O homem de espírito somente tem seu valor reconhecido quando ou "se" comunica aos que o rodeiam suas observações sobre tudo o que o cerca. Se compartilha as idéias que tem com um número máximo de pessoas que lhe sirvam de "espelho" e reflitam toda essa "luz" que emite.. Se tem opinião formada sobre vários assuntos. Se oferece ao mundo, da mesma forma que recebe, suas criações. Se brinda a comunidade, não importa qual – se a da rua, do bairro, da cidade, do país ou mundial – com o produto resultante da sua atividade intelectual e da sua sensibilidade.
O fruto da razão e da emoção só tem sentido quando se incorpora ao patrimônio comum do nosso tempo. Quando é compartilhado com os outros. Quando consegue despertar interesse e enriquece a cultura de um povo e de uma época. Quando resulta em alguma conseqüência. É sua única razão de existir.
Este é o motivo principal da minha atividade, tanto como jornalista, quanto como "aprendiz de homem de letras". Textos como este têm o objetivo de estabelecer um confronto de idéias e algumas vezes de provocar quem os lê, para deflagrar uma saudável discussão (em alto nível, é claro), que seja proveitosa para ambos: para o comunicador e para o destinatário da comunicação. Embora profissional, nunca aspirei obter dinheiro com aquilo que escrevo. A venda das minhas idéias somente ocorreu por duas razões e ambas me incomodam. Verificou-se em decorrência da necessidade de prover minha subsistência e a da minha família e do fato de haver quem (ainda) esteja disposto a pagar por elas.
Mas, no íntimo, confesso, isto me aborrece. Sinto como se estivesse vendendo um filho. Ou como se estivesse me prostituindo, cedendo uma parte de mim por dinheiro. Bobagem minha, claro! É certo que se trata de uma recíproca. Investi muito, em termos de recursos materiais, de tempo e de esforço para aprender o que sei. Ainda assim, não me sinto muito confortável vendendo o que crio. Daí ter experimentado uma inenarrável sensação de prazer ao doar os direitos de venda do meu livro "Por uma nova utopia" a uma instituição beneficente, o Centro de Defesa da Vida, cuja atividade se caracteriza em demover os suicidas potenciais de cometerem essa loucura.
Por isso, a maior parte do que publico – e que não é pouca coisa – é oferecida de forma gratuita aos órgãos que veiculam meus textos, para que eles os divulguem ao seu público, que por conseqüência também se torna meu. Pelo menos presumo que seja assim, caso contrário, esses jornais e sites da internet, alguns, inclusive, do Exterior, certamente me fechariam as portas. Nunca fecharam.
Não pretendo ser genial. Não, pelo menos, o tempo todo. Tanto que nunca utilizo jargões, termos técnicos, expressões características, mesmo quando abordo complexos temas filosóficos. Procuro ser simples nas palavras que uso, na maneira com que exponho as idéias e nas teses que defendo.
Há algum tempo fui acusado por alguém, que se dizia meu admirador, de fazer as citações, que caracterizam quase todos os meus textos, por puro pedantismo. Ou seja, para exibir aos outros o meu grau de leitura. Que bobagem! O que busco fazer é simplesmente devolver o que recebo: idéias alheias. Claro, acompanhadas, sempre que possível, da respectiva opinião sobre elas.
É uma forma de reverenciar os grandes pensadores, os grandes artistas, os grandes criadores (atuando como seu espelho) e de ajudar a impedir que eles e suas criações sejam esquecidos. Há quem goste do meu estilo, que se propõe a ser nada mais do que uma "conversa" com os leitores, como aquelas que nos tempos de estudante algumas pessoas têm, em geral às sextas-feiras à noite, com os amigos, em alguma mesa de bar, regadas a chope. Ou que outros mantêm diariamente, após a saída do trabalho, no que passou a ser conhecido como "happy-hour".
Escrevo algumas bobagens, como acusou alguém, em uma maldosa e desaforada carta anônima que enviou ao jornal em que trabalhava? (Ele disse "só" bobagens, o que, convenhamos, é um exagero). Tudo bem! Graças a Deus! É sinal de que ainda sou humano. Mas pelo menos tenho a coragem de me expor. Estou disposto a me relacionar com os outros. Compartilho com os semelhantes (e dissemelhantes) meus anseios, sonhos, virtudes e fraquezas. Mesmo escrevendo tolices, ainda assim estou induzindo alguém a pensar. Inclusive esse mesmo sujeito azedo e mesquinho – e certamente complexado e infeliz por precisar se esconder no anonimato.
Dom Bosco afirmou que "Deus nos colocou no mundo para os outros". A recíproca é verdadeira. Ou seja, os outros também existem para nos ajudar, nos atrapalhar, nos apoiar, nos repudiar, nos aprovar ou nos contestar. Daí a comunicação ser tão importante, seja em que plano for. Precisamos é buscar uma interação. E quanto mais ampla e constante puder ser, tanto melhor.
A maior prova de que não busco nenhuma vantagem com o que escrevo, é que não conheço a maioria dos meus leitores. Não atino quantos são. Desconheço seu sexo, sua cor, sua religião, sua etnia, sua nacionalidade, sua condição social, seu status profissional, seus gostos, suas idiossincrasias ou seu grau de cultura. Sei, apenas, pelos resultados que obtenho, que não são poucos estes amigos (e inimigos) anônimos. Mesmo que fosse um único, seria válido e bem vindo. E escreveria para ele (ou para ela) com o mesmo entusiasmo com que o faria para 50 mil, 100 mil, 500 mil ou um milhão.
Tenho a certeza, por outro lado, que meus leitores, sejam quais e quantos forem, são fiéis, pelo tempo em que sou solicitado por jornais dos mais variados portes e estilos a colaborar com eles. E pelas cartas e telefonemas que recebo (aprovando e reprovando meus textos). E pelas manifestações de carinho com que sou brindado na rua. E por tantas e tantas coisas mais... Nada disso teria acontecido se não me conhecessem. E se minhas idéias não provocassem nenhuma reação (mesmo que seja a da ira ou do repúdio puro e simples) que não fosse a de pura indiferença.
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