Tuesday, February 21, 2006

Medo e grandeza

O noticiário assustador que nos chega diariamente através dos meios de comunicação, falando de violência, catástrofes, corrupção, guerras e outros tipos de ameaça à segurança e à vida, tende a nos deixar tensos e assustados, quando não apavorados. A reação natural das pessoas nestas circunstâncias é a do isolamento, da desconfiança, do estabelecimento de barreiras em relação aos semelhantes, numa atitude defensiva, que pode ser saudável ou doentia, dependendo da intensidade.
Sem exageros, trata-se de uma ação prudente e compreensível. Há, todavia, os que levam esse mecanismo de que a natureza nos dotou a extremos, ao exagero. Tornam-se neuróticos, agressivos, amargos, pessimistas, mudando por completo sua personalidade. Deixam de prestar atenção às pequenas coisas do dia-a-dia que, devidamente valorizadas, se constituem em fontes renováveis de satisfação e prazer. Chegam a perder, até mesmo, a perspectiva dos objetivos de vida. Em casos extremados, tornam-se inúteis, na medida em que não conseguem se relacionar com ninguém ou produzir qualquer coisa que não seja para atender suas próprias necessidades. E às vezes, nem isso.
O medo, frise-se, é um mecanismo de proteção contra o perigo de que a natureza nos dotou. Mas é passível de controle. Temos que aprender a dosar essa espécie de escudo contra os riscos que sejam evitáveis. Excessivo, transforma-se em pânico, que é paralisante, doentio, pernicioso. O romancista Robert Louis Stevenson aconselhou a esse respeito: “Guarde seus temores para você mesmo, mas compartilhe sua coragem com os outros”. E não é somente isso que devemos compartilhar. Também nosso otimismo, nossas conquistas e nossos sonhos de um mundo melhor podem e devem ser compartilhados. E até nossos bens materiais.
É isso o que fazem pessoas abnegadas, como os voluntários que integram organizações humanitárias, como o “Centro de Defesa da Vida”. Tais indivíduos têm as mesmas perplexidades e temores que todos nós. Enfrentam os mesmos riscos que qualquer cidadão. Estão submetidos aos mesmos desencantos e decepções da maioria. No entanto, não se deixam contaminar pela amargura e pelo derrotismo. E mais que isso, são solidários. Compartilham com o próximo sua esperança e sua fé, evitando que os desesperados descambem para atos extremados. Demovem os desiludidos de cometerem suicídio, mostrando-lhes que alguém se importa com eles.
Ser útil a alguém é muito mais simples do que pode parecer. E mais gratificante. Confere, a quem se dispõe a sê-lo, uma dimensão de grandeza, impossível de dimensionar. Em geral, quem ajuda o próximo acaba mais gratificado, interiormente, do que quem é ajudado. O poeta alemão, Johann Wolfgang Göethe, constatou que “uma vida inútil é uma morte prematura”. Daí a importância de se compartilhar grandeza de sentimentos, com ações abnegadas, para diminuir nossa própria pequenez.


(Capítulo do livro “Por uma nova utopia”, Pedro J. Bondaczuk, páginas 27 e 28, 1ª edição – 5 mil exemplares – fevereiro de 1998 – Editora M – São Paulo).

1 comment:

Anonymous said...

PARABÉNS DACZUL EXCELENTE, MAS TEMOS QUE RECONHECER QUE CADA SER HUMANO ESTÁ NO SEU ESTÁGIO EVOLUTIVO, NÃO PODEMOS EXIGIR QUE UMA "CRIANÇA" COMPREENDA O MESMO QUE UM "ADULTO ENQUILIBRADO".