Pedro J. Bondaczuk
A solidão, ou seja, a incapacidade (ou a impossibilidade) de uma comunicação profunda e irrestrita com os que nos cercam, é uma realidade em nossas vidas. Vivemos cercados por milhares, quiçá milhões de pessoas, no entanto não conseguimos criar pontes que nos aproximem. Na verdade, o que erigimos são muros de convenções, e de exigências às vezes descabidas e absurdas, que nos isolam e nos deprimem.
Há, contudo, quem se sinta bem quando fica solitário. Claro, essa solidão não pode (e nem deve) ser permanente, mas transitória, constituída de momentos, breves ou não, para estarmos a sós conosco mesmos. Outros, porém, se desesperam quando por alguma razão não vêem pessoas, não as sentem, não as ouvem e nem as tocam. Caem em depressão.
Na verdade, têm medo de um encontro, cara-a-cara, com suas lembranças, com seus fantasmas, com suas neuroses. A elas resta somente o recurso a um profissional do ramo, psicanalista, psicólogo ou psicoterapeuta, dependendo do caso, pois são doentes, mesmo que não pareça ou que sequer desconfiem.
Todos nós, mesmo que não queiramos, somos, muitas vezes, em determinadas circunstâncias, forçados a enfrentar períodos variáveis de solidão. Caso saibamos lidar com esse isolamento, a experiência tende a ser das mais férteis e enriquecedoras. Temos a oportunidade de nos conhecer melhor, de “garimpar” idéias criativas que estavam no fundo do inconsciente e que, por desconhecer sua existência, nunca demos oportunidade de virem à luz.
Caso não saibamos lidar com essa situação, porém, em virtude da nossa fragilidade espiritual e psicológica... Bem, nessas circunstâncias, corremos sério risco de despencar de ponta-cabeça no abismo da depressão, com sofrimentos inenarráveis e que requerem rápida intervenção, para prevenir males maiores.
Uma das formas de tornar a solidão menos opressiva e, até mesmo (dependendo da ocasião) agradável, é o cultivo de bons livros, de boas lembranças e de boas idéias, positivas e, sobretudo, construtivas. Nunca estamos sós quando temos acesso a textos estimulantes, inteligentes, bem escritos, claros e bem-humorados, que nos despertem empatia (e até uma saudável “inveja” do autor).
Minhas melhores lembranças da adolescência não são de fatos que protagonizei. Não são de aventuras, de amores ou de conquistas. São mais sutis, posto que mais duradouras. E podem ser renovadas, sempre que assim eu decidir. São dos livros que li.
Temos que fazer da leitura um hábito cotidiano, um ato até mecânico, uma higiene da mente, tão necessária quanto a do corpo, como tomar banho, escovar os dentes etc.etc.etc. Ela não pode ser, portanto, uma obrigação enfadonha. Deve, isto sim, se constituir em um prazer crescente. Devemos ler não somente para nos instruir, para fazer uma lição da escola ou aprender uma técnica nova que melhore nosso desempenho no trabalho. A leitura deve e pode se tornar uma forma das mais agradáveis de lazer, uma fonte de renovável satisfação, um imenso prazer, pessoal e indivisível.
Além do cultivo de bons livros, podemos nos livrar da opressiva solidão oferecendo hospitalidade, em nossa mente, a pensamentos positivos, que criem, que nos façam refletir sobre o mundo e tudo e todos os que nos cercam e que dêem um polimento em regra no nosso espírito.
Pensemos ou não nisso, o fato é que somos efêmeros. Nosso tempo de vida está contado, gravado a ferro e fogo em nossas células, embora não saibamos de quanto ele é. Cada dia que nasce pode ser o ponto de partida de um novo e longo período de experiências agradáveis, de sucessos em nossas atividades e de grandes realizações. Mas pode, também, se constituir nos derradeiros momentos da nossa existência.
Por isso, mesmo que sozinhos, não podemos desperdiçar esse precioso capital com lamúrias, com temores (infundados ou não) e com exacerbados exercícios de auto-piedade. Não podemos permitir jamais que o tédio nos domine e nos lance de ponta-cabeça no abismo da depressão, mesmo que sejamos idosos, e achemos que já cumprimos nossa missão na Terra. Mas não cumprimos! Ela nunca estará cumprida! Uma vida bem vivida, útil e produtiva, caracteriza-se, sempre, por uma obra inacabada, que até nosso último suspiro temos a obrigação de nos esforçar para concluir.
O filósofo e historiador norte-americano Harry Emerson Fosdick constatou, em um marcante ensaio: “As melhores recordações de um homem, quando a vida vai chegando ao fim, serão as suas melhores hospitalidades espirituais e o que delas resultou”.
Sejamos, pois, hospitaleiros com as boas leituras, com os bons pensamentos e com os nobres sentimentos. Escancaremos as portas da alma e deixemos que estas bem vindas visitas se instalem, se acomodem, se tornem hóspedes e nos acompanhem pelo resto da vida, dure ela o quanto durar.
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