quase toda a sua vida no campo. Não teve profissão nem educação quase alguma. Álvaro de Campos nasceu em Tavira, no dia 15 de outubro de 1890...Este, como se sabe, é engenheiro naval (por Glasgow), mas agora está aqui em Lisboa em inatividade".

Quanto aos traços físicos, Pessoa definiu da seguinte maneira os três poetas que inventou, na supracitada carta: "Caeiro era de estatura média, e, embora realmente frágil (morreu tuberculoso), não parecia tão frágil como era. Ricardo Reis é um pouco, mas muito pouco mais baixo, mais forte, mais seco. Álvaro de Campos é alto (1,75 m de altura, mais 2 cm do que eu), magro e um pouco tendente a curvar-se. Cara rapada todos --- o Caeiro louro sem cor, olhos azuis; Reis de um vago moreno mate; Campos entre branco e moreno, tipo vagamente judeu português, cabelo, porém, liso e normalmente apartado ao lado, monóculo". E vai por aí afora, criando parentescos, amores, incidentes, trajetórias de vida, enfim, toda uma biografia para cada um deles.

Designou, por exemplo, Caeiro como seu mestre e poeta da natureza. Ricardo Reis, das odes horacianas, é clássico e pagão. Álvaro Campos, por seu turno, é futurista e radical. E ele mesmo, Fernando Pessoa, classifica-se como "lírico, desencantado, nacionalista místico e ocultista". Não foram, convém ressaltar, os únicos heterônimos que inventou. Estes foram dezenas. Mas sob estes três nomes (e mais o seu), compôs uma obra sólida, densa, variada temática e estilisticamente e única em toda a literatura mundial. Coisa de gênio (ou de louco?). Bendita loucura!

Thursday, February 22, 2007

REFLEXÃO DO DIA


Fala-se, amiúde, nos círculos intelectuais, principalmente nos meios acadêmicos, sobre hipotética “herança cultural” dos povos. Ocorre que, como André Malraux constatou (com pertinência e muita lucidez), “cultura alguma se herda: nós a conquistamos”. Mais do que isso, nós a construímos, com nossa inteligência, com nossa lucidez, com nossa criatividade, com nossos atos e com nossa vida. A essa conquista, individual e ao mesmo tempo coletiva, e a esse desenvolvimento é que chamamos de “civilização”. Façamos, pois, a nossa parte para a construção, enriquecimento e consolidação de uma genuína cultura brasileira.

Maratona de angústias


Pedro J. Bondaczuk


A vida do artista, notadamente do escritor – e, mais especialmente, ainda, do poeta – é uma contínua e quase interminável maratona de angústias. Esse indivíduo sensível, dotado do raro dom de vislumbrar além da realidade, concebe mundos fantásticos, de luz e paz, mas se angustia, e chega a beirar o desespero, ao constatar que, em decorrência de comportamentos equivocados (próprios e dos demais companheiros dessa aventura incrível e sem reprise, que é o privilégio de viver, cujo termo desconhecemos) a realidade é muito diferente das suas concepções ideais.
O artista mantém um duelo permanente em busca do perfeito e do belo. Suas obras, por mais que se aproximem da perfeição, nunca o satisfazem. Sempre há um detalhe, uma nuance, um “que” a mais a ser aperfeiçoado, cortado, acrescentado, burilado, polido etc. É um esforço, um trabalho, uma faina sem fim. Dependesse apenas dele, nenhum poema, nenhuma tela, nenhuma escultura ou composição musical seriam, jamais, dados por concluídos. O artista se debruçaria sobre elas uma vida inteira, até seu derradeiro suspiro, no intento de fazê-la perfeita. O resultado, claro, seria frustração. A perfeição é vedada aos reles mortais.
Guilherme de Almeida estava coberto de razão ao escrever, na crônica “Literatice”, publicada em sua então tradicional coluna “Eco ao longo dos meus passos” do jornal “O Estado de São Paulo”, em 2 de agosto de 1968: “O estudo do belo é apenas um duelo no qual o artista grita de terror antes de ser vencido”. A beleza, literalmente (ao contrário do que se pensa, ou seja, que acalme) aterroriza, pelo seu mistério, sua transcendência e profundidade. Aterroriza e escraviza. Coage o artista, o intima, duela com ele e o vence.
Todas as artes me atraem, me fascinam, me encantam, me embevecem e...me aterrorizam. A que me causa maior fascínio, todavia, é a música. É o talento de juntar sons dispersos e variados, que isoladamente não passariam de incômodos ruídos, mas que, em conjunto, expressam harmonia, embevecem a alma e produzem sensações agradáveis (e inenarráveis) na mente e até no corpo.
Consta, da mitologia grega, que o mais talentoso músico que já viveu, quer como intérprete, quer como compositor, foi Orfeu, filho da musa Calíope. Quando tocava sua lira, que ganhou de Apolo (o qual, se dizia, seria seu verdadeiro pai), todos os seres viventes, animais ou vegetais, se submetiam ao seu encanto. Isso, claro, antes da trágica perda de Eurídice, sua amada, à qual desposou. Depois... Bem, essa fase não cabe aqui, nestas considerações.
Quando Orfeu tocava sua lira, os pássaros paravam de voar e se reuniam ao seu redor, embevecidos com tamanha harmonia. Os animais selvagens amansavam e se tornavam inofensivos. Sua música tinha o poder de acalmar as mais perigosas feras a ponto de adormecê-las. Até as árvores se curvavam, em reverência, e para apreender cada nota musical, que reverberavam e multiplicavam de intensidade.
A música, hoje, é tida, nos mais avançados centros médicos dos Estados Unidos, da Europa e do Brasil, como um santo remédio. A medicina incorporou-a ao seu arsenal terapêutico e até lhe destinou uma nova disciplina: a musicoterapia. Já em culturas antigas, numa época em que não existiam as sofisticadas drogas de hoje para relaxar o organismo e possibilitar que a natureza cumprisse seu papel, fazendo com que o corpo liberasse endorfina e acelerasse a regeneração orgânica, essa arte era utilizada para abreviar a recuperação de doentes.
Depois da Segunda Guerra Mundial, alguns médicos constataram que a música tem a capacidade de derrubar as barreiras psicológicas que os enfermos desenvolvem e de fazer com que sua condição mental se estabilize. E o método se mostra sumamente eficaz não apenas no tratamento de doenças de fundo nervoso. Até pacientes com câncer vêm sendo submetidos a essa agradabilíssima terapia, com resultados surpreendentes e, não raro, “milagrosos”.
Diante do mistério da beleza – da qual me considero eterno servidor – faço minha a indagação de Ernesto Sábato, em seu livro “Antes do fim”: “A que epifânias de enigmáticos deuses o destino me conduziu?”. Sim, a que? Onde, quando e por que fiz essa opção de vida, que me torna tão diferente dos meus pares? Não sei!
Só sei que a cada manhã, recito, contrito, a mesma prece de Charles Baudelaire: “Ó Senhor! Dai-me força e coragem para contemplar sem asco meu corpo e meu coração!”. O primeiro, dada a deformação causada pela deterioração natural produzida pelos anos. O segundo, tendo que resistir à cotidiana e constante maratona de angústias, ditada pela frustração de jamais atingir a beleza absoluta e irretocável, por mais que tente. E, arremato estas esparsas reflexões com a constatação de Ernesto Sábato: “Ainda que seja terrível compreendê-lo, a vida se faz um rascunho, e não nos é dado corrigir suas páginas”. O que for escrito, permanecerá, para sempre, intocável e sem possibilidades de emendas, ou como testemunho da nossa incompetência, ou como libelo do nosso estranho destino.

Wednesday, February 21, 2007

REFLEXÃO DO DIA


O poder da vontade é praticamente ilimitado. Conheço inúmeros exemplos de pessoas feridas pela natureza, que nasceram com alguma deformidade ou limitação física, ou que ficaram assim em decorrência de alguma doença ou de acidentes, e conseguiram reagir. Superaram suas limitações, livraram-se da autopiedade e da tendência natural para a revolta e a amargura e realizaram maravilhas, que espantam aqueles que nunca tiveram que passar por experiências tão traumáticas. Foram vencedoras. Uma delas foi, sem dúvida, Helen Keller. Este é o exemplo de grandeza que mais prezo e que procuro imitar, por se originar do único tipo de poder que vale a pena possuir: o da vontade!

Vaidade e corrupção


Pedro J. Bondaczuk


A corrupção, tema tão velho quanto o próprio homem, voltou, desde maio de 2005, a freqüentar as manchetes – se é que algum dia chegou a sair delas – repetindo, com outros personagens e circunstâncias, o que ocorreu em 1992, com o escândalo PC Farias, ou com o caso dos “Anões do Orçamento” e vai por aí afora, regressivamente.
O interessante é o tom apocalíptico adotado por alguns editorialistas e comentaristas políticos que, mesmo que não se dêem conta, deixam implícita, em seus textos, a mensagem de que tudo está perdido, de que nas próximas horas o País deixará de existir, e outras elucubrações neuróticas do gênero.
É verdade que compete aos formadores de opinião tratarem não somente deste, mas de tantos outros problemas que afetam a comunidade. Mas é preciso ponderação, equilíbrio e, sobretudo, muito bom-senso ao proceder às análises. Até porque, estas podem estar equivocadas, por mais lógica e verossimilhança que venham a apresentar. Opinião é uma coisa, propaganda política velada é outra, muito diferente.
O professor Eduardo Gianetti da Fonseca, no ensaio “Ética e Inflação”, publicado no boletim “Braudel Papers”, edição janeiro-fevereiro de 1993, cujo trecho peço licença para reproduzir, para fundamentar minha tese, observou, com muita propriedade: “O problema moral não é, certamente, algo exclusivo do Brasil. Ele existe desde o tempo em que a filosofia grega, a partir de Sócrates, voltou-se para a reflexão sobre os princípios da conduta humana e a distância entre o existente e o desejável”.
Cada geração tem a tendência de achar que é decisiva para a História, que os dramas que a afetam são os maiores, que os perigos a que o Planeta está exposto são os mais graves (e até podem ser, não duvido). No entanto, passam, como tudo e todos no mundo, e a Terra continua em seu giro pelo espaço. Em condições piores, é verdade, mas continua. Requer-se, pois, dos formadores de opinião, mais objetividade e menos retórica. Afinal, a verdade não tem donos.
Diante do noticiário atual, dá para repetir as palavras de uma crônica intitulada “Vae Soli!”, publicada por um jornal do Rio de Janeiro em 1892, uma raridade que “garimpei” em meus arquivos implacáveis, que diz, em certo trecho: “Um dia desta semana, farto de vendavais, naufrágios, boatos, mentiras, polêmicas, farto de ver como se decompõem os homens, acionistas e diretores, importadores e industriais, farto de mim, de ti, de todos, de um tumulto sem vida, de um silêncio sem quietação, peguei uma página de anúncios e disse comigo: ‘Eia, passemos em revista as procuras e ofertas, caixeiros desempregados, pianos, magnésias, sabonetes, oficiais de barbeiro, casas para alugar, amas de leite, cobradores, coqueluche, hipotecas, professores, tosses crônicas’”.
Ah, a propósito, estas palavras foram escritas por um profundo conhecedor da natureza humana. Seu autor foi o que os norte-americanos chamam de “self-made man” (não sei se a grafia, em inglês, é mesmo esta) – o homem que se faz sozinho – tendo de superar tremendos obstáculos impostos pelo preconceito: pelo fato de ser mulato, gago, epiléptico e de nunca ter freqüentado escola. Claro que me refiro a um dos maiores escritores brasileiros (e, por que não, mundiais) de todos os tempos, fundador da Academia Brasileira de Letras: Machado de Assis. Como se observa, as cassandras de mau-agouro não são novas e já causaram tédio, com a sua histeria, aos nossos avós, nos estertores do século retrasado.
A corrupção existe e precisa ser combatida (é o óbvio ululante, diria Nelson Rodrigues), não se pode negar. E claro que não nego. Pelo contrário. Mereceria maior ênfase do que aquela que tem sido dada. Mas será que tudo, de fato, está perdido no País, como muitos dão a entender? O que se deve procurar são soluções e este é o papel maior dos analistas, daqueles que dissecam os fatos com um certo distanciamento, ou que pelo menos deveriam proceder dessa forma. O festival de retórica que circula por aí (pelo menos da forma que a maioria das críticas é colocada) não passa, pois, do que Eclesiastes captou tão bem: “Vaidade, vaidade...”, nada mais do que vaidade...E prefiro acreditar que seja só isto e não coisa muito pior!

Tuesday, February 20, 2007

TOQUE DE LETRA




Pedro J. Bondaczuk

(Fotos: Do site oficial da A. A. Ponte Preta)

EMPATE RUIM EM CASA


Os dois principais times de Campinas, Ponte Preta e Guarani, realizam campanhas bastante parecidas nos respectivos campeonatos que disputam. Quando um perde, o outro imita e é derrotado também. O mesmo vem ocorrendo com vitórias e empates. No último fim de semana, não deu outra. Ponte Preta e Guarani empataram os seus jogos e pelo mesmíssimo placar. Foi pior para a Macaca, que não conseguiu derrotar, na sexta-feira, o tinhoso Bragantino, em pleno Moisés Lucarelli. O time jogou melhor na primeira etapa e teve a grande chance da partida, nos pés do matador Finazzi que, com problemas físicos (acometido de uma virose que obrigou o técnico Nelsinho Baptista a substituir o centroavante ainda no primeiro tempo), desperdiçou um pênalti, cometido sobre Wanderley, o segundo que ele perde neste Campeonato Paulista. No segundo tempo, a Ponte Preta, demonstrando um preparo físico ainda longe do ideal, caiu abruptamente de produção. E suou para sustentar um 0 a 0 contra o time de Bragança Paulista, que praticamente alugou o meio campo pontepretano. Foram mais dois preciosos pontos perdidos nos próprios domínios. O que fazer? Poderia ter sido pior...

PARTIDA RIDÍCULA DO GUARANI

O Guarani jogou, no sábado, em Taubaté, diante de um dos times mais fracos da Série A-2, a sua pior partida na presente temporada. E só não saiu derrotado do Vale do Paraíba graças à magnífica atuação do goleiro Gisiel, que substituiu o titular da posição, Buzzetto (que se contundiu) ainda no primeiro tempo. A equipe teve um rendimento sofrível, ao ponto do técnico Waguinho Dias fazer um irritado desabafo, no final do jogo, afirmando que iria pedir a dispensa de vários dos jogadores que atuaram, por “não terem condições de vestir a camisa do clube”. O Taubaté, além de ocupar as últimas posições na tabela, atravessa uma grande crise, com a briga sem fim entre a sua diretoria e o seu patrocinador. Estreou técnico novo, desconhecido nos meios futebolísticos, e atuou com meio time reserva. Os salários estão atrasados e parece que, por ali, ninguém entende ninguém. Ainda assim, sem jogar um futebol brilhante, só não venceu a partida, reitero, graças à inspirada atuação do goleiro Gisiel (que, aliás, enfrentou, pela primeira vez, o seu ex-clube). Para as circunstâncias, o 0 a 0 até que caiu do céu.

ALGUMAS BOAS ATUAÇÕES

Apesar da má apresentação da Ponte Preta, na sexta-feira, no empate de 0 a 0 com o Bragantino, no Majestoso, notadamente na segunda etapa, gostei da atuação de alguns jogadores, que entraram no time e não comprometeram. Entre estes, destaco o zagueiro Alexandre Black, garoto de muito futuro, que teve a difícil missão de substituir o experiente Emerson e o fez muito bem. Seguro na marcação, eficiente no desarme e muito bom em bolas pelo alto, o atleta ganhou a confiança da torcida e foi um dos principais responsáveis pela meta pontepretana não haver sido vazada. Outro que me agradou foi o estreante Fernando. É verdade que errou alguns passes e bateu mal uma falta, pelo que foi muito criticado pelos comentaristas das emissoras de rádio presentes ao Moisés Lucarelli e por parte da torcida. É preciso ressaltar, porém, que o jogador chegou ao clube apenas no início da semana, fez só dois coletivos com o grupo e já foi para o jogo. Teve a incumbência de barrar as descidas do bom lateral Marco Aurélio, do Bragantino, o que fez com muita eficiência. Mostrou, portanto, grande potencial e, certamente, vai evoluir bastante. Outros que me agradaram, além do goleiro Aranha, que vem se firmando a cada jogo que passa, foram o volante Thiago Carpini, o meia Ezequiel e o garoto Wanderley. Este, aliás, propiciou a maior oportunidade da partida à Ponte, ao sofrer, após brilhante jogada individual, a penalidade máxima, que Finazzi desperdiçou. Sinto que este time, apesar das críticas e cobranças gerais, tem tudo para evoluir. É preciso, porém, paciência e apoio, quer por parte da crônica, quer da torcida.

OUTRO QUE DIZ NÃO AO BUGRE

O maior problema para o Guarani trazer os reforços que o clube tanto precisa é a recusa de vários dos jogadores pretendidos de virem atuar no clube. Há duas semanas, a diretoria bugrina entrou em contato com o São Paulo, para trazer ao Brinco três jovens promessas são-paulinas: Hernanes, Marco Antonio e Paulo Matos. O tricolor concordou em liberar os atletas, mas estes se recusaram a sequer iniciar negociações com o Bugre, argumentando que pretendiam disputar a série A-1 do Campeonato Paulista e a Série A do Brasileiro. Ontem, foi a vez do veterano Sérgio Manoel dizer “não” ao Guarani. Optou por atuar no inexpressivo Ceilândia, que disputa o apagado Campeonato Brasiliense. A que ponto chegou um clube de tanta tradição, que tem em seu currículo um título nacional! Quando um clube adquire a fama de mau-pagador, como é o caso do Guarani, é muito difícil de recuperar o prestígio. Enquanto isso, tanto o técnico, quanto a torcida, exigem reforços, face à nítida e gritante fragilidade do atual plantel. Durma-se com um barulho desses!

CAMPANHA DISCRETA, COMO O ESPERADO

É verdade que a Ponte Preta não faz nenhuma campanha brilhante, neste início de Campeonato Paulista. Mas não teve nenhum resultado que pudesse ser classificado de “aberrante” e que justificasse tantas e tão contundentes críticas da crônica esportiva. Na décima rodada da competição, o time ainda não perdeu em seus domínios, o que não deixa de ser uma evolução em relação a 2006. Quando empatou com o São Bento, por 2 a 2, parecia que o mundo iria cair. Todavia, os comandados de Fred Rincón derrotaram, no sábado, o líder do campeonato, o até então invicto Santos, por 2 a 0, em plena Vila Belmiro e ninguém disse a mesma coisa dos comandados de Wanderley Luxemburgo. O Bragantino, que sustentou um 0 a 0 no Majestoso, na sexta-feira, disputa um bom campeonato e empatou com o Palmeiras, no Pacaembu, jogando a maior parte da partida com um jogador a menos. Quando a Ponte perdeu para o São Caetano, no ABC, por 2 a 1, todos disseram que se tratou de um vexame. No entanto, o Azulão faz uma excelente campanha e pode, até, arrancar vaga para as finais. E as derrotas contra o Corinthians, o Juventus e o Guaratinguetá foram normalíssimas, pois ocorreram fora de casa. Não vejo motivos, pois, para tantas críticas e tanto pessimismo. Encaro esse comportamento como um desserviço ao clube, pois só consegue tumultuar o ambiente, e nada mais. Criticar, tudo bem. Mas as críticas têm que ser equilibradas, ponderadas e, sobretudo, construtivas. E as que vêm sendo feitas, no meu entender, não têm essa característica. Longe disso!

SÃO PAULO ESTRÉIA DE FORMA DISCRETA

A estréia do São Paulo, na Copa Libertadores da América, frente ao fraco e desconhecido Audax Italiano, do Chile, nos domínios do adversário, não foi a que seus torcedores esperavam. O time praticou um futebol burocrático, sem inspiração e sem criatividade e teve que se contentar com um razoável 0 a 0. Se for levado em conta o fato do jogo ter sido disputado fora de casa, não há o que lamentar. Mas se o tricolor quiser reeditar as performances dos dois últimos anos na competição, terá que jogar mais, muito mais do que jogou no Chile. E tem futebol para isso. Dos brasileiros que já estrearam, o melhor resultado foi o obtido pelo Grêmio. Jogando em Assunção, em partida que teve inúmeros incidentes fora de campo, com briga entre as duas torcidas, o tricolor gaúcho voltou para Porto Alegre com excelente e importante vitória, por 1 a 0. Por se tratar de time “copeiro”, a expectativa é que vá bastante longe na competição. Não se descarta, inclusive, a possibilidade de um Grenal na decisão do título. Seria um jogão, de arrebentar o coração dos gaúchos!

RESPINGOS...

· Os chamados pequenos estão aprontando não somente em São Paulo, mas também no Rio. No sábado, o modesto Madureira aplicou um categórico 4 a 1 sobre o todo-poderoso Flamengo.
· No duelo entre os dois melhores pequenos do Paulistão, ou seja, Noroeste e São Caetano, deu o time de Bauru. A equipe bauruense nem tomou conhecimento do Azulão e aplicou uma histórica goleada, por 5 a 2.
· O São Bento, de Fred Rincón, conseguiu a façanha de derrotar o Santos, em plena Vila Belmiro, onde o atual campeão paulista é quase imbatível, por 2 a 0.
· A imprensa campineira (infelizmente) já dá como favas contadas a vitória do Vila Nova, de Minas, sobre a Ponte Preta, pela Copa do Brasil. Ocorre que ninguém é vencedor de véspera. Espero que o time queime a língua dessas cassandras de mau agouro.
· Ronaldinho é mesmo um Fenômeno, a despeito de tudo o que dizem dele. Sábado, fez dois gols pelo Milan, um deles de cabeça, o que é uma raridade em sua carreira. Quem conhece, conhece.

* E fim de papo por hoje. Entre em contato, para críticas e sugestões.


pedrojbk@hotmail.com

REFLEXÃO DO DIA


Como toda a arte, a poesia acompanhou os novos tempos e as mudanças de comportamento das pessoas, influenciadas pelo tempo e pelo meio em que vivem. Esta é uma época de angústias, de incertezas, de perigos de toda sorte face à violência urbana que campeia por aí e, sobretudo, (e paradoxalmente diante da superpopulação mundial), de solidão. A perplexidade substitui o encantamento. A mulher deixou de ser aquela figura frágil e diáfana, romantizada pelos poetas de um passado não muito remoto. E os padrões de beleza, válidos no século XIX e boa parte do século XX, por exemplo, hoje soam como coisas pueris e piegas. Mas, ainda assim, o poeta encontra beleza no meio do caos. Em vez de fixar os olhos nas águas podres do pântano, prefere contemplar a lua, que se reflete nelas.

Amor de Carnaval



Pedro J. Bondaczuk

O “poetinha”, entre tantas coisas maravilhosas que nos legou, cunhou uma afirmação muito especial, que já se tornou até clichê, mas que ganhou foros de imortalidade, pelo tanto de verdade que encerra: “O amor é eterno... enquanto dura”. E Vinícius de Moraes sabia das coisas! E em especial das que se referiam ao coração! (E antes que algum chato, desses que se apegam à literalidade das palavras, cisme em fazer alguma gracinha, me apresso em esclarecer o óbvio: ele não era cardiologista!).
Está aí a sua marcante obra; estão aí os seus poemas e suas letras de consagradas canções, repetidos pelas pessoas, as mais heterogêneas, e nos mais diversos momentos e circunstâncias, a confirmar o que sequer seria necessário dar tanta ênfase. São coisas públicas e notórias.
Essa “eternidade” do amor pode durar uma vida toda, ou não mais do que algumas meras horas de encantamento e de prazer. O que conta, no caso, não é a duração, mas a intensidade do sentimento. É a sua autenticidade. São as marcas deixadas na memória por esse acontecimento de tanta relevância e até transcendência, que nos acompanham enquanto vivermos.
Não sei se Vinícius, quando criou esse verso específico, se referia ao “amor de carnaval”. Mesmo que não lhe passasse nem de leve pela mente essa fugaz circunstância, o que escreveu cabe como uma luva a esse tipo de situação. Em especial, a uma que tive o privilégio de viver.
Foi no carnaval de 1966. Passei-o no Rio de Janeiro que, na oportunidade, a despeito da violência política da guerrilha urbana, que se opunha à ditadura militar, com seqüestros e assaltos a bancos, ainda merecia plenamente a designação de Cidade Maravilhosa. As favelas e os morros ainda não estavam nas mãos dos traficantes e/ou das milícias, como hoje, e não havia o clima de guerra civil não declarada da atualidade nessa nossa ex-Capital Federal.
Foi num clube carioca, muito conhecido (cujo nome prefiro não revelar) que a conheci. Nessa época, os bailes de salão eram a grande pedida do carnaval, não apenas no Rio, mas em qualquer parte do País. Nunca fui de pular, até porque não tenho (e na época também não tinha) resistência para tanto. Sempre preferi apreciar, de camarote, o panorama, o ambiente e os foliões. Por isso, adquiri uma mesa (na ocasião os clubes ainda as vendiam, não sei se ainda o fazem, e era com o produto dessas vendas que pagavam as principais despesas do baile) que ocupava com os amigos.
Conversar, ao som da orquestra, com as marchinhas cantadas a plenos pulmões pelos presentes, era impossível. Só podia fazê-lo nos raros intervalos entre uma seleção e outra. Entre as pessoas que brincavam, notei, de cara, uma morena, de cabelos longos e negros, olhos redondos, castanhos e muito expressivos, baixinha, mas de corpo escultural e perfeito, que sempre que passava pela minha mesa, me sorria. A princípio, sequer notei. Fui alertado, porém, por um dos amigos, de que a Colombina (ela usava essa fantasia) estava me dando bola. Durante duas seleções completas, trocamos sinais, piscadelas, sorrisos e beijos jogados no ar.
Num dos intervalos, convidei-a a vir à minha mesa. De imediato, nossas mãos se juntaram, nossos dedos se entrelaçaram, enquanto nossos pés trocavam carícias, escondidos pela toalha. Uma poderosa tensão percorreu todo o meu corpo, como se eu levasse uma descarga elétrica de mil volts ou mais.
Sem dizer palavra, saímos em direção a uma porta, que dava para um depósito do clube. Mal entramos no local, nos beijamos com paixão, com furor, com desejo e mais que isso, com fome de afeto e de sexo. E, apesar do perigo de sermos flagrados (ou exatamente por isso), nos despimos desesperados e ansiosos e fizemos amor como nunca antes (e nunca depois) havia feito ou fiz. Foi um delírio.
Assim que nos saciamos, sem dizer coisa alguma, voltamos, de mãos dadas, ao salão. Naquele momento, os foliões cantavam, a plenos pulmões, o “hit” daquele carnaval, “Máscara negra”, composição de Zé Kéti e Pereira Matos. “Tanto riso, oh quanta alegria/mais de mil palhaços no salão/Arlequim está chorando pelo amor da Colômbia/no meio da multidão”, ecoava a música pelas paredes, num volume ensurdecedor, que causava euforia e delírio. Olhamo-nos demoradamente e creio que nos sentimos como se fôssemos uma só pessoa, uma só alma em dois corpos, mediante a magia do amor. Pelo menos eu me senti assim.
“Foi bom te ver outra vez/ta fazendo um ano/foi no carnaval que passou/eu sou aquele Pierrô/que te abraçou/que te beijou meu amor...”, prosseguia a marchinha. Senti que a minha musa queria voltar a pular, para descarregar energias, que tinha de sobra e que agora pareciam multiplicadas, aliviada a tensão do desejo sexual.
“A mesma máscara negra/que esconde o teu rosto/eu quero matar a saudade/vou beijar-te agora, não me leve a mal/hoje é carnaval”. Ao chegar a esta parte da música, trocamos um longo, apaixonado, profundo e inesquecível beijo, que nos deixou sem fôlego, tão demorado que foi, e nos despedimos, sem qualquer palavra. Sem nomes, sem detalhes que nos identificassem um ao outro, sem nada. Nunca mais a vi e jamais soube de quem se tratava. Não fiquei sabendo, sequer, se morava no Rio ou se, como eu, estava apenas de passagem pela cidade. Nem se era casada, noiva, namorada, nada. Como diria Paulinho da Viola, “foi um rio que passou em minha vida” e me inundou de ternura e de paixão.
Por anos, voltei ao mesmo clube, na esperança de reencontrá-la ou de conseguir qualquer indicação, a mínima que fosse, a seu respeito: sobre quem era, que idade tinha, qual sua condição civil ou onde morava. Tudo em vão! Tratou-se de um amor brevíssimo de carnaval, fugaz como um piscar de olhos e, no entanto, “eterno...enquanto durou”. Quanta razão tinha o poetinha quando escreveu esse inspirado verso! De fato, Vinícius sabia das coisas! o civil ou onde morava, tudo em vue idade que tinha, qual a sua condiçm fviada a tens, fizemos amorva me dando bola.

Monday, February 19, 2007

REFLEXÃO DO DIA


Os escritores em geral e os poetas em particular têm uma visão mais aguçada do futuro. Ao contrário da idéia geral que se faz dos versejadores, desses seres inspirados, "cúmplices dos deuses", eles não estão alheios à realidade que os cerca. No entanto, por um dom natural de que são dotados, conseguem enxergar além dela, a projetando para adiante. Afinal, ao contrário do que se imagina, são eles que usufruem plenamente da existência. O iluminado autor de "Recherches du temps perdu", o imortal Marcel Proust, escreveu, a esse propósito: "A verdadeira vida, a vida enfim descoberta e esclarecida, a única vida por conseguinte realmente vivida, é a literatura". É ela que, ao ressaltar a criatividade, nos dá sentido, grandeza e transcendência e nos livra da mediocridade, do tédio e da rotina do cotidiano.

A Caixa de Pandora


Pedro J. Bondaczuk

O desastre verificado na usina nuclear soviética de Chernobyll, cujas conseqüências reais ainda são desconhecidas, conduzem o crítico a uma série de reflexões, baseado, não somente, neste caso específico, mas em vários outros. Como o verificado, por exemplo, em março de 1979, em Three Mile Island, nos Estados Unidos. Ou como os seguidos vazamentos de radioatividade verificados na unidade de Tsuruga, no Japão, que levou as autoridades nipônicas a fecharem esse complexo, após o 39º acidente. Ou, então, como o caso verificado mais recentemente, na Grã-Bretanha, onde a radiação contaminou a produção leiteira de uma vasta região.
Quando a energia contida no interior de um átomo foi descoberta, a fantasia humana previu para ela milhares de aplicações em fins pacíficos. Chegou-se a falar, num tempo não tão remoto assim, até no seu uso em veículos automotores, nas grandes cidades mundiais.
Previu-se a remoção de montanhas em questão de horas, a abertura de túneis em fração ínfima de tempo (se comparada aos métodos convencionais) e outras utilizações em projetos megalomaníacos.
Hoje, à exceção de alguns navios de guerra, onde o combustível atômico tem vasta aplicação, para pouca coisa mais essa terrível energia tem servido ao homem. Ao contrário, nela, hoje, reside todo o nosso temor, e todo o nosso pânico, porquanto por esse meio, tudo o que foi feito no Planeta, e todos os seus habitantes, podem ser destruídos por essa fúria, capaz de ser deflagrada com o simples ato de se comprimir um determinado botão.
Mesmo que essa fonte energética possa servir para tudo o que se imaginou, o homem ainda não aprendeu como neutralizar um de seus principais efeitos colaterais: a emissão de raios gama, beta e sabe-se lá quantos e quais outros, letais para os seres vivos. Portanto, sua aplicação envolve infinitamente maiores riscos do que vantagens.
Pode-se dizer, até, que a energia nuclear é como aquela mitológica caixinha dos gregos, a de Pandora, que continha todos os males da Terra. No dia em que certo insensato a abriu, pestes, violência, morte e destruição passaram a assolar os povos.
A comparação é válida para a tremenda força existente no núcleo de um átomo. Vários cientistas admitem que acidentes, como o registrado na União Soviética, em que o coração do reator se derreteu e a própria usina foi tomada por um incêndio, podem matar milhões de pessoas. Algumas, no próprio desastre. Outras tantas, de uma forma mais cruel, lenta e insidiosa, mas fatal.
A própria URSS já teria passado por algo dessa natureza (embora suas autoridades sempre neguem a versão). Fotos tiradas por satélites, do território soviético, mostram uma região desolada, próxima aos Montes Urais, que apresenta um aspecto como se tivesse sido bombardeada por algum artefato nuclear.
Ali teria ocorrido, por volta de 1956, um desastre fabuloso, muito pior do que o ataque norte-americano a Hiroshima. Aldeias inteiras, que então constavam dos mapas, hoje já não existem mais. Quantos morreram ali (se for verídica a versão, e não há razões plausíveis para se duvidar da sua veracidade)? Cem mil pessoas? Duzentas mil? Quinhentas mil? Um milhão de pessoas?
Isso, provavelmente, jamais se saberá com certeza. Mas as fotografias de satélites mostram que alguma coisa de muito grave de fato aconteceu nessa área do território soviético. E de nada vai adiantar as autoridades desse país negarem a ocorrência.
Imagine o leitor se, ao invés de uma usina termonuclear, houvesse explodido – por algum desses acidentes inexplicáveis, mas sempre possíveis – um silo carregado de ogivas nucleares! E, pior, se por algum fenômeno diabólico, todavia plausível, a reação em cadeia, que conduz à fissão dos átomos, fosse deflagrada em cinco, ou em dez dessas bombas!
A esta altura, se ainda estivéssemos vivos, estaríamos à espera, somente, do pior. Ou de um longo inverno nuclear, que congelaria o Planeta, privado da luz solar por anos e anos. Ou de algo ainda mais apavorante: a insidiosa radioatividade, invisível, traiçoeira e implacável, que nos mataria lentamente.
E qual povo, obcecado pelo poder a ponto de agir, inconscientemente, como suicida, tem o direito de determinar o instante e a forma com que vamos morrer? Claro que nenhum! É por essa e muitas outras razões que devemos lutar, enquanto há tempo, para o banimento de todas essas engenhocas. Porquanto, cada dia que nasce está arriscado a se tornar o derradeiro em que vemos a luz do sol.

(Artigo publicado na página 9, Internacional, do Correio Popular, em 30 de abril de 1986).

Sunday, February 18, 2007

REFLEXÃO DO DIA


Compartilho com você este provocativo texto, de autoria do escritor argentino Jorge Luís Borges, que diz: “Não há geração sem quatro homens retos, que secretamente sustentam o universo e o justificam diante do Senhor. Um desses varões teria sido o juiz mais idôneo. Mas, onde encontrá-los, se andam perdidos e anônimos pelo mundo, e não se reconhecem quando se vêem, e nem eles mesmos sabem do alto ministério que cumprem?” É esse “reconhecimento”, essa identificação, essa integração dos “varões justos” desta geração que nos compete fazer, e valorizar, e juntar-se a eles para melhorar o mundo e torná-lo mais justo, mais humano e mais solidário. Quem sabe você não é uma dessas quatro pessoas retas? Afinal, discordo de Borges quando os nomeia como “varões” e não simplesmente como “pessoas”, sem discriminação de sexo.

Trabalho duro


Pedro J. Bondaczuk

As rápidas transformações, ditadas pela evolução tecnológica – em especial a das comunicações – mudando o enfoque do trabalho, fechando empregos e abrindo perspectivas promissoras em outros setores ainda a serem explorados (como os da informação e das artes), exigem uma revisão criteriosa no conceito e na maneira de tratar o ensino.

Os currículos, por exemplo, precisam ser adaptados, a filosofia da educação tem que ser revista para se adequar às atuais necessidades e o acesso ao conhecimento precisa ser o mais universal possível, para que não se estabeleçam "castas", como ocorre agora.

Estas exigências contemporâneas impõem, acima de tudo, um novo tipo de professor. O mestre não pode mais se limitar àquele papel convencional que todos conhecemos, de mero transmissor de informações que qualquer garoto obtém com facilidade através da Internet.

Sua tarefa passa a ser a de estimular o raciocínio dos alunos. Ou seja, a de "ensiná-lo" a pensar, fornecendo-lhe indicações de como fazer para disciplinar o pensamento, despertando a criatividade latente que certamente traz dentro de si.

No entanto, embora crescentemente exigido, o "novo professor" continua às voltas com velhos problemas, impedindo que se recicle e se atualize para fazer frente aos desafios que os tempos atuais lhe impõem. O maior deles, embora longe de ser o único, é o de como prover a própria existência, diante dos salários irrisórios, para não dizer indignos, que recebe.

Essa erosão salarial, ao contrário do que se supõe, não é prerrogativa brasileira. Aliás, no Brasil, pelo menos se vislumbra uma possibilidade de revalorização do magistério (embora muitos contestem) com o plano recentemente anunciado pelo ministro de Educação, Paulo Renato de Souza, que se não é ideal, não deixa de ser um primeiro e importante passo, que se espera seja sucedido por muitos outros.

Por enquanto, porém, a coisa não saiu do papel. Há no Brasil professor recebendo de R$ 25 a R$ 50 por mês, quando não menos. E os anunciados R$ 300 a longo prazo têm que ser um "piso", jamais o "teto".

No boletim mensal do Centro de Informação das Nações Unidas, "ONU em Foco", referente a setembro, a situação dos professores no mundo é enfatizada em um texto intitulado "Trabalho Duro". O redator destaca que esta chegou a um ponto "intoleravelmente baixo", com base em dados da Organização Internacional do Trabalho.

O informativo cita relatório da OIT onde são enfatizados exemplos sobre um profundo achatamento salarial dos docentes. Um dos casos mencionados é o da Argentina. No país vizinho, os salários dos professores equivaliam, em 1993 (data do levantamento), à metade dos que eram recebidos em 1981.

E nos últimos três anos a situação apenas piorou, conforme a imprensa argentina noticia, em decorrência da política neoliberal do presidente Carlos Menem. A remuneração média gira hoje ao redor dos US$ 200 mensais, menos do dobro do salário mínimo brasileiro.

A Organização Internacional do Trabalho enfatiza que essa erosão salarial é a regra, não a exceção, em todo o chamado Terceiro Mundo, justamente a região do Planeta mais carente de educação (e de saúde, energia, emprego etc.) sem a qual é impossível a saída do subdesenvolvimento econômico e, por conseqüência, social.

Outro exemplo mencionado é o do Quênia, na África, onde o poder aquisitivo dos professores caiu 30% na última década. E os casos poderiam ser repetidos, mudando-se apenas o nome do país ou da região, com resultados bastante parecidos. Ou seja, a desvalorização do magistério.

A primeira conseqüência da baixa remuneração é a evasão dos profissionais do ensino para outras atividades mais rentáveis. O magistério tornou-se, em muitos lugares, mero "bico" de estudantes universitários, que dão aulas apenas para suplementar o orçamento e garantir pequenas despesas pessoais, enquanto cursam faculdade.

Se os salários são baixos e para piorar estão em queda, no que se refere às condições de trabalho as coisas não estão muito melhores. No Senegal, por exemplo, por falta de escolas, os professores são obrigados a dar aulas para classes de até cem alunos, conforme o relatório da OIT. E muitas vezes, o recinto é absolutamente inapropriado, representado por galpões adaptados, ranchos e até "containners" adaptados, quando não em praças públicas.

Para debater estes e outros problemas, a Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco) promove, a partir de hoje, em Genebra, a 45ª Conferência Internacional sobre Educação, que se encerra no próximo sábado.

Ao contrário de outros anos, onde o assunto enfocado era ou de caráter pedagógico ou econômico (no sentido de investimentos do Poder Público em escolas), no presente encontro o enfoque vai ser o homem. Tanto que o tema central será "Fortalecendo o papel do professor num mundo em transformação".

Representantes de governos de países do Terceiro Mundo argumentam que fazem o possível para valorizar o profissional de ensino. A consultora do Unicef, Rosa Maria Torres, constata que em muitos Estados em vias de desenvolvimento, "os salários dos professores consomem até 95% do orçamento público com educação”.

Qualquer elevação no nível de remuneração, portanto, implicaria necessariamente em maiores investimentos. Só que tais países não contam com recursos para investir. Muito pelo contrário. Vão tirar dinheiro de onde? Do aumento de impostos? De empréstimos externos? De doações?

A maioria está às voltas com endividamentos internos e no Exterior, muitas vezes intoleráveis. Enfrentam, quase sempre, acelerado processo de pauperização. Forma-se, pois, um terrível círculo-vicioso, que precisa ser rompido a todo o custo.

Mal-remunerados, os professores escasseiam, quando o necessário é que seu número aumente (estimativas da Unesco dão conta de que o Terceiro Mundo precisa de 21,5 milhões de novos docentes, em especial no ensino básico, até o ano 2000, apenas para equilibrar o crescimento populacional).

Por falta de mestres, muitas crianças deixam de freqüentar escolas. Com isso, aumenta a quantidade de analfabetos e semi-analfabetos, portanto, de dependentes sociais. Tais países, em vez de saírem do subdesenvolvimento, afundam mais e mais na miséria, na desesperança e na violência.

A forma de superar esse impasse inclui-se entre os grandes desafios da humanidade para o próximo milênio, ao lado do desemprego, da preservação do meio-ambiente e das tensões étnicas, entre outros.


(Artigo publicado na página 3, Opinião, do Correio Popular, em 27 de setembro de 1996)

Saturday, February 17, 2007

REFLEXÃO DO DIA


Compartilho com você este provocativo texto, de autoria do escritor argentino Jorge Luís Borges, que diz: “Não há geração sem quatro homens retos, que secretamente sustentam o universo e o justificam diante do Senhor. Um desses varões teria sido o juiz mais idôneo. Mas, onde encontrá-los, se andam perdidos e anônimos pelo mundo, e não se reconhecem quando se vêem, e nem eles mesmos sabem do alto ministério que cumprem?” É esse “reconhecimento”, essa identificação, essa integração dos “varões justos” desta geração que nos compete fazer, e valorizar, e juntar-se a eles para melhorar o mundo e torná-lo mais justo, mais humano e mais solidário. Quem sabe você não é uma dessas quatro pessoas retas? Afinal, discordo de Borges quando os nomeia como “varões” e não simplesmente como “pessoas”, sem discriminação de sexo.

Consolo de Pierrô


Arranque a máscara da face Pierrô,
A sua sina é comum, muito banal,
É quarta-feira e a folia já passou,
Você perdeu só um amor de Carnaval.

Em amores fortuitos, a leviandade
É que chateia, que aborrece e amofina,
E só lhe resta acalentar nova saudade
Da volúvel, da inconstante Colombina.

Não se aborreça, não fique tão triste assim,
Pois, afinal, este consolo lhe restou
Por ente as cinzas de outro findo Carnaval:

O traído de amanhã será Arlequim!
É quarta-feira e a folia já passou:
Arranque a máscara da face Pierrô!

(Soneto composto em Campinas, em 16 de fevereiro de 2007).

Friday, February 16, 2007

REFLEXÃO DO DIA


A educação contemporânea é, em muitos aspectos, equivocada. As pessoas são instruídas na suicida atitude da "falsa esperteza", de levar vantagem em tudo. Aprendem, e transmitem adiante, que devem batalhar para ser servidas, nunca para servir. De que aí reside a fonte do poder. As que não reúnem condições para isso, acabam frustradas, amargas, vingativas e violentas. As que podem "comprar" serviços, igualmente não se satisfazem. Pelo contrário, jogam fora o seu tempo no ócio e quando chegam ao cabo da vida, descobrem, assustadas, que nada fizeram para marcar sua passagem pelo mundo. Mas os que decidem sozinhos, por questão de foro íntimo, servir ao próximo, sem esperar recompensas ou qualquer espécie de gratidão, no seu momento final podem olhar para trás com orgulho, pelo tanto que realizaram. De uma forma ou de outra, tais pessoas jamais serão esquecidas. Viverão nos corações daqueles a que beneficiaram.

Bendita rotina!


Pedro J. Bondaczuk

A maioria das pessoas que conheço, e com as quais convivo, queixa-se, amiúde, da vida rotineira que leva. As reclamações vão desde o trabalho realizado, que não seria o de seus sonhos, ao casamento, que caiu na monotonia e não raro acaba desfeito, com rusgas, ressentimentos, mágoas e sofrimentos para todos os envolvidos. E as queixas não param por aí. Passam, ainda, desde o tipo de lazer que os queixosos têm à disposição, aos seus relacionamentos de amizade. E vão por aí afora.
Essas pessoas, no entanto, reclamam, reclamam, mas não movem uma só palha para promover benéficas mudanças em suas vidas. Conformam-se com o cotidiano banal, sempre igual, rotineiro e sem graça. Mas seria mesmo assim? É possível que todos os dias sejam, de fato, “iguais”, ou pelo menos parecidos? Claro que não! Em alguns, por exemplo, o sol brilha intenso e, em outros, chove. Uns são de verão, com calor sufocante e, não raro, com chuva no final do período; outros, são de inverno (ou de primavera, ou de outono), mais frescos ou até mesmo gelados. Já aí há uma impossibilidade da existência de rotina, monotonia, marasmo.
Ademais, por mais rotineiro que seja o trabalho que a pessoa exerça, todos os dias têm coisas novas acontecendo. Basta que se esteja atento para identificá-las. São, em geral, pequenos incidentes diários (positivos ou negativos), mas que marcam nosso cotidiano. Ora é o chefe, que dá uma bronca homérica, que a pessoa que a recebe invariavelmente considera injusta, mesmo tendo cometido algum erro ou se mostrado impontual, ou desatento ou improdutivo. Ora é um colega que nos ajuda (ou nos atrapalha). Ora somos promovidos, ou preteridos numa promoção, dependendo do nosso empenho profissional, capacidade e utilidade na empresa. E, quando somos demitidos... aí sim, há uma quebra violenta de rotina. Essa mudança, porém, ninguém aprecia. Não há, pois, dois dias rigorosamente iguais.
O mesmo ocorre em casa, na escola, nos encontros com os amigos, com namoradas e em outros tantos atos da vida. Da minha parte, confesso, gosto da rotina. E vou mais longe: eu mesmo estabeleço uma, no meu dia a dia, para organizar e gerenciar tudo o que preciso fazer. Sou uma pessoa extremamente metódica (meus críticos garantem que até exagero e que sou obsessivo) e busco racionalizar meu tempo, que é o grande capital de que disponho.
Acordo sempre, invariavelmente, na mesma hora, seja dia útil ou final de semana, ou então, feriado. E cumpro todo um ritual, o mesmo por anos e anos. E ai daquele que me obrigue a deixar de cumprir um único ponto desse rito pessoal e cotidiano! Após despertar, dedico cinco minutos para meditação. Abstraio-me dos problemas e fixo-me num só tema, que analiso ângulo por ângulo.
Feito isso, antes mesmo da higiene pessoal, tomo uma xícara de café preto, bem forte, que me desperta de vez, e cuido da aparência. Tomo banho, faço barba, escovo os dentes, penteio-me e quando termino, estou prontinho para começar a jornada diária. Infelizmente, tenho o mau-hábito de não me alimentar pela manhã. O passo seguinte, pois, é ler os jornais do dia (pelo menos três) e comparar a edição de cada um deles. Faz parte da minha profissão! Sou editor há mais de quatro décadas!
Asseado e bem-informado, ligo o meu computador, para conferir a correspondência eletrônica. Separo os e-mails que precisem ser respondidos, arquivo os importantes e “deleto” (desculpem-me o neologismo, que já se incorporou à nossa linguagem comum) os spams e tantas outras bobagens que enviam para a minha caixa postal.
Atualizada a correspondência, encaminho, à redação do Comunique-se, os textos dos colunistas-fixos do dia (que são cinco de cada vez) e dos colaboradores eventuais (dois diariamente) para o espaço “Literário”, do qual sou o editor. Eles são devidamente revisados e editados na noite anterior. O passo seguinte, é a postagem da crônica e da reflexão diária, redigidos previamente na véspera, no meu blog “O Escrevinhador”, espaço que trato com o maior carinho e atenção.
Feito isso, acesso o Orkut. Posto na comunidade criada em minha homenagem uma meditação e, eventualmente, algum texto mais extenso, sempre de caráter literário, antes de conferir os scraps recebidos, que responderei à noite, quando retornar do trabalho. O passo seguinte, é a redação de crônicas (geralmente, escrevo duas por dia), que serão enviadas aos dez sites da internet em que sou cronista fixo.
A esta altura, já são 16 horas, quando preciso me aprontar para cumprir minha jornada na redação do jornal em que trabalho, como editor, que, não raro, entra pela madrugada. Ao voltar para casa, tomo um banho morno e relaxante, janto e parto para a última etapa da minha rotina. Respondo, rigorosa e meticulosamente, todos os scraps recebidos em minha página do Orkut, edito os textos que serão postados no dia seguinte no espaço Literário, seleciono a crônica e a reflexão para o meu blog e, só então, desligo o computador. Ufa! A jornada chegou ao fim! Da obrigação, parto, de imediato, para a satisfação.
Vem, então, o melhor momento do dia. Ou seja, aquele em que dou a devida e plena atenção à amada esposa, com a qual sou casado há 34 anos, que me acompanha, estimula e compreende e que tem a imensa paciência de esperar que eu cumpra, rigorosamente, sem deixar de fora nenhum passo, a minha estafante, mas bendita rotina. Cumprida a obrigação conjugal (que, claro, é a coisa mais prazerosa de todos os meus dias e da minha vida inteira), faço uma breve oração e... durmo. De imediato, como uma pedra! E sem necessidade de nenhum sonífero ou calmante! Afinal, ninguém é de ferro, não é mesmo?! O meu dia é chato? Provavelmente o leitor dirá que sim! Mas não troco essa chatice por nada deste mundo. Bendita rotina que me organiza e me fortalece!

Thursday, February 15, 2007

REFLEXÃO DO DIA


A lógica do verdadeiro homem, do verdadeiramente racional, do que enxerga tudo a partir de um ponto de observação mais elevado, é diametralmente oposta à da maioria. Ao invés de amealhar, luta para deixar. Ao invés de juntar coisas, espalha obras, gestos, atos, princípios e exemplos. E estes costumam frutificar. William Shakespeare escreveu, numa de suas peças, que "grandes inundações começaram em pequenas nascentes". Temos que ser, cada um de nós, essas minúsculas fontes. Porquanto, se todos quisermos, não precisaremos ficar sonhando com fantasiosos paraísos de além-túmulo. Podemos transformar toda a Terra num enorme Éden fértil, florido, justo, feliz, onde ninguém precise cobiçar o que não lhe pertence. Onde não haja violências e nem injustiças. Onde todas as pessoas assumam aquilo que realmente são: irmãs em humanidade. Mas, para isso, precisamos agir e em conjunto.

Lições de amor


Pedro J. Bondaczuk


O poetinha Vinícius de Moraes, com a sua verve irresistível e seu jeito doce de poetar, escreveu inúmeros poemas sobre o amor, a maioria antológica. Seus versos são citados, amiúde, por namorados ou simples paqueradores, Brasil afora, pela beleza que encerram e pela forma convincente de se conquistar uma mulher. Aliás, não me lembro de nenhum deles (e nem de nenhuma das centenas de letras de canção que escreveu), em que o tema não estivesse presente, ou de forma ostensiva, ou subjacente, mediante simples sugestão. E está certo o poeta. Nada é mais importante que o amor.
Mas amar, ao contrário do que possa parecer, não é tão fácil quanto se apregoa. Para que esse sentimento se manifeste e se realize, em sua plenitude, temos que abrir mão de grande parcela do nosso egoísmo e do nosso arraigado e não raro exacerbado egocentrismo.
Apregoar o amor não é difícil, pelo contrário. Senti-lo, também não chega a beirar a impossibilidade e não envolve maior complexidade. Mas vivê-lo em sua plenitude é que são elas! Para isso, temos que relevar os defeitos alheios, que a rigor não são maiores do que os nossos, sem ares de superioridade ou tentativas de imposições.
Muita gente fracassa no amor pelo simples fato de não saber amar. Confunde esse nobilíssimo sentimento, que só é genuíno se for espontâneo, com a idéia de posse, de imposição das próprias vontades e da conseqüente submissão da pessoa amada. Claro que um relacionamento desse tipo só pode resultar em fracasso.
Mesmo que originalmente haja amor entre os que se relacionam dessa forma viciosa e equivocada, este, em pouco tempo, se esvai, em decorrência da coação de uma das partes. Ocorre que seres humanos são livres e não são (e nem podem ser jamais) “propriedades” de ninguém. Cada pessoa é senhora da própria vontade, que tem que ser respeitada às últimas conseqüências. O amor implica, sempre, em absoluta igualdade entre os parceiros, em tudo e por tudo.
Mas há formas e formas de amar. E há objetos e mais objetos desse sentimento. As obras duradouras, que permanecem anos, séculos, quiçá milênios após a nossa morte e que beneficiam gerações, não importa seu tamanho ou natureza, são, por exemplo, atos de amor. Não esse estereotipado, mutilado e distorcido, como é entendido por grande parte das pessoas, ou seja, a mera transação de corpos, almas e interesses, sem nenhum comprometimento profundo e genuíno.
Este tipo de sentimento conduz, somente, à frustração, ao desespero e à solidão. O amor a que me refiro é aquele desprendido, abnegado, altruísta, que move céus e terras para proteger e beneficiar seus destinatários, sem esperar agradecimentos, vantagens e sequer reciprocidade. Por esta emoção, sim, vale a pena viver e, se preciso, vale a pena morrer. Quem não ama o que faz, jamais conseguirá fazer nada bem feito.
Só o amor, desprendido e abnegado, pode redimir a humanidade e estabelecer uma interminável corrente de afetos e de solidariedade. Não serão governos, sistemas, Estados e ideologias que irão estabelecer a harmonia e a justiça social de que tanto necessitamos.
O poeta Dante Aligheri, no livro “A Divina Comédia” (no Canto XXII, quando trata do “Purgatório”), afirma esta grande verdade: “O amor aceso em nome da virtude, uma vez alteada a sua chama, sempre ateia um outro amor”. Ou seja, é como uma fagulha, num capinzal seco: depois de ateado o fogo, este se torna incontrolável. Ninguém mais consegue apagá-lo. Pena que haja tão pouco desta chama no mundo!
Temos que amar, sobretudo, a humanidade, a despeito de suas fraquezas, aberrações, patifarias e contradições. Ou seja, devemos agir como recomendam lúcidos pregadores: “abominar o pecado, mas ter compaixão pelo pecador”. Aquele que não ama os semelhantes e, pior do que isso, que os abomina, jamais dedicará a vida na elaboração de uma obra cujos resultados não irá aproveitar.
Nunca podemos perder de vista o fato de que somos efêmeros e que desconhecemos nosso tempo de vida. Quanto menos esperarmos, zás, alguma fatalidade (acidente, doença ou agressão), pode nos atingir e pôr fim à nossa aventura no mundo. E mortos, claro, de nada nos valerão nossos bens ou nossas virtudes ou nossas aptidões. Tudo o que fazemos, portanto, mesmo que não venhamos a nos dar conta, é para usufruto alheio.
Em geral, só damos o devido valor a uma pessoa, coisa ou qualquer outro bem, quando os perdemos. Aí, já é muito tarde. Há quem viva, por exemplo, anos e anos ao lado de alguém, que lhe devota respeito, afeição, lealdade e veneração, e sequer se dá conta. É incapaz do mais simples gesto, de uma única palavra que seja de reconhecimento e de gratidão. Contudo, quando perde essa pessoa – por morte, separação ou qualquer outro motivo – fica inconsolável, julgando-se o mais infeliz dos viventes, lamentando a tola indiferença que manifestou.
Por isso, em vez de corrermos atrás de sombras e ilusões, o mais sábio é valorizarmos a substância ao nosso alcance. Ou seja, é mais prudente mantermos o pássaro que tivermos nas mãos do que corrermos, loucamente, atrás dos que estiverem voando. E devemos, sobretudo, amar, amar e amar, sem restrições ou limites, a nossa cara metade, os nossos filhos e netos, os nossos pais, os nossos amigos e, o que é o máximo da abnegação, não somente o nosso próximo, mas a humanidade. O amor é a única coisa que aumenta na mesma proporção que o damos. Sejamos, pois, pródigos e perdulários na sua doação!

Wednesday, February 14, 2007

REFLEXÃO DO DIA


Para servir com dignidade e com espontaneidade os semelhantes, não se requer fartura de bens materiais e nem especialização. Exige-se vontade, amor, clarividência e crença nos destinos humanos. O Dr. Lawrence Morehouse, do Laboratório de Realização Humana da Universidade da Califórnia, afirmou, em recente conferência: "O campeão não é, necessariamente, a pessoa que tem mais. Mas é sempre a pessoa que dá mais. O campeão está pronto a arriscar toda a personalidade na tarefa. O segundo colocado, que talvez tenha um potencial igual ou superior, retém sempre alguma coisa". Quem vive apenas para si, fazendo da acumulação de objetos materiais seu objetivo de vida, em determinado momento de reflexão, mesmo que este seja o de uma simples fração de segundo, vai se dar conta de que a sua existência é fútil e vazia. Terá muita sorte se conseguir escapar da depressão ou de outra neurose mais ou menos grave.