A defesa do meio ambiente, não se sabe por qual mágica razão, se transformou, de uns tempos para cá (ou foi transformada por alguns insensatos suicidas em potencial) num assunto político, quando na verdade não há motivo algum para ter essa característica.
Sempre que aparece alguém defendendo a preservação da pureza do ar, dos mananciais de água ou da fauna e da flora, a idéia (equivocada) que logo se faz é que o tal indivíduo é um esquerdista. Que se trata de um emérito agitador.
Enquanto a questão é encarada com tamanha infantilidade, o maravilhoso mecanismo existente na Terra, que deu ensejo ao surgimento da vida, está todo desregulado, como uma máquina em colapso, prestes a explodir.
Secas devastadoras arrasam lavouras, em especial nos países mais pobres da África e da Ásia. Enchentes incríveis destroem plantações, derrubam casas, matam pessoas. A delicada camada de ozônio que protege o Planeta dos mortais raios infravermelhos está com um rombo imenso, sobre a Antártida, que se amplia a cada dia que passa.
Enquanto isso, a Cidade do México apresenta uma altíssima concentração dessa forma molecular de oxigênio que, em quantidades anormais, pode até matar. O Hemisfério Norte, depois de ter sofrido os rigores de um inverno atipicamente frio, passa pelo oposto. Uma cáustica onda de calor afeta os Estados Unidos e os países da orla do Mediterrâneo, apenas para citar duas áreas. Até a gélida Moscou está suando, diante da inclemência do sol.
O pior de tudo é que as advertências feitas pelos cientistas são solenemente ignoradas. Quando o jornalista menciona o desequilíbrio climático a alguém, é imediatamente chamado de “catastrofista” e encarado como um neurótico, ou alguém fora da realidade.
Essa alienação (das pessoas e não do cronista) que conta com a aliança dos que devastam o patrimônio da humanidade em proveito próprio, transformando matas seculares em montinhos de carvão, é extremamente perigosa. Como crítico, também, é o fato de se levar a questão ambiental para o terreno ideológico.
Se o sujeito quer viver num mundo limpo, que não se assemelhe às nauseabundas cloacas romanas, é tido por agitador, perturbador da ordem pública e outras coisas, até mesmo mais depreciativas.
O que está acontecendo com as pessoas neste fim de século XX? Será que deu um ataque coletivo de burrice? O que a preservação do meio ambiente tem a ver com o sistema político “x”, “y” ou “z”? Estes “puristas ideológicos” serão capazes de conter a expansão do buraco na camada de ozônio? Farão chover no Centro-Oeste dos Estados Unidos, salvando a sua safra? Evitarão os máximos de frio e calor que se alternam?
(Artigo publicado na página 10, Internacional, do Correio Popular, em 9 de julho de 1988).
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