O suicídio coletivo de 53 membros da seita Ordem do Templo Solar – 48 em duas cidades da Suíça e cinco no Canadá – ocorrido em outubro de 1994, mostra os perigos do fanatismo, que este seja político, quer esportivo, quer religioso ou de outra ordem qualquer. Revela, sobretudo, o quanto são vulneráveis, psicologicamente, determinadas pessoas, que não contam com uma estrutura firme de caráter e desconhecem a beleza da vida. Por conseqüência, não a valorizam. Preferem anular-se. Fogem desse maravilhoso desafio e fantástica aventura. Optam por “não ser”. São presas fáceis de malucos e espertalhões. E não se trata de uma questão de cultura, mas de estrutura mental.
O escritor Humberto de Campos, na “Antologia da Academia Brasileira de Letras”, observa: “Há em cada vida de homem sombrios desvãos, úmidas e recônditas grotas cheias de perfume e mistério. Aí moram os pensamentos que, por melindrosos demais, não se querem ver ao sol; as impressões que se não descrevem e os nomes que, no dizer de Saint-Beuve, ‘il faut bènir et taire’”.
Somos seres racionais, com liberdade para escolher entre vários caminhos. O que temos é que exercer plenamente essa racionalidade e optar entre o certo e o errado, entre o bem e o mal, entre a sublimidade e o horror. Ninguém deve, ou pode, fazer isso por nós.
A maioria das pessoas assusta-se com a complexidade dos relacionamentos humanos. Algumas, apavoram-se diante da vida e recolhem-se a uma covarde alienação. Aceitam passivamente a realidade e, quando muito, gastam seu tempo em queixas sobre a maldade imperante, sobre as injustiças e velhacarias e sobre tudo o que as desagrade ou que não entendam. Mas não fazem nada para modificar o mundo para melhor. Ou pelo menos para influir positivamente no círculo ao seu redor, no ambiente em que vivem. Esperam que os outros façam essas mudanças por elas. Contentam-se com o papel de “caudas”, ao invés de serem cabeças. Temem expor-se ao ridículo e acabam se tornando ridículas ao seguir os outros.
São estas as pessoas vulneráveis à influência de falsos líderes, de profetas de polichinelo, de caricatos e risíveis “gurus”, que quanto mais estapafúrdios se mostram, mais seguidores conseguem arrebanhar. Tais indivíduos, porém, são dignos de piedade e atenção e não de reprimendas. Constituem-se em vítimas indefesas de malucos triunfalistas, de celerados oportunistas e de megalomaníacos que se julgam divindades. São o lado frágil da espécie humana que precisa ser protegido.
É necessário que se busque, sempre e incansavelmente, o sentido da vida, porquanto esta possui um, com certeza. É preciso que se faça um permanente exame de consciência, um exercício de racionalidade. Requer-se, sobretudo, ação, positiva, incansável, para modificar uma realidade adversa. Não importa ser não conseguirmos mudar o mundo para melhor. O que ninguém tem o direito é de parar de tentar. Pois, como ressaltou o pensador norte-americano, William James, “é somente nos arriscando hora após hora que conseguimos viver completamente”.
(Capítulo do livro “Por uma nova utopia”, Pedro J. Bondaczuk, páginas 35 a 37, 1ª edição – 5 mil exemplares – fevereiro de 1998 – Editora M – São Paulo).
2 comments:
MAS ESTE É O NOSSO PLANETA TERRA.E OS ESPÍRITOS QUE AQUI HABITAM SÃO OS MAIS VARIADOS POSSÍVEIS, TANTO EM CONHECIMENTO, CONSCIÊNCIA, BONDADE ETC. MUITO DIFÍCIL ESTÁ QUESTÃO.TEM PESSOAS QUE VOCÊ NÃO TEM CONDIÇÃO NENHUMA DE DIALOGAR.É PERDA DE TEMPO.
Bravo, bravo, bravo!!!
Parabéns!!!
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