Pedro J. Bondaczuk
O extraordinário médico, filósofo e humanista Albert Schweitzer, ganhador do Prêmio Nobel da Paz de 1952, escreveu, em seu livro “Civilização e Ética”: “Um homem é verdadeiramente moral somente quando ajuda a toda a vida no que pode, e quando se esquiva de prejudicar qualquer ser vivente. Não pergunta em que medida esta ou aquela vida merece seu interesse e simpatia, se e em que extensão ela é capaz de reagir. A vida como tal é que lhe é sagrada”.
Tais palavras definem, com exatidão, quem foi Albert Sabin, que morreu em 3 de março de 1993, em Washington, aos 86 anos de idade. Esse polonês, naturalizado norte-americano, foi, na verdade, cidadão do mundo. Cabe-lhe o mérito de haver, com a vacina que leva o seu nome, virtualmente erradicado a terrível paralisia infantil do Planeta.
Imagine o leitor quanta dor foi evitada, quantas vidas deixaram de ser transformadas radicalmente para pior por essa moléstia mutiladora, quando não fatal! E por que Sabin fez isso? Por dinheiro? Por poder? Por fama? Não, porquanto não era nenhum milionário, não ocupava cargo público e há muitos que nem o conhecem. O médico e cientista dedicou 40 anos a essa causa por amor à vida.
Nós, brasileiros, temos um motivo a mais para reverenciar sua memória e lamentar sua morte. Sabin amava o Brasil. Sua veneração pelo nosso país era tamanha, que quis a Providência que viesse a desposar uma brasileira, Heloísa Dunshee de Abranches.
Em 1992, o pesquisador, entrevistado no programa “Jô Onze e Meia”, então apresentado no SBT por Jô Soares, teve a oportunidade de externar publicamente esse carinho, praticamente paixão. Expôs, na ocasião, idéias profundas, com a simplicidade de um menino, sem a empáfia ou a arrogância de tantos medíocres, que falam pelos cotovelos sem terem o que dizer.
Sabin coordenou várias campanhas de vacinação antipólio no Brasil, acompanhando, de perto, todo o processo e analisando seus resultados. Não escondia de ninguém que se sentia “meio brasileiro”. Confessou, em determinada ocasião: “Eu fico muito feliz quando o Brasil é bem-sucedido e fico muito triste quando o País fracassa”.
Tristeza deveríamos sentir nós, pela sua morte. Não apenas na condição de brasileiros, mas de seres humanos, já que o mundo perdeu uma dessas raras pessoas que nascem predestinadas a espalhar o bem ao seu redor.
Três dos maiores gênios do século XX que, coincidentemente, tinham o mesmo prenome, Albert, tinham outra característica em comum: a bondade. Einstein, embora tenha participado da descoberta de um das mais terríveis forças do universo, a energia nuclear, deixou, em herança, seus bens, para minorar o sofrimento de milhões de pessoas. Schweitzer dedicou mais de 60 anos de sua longa e profícua existência a cuidar de leprosos no hospital de Lambaréne, em plena selva equatorial africana. E Sabin evitou que milhões de crianças morressem ou ficassem mutiladas pela paralisia infantil.
A lembrança desses três gigantes do século XX, pródigo em desgraças e ruínas, faz-nos lembrar uma citação de Lacordaire que parece talhada para eles e que diz: “Não é o gênio nem a glória, nem o amor que medem a elevação da alma: é a bondade”. Está aí a mais justa definição para Albert Sabin: era bom!
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