Tuesday, March 21, 2006

Princípio de tudo

O amor é o sentimento mais propalado e menos posto em prática pelo homem através dos tempos. A palavra, por sinal, serve para rotular tanta coisa diferente! Designa tanta emoção desencontrada! Nomeia tanta ação contraditória! É confundida com paixão, ou com atração sexual, ou com posse, etc. Por isso são raros os que exercitam ou o exercitaram o amor em alguma ocasião. Os que o fizeram, são designados "santos".
Este é outro conceito mal entendido. A santidade não implica em perfeição. Não é atributo de pessoas especiais, iluminadas, sem vínculos com este mundo. Qualquer um pode chegar a essa condição. Mas desde que se conheça. Desde que saiba ser senhor de suas tendências, impulsos e instintos. E desde que, sobretudo, ame.
A maioria, porém, sequer conhece o real significado do amor. Amar não implica em interesses (materiais ou de qualquer outra ordem). Sequer exige recíproca. É um gesto de generoso, altruísta, abnegado. Há muito mais mérito quando amamos nossos inimigos, aqueles que atravancam nosso caminho e nos fazem tropeçar, do que os que nos beneficiam, protegem, ajudam. Nesse caso, o amor é confundido com gratidão.
Não é, como se vê, aquele sentimento banal, passageiro, "infinito enquanto dura", cantado em verso e prosa por poetas e compositores. A palavra, desgastada pelo uso inadequado, hoje está longe de expressar a verdadeira transcendência dessa atitude (mais do que emoção). Sua crescente ausência do mundo é que o torna tão tenso, tão violento, tão repleto de rancor e sofrimento.
O filósofo Blaisé Pascal escreveu a respeito: "O cosmos pode ser infinitamente maior do que o homem, mas um único ato de amor vale mais do que todo o nosso universo".
A propósito de santidade, li, há anos, em uma publicação da "Morehouse-Barlow", uma receita que considero lapidar e que diz: "Por que os santos foram santos? Porque foram alegres quando era difícil ser alegre, pacientes quando era difícil ser paciente; e porque foram avante quando queriam ficar parados, calavam-se quando queriam falar e foram agradáveis quando queriam ser desagradáveis. Só isso. Era perfeitamente simples e sempre o será".
Para fazer tudo isso, todavia, é necessário absoluto autodomínio, que somente é obtido através do autoconhecimento. E este é fruto exclusivo do exercício permanente, disciplinado e consciente da meditação. Da visita paciente e quotidiana ao "país da luz", esse território mágico da sabedoria e razão.

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