Tuesday, February 14, 2006

Comunicação exige bom-senso

Pedro J. Bondaczuk


O profissional de comunicação, seja qual for a área em que atuar, tem um compromisso e uma responsabilidade muito grandes para com o público que pretende atingir. No primeiro caso, trata-se de uma postura voltada para a prestação de serviços à comunidade, esclarecendo-a, orientando-o e atuando como o seu porta-voz. O segundo, por sua vez, decorre do anterior.
Quanto maior for a amplitude do meio que o comunicador utilizar, mais responsável ele terá que ser quanto àquilo que disser ou que escrever. Precisará ter muito critério. Deverá ser guiado por um elenco de pressupostos que vão desde o interesse à qualidade; da técnica usada à utilidade da comunicação, passando, por aí, o bom-gosto, a inteligência e outras coisas mais, que o jornalista e/ou o radialista conhecem, ou deveriam conhecer de sobejo.
Quem não aceitar isso, espontaneamente, sem imposição ou pressões, estará, evidentemente, em profissão errada. A mensagem que o profissional de comunicação passar, embora possa ser endereçada a um determinado público, bastante específico, terá influências as mais variadas possíveis. Tem que atentar o que, como, para que e a quem comunicar.
Isto vai depender das circunstâncias e do perfil psicológico de quem tiver acesso a essas mensagens. Pelo menos, é o que deveria ocorrer. Nem sempre ocorre, claro. Um comunicador irresponsável pode, até mesmo, provocar uma sublevação popular. Veja-se, por exemplo, o que vem ocorrendo nos países muçulmanos, em decorrência da publicação, por parte de um jornal dinamarquês, da caricatura do profeta Maomé.
Que benefício, e a quem, essa divulgação, no fundo, no fundo, preconceituosa, trouxe a quem quer que seja? Qual a necessidade de se mexer com as crenças e convicções alheias, mesmo as que consideremos ridículas e frutos do atraso (não é o caso), utilizando, como pretexto, o direito da liberdade de expressão? Convém ressaltar que um comunicador tem a possibilidade de influenciar idéias, costumes, comportamentos e ações. Quanto mais liberdade tiver, maior será, em contrapartida, a sua responsabilidade.
Estas considerações vêm a propósito do desvirtuamento que se vem fazendo, em determinados canais de televisão (e isso não é de hoje) e em alguns horários nem sempre apropriados, da arte do erotismo. Seu limite, em relação à pornografia, é sutil, sutilíssimo e nem todos os expectadores têm critério ou maturidade suficientes para fazer essa distinção.
Não defendo, evidentemente, nenhum tipo de censura. A própria Constituição brasileira proíbe esse comportamento. O que é necessário é que o próprio comunicador, autor de novela, roteirista de filme ou mesmo escritor de romances tenha autocrítica. Que pergunte, a si mesmo, se tem algo inteligente, proveitoso, interessante e construtivo a dizer (ou a escrever, claro).
Para se destruir algo, seja lá o que for, não é preciso ser criativo, dispor de muita técnica ou ter um pouquinho a mais de massa cinzenta que os mortais comuns. Construir, porém, é tarefa de gigantes, de pessoas especiais, talentosas e de grande visão.
Será que é válido, por uma certa importância em dinheiro (e não importa quanto), um intelectual se expor ao ridículo e alterar (para pior) o comportamento de pessoas mais simples e menos dotadas de capacidade de análise?
A pornografia barata apenas alimenta uma tara, uma doença comportamental, o “voyuerismo” e nada acrescenta a quem quer que seja. Há, evidentemente, quem goste dela. Essas pessoas estão no seu direito – afinal, como preceitua a doutrina do Direito, nem tudo o que é legal é moral e vice-versa – mas elas que procurem veículos adequados para satisfazer sua compulsão: um pornoshop, por exemplo, ou fitas de vídeo, que existem, por aí, em profusão.
Há toda uma indústria voltada à pornografia. Exibir bobagens publicamente, todavia, sob o rótulo de arte, é, antes de tudo, uma fraude, e das mais grotescas e grosseiras. Trata-se de uma enorme tapeação a quem espera do comunicador coisas criativas, originais e, sobretudo, construtivas.

1 comment:

Anonymous said...

DACZUK. CONCORDO EM GÊNERO NÚMERO E GRAU.PARABÉNS.