Monday, February 20, 2006

Partido Populista Futebol Clube

Pedro J. Bondaczuk


O futebol, no Brasil, há tempos tem servido de trampolim para políticos oportunistas, de diversos partidos e tendências, que surfam nas ondas da sua popularidade. Em termos de Seleção Brasileira, parece que tudo começou em 1958, quando uma geração brilhante de atletas conquistou, contra todos os prognósticos e expectativas, nossa primeira Copa do Mundo, nos gramados da Suécia, após fiascos anteriores, notadamente os de 1954, na Suíça e, principalmente, o de 1950, no Rio de Janeiro.
A arte de Pelé, Didi, Garrincha, Vavá, Newton Santos e Zito, entre outros, levou o País, na ocasião, ao delírio. Nosso decantado pessimismo, que o jornalista Nelson Rodrigues tão bem caracterizou de “complexo de vira-lata”, cedeu lugar à euforia, à exacerbada autoconfiança e à exaltação nacional.
E isso criou um clima dos mais favoráveis à política desenvolvimentista do então presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira, que pretendia resgatar 50 anos de atraso brasileiro em apenas cinco anos, que até então vinha sofrendo ferrenha oposição de grupos conservadores, ligados à ultradireitista União Democrática Nacional (UDN), liderados pelo controvertido jornalista Carlos Lacerda.
Recorde-se que ele quase foi impedido de tomar posse. Primeiro, seus adversários argumentaram que foi eleito com menos da metade dos votos do eleitorado (30%, se não me engano), mesmo contrariando a Constituição, que não previa limite algum para caracterizar vitória eleitoral válida. Posteriormente, ocorreram duas revoltas da Aeronáutica, em Aragarças e Jacareacanga, objetivando um golpe de Estado que fracassou por falta de adesões. Não fosse, porém, o marechal Henrique Teixeira Lott, que seria derrotado por Jânio Quadros nas eleições presidenciais de 1960, Juscelino jamais teria tomado posse. E o País continuaria no seu vexatório atraso. Dificilmente teria sido industrializado e Brasília, certamente, não existiria.
Diga-se de passagem, em favor de JK, que ele nada fez de concreto que caracterizasse a exploração da conquista da Seleção nos gramados da Suécia em seu favor. Jamais afirmou que esse fosse um feito seu (e ademais não foi) ou que tivesse qualquer influência pessoal nele. O que fez, somente, foi aproveitar (aliás, com muito senso político) a predisposição nacional ao otimismo, na ocasião, em decorrência do sucesso dos nossos craques, para a aceitação do seu projeto de nação.
Desde então, futebol e política têm andado de mãos dadas. Athiê Jorge Cury, ex-goleiro do Santos Futebol Clube no primeiro título regional santista (o de 1935), que presidiu esse clube quando ele se tornou a maior “máquina” de jogar bola da história (na era Pelé), foi, durante muito tempo, deputado. O mesmo ocorreu com o folclórico ex-presidente da Federação Paulista de Futebol, João Mendonça Falcão, que rivalizou com o ex-presidente do Corinthians, Vicente Matheus, em termos de gafes em público.
Outros tantos presidentes de times se valeram do mesmo expediente. Foram os casos de Márcio Braga, Zezé Perrela, Eurico Miranda etc.etc.etc. Vários jogadores de futebol, por outro lado, como João Leite, Wilson Piazza, Zé Maria, Biro-Biro e, mais recentemente, Ademir da Guia, lograram se eleger para diversos cargos eletivos, em Câmaras Municipais, Assembléias Legislativas e Câmara de Deputados. Nenhum, a rigor, se destacou em nada. Mas vários se elegeram mesmo sem ter plataforma, propostas, idéias, nada, só com seus “nomes” e seus feitos nos gramados.
É incrível, por exemplo, o número de políticos que se confessam corintianos, ou flamenguistas, por motivos óbvios. No entanto, a maioria não entende absolutamente nada de futebol e talvez nem saiba que a bola utilizada na modalidade seja redonda. E os clubes, que servem de trampolim para esses políticos, a quantas andam? De mal a pior.
Os que ainda não “venderam” seus departamentos de futebol a parceiros, estão falidos, de calças na mão, forçados a negociar, a preço de banana, seus melhores craques. Muitos têm rendas penhoradas ainda na boca das bilheterias, para pagamentos a credores e salários atrasados a ex-jogadores, que ganham, invariavelmente, seus passes na justiça por falta de cumprimento das obrigações trabalhistas. E a grande paixão nacional, dessa forma, corre sérios riscos de até desaparecer, no longo prazo, por obra e graça exclusiva dos que fazem dela mero trampolim para a (má) política. Lamentável!

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