Sunday, February 05, 2006

Civilização da solidão

Pedro J. Bondaczuk


Os tempos atuais são caracterizados, entre outras tantas coisas, por uma profunda solidão, que se abate sobre grandes contingentes de pessoas, gerando infelicidade, carências afetivas, neuroses, depressão e outros males psíquicos e físicos.
“Mas como?!”, perguntará, admirado, o atento leitor, como que duvidando da sanidade do cronista. “Afinal, já somos mais de 6,3 bilhões de tripulantes na espaçonave Terra e, atualmente, nascem mais de três bebês por segundo em todo o mundo”, dirá, com convicção, o mais bem-informado, como se apresentasse um argumento decisivo, que pusesse fim à conversa.
De fato, é o que ocorre. “Ademais”, acrescentará, “os meios de comunicação são cada vez mais sofisticados, aproximando pessoas de todos os continentes; como os jornais e revistas que se multiplicam pelo mundo afora; os computadores, cada vez mais rápidos, simples e popularizados; o rádio e a televisão, onipresentes em nosso dia-a-dia; e o telefone celular, que permite a qualquer um falar diretamente com milhões de interlocutores, estejam onde estiverem”.
Isto, é fato, não há como negar. Desde que acordamos, até o momento de nos recolhermos de novo, para dormir, mantemos contatos diretos e/ou indiretos com dezenas, centenas e, não raro, com milhares de pessoas em nosso convívio, quer familiar, quer profissional, quer social. Ainda assim...sem que na maioria das vezes venhamos a nos dar conta, estamos, de fato, real e irremediavelmente sós.
Tanto que o escritor francês André Malraux (1901-1976), especializado em assuntos políticos, de comportamento e de cultura (em 1959 assumiu o então recém-criado Ministério das Questões Culturais no governo do general Charles De Gaulle), assegurou, do alto da sua experiência e conhecimento, que de fato integramos “a civilização da solidão”.
As comunicações que mantemos em nosso cotidiano raramente são pessoais, íntimas e intensas. Caracterizam-se, em geral, pelo formalismo, pela impessoalidade, pela frieza e pela formalidade. Parecem atos, gestos e palavras ensaiados, como se estivéssemos representando uma peça teatral num palco. E, de fato, estamos, mesmo que não saibamos ou não admitamos.
Raros se preocupam, de verdade, com o que o interlocutor é, com o que pensa e, principalmente, com o que sente. E a recíproca é verdadeira. Poucas vezes temos a oportunidade (e a confiança suficiente), para abrirmos, de fato, nossos corações a alguém, até mesmo aos cônjuges ou aos pais, para expressarmos, sem pudor, sem freios e nem restrições, nossas angústias, carências, temores, fraquezas e idéias. Em geral mostramos o que não somos e o que não pensamos, por medo de críticas e recriminações. Felizes os que encontram um ouvido generoso ou um ombro amigo e acolhedor para as suas confidências
Não raro, vivemos anos sob o mesmo teto com um punhado de pessoas sem que nos conheçamos, de fato, naquilo que realmente importa. Por isso, embora residindo em superpovoadas concentrações urbanas, algumas com populações equivalentes à de países (São Paulo, por exemplo, tem uma vez e meia o número de habitantes de Portugal), apesar de termos nosso espaço vital cada vez mais restrito e encolhido e da privacidade ter se tornado, literalmente, uma impossibilidade, somos, ou pelo menos nos sentimos, cada vez mais sós. Irremediavelmente sós!
Ademais, sem que sequer nos apercebamos, nos vemos coagidos a abrir mão da nossa individualidade, dos nossos gostos, do nosso jeito de ser, induzidos, sutilmente (pelo que se convencionou chamar de “educação”), quando não coagidos, à massificação. Concordemos ou não, temos que nos enquadrar em determinado sistema, ideológico, político, econômico, religioso e/ou social. Somos forçados a aderir ao que se convencionou chamar de “moda”, que nos impõe o que e como se vestir, que tipo de alimento consumir, que espécie de lazer praticar e, até mesmo, como amar uma pessoa.
Experimente, por exemplo, caro leitor, sair à rua trajando fraque, cartola e usando um pince-nez. A primeira interpretação de quem o vir com esses trajes será a de que você está vestido para um baile de fantasias, principalmente se for tempo de Carnaval, ou para participar, como ator, de alguma peça de teatro. Mesmo que você aprecie esse traje, portanto, jamais o usará no dia-a-dia, a menos que não se importe de se expor ao ridículo.
Esta civilização, como assinalou Malraux, separa inflexivelmente, de todas as anteriores, “a posse dos gestos humanos”. Massa. Temos que nos enquadrar na massa, mesmo que não concordemos com o que nos for imposto. Ou nos enquadramos, ou nos tornamos marginais, discriminados e, quem sabe, confinados num manicômio, como loucos perigosos.
Eminentes filósofos, como Aristóteles e Santo Tomás de Aquino, afirmaram que o homem jamais está, de fato, só e que nunca deve ficar, já que é um animal basicamente social, sobretudo político. A solidão, todavia, pode ter dupla interpretação. Do ponto de vista físico, num mundo com mais de 6,3 bilhões de habitantes, não há, de fato, como estar sozinho. Todavia, espiritualmente...Se levarmos em conta nossas diferenças de gostos, de sentimentos e de emoções, o processo genuíno de comunicação, salvo exceções, torna-se quase que mera abstração. Não somos entendidos e, em contrapartida, não entendemos os que nos cercam. E nos sentimos irremediavelmente sós...

5 comments:

Anonymous said...

Ola pedro , bem foi o primeiro texto q li seu ate agora lerei os outros... , muito interessante o q disse, realmente as pessoas tentam imitar o q se chama moda ou educaçao...seguir o q o outro segue para q n fique feio perante as outras pessoas,no assunto familiar e amigos sobre estar sozinho, n ter o abito de conversar dizer sobre sentimentos e conhecer uns aos outros... em algumas familias isso existe...na minha existe mas nao 100% seria diferente se todos nois soubesemos conversar sobre nois msm...e tb soubesemos ouvir...n iamos precisar aprender a amar ou saber como se ama... e sim amar simplesmente... eu admiro muito as pessoas q tem um gosto propio, q se vestem diferentes ou do seu jeito e n se importam com o q os outros falam...eu n ando diferente... mas n curto a moda... eu ando do q eu gosto e me sinto avontade e bem, ja deixei de ir a festa de 15 anos de uma melhor amiga pq tinha q ir com uma roupa q na epoca era moda...e era junho minha mae queria q fosse de bota... e eu n quiz eu tava de rosa blusa vermelha toda doida ...hehehemas eu estava me sentindo muito bem... minha blusa tinha brilhos em com as cores dos Estados Unidos da America, mas eu me sentia tao bem... msm estando tao diferente q eu sai da festa e vim pra casa pq minha mae disse q se n fosse com a roupa q ela queria n iria voltar...eu chorei e fui a unica q n fui... bem isso de seguir a educaçao e moda e meio estranho ne, pois é dificil acho q muitos de nois temos e recebemos uma educaçao meio diferente...pois muitos tem em si o racismo isso as vezes n se constroi dentro da educaçao q a familia passa mas sim a moda...o gosto da massa... dos amigos... e vc pra n fik de fora n se excluir vc tb acaba n gostando...mas se vc parece pra escutar...o q aquela pessoa tem pra te dizer... ser uma pessoa como eu disse no principio...falar e escutar... vc iria se descubrir e descobrir a propia pessoa... esse muito e muito dificil...mas n impossivel...é um mundo de misterios.
Acho q tudo q plantamos, colhemos... e costumo dizer q temos sempre q viver a vida intensamente...mas nunca esquecendo dos nossos limites...

vou te deixar uma mensagem q um amigo deixou pra mim e eu mudei ela... coloquei mais palavras...

bom mesmo e ir a luta com determinaçao, abraçar a vida e viver com paixao. Perder com classe e vencer com honestidade,pois o triunfo pertence a quem mais se atreve a vencer com a realidade sendo honesto e nunca desistindo de si mesmo.E a vida é muito para ser insignificativa a vida e mais do q uma insignificancia e um fascinio um misterio. mas q devemos ir alem de tudo e viver intensamente,sem ultrapassar nossos limites.


desculpe esse meu modo de escrever com "..." mas é mania da internet hehehehe um grande abraço lerei ]os outros textos e te falarei mais... espero q n tenha problema...

Anonymous said...

desculpe os erros ...um beijao

Anonymous said...

ola meu amigo Pedro...passei por aqui e adorei o q li..beijos....

Anonymous said...

Pedro, parabéns! Texto maravilhoso e muito pertinente. Como sempre você coloca o dedo na 'ferida' com muita sabedoria.

Um beijo e ótima semana! :-)

Anonymous said...

MEU AMIGO DACZUK. COM QUEM EU ME IDENTIFICO, NÃO TENHO VERGONHA DE ME EXPOR OU DE ABRIR MEU CORAÇÃO.
JAMAIS MOSTRAREI O QUE NÃO SOU OU O QUE NÃO PENSO, AINDA MAS PARA ESTÁ SOCIEDADE HIPÓCRITA,QUE NÃO TEM NEM MESMO CONSCIÊNCIA DE SUA MERA MORTALIDADE.CREIO QUE NÃO SEJA PRECISO AGREDIR NINGUÉM,MAS TAMBÉM NÃO DEIXEMOS DE NOS PRONUNCIARMOS.
PRINCIPALMENTE NUNCA DEIXEMOS DE AMAR UMA PESSOA COM QUISERMOS.
DACZUK O RIDÍCULO ESTÁ NOS OUTROS, PROCUREMOS SER O MAIS FIEL POSSÍVEL COM NÓS MESMOS.
AGORA EU CONCORDO COM VOCÊ QUANDO DIZ QUE ESPIRITUALMENTE NÓS NOS SENTIMOS IRREMEDIAVELMENTE SÓS.PARABÉNS PELO SOU NOVO BLOG.NÃO PODERIA SER DIFERENTE.