Tuesday, February 28, 2006
REFLEXÃO DO DIA
As conversas, de uns tempos para cá, tornaram-se escassas e sem graça. Mesmo os que ainda reservam tempo para um papo com amigos, entre um chopinho e outro, no fim do expediente diário ou das aulas no colégio, não conseguem mais escapar dos temas dirigidos. E estes são, invariavelmente: política, futebol, maledicências sobre a vida alheia, bravatas sobre conquistas amorosas quase nunca verdadeiramente concretizadas e outras banalidades do gênero. Tempo para tratar de assuntos relevantes, para aprender e ensinar algo, nunca sobra. E, no entanto, jamais as pessoas sentiram tanta falta de diálogos construtivos. Palestras, conferências, simpósios e seminários multiplicam-se, para tratar de temas que há apenas meio século ou menos as pessoas levantavam em conversas nas varandas de suas casas, de forma amena e descontraída. Vamos dialogar, abrir nossas almas, nos comunicar. Faz bem e enriquece nossa cultura!
Fraquezas que enternecem
Pedro J. Bondaczuk
As pessoas nos admiram por nossas virtudes, mas apenas nos amam pelas nossas fraquezas. A afirmação foi feita (não exatamente com essas palavras) pelo escritor William Somerset Maugham e reflete uma grande verdade. Sequer seria preciso que o dissesse. Basta que fiquemos atentos ao que ocorre conosco ou ao que se passa ao nosso redor para chegarmos à constatação. No caso não se está referindo aos grandes defeitos, àqueles de caráter, de educação, de personalidade, que transformam alguns em párias sociais que precisam ser segregados do convívio com os semelhantes.
Mesmo aí a máxima funciona. Quem não ouviu falar (ou não conhece algum caso) do chamado "amor bandido"? Vêmo-lo a todo o instante e em todo o lugar. Ou seja, a fascinação, a paixão, a autêntica obsessão, que algumas mulheres têm, por pessoas que agem à margem das leis, cometendo assaltos, seqüestros e assassinatos, ou traficando drogas, entre outras coisas.
Mas referimo-nos às pequenas fraquezas. Aos lapsos de memória, às manias inocentes que não prejudicam ninguém, às deficiências físicas, às coisas que nos enfeiam e nos tornam infelizes. Para os que nos cercam, mas não convivem conosco, é só nosso visual que aparece. Quando encontramos alguém assim, fragilizado, nosso primeiro sentimento é o de piedade (de dó, como se diz popularmente). Para o objeto da pena, quando esta é mostrada ostensivamente, ela é ofensiva e humilhante. O que indivíduos assim esperam é reconhecimento por suas pequenas vitórias. Ou, na pior das hipóteses, respeito ou não-interferência.
À medida que vamos convivendo com tais pessoas, esse sentimento inicial de piedade, instintivo, transforma-se em ternura. Sobretudo se elas não são agressivas e se aceitam a nossa ajuda. Quando são agradáveis e de fácil trato. Quando são alegres, amigáveis e abertas ao diálogo. Quando não têm complexos, não alimentam amarguras e não agem com agressividade. Sentimo-nos bem quando as ajudamos. E quando são do sexo oposto, na maioria das vezes nos apaixonamos por elas.
O mencionado Maugham também afirmou: "A perfeição tem um grave defeito: costuma ser sem graça". Isto, supondo que de fato exista. As limitações humanas impedem que haja alguém perfeito. Todos temos nossas virtudes e talentos. Alguns mais, outros menos. Mas da perfeição, ao que se saiba, ninguém jamais sequer se aproximou. Alguns chegaram relativamente perto. Outros ficaram a anos-luz de distância dela. Houvesse o perfeito, as outras pessoas se aproximariam desse fenômeno apenas por interesse, quando não para o eliminar. A perfeição permanentemente diante dos nossos olhos só conseguiria ressaltar nossos defeitos. Não a toleraríamos.
Todos temos deficiências e imperfeições. Aldous Huxley, no livro "Ronda Grotesca", dedica várias páginas a analisá-las. Escreve, em determinado trecho: "Mas todo homem é ridículo quando visto de fora, sem levar em conta o que lhe vai no espírito e no coração. Pode-se transformar Hamlet numa farsa epigramática, com uma cena inimitável, quando ele surpreende sua adorada mãe em adultério. Pode-se tirar o mais gracioso conto de Maupassant da vida de Cristo, fazendo contrastar as loucas pretensões do rabi com seu lamentável destino. É uma questão de ponto-de-vista. Cada um de nós é uma farsa ambulante e uma tragédia ambulante ao mesmo tempo. O homem que escorrega numa casca de banana e fratura o crânio, descreve contra o céu, ao cair, o arabesco mais ricamente cômico".
É incompreensível haver indivíduos, razoavelmente educados e com amplo acesso às informações, que querem ser sempre auto-suficientes, sem que o sejam. Pessoas arrogantes, prepotentes, "donas da verdade", que acham que o dinheiro compra todos e tudo (inclusive amor). Algumas são criativas, nas ciências ou nas artes, e apesar da antipatia, mesmo que secretamente, não podemos deixar de admirar sua competência e talento. Mas...amá-las, jamais! Sua arrogância e prepotência agem como repelentes, como muralhas, como barreiras indevassáveis que as afastam do convívio normal. São pessoas que, de tanto buscar ser superiores, só conseguem fazer um papel ridículo. Infelizes, é o que são.
As pessoas nos admiram por nossas virtudes, mas apenas nos amam pelas nossas fraquezas. A afirmação foi feita (não exatamente com essas palavras) pelo escritor William Somerset Maugham e reflete uma grande verdade. Sequer seria preciso que o dissesse. Basta que fiquemos atentos ao que ocorre conosco ou ao que se passa ao nosso redor para chegarmos à constatação. No caso não se está referindo aos grandes defeitos, àqueles de caráter, de educação, de personalidade, que transformam alguns em párias sociais que precisam ser segregados do convívio com os semelhantes.
Mesmo aí a máxima funciona. Quem não ouviu falar (ou não conhece algum caso) do chamado "amor bandido"? Vêmo-lo a todo o instante e em todo o lugar. Ou seja, a fascinação, a paixão, a autêntica obsessão, que algumas mulheres têm, por pessoas que agem à margem das leis, cometendo assaltos, seqüestros e assassinatos, ou traficando drogas, entre outras coisas.
Mas referimo-nos às pequenas fraquezas. Aos lapsos de memória, às manias inocentes que não prejudicam ninguém, às deficiências físicas, às coisas que nos enfeiam e nos tornam infelizes. Para os que nos cercam, mas não convivem conosco, é só nosso visual que aparece. Quando encontramos alguém assim, fragilizado, nosso primeiro sentimento é o de piedade (de dó, como se diz popularmente). Para o objeto da pena, quando esta é mostrada ostensivamente, ela é ofensiva e humilhante. O que indivíduos assim esperam é reconhecimento por suas pequenas vitórias. Ou, na pior das hipóteses, respeito ou não-interferência.
À medida que vamos convivendo com tais pessoas, esse sentimento inicial de piedade, instintivo, transforma-se em ternura. Sobretudo se elas não são agressivas e se aceitam a nossa ajuda. Quando são agradáveis e de fácil trato. Quando são alegres, amigáveis e abertas ao diálogo. Quando não têm complexos, não alimentam amarguras e não agem com agressividade. Sentimo-nos bem quando as ajudamos. E quando são do sexo oposto, na maioria das vezes nos apaixonamos por elas.
O mencionado Maugham também afirmou: "A perfeição tem um grave defeito: costuma ser sem graça". Isto, supondo que de fato exista. As limitações humanas impedem que haja alguém perfeito. Todos temos nossas virtudes e talentos. Alguns mais, outros menos. Mas da perfeição, ao que se saiba, ninguém jamais sequer se aproximou. Alguns chegaram relativamente perto. Outros ficaram a anos-luz de distância dela. Houvesse o perfeito, as outras pessoas se aproximariam desse fenômeno apenas por interesse, quando não para o eliminar. A perfeição permanentemente diante dos nossos olhos só conseguiria ressaltar nossos defeitos. Não a toleraríamos.
Todos temos deficiências e imperfeições. Aldous Huxley, no livro "Ronda Grotesca", dedica várias páginas a analisá-las. Escreve, em determinado trecho: "Mas todo homem é ridículo quando visto de fora, sem levar em conta o que lhe vai no espírito e no coração. Pode-se transformar Hamlet numa farsa epigramática, com uma cena inimitável, quando ele surpreende sua adorada mãe em adultério. Pode-se tirar o mais gracioso conto de Maupassant da vida de Cristo, fazendo contrastar as loucas pretensões do rabi com seu lamentável destino. É uma questão de ponto-de-vista. Cada um de nós é uma farsa ambulante e uma tragédia ambulante ao mesmo tempo. O homem que escorrega numa casca de banana e fratura o crânio, descreve contra o céu, ao cair, o arabesco mais ricamente cômico".
É incompreensível haver indivíduos, razoavelmente educados e com amplo acesso às informações, que querem ser sempre auto-suficientes, sem que o sejam. Pessoas arrogantes, prepotentes, "donas da verdade", que acham que o dinheiro compra todos e tudo (inclusive amor). Algumas são criativas, nas ciências ou nas artes, e apesar da antipatia, mesmo que secretamente, não podemos deixar de admirar sua competência e talento. Mas...amá-las, jamais! Sua arrogância e prepotência agem como repelentes, como muralhas, como barreiras indevassáveis que as afastam do convívio normal. São pessoas que, de tanto buscar ser superiores, só conseguem fazer um papel ridículo. Infelizes, é o que são.
Monday, February 27, 2006
REFLEXÃO DO DIA
Uma descoberta, que é complicada quando a fazemos, por ferir nosso amor próprio, é a das nossas limitações. Mas ela é importante. Se quisermos empreender conquistas, é indispensável sabermos onde estamos, o que somos e o que queremos, para que possamos escolher a estratégia e os meios para a nossa evolução. Não é necessário alardear nossas deficiências. Mas é indispensável que as identifiquemos e nos disponhamos a corrigir o que estiver incorreto. O dramaturgo Auguste Strindberg sintetiza essa postura: "Para mim, a alegria de viver está na dura e cruel luta pela vida. O aprender algo é para mim uma alegria". Mas é possível sermos criativos com a admissão pública das nossas vulnerabilidades, através da arte, notadamente da Literatura.
Vítimas do fanatismo
O suicídio coletivo de 53 membros da seita Ordem do Templo Solar – 48 em duas cidades da Suíça e cinco no Canadá – ocorrido em outubro de 1994, mostra os perigos do fanatismo, que este seja político, quer esportivo, quer religioso ou de outra ordem qualquer. Revela, sobretudo, o quanto são vulneráveis, psicologicamente, determinadas pessoas, que não contam com uma estrutura firme de caráter e desconhecem a beleza da vida. Por conseqüência, não a valorizam. Preferem anular-se. Fogem desse maravilhoso desafio e fantástica aventura. Optam por “não ser”. São presas fáceis de malucos e espertalhões. E não se trata de uma questão de cultura, mas de estrutura mental.
O escritor Humberto de Campos, na “Antologia da Academia Brasileira de Letras”, observa: “Há em cada vida de homem sombrios desvãos, úmidas e recônditas grotas cheias de perfume e mistério. Aí moram os pensamentos que, por melindrosos demais, não se querem ver ao sol; as impressões que se não descrevem e os nomes que, no dizer de Saint-Beuve, ‘il faut bènir et taire’”.
Somos seres racionais, com liberdade para escolher entre vários caminhos. O que temos é que exercer plenamente essa racionalidade e optar entre o certo e o errado, entre o bem e o mal, entre a sublimidade e o horror. Ninguém deve, ou pode, fazer isso por nós.
A maioria das pessoas assusta-se com a complexidade dos relacionamentos humanos. Algumas, apavoram-se diante da vida e recolhem-se a uma covarde alienação. Aceitam passivamente a realidade e, quando muito, gastam seu tempo em queixas sobre a maldade imperante, sobre as injustiças e velhacarias e sobre tudo o que as desagrade ou que não entendam. Mas não fazem nada para modificar o mundo para melhor. Ou pelo menos para influir positivamente no círculo ao seu redor, no ambiente em que vivem. Esperam que os outros façam essas mudanças por elas. Contentam-se com o papel de “caudas”, ao invés de serem cabeças. Temem expor-se ao ridículo e acabam se tornando ridículas ao seguir os outros.
São estas as pessoas vulneráveis à influência de falsos líderes, de profetas de polichinelo, de caricatos e risíveis “gurus”, que quanto mais estapafúrdios se mostram, mais seguidores conseguem arrebanhar. Tais indivíduos, porém, são dignos de piedade e atenção e não de reprimendas. Constituem-se em vítimas indefesas de malucos triunfalistas, de celerados oportunistas e de megalomaníacos que se julgam divindades. São o lado frágil da espécie humana que precisa ser protegido.
É necessário que se busque, sempre e incansavelmente, o sentido da vida, porquanto esta possui um, com certeza. É preciso que se faça um permanente exame de consciência, um exercício de racionalidade. Requer-se, sobretudo, ação, positiva, incansável, para modificar uma realidade adversa. Não importa ser não conseguirmos mudar o mundo para melhor. O que ninguém tem o direito é de parar de tentar. Pois, como ressaltou o pensador norte-americano, William James, “é somente nos arriscando hora após hora que conseguimos viver completamente”.
(Capítulo do livro “Por uma nova utopia”, Pedro J. Bondaczuk, páginas 35 a 37, 1ª edição – 5 mil exemplares – fevereiro de 1998 – Editora M – São Paulo).
O escritor Humberto de Campos, na “Antologia da Academia Brasileira de Letras”, observa: “Há em cada vida de homem sombrios desvãos, úmidas e recônditas grotas cheias de perfume e mistério. Aí moram os pensamentos que, por melindrosos demais, não se querem ver ao sol; as impressões que se não descrevem e os nomes que, no dizer de Saint-Beuve, ‘il faut bènir et taire’”.
Somos seres racionais, com liberdade para escolher entre vários caminhos. O que temos é que exercer plenamente essa racionalidade e optar entre o certo e o errado, entre o bem e o mal, entre a sublimidade e o horror. Ninguém deve, ou pode, fazer isso por nós.
A maioria das pessoas assusta-se com a complexidade dos relacionamentos humanos. Algumas, apavoram-se diante da vida e recolhem-se a uma covarde alienação. Aceitam passivamente a realidade e, quando muito, gastam seu tempo em queixas sobre a maldade imperante, sobre as injustiças e velhacarias e sobre tudo o que as desagrade ou que não entendam. Mas não fazem nada para modificar o mundo para melhor. Ou pelo menos para influir positivamente no círculo ao seu redor, no ambiente em que vivem. Esperam que os outros façam essas mudanças por elas. Contentam-se com o papel de “caudas”, ao invés de serem cabeças. Temem expor-se ao ridículo e acabam se tornando ridículas ao seguir os outros.
São estas as pessoas vulneráveis à influência de falsos líderes, de profetas de polichinelo, de caricatos e risíveis “gurus”, que quanto mais estapafúrdios se mostram, mais seguidores conseguem arrebanhar. Tais indivíduos, porém, são dignos de piedade e atenção e não de reprimendas. Constituem-se em vítimas indefesas de malucos triunfalistas, de celerados oportunistas e de megalomaníacos que se julgam divindades. São o lado frágil da espécie humana que precisa ser protegido.
É necessário que se busque, sempre e incansavelmente, o sentido da vida, porquanto esta possui um, com certeza. É preciso que se faça um permanente exame de consciência, um exercício de racionalidade. Requer-se, sobretudo, ação, positiva, incansável, para modificar uma realidade adversa. Não importa ser não conseguirmos mudar o mundo para melhor. O que ninguém tem o direito é de parar de tentar. Pois, como ressaltou o pensador norte-americano, William James, “é somente nos arriscando hora após hora que conseguimos viver completamente”.
(Capítulo do livro “Por uma nova utopia”, Pedro J. Bondaczuk, páginas 35 a 37, 1ª edição – 5 mil exemplares – fevereiro de 1998 – Editora M – São Paulo).
Sunday, February 26, 2006
REFLEXÃO DO DIA
John Dewey constatou que "os homens vivem em comunidade em virtude das coisas que têm em comum; e a comunicação é o meio por que chegam a possuir coisas em comum". Só que, se comunicar, é uma via de duas mãos. Ou seja, um contínuo dar e receber. E é isto que está faltando nos dias de hoje, tornando as pessoas tão solitárias e arredias.
Grave ameaça para todos
Pedro J. Bondaczuk
"O mundo está à beira de uma catástrofe climática, de conseqüências imprevisíveis, por causa do aquecimento do Planeta provocado pela enorme emissão de gases poluentes na atmosfera e da ruptura na camada de ozônio".
Esse alerta dramático foi feito durante a semana por uma renomada instituição preservacionista norte-americana e, ao que tudo indica, não foi levado muito a sério. Ele não mereceu sequer uma nota na maioria dos órgãos de comunicação, sendo tratado como um assunto secundário, atrás das preocupações econômicas e das estrepolias do presidente iraquiano, general Saddam Hussein, no Golfo Pérsico. No entanto, a advertência está solidamente fundamentada em dados concretos.
O tema poluição freqüentou muito as manchetes na década de 60, quando o problema era bem menor do que atualmente. Já então, os dados de que se dispunha eram assustadores. Ninguém, contudo, tomou qualquer providência.
A argumentação, na época, era a de que a miséria era pior do que a agressão ao meio ambiente. Dizia-se que era preciso produzir o máximo de bens, para que toda a humanidade pudesse ter acesso a melhores condições de vida.
Alguns grupos e pessoas, de fato, enriqueceram no período, como nunca. Mas o estado de miserabilidade da maioria da população terrestre multiplicou-se vertiginosamente. Portanto, o patrimônio comum de todos nós foi depredado em benefício de pouquíssimos.
Hoje, a situação na "espaçonave" Terra é gravíssima e poucos se dão conta disso. Ela está superlotada --- está com 5,3 bilhões de "passageiros" --- o lixo acumula-se por toda a parte, pedaços dela são queimados para a geração de energia, o calor aumenta, a fumaça sufoca e a tripulação está mais ameaçada do que nunca. Temas como este ainda são encarados com olímpico pouco caso, como se houvesse outro planeta melhor à nossa espera, depois de depredarmos este. Mas não há!
Não seria possível produzir mais, sem poluir? Não há uma maneira racional de se explorar o que a natureza nos legou sem destruir? Os recursos terrestres não são como a mitológica "cornucópia da abundância", ou seja, inesgotáveis.
O escritor Ulrich Schipke fez uma advertência, num de seus livros, que deveria ser tema de profunda reflexão por parte dos que têm capacidade de decisão: "Encontram-se em evolução cinco processos que ameaçam a existência da nave espacial Terra: explosão demográfica, industrialização descuidada, progressiva carência de alimentos, diminuição das reservas de matérias-primas e poluição do ambiente. Qualquer destes processos pode transformar a Terra num astro tão morto como a Lua". E, infelizmente, isto não é ficção científica.
(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 28 de outubro de 1990).
"O mundo está à beira de uma catástrofe climática, de conseqüências imprevisíveis, por causa do aquecimento do Planeta provocado pela enorme emissão de gases poluentes na atmosfera e da ruptura na camada de ozônio".
Esse alerta dramático foi feito durante a semana por uma renomada instituição preservacionista norte-americana e, ao que tudo indica, não foi levado muito a sério. Ele não mereceu sequer uma nota na maioria dos órgãos de comunicação, sendo tratado como um assunto secundário, atrás das preocupações econômicas e das estrepolias do presidente iraquiano, general Saddam Hussein, no Golfo Pérsico. No entanto, a advertência está solidamente fundamentada em dados concretos.
O tema poluição freqüentou muito as manchetes na década de 60, quando o problema era bem menor do que atualmente. Já então, os dados de que se dispunha eram assustadores. Ninguém, contudo, tomou qualquer providência.
A argumentação, na época, era a de que a miséria era pior do que a agressão ao meio ambiente. Dizia-se que era preciso produzir o máximo de bens, para que toda a humanidade pudesse ter acesso a melhores condições de vida.
Alguns grupos e pessoas, de fato, enriqueceram no período, como nunca. Mas o estado de miserabilidade da maioria da população terrestre multiplicou-se vertiginosamente. Portanto, o patrimônio comum de todos nós foi depredado em benefício de pouquíssimos.
Hoje, a situação na "espaçonave" Terra é gravíssima e poucos se dão conta disso. Ela está superlotada --- está com 5,3 bilhões de "passageiros" --- o lixo acumula-se por toda a parte, pedaços dela são queimados para a geração de energia, o calor aumenta, a fumaça sufoca e a tripulação está mais ameaçada do que nunca. Temas como este ainda são encarados com olímpico pouco caso, como se houvesse outro planeta melhor à nossa espera, depois de depredarmos este. Mas não há!
Não seria possível produzir mais, sem poluir? Não há uma maneira racional de se explorar o que a natureza nos legou sem destruir? Os recursos terrestres não são como a mitológica "cornucópia da abundância", ou seja, inesgotáveis.
O escritor Ulrich Schipke fez uma advertência, num de seus livros, que deveria ser tema de profunda reflexão por parte dos que têm capacidade de decisão: "Encontram-se em evolução cinco processos que ameaçam a existência da nave espacial Terra: explosão demográfica, industrialização descuidada, progressiva carência de alimentos, diminuição das reservas de matérias-primas e poluição do ambiente. Qualquer destes processos pode transformar a Terra num astro tão morto como a Lua". E, infelizmente, isto não é ficção científica.
(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 28 de outubro de 1990).
Saturday, February 25, 2006
REFLEXÃO DO DIA
A bondade, ou seja, a capacidade de ajudar o próximo, de maneira espontânea e desprendida, só para vê-lo seguro, alegre ou pelo menos equilibrado, sem esperar a mínima espécie de reconhecimento (nenhuma, sequer a sua gratidão) – e essa ajuda nem mesmo precisa ser de caráter material, bastando, não raro, um simples minuto de atenção, que pode fazer a diferença entre a vida e a morte de alguém –, é o que verdadeiramente distingue o homem, na verdadeira acepção do termo, dos demais animais. É através de gestos dessa espécie que ele faz luzir sua racionalidade. Essa atitude, embora os néscios, os gananciosos e os egoístas não percebam (e não admitam), é que lhe confere superioridade moral, ascendência afetiva e credibilidade.
Apelo
Flor delicada e etérea
dos sonhos, delírios de angústia,
pétala sutil da madrugada,
pura açucena dos campos
da sensibilidade e sentimento,
desabrochar da alegria,
faça do meu desencanto
enfático cântico de vitória!
Aromatize nauseabundas cloacas
da inveja, ódio e maldade
com, de rosas brancas e amarelas,
inebriante aroma. Ou do jasmim,
ou da lótus das meditações.
Que seus passos sejam leves
asas de borboletas
e não sangrem as frágeis pétalas
das fantasias, sonhos e ideais
com brutais tacões assassinos
de desejos inconfessáveis.
Que as mãos sejam brisas sutis,
os dedos, sopros da aura,
os lábios, carícias de asas,
os olhos, fontes cristalinas,
o mundo, canteiro, vergel
onde a erva do desamor,
urtigas, espinheiros e cardos
que crestam a humanidade
sejam lançados nas chamas
que purificarão a Terra.
Rosa mágica, rosa de Sharon
que marcou passagem no tempo
com gestos e atos
e fatos e encantos
e a elétrica empatia
que move a unidade,
desabroche, ressurja, renasça
e além de um poeta e amante,
me erija, me transforme
em dínamo gerador de emoções!
(Poema composto em Campinas, em 9 de agosto de 1978).
dos sonhos, delírios de angústia,
pétala sutil da madrugada,
pura açucena dos campos
da sensibilidade e sentimento,
desabrochar da alegria,
faça do meu desencanto
enfático cântico de vitória!
Aromatize nauseabundas cloacas
da inveja, ódio e maldade
com, de rosas brancas e amarelas,
inebriante aroma. Ou do jasmim,
ou da lótus das meditações.
Que seus passos sejam leves
asas de borboletas
e não sangrem as frágeis pétalas
das fantasias, sonhos e ideais
com brutais tacões assassinos
de desejos inconfessáveis.
Que as mãos sejam brisas sutis,
os dedos, sopros da aura,
os lábios, carícias de asas,
os olhos, fontes cristalinas,
o mundo, canteiro, vergel
onde a erva do desamor,
urtigas, espinheiros e cardos
que crestam a humanidade
sejam lançados nas chamas
que purificarão a Terra.
Rosa mágica, rosa de Sharon
que marcou passagem no tempo
com gestos e atos
e fatos e encantos
e a elétrica empatia
que move a unidade,
desabroche, ressurja, renasça
e além de um poeta e amante,
me erija, me transforme
em dínamo gerador de emoções!
(Poema composto em Campinas, em 9 de agosto de 1978).
Friday, February 24, 2006
REFLEXÃO DO DIA
O desencanto que se apossa da maioria das pessoas, nestes tempos loucos de insensatez e de violência, é tão grande, que pequenos (mas de maiúsculo significado) gestos de bondade e de solidariedade, que se praticam no dia-a-dia (e que não são poucos), passam despercebidos. Ou são ignorados, quando divulgados publicamente. Ou são, na melhor das hipóteses, logo depreciados. Não podemos, porém, nos importar com esse tipo de opinião. Sejamos solidários, sempre, sem esperar retribuição ou sequer gratidão. Ter condições de servir, ao contrário de ser servido, é força, é poder e é uma bênção reservada somente a pessoas muito especiais, como você, caríssimo leitor.
País do Carnaval
Pedro J. Bondaczuk
O País está imerso, há já alguns dias, na folia – que vai se estender por três dias (na verdade, quatro) – no início da próxima semana, com os festejos populares do Carnaval. De uns anos para cá, os foliões incorporaram mais 24 horas para se esbaldar, invadindo a Quarta-Feira de Cinzas, com os já tradicionais “arrastões” dos vários blocos e trios-elétricos, que de fato arrastam atrás de si multidões eufóricas, daí a justeza da designação.
Milhões de turistas, vindos de vários lugares do mundo, com línguas, costumes, tradições e gostos os mais diversos, se fazem presentes, nas principais cidades brasileiras, notadamente naquelas que possuem praias e que têm forte tradição carnavalesca. Muitos são atraídos para cá por fantasias sexuais, para fazer aqui o que não teriam coragem de fazer em seus países. Não raros contribuem para prostituir menininhas, em torno dos 12 ou 13 anos, (conheço casos de crianças de nove anos que, incentivadas pelos próprios pais, fizeram ou fazem esse tipo de programa), esquecidos de que essas garotas poderiam ser suas filhas ou suas netas.
Mas, o que fazer? A corrupção não depende de cultura, fortuna, classe social ou religião. É inerente ao ser humano. Autoridades prometem coibir essa prática, mas ou por incompetência, ou por incoerência, ou por ambos, deblateram, discursam, ameaçam, mas na hora da verdade fazem vistas grossas e fingem que não sabem ou que não vêem. E não estamos exagerando, esteja certo o leitor.
Em contrapartida, milhares de brasileiros desempregados fazem “bicos” e conseguem um bem vindo dinheirinho para sustentar suas famílias, obrigados a se contentar com as migalhas dos que tudo têm e tudo podem. As escolas de samba, que proporcionam o maior espetáculo popular da Terra em número de participantes, por sua vez, já se transformaram em indústrias do lazer. Empregam, por pelo menos seis meses do ano, milhares de pessoas. E esse é o lado bom do Carnaval, ou um deles, sei lá.
Belém, São Luiz, Fortaleza, Natal, Aracaju e, principalmente, Recife, Salvador e Rio de Janeiro, recebem brasileiros de todos os recantos (em especial paulistas, claro) e em geral de classe média, para suas brincadeiras de rua. Ou, no caso da Cidade Maravilhosa, para os grandiosos desfiles das escolas de samba, principalmente os de amanhã e segunda-feira, do chamado Grupo Especial, cujos ingressos são disputados a tapa. Afinal, como o designou o imortal Jorge Amado, no título do seu primeiro e consagrado romance, que o lançou para a glória e a posteridade: este é o “País do Carnaval”.
Os 10% mais ricos, que detêm mais de 60% da renda nacional, preferem outras diversões, digamos, “mais sofisticadas” e menos povão, embora não seja caso de se generalizar. Muitos gastam verdadeiras fortunas (que para eles é dinheiro de troco, ou, como diz o povo, de “pinga”) para desfilar na avenida. E são, sem dúvida, bem vindos. Há escolas de samba que têm nessas pessoas importante fonte suplementar de renda, para cobrir os custos das suas apresentações.
São Paulo, a maior cidade da América Latina e uma das mais populosas do mundo, tida e havida, até há não muito, como “túmulo do samba”, aos poucos se transforma numa segunda “Capital da Folia”. A primeira? Nem é preciso nomear. Claro que é o Rio de Janeiro! A televisão contribuiu muito para isso, apresentando, ao vivo, os desfiles paulistanos.
Um leitor me pergunta o que acho do Carnaval. Pessoalmente, não gosto e nunca gostei dele, e não por questão de moral. Quando moço, freqüentava os bailes de salão, mas não participava diretamente da folia. Preferia comprar uma mesa e apreciar os foliões à distância, para compor os personagens dos meus contos. Mas o barulho me incomodava bastante. E agora... incomoda mais ainda, é claro. Coisas da idade!
Hoje em dia, às vezes assisto, pela televisão, os desfiles de São Paulo e do Rio, mas nem sempre. Prefiro meu retiro espiritual particular, às voltas com meus livros e com outros sons, muito mais harmoniosos e inteligentes do que os dos sambas e marchinhas, cada vez piores, mais repetitivos e mais monótonos: os dos clássicos, como Tchaikowsky, Chopin, Mozart, Beethoven, Rachmaninoff e tantos outros.
E sequer se trata de questão de moral, reitero, mas de preferência estética. Por mais que as pessoas se corrompam nessas ocasiões, confio na preponderância da razão sobre os instintos. Amo, sobretudo, os mais frágeis, os mais vulneráveis, os mais expostos aos vícios e degradações. Afinal, como cristão, tenho horror ao pecado, mas compaixão pelo pecador.
Não só o Carnaval, mas toda e qualquer manifestação popular espontânea (como um show de rock, por exemplo, em que se cometem mais excessos numa só apresentação do que nos três dias de folia) não podem implicar na liberação total, cega e sem freios, dos instintos. Porque muitos não observam essa conduta de moderação, aliás, é que os balanços de ocorrências policiais, registradas nessas ocasiões, são tão sombrios e preocupantes.
Acidentes, assassinatos, estupros, abandono de filhos e infidelidade conjugal (que redunda, via de regra, em crimes passionais) são as conseqüências mais ostensivas dos abusos então cometidos. O segredo de se divertir, com segurança, e de dar vazão à alegria, sem prejudicar ninguém, está, portanto, na moderação. Ela é que proporciona o verdadeiro prazer.
Sempre insisti neste ponto de vista: não é o Carnaval, e nem é um show de rock, ou de música country, ou seja de que natureza for, que são reprováveis: são os excessos cometidos neles. Embora a quebra das normas morais receba, invariavelmente, a reprovação pública, as conseqüências das bobagens praticadas são sempre individuais. Cada pessoa arca, e sozinha, pelos seus atos. Se sabe se preservar, e se divertir com moderação, encontrará inegável satisfação, ficará feliz e sua felicidade será só sua, particular e indivisível. Em caso contrário...E depois, não adianta chorar!
O País está imerso, há já alguns dias, na folia – que vai se estender por três dias (na verdade, quatro) – no início da próxima semana, com os festejos populares do Carnaval. De uns anos para cá, os foliões incorporaram mais 24 horas para se esbaldar, invadindo a Quarta-Feira de Cinzas, com os já tradicionais “arrastões” dos vários blocos e trios-elétricos, que de fato arrastam atrás de si multidões eufóricas, daí a justeza da designação.
Milhões de turistas, vindos de vários lugares do mundo, com línguas, costumes, tradições e gostos os mais diversos, se fazem presentes, nas principais cidades brasileiras, notadamente naquelas que possuem praias e que têm forte tradição carnavalesca. Muitos são atraídos para cá por fantasias sexuais, para fazer aqui o que não teriam coragem de fazer em seus países. Não raros contribuem para prostituir menininhas, em torno dos 12 ou 13 anos, (conheço casos de crianças de nove anos que, incentivadas pelos próprios pais, fizeram ou fazem esse tipo de programa), esquecidos de que essas garotas poderiam ser suas filhas ou suas netas.
Mas, o que fazer? A corrupção não depende de cultura, fortuna, classe social ou religião. É inerente ao ser humano. Autoridades prometem coibir essa prática, mas ou por incompetência, ou por incoerência, ou por ambos, deblateram, discursam, ameaçam, mas na hora da verdade fazem vistas grossas e fingem que não sabem ou que não vêem. E não estamos exagerando, esteja certo o leitor.
Em contrapartida, milhares de brasileiros desempregados fazem “bicos” e conseguem um bem vindo dinheirinho para sustentar suas famílias, obrigados a se contentar com as migalhas dos que tudo têm e tudo podem. As escolas de samba, que proporcionam o maior espetáculo popular da Terra em número de participantes, por sua vez, já se transformaram em indústrias do lazer. Empregam, por pelo menos seis meses do ano, milhares de pessoas. E esse é o lado bom do Carnaval, ou um deles, sei lá.
Belém, São Luiz, Fortaleza, Natal, Aracaju e, principalmente, Recife, Salvador e Rio de Janeiro, recebem brasileiros de todos os recantos (em especial paulistas, claro) e em geral de classe média, para suas brincadeiras de rua. Ou, no caso da Cidade Maravilhosa, para os grandiosos desfiles das escolas de samba, principalmente os de amanhã e segunda-feira, do chamado Grupo Especial, cujos ingressos são disputados a tapa. Afinal, como o designou o imortal Jorge Amado, no título do seu primeiro e consagrado romance, que o lançou para a glória e a posteridade: este é o “País do Carnaval”.
Os 10% mais ricos, que detêm mais de 60% da renda nacional, preferem outras diversões, digamos, “mais sofisticadas” e menos povão, embora não seja caso de se generalizar. Muitos gastam verdadeiras fortunas (que para eles é dinheiro de troco, ou, como diz o povo, de “pinga”) para desfilar na avenida. E são, sem dúvida, bem vindos. Há escolas de samba que têm nessas pessoas importante fonte suplementar de renda, para cobrir os custos das suas apresentações.
São Paulo, a maior cidade da América Latina e uma das mais populosas do mundo, tida e havida, até há não muito, como “túmulo do samba”, aos poucos se transforma numa segunda “Capital da Folia”. A primeira? Nem é preciso nomear. Claro que é o Rio de Janeiro! A televisão contribuiu muito para isso, apresentando, ao vivo, os desfiles paulistanos.
Um leitor me pergunta o que acho do Carnaval. Pessoalmente, não gosto e nunca gostei dele, e não por questão de moral. Quando moço, freqüentava os bailes de salão, mas não participava diretamente da folia. Preferia comprar uma mesa e apreciar os foliões à distância, para compor os personagens dos meus contos. Mas o barulho me incomodava bastante. E agora... incomoda mais ainda, é claro. Coisas da idade!
Hoje em dia, às vezes assisto, pela televisão, os desfiles de São Paulo e do Rio, mas nem sempre. Prefiro meu retiro espiritual particular, às voltas com meus livros e com outros sons, muito mais harmoniosos e inteligentes do que os dos sambas e marchinhas, cada vez piores, mais repetitivos e mais monótonos: os dos clássicos, como Tchaikowsky, Chopin, Mozart, Beethoven, Rachmaninoff e tantos outros.
E sequer se trata de questão de moral, reitero, mas de preferência estética. Por mais que as pessoas se corrompam nessas ocasiões, confio na preponderância da razão sobre os instintos. Amo, sobretudo, os mais frágeis, os mais vulneráveis, os mais expostos aos vícios e degradações. Afinal, como cristão, tenho horror ao pecado, mas compaixão pelo pecador.
Não só o Carnaval, mas toda e qualquer manifestação popular espontânea (como um show de rock, por exemplo, em que se cometem mais excessos numa só apresentação do que nos três dias de folia) não podem implicar na liberação total, cega e sem freios, dos instintos. Porque muitos não observam essa conduta de moderação, aliás, é que os balanços de ocorrências policiais, registradas nessas ocasiões, são tão sombrios e preocupantes.
Acidentes, assassinatos, estupros, abandono de filhos e infidelidade conjugal (que redunda, via de regra, em crimes passionais) são as conseqüências mais ostensivas dos abusos então cometidos. O segredo de se divertir, com segurança, e de dar vazão à alegria, sem prejudicar ninguém, está, portanto, na moderação. Ela é que proporciona o verdadeiro prazer.
Sempre insisti neste ponto de vista: não é o Carnaval, e nem é um show de rock, ou de música country, ou seja de que natureza for, que são reprováveis: são os excessos cometidos neles. Embora a quebra das normas morais receba, invariavelmente, a reprovação pública, as conseqüências das bobagens praticadas são sempre individuais. Cada pessoa arca, e sozinha, pelos seus atos. Se sabe se preservar, e se divertir com moderação, encontrará inegável satisfação, ficará feliz e sua felicidade será só sua, particular e indivisível. Em caso contrário...E depois, não adianta chorar!
Thursday, February 23, 2006
REFLEXÃO DO DIA
Todos temos em nós um artista, embora muitas vezes não pareça que seja assim. Ocorre que alguns sufocam esse pendor natural, voltados que estão para coisas aparentemente mais importantes, mais "sérias" e que, na verdade, quando submetidas a uma análise lógica mínima, se revelam supérfluas, triviais, fantasiosas e absolutamente dispensáveis. Só a arte dá dimensões divinas ao ser humano. É por seu intermédio que ele verdadeiramente se revela em toda a sua grandeza e transcendência.
Consciência ecológica
O líder pacifista indiano, Mohandas Karamanchand Gandhi, ensinou que “a Terra é suficiente para as necessidades básicas de todos, mas não para a voracidade dos consumistas”. Todavia, nos dias atuais, são estes os que prevalecem, causando uma catastrófica depredação planetária, nem sempre delatada, ou pelo menos não em sua verdadeira dimensão. Indiferentes ao fato de que estão neste mundo apenas de passagem e que seu papel, a sua razão de viver, é a de preparar condições propícias para que futuras gerações vivam melhor, certas pessoas, ou grupos, ou governos, ou corporações, usam e abusam dos recursos de que a natureza nos dotou.
O desarranjo climático, que vem se verificando em várias partes do Planeta, tem sido freqüente demais para poder ser caracterizado como episódico, eventual ou passageiro. No fim de 1993, o noticiário registrou os incêndios em Los Angeles. Posteriormente, o frio castigou o Hemisfério Norte com dureza. Em janeiro de 1994, o fogo destruiu milhares de hectares na região da cidade australiana de Sydney. Secas catastróficas, invernos extremamente rigorosos, verões inusitadamente quentes e inundações desastrosas repetem-se, aqui e ali, ano-após-ano, sem que se faça algo de efetivo em favor do equilíbrio do meio-ambiente.
Em 1994, as regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do País enfrentaram uma estiagem inusitada. O Brasil, inicialmente, “esteve em chamas”. Incêndios e mais incêndios destruíram, em questão de horas, o que a natureza levou séculos, quando não milênios, para construir. Os compromissos assumidos na ECO-92, a conferência mundial sobre ecologia, realizada no Rio de Janeiro em 1992, ficaram apenas no papel. Pouca coisa, senão nenhuma, se fez para evitar o aumento do rombo na camada de ozônio.
Os produtos responsáveis pela destruição dessa capa protetora continuam sendo utilizados, embora esteja mais do que comprovada sua ação nociva sobre a atmosfera terrestre. A poluição do ar, da águia e da terra (mediante o uso de agrotóxicos), tem aumentado, ao invés de diminuir, embora todos admitam que o perigo do temido “efeito estufa” existe e não é pura fantasia dos catastrofistas.
A ecologia tornou-se apenas um modismo, dos que procuram notoriedade, através de espaços na imprensa. Alguns, fazem dela um cabo eleitoral, um slogan político, uma bandeira utópica e nada mais. Ocorre que o Planeta não pertence a ninguém. É uma espécie de nave natural, que viaja no espaço vazio, com destino ignorado. Seu interior é limitado e tem que ser compartilhado por esta e futuras gerações. Os recursos são finitos e alguns não são renováveis. Caso a Terra seja destruída – e está sendo – não teremos onde ficar. O homem desaparecerá também.
Trata-se de uma realidade tão óbvia, que seria desnecessário mencionar o assunto. Ocorre que a maioria não se dá conta disso e trata a natureza como se fosse algo descartável, “prêt-à-porter”, que se possa “usar e jogar fora”. Enquanto o homem não fizer do preservacionismo mais do que mero assunto da moda e não o transformar em consciência, estaremos todos, da presente e das vindouras gerações, em sérios, seriíssimos apuros.
(Capítulo do livro “Por uma nova utopia”, Pedro J. Bondaczuk, páginas 31 a 33, 1ª edição – 5 mil exemplares – fevereiro de 1998 – Editora M – São Paulo).
O desarranjo climático, que vem se verificando em várias partes do Planeta, tem sido freqüente demais para poder ser caracterizado como episódico, eventual ou passageiro. No fim de 1993, o noticiário registrou os incêndios em Los Angeles. Posteriormente, o frio castigou o Hemisfério Norte com dureza. Em janeiro de 1994, o fogo destruiu milhares de hectares na região da cidade australiana de Sydney. Secas catastróficas, invernos extremamente rigorosos, verões inusitadamente quentes e inundações desastrosas repetem-se, aqui e ali, ano-após-ano, sem que se faça algo de efetivo em favor do equilíbrio do meio-ambiente.
Em 1994, as regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do País enfrentaram uma estiagem inusitada. O Brasil, inicialmente, “esteve em chamas”. Incêndios e mais incêndios destruíram, em questão de horas, o que a natureza levou séculos, quando não milênios, para construir. Os compromissos assumidos na ECO-92, a conferência mundial sobre ecologia, realizada no Rio de Janeiro em 1992, ficaram apenas no papel. Pouca coisa, senão nenhuma, se fez para evitar o aumento do rombo na camada de ozônio.
Os produtos responsáveis pela destruição dessa capa protetora continuam sendo utilizados, embora esteja mais do que comprovada sua ação nociva sobre a atmosfera terrestre. A poluição do ar, da águia e da terra (mediante o uso de agrotóxicos), tem aumentado, ao invés de diminuir, embora todos admitam que o perigo do temido “efeito estufa” existe e não é pura fantasia dos catastrofistas.
A ecologia tornou-se apenas um modismo, dos que procuram notoriedade, através de espaços na imprensa. Alguns, fazem dela um cabo eleitoral, um slogan político, uma bandeira utópica e nada mais. Ocorre que o Planeta não pertence a ninguém. É uma espécie de nave natural, que viaja no espaço vazio, com destino ignorado. Seu interior é limitado e tem que ser compartilhado por esta e futuras gerações. Os recursos são finitos e alguns não são renováveis. Caso a Terra seja destruída – e está sendo – não teremos onde ficar. O homem desaparecerá também.
Trata-se de uma realidade tão óbvia, que seria desnecessário mencionar o assunto. Ocorre que a maioria não se dá conta disso e trata a natureza como se fosse algo descartável, “prêt-à-porter”, que se possa “usar e jogar fora”. Enquanto o homem não fizer do preservacionismo mais do que mero assunto da moda e não o transformar em consciência, estaremos todos, da presente e das vindouras gerações, em sérios, seriíssimos apuros.
(Capítulo do livro “Por uma nova utopia”, Pedro J. Bondaczuk, páginas 31 a 33, 1ª edição – 5 mil exemplares – fevereiro de 1998 – Editora M – São Paulo).
Wednesday, February 22, 2006
REFLEXÃO DO DIA
O escritor Ítalo Calvino escreveu que "a memória só importa realmente – para os indivíduos, para a coletividade, para a civilização – se ligar a impressão do passado com o projeto do futuro, se nos possibilitar agir sem esquecer o que queríamos fazer, tornar-se sem deixar de ser, e ser sem deixar de tornar-se". Em outras palavras, o foco das nossas preocupações tem que ser o momento presente, enquanto tal, sem retornos inúteis (senão impossíveis) ao passado e nem projeções (hipotéticas) em um tempo que não sabemos sequer se estaremos vivos. A sabedoria consiste em viver um dia de cada vez e da melhor maneira possível, de acordo com as circunstâncias. Não é saudável e nem inteligente reviver angústias e frustrações que já superamos, que já ficaram para trás, que dificilmente voltarão a gerar conseqüências. A memória é importante, não nego, mas somente como balizadora de atos.
Hospitalidades espirituais
Pedro J. Bondaczuk
A solidão, ou seja, a incapacidade (ou a impossibilidade) de uma comunicação profunda e irrestrita com os que nos cercam, é uma realidade em nossas vidas. Vivemos cercados por milhares, quiçá milhões de pessoas, no entanto não conseguimos criar pontes que nos aproximem. Na verdade, o que erigimos são muros de convenções, e de exigências às vezes descabidas e absurdas, que nos isolam e nos deprimem.
Há, contudo, quem se sinta bem quando fica solitário. Claro, essa solidão não pode (e nem deve) ser permanente, mas transitória, constituída de momentos, breves ou não, para estarmos a sós conosco mesmos. Outros, porém, se desesperam quando por alguma razão não vêem pessoas, não as sentem, não as ouvem e nem as tocam. Caem em depressão.
Na verdade, têm medo de um encontro, cara-a-cara, com suas lembranças, com seus fantasmas, com suas neuroses. A elas resta somente o recurso a um profissional do ramo, psicanalista, psicólogo ou psicoterapeuta, dependendo do caso, pois são doentes, mesmo que não pareça ou que sequer desconfiem.
Todos nós, mesmo que não queiramos, somos, muitas vezes, em determinadas circunstâncias, forçados a enfrentar períodos variáveis de solidão. Caso saibamos lidar com esse isolamento, a experiência tende a ser das mais férteis e enriquecedoras. Temos a oportunidade de nos conhecer melhor, de “garimpar” idéias criativas que estavam no fundo do inconsciente e que, por desconhecer sua existência, nunca demos oportunidade de virem à luz.
Caso não saibamos lidar com essa situação, porém, em virtude da nossa fragilidade espiritual e psicológica... Bem, nessas circunstâncias, corremos sério risco de despencar de ponta-cabeça no abismo da depressão, com sofrimentos inenarráveis e que requerem rápida intervenção, para prevenir males maiores.
Uma das formas de tornar a solidão menos opressiva e, até mesmo (dependendo da ocasião) agradável, é o cultivo de bons livros, de boas lembranças e de boas idéias, positivas e, sobretudo, construtivas. Nunca estamos sós quando temos acesso a textos estimulantes, inteligentes, bem escritos, claros e bem-humorados, que nos despertem empatia (e até uma saudável “inveja” do autor).
Minhas melhores lembranças da adolescência não são de fatos que protagonizei. Não são de aventuras, de amores ou de conquistas. São mais sutis, posto que mais duradouras. E podem ser renovadas, sempre que assim eu decidir. São dos livros que li.
Temos que fazer da leitura um hábito cotidiano, um ato até mecânico, uma higiene da mente, tão necessária quanto a do corpo, como tomar banho, escovar os dentes etc.etc.etc. Ela não pode ser, portanto, uma obrigação enfadonha. Deve, isto sim, se constituir em um prazer crescente. Devemos ler não somente para nos instruir, para fazer uma lição da escola ou aprender uma técnica nova que melhore nosso desempenho no trabalho. A leitura deve e pode se tornar uma forma das mais agradáveis de lazer, uma fonte de renovável satisfação, um imenso prazer, pessoal e indivisível.
Além do cultivo de bons livros, podemos nos livrar da opressiva solidão oferecendo hospitalidade, em nossa mente, a pensamentos positivos, que criem, que nos façam refletir sobre o mundo e tudo e todos os que nos cercam e que dêem um polimento em regra no nosso espírito.
Pensemos ou não nisso, o fato é que somos efêmeros. Nosso tempo de vida está contado, gravado a ferro e fogo em nossas células, embora não saibamos de quanto ele é. Cada dia que nasce pode ser o ponto de partida de um novo e longo período de experiências agradáveis, de sucessos em nossas atividades e de grandes realizações. Mas pode, também, se constituir nos derradeiros momentos da nossa existência.
Por isso, mesmo que sozinhos, não podemos desperdiçar esse precioso capital com lamúrias, com temores (infundados ou não) e com exacerbados exercícios de auto-piedade. Não podemos permitir jamais que o tédio nos domine e nos lance de ponta-cabeça no abismo da depressão, mesmo que sejamos idosos, e achemos que já cumprimos nossa missão na Terra. Mas não cumprimos! Ela nunca estará cumprida! Uma vida bem vivida, útil e produtiva, caracteriza-se, sempre, por uma obra inacabada, que até nosso último suspiro temos a obrigação de nos esforçar para concluir.
O filósofo e historiador norte-americano Harry Emerson Fosdick constatou, em um marcante ensaio: “As melhores recordações de um homem, quando a vida vai chegando ao fim, serão as suas melhores hospitalidades espirituais e o que delas resultou”.
Sejamos, pois, hospitaleiros com as boas leituras, com os bons pensamentos e com os nobres sentimentos. Escancaremos as portas da alma e deixemos que estas bem vindas visitas se instalem, se acomodem, se tornem hóspedes e nos acompanhem pelo resto da vida, dure ela o quanto durar.
A solidão, ou seja, a incapacidade (ou a impossibilidade) de uma comunicação profunda e irrestrita com os que nos cercam, é uma realidade em nossas vidas. Vivemos cercados por milhares, quiçá milhões de pessoas, no entanto não conseguimos criar pontes que nos aproximem. Na verdade, o que erigimos são muros de convenções, e de exigências às vezes descabidas e absurdas, que nos isolam e nos deprimem.
Há, contudo, quem se sinta bem quando fica solitário. Claro, essa solidão não pode (e nem deve) ser permanente, mas transitória, constituída de momentos, breves ou não, para estarmos a sós conosco mesmos. Outros, porém, se desesperam quando por alguma razão não vêem pessoas, não as sentem, não as ouvem e nem as tocam. Caem em depressão.
Na verdade, têm medo de um encontro, cara-a-cara, com suas lembranças, com seus fantasmas, com suas neuroses. A elas resta somente o recurso a um profissional do ramo, psicanalista, psicólogo ou psicoterapeuta, dependendo do caso, pois são doentes, mesmo que não pareça ou que sequer desconfiem.
Todos nós, mesmo que não queiramos, somos, muitas vezes, em determinadas circunstâncias, forçados a enfrentar períodos variáveis de solidão. Caso saibamos lidar com esse isolamento, a experiência tende a ser das mais férteis e enriquecedoras. Temos a oportunidade de nos conhecer melhor, de “garimpar” idéias criativas que estavam no fundo do inconsciente e que, por desconhecer sua existência, nunca demos oportunidade de virem à luz.
Caso não saibamos lidar com essa situação, porém, em virtude da nossa fragilidade espiritual e psicológica... Bem, nessas circunstâncias, corremos sério risco de despencar de ponta-cabeça no abismo da depressão, com sofrimentos inenarráveis e que requerem rápida intervenção, para prevenir males maiores.
Uma das formas de tornar a solidão menos opressiva e, até mesmo (dependendo da ocasião) agradável, é o cultivo de bons livros, de boas lembranças e de boas idéias, positivas e, sobretudo, construtivas. Nunca estamos sós quando temos acesso a textos estimulantes, inteligentes, bem escritos, claros e bem-humorados, que nos despertem empatia (e até uma saudável “inveja” do autor).
Minhas melhores lembranças da adolescência não são de fatos que protagonizei. Não são de aventuras, de amores ou de conquistas. São mais sutis, posto que mais duradouras. E podem ser renovadas, sempre que assim eu decidir. São dos livros que li.
Temos que fazer da leitura um hábito cotidiano, um ato até mecânico, uma higiene da mente, tão necessária quanto a do corpo, como tomar banho, escovar os dentes etc.etc.etc. Ela não pode ser, portanto, uma obrigação enfadonha. Deve, isto sim, se constituir em um prazer crescente. Devemos ler não somente para nos instruir, para fazer uma lição da escola ou aprender uma técnica nova que melhore nosso desempenho no trabalho. A leitura deve e pode se tornar uma forma das mais agradáveis de lazer, uma fonte de renovável satisfação, um imenso prazer, pessoal e indivisível.
Além do cultivo de bons livros, podemos nos livrar da opressiva solidão oferecendo hospitalidade, em nossa mente, a pensamentos positivos, que criem, que nos façam refletir sobre o mundo e tudo e todos os que nos cercam e que dêem um polimento em regra no nosso espírito.
Pensemos ou não nisso, o fato é que somos efêmeros. Nosso tempo de vida está contado, gravado a ferro e fogo em nossas células, embora não saibamos de quanto ele é. Cada dia que nasce pode ser o ponto de partida de um novo e longo período de experiências agradáveis, de sucessos em nossas atividades e de grandes realizações. Mas pode, também, se constituir nos derradeiros momentos da nossa existência.
Por isso, mesmo que sozinhos, não podemos desperdiçar esse precioso capital com lamúrias, com temores (infundados ou não) e com exacerbados exercícios de auto-piedade. Não podemos permitir jamais que o tédio nos domine e nos lance de ponta-cabeça no abismo da depressão, mesmo que sejamos idosos, e achemos que já cumprimos nossa missão na Terra. Mas não cumprimos! Ela nunca estará cumprida! Uma vida bem vivida, útil e produtiva, caracteriza-se, sempre, por uma obra inacabada, que até nosso último suspiro temos a obrigação de nos esforçar para concluir.
O filósofo e historiador norte-americano Harry Emerson Fosdick constatou, em um marcante ensaio: “As melhores recordações de um homem, quando a vida vai chegando ao fim, serão as suas melhores hospitalidades espirituais e o que delas resultou”.
Sejamos, pois, hospitaleiros com as boas leituras, com os bons pensamentos e com os nobres sentimentos. Escancaremos as portas da alma e deixemos que estas bem vindas visitas se instalem, se acomodem, se tornem hóspedes e nos acompanhem pelo resto da vida, dure ela o quanto durar.
Tuesday, February 21, 2006
REFLEXÃO DO DIA
A arte precisa ser instintiva, natural, selvagem. Trata-se da única forma de sermos autênticos. É a nossa carta de alforria, a absoluta e irrestrita liberdade. Ninguém é forçado a ser artista: músico, escritor, pintor, escultor, poeta... É uma escolha pessoal. Ou é ou não é. É o modo de que cada um dispõe para ser livre, para impor a personalidade, para deixar a marca no mundo. A aceitação ou não do que o artista produzir vai depender de critérios subjetivos de apreciação e avaliação dos destinatários. Mas a arte é o nosso "ADN". É o nosso ser. É a nossa vez. É a nossa voz...e única...
Medo e grandeza
O noticiário assustador que nos chega diariamente através dos meios de comunicação, falando de violência, catástrofes, corrupção, guerras e outros tipos de ameaça à segurança e à vida, tende a nos deixar tensos e assustados, quando não apavorados. A reação natural das pessoas nestas circunstâncias é a do isolamento, da desconfiança, do estabelecimento de barreiras em relação aos semelhantes, numa atitude defensiva, que pode ser saudável ou doentia, dependendo da intensidade.
Sem exageros, trata-se de uma ação prudente e compreensível. Há, todavia, os que levam esse mecanismo de que a natureza nos dotou a extremos, ao exagero. Tornam-se neuróticos, agressivos, amargos, pessimistas, mudando por completo sua personalidade. Deixam de prestar atenção às pequenas coisas do dia-a-dia que, devidamente valorizadas, se constituem em fontes renováveis de satisfação e prazer. Chegam a perder, até mesmo, a perspectiva dos objetivos de vida. Em casos extremados, tornam-se inúteis, na medida em que não conseguem se relacionar com ninguém ou produzir qualquer coisa que não seja para atender suas próprias necessidades. E às vezes, nem isso.
O medo, frise-se, é um mecanismo de proteção contra o perigo de que a natureza nos dotou. Mas é passível de controle. Temos que aprender a dosar essa espécie de escudo contra os riscos que sejam evitáveis. Excessivo, transforma-se em pânico, que é paralisante, doentio, pernicioso. O romancista Robert Louis Stevenson aconselhou a esse respeito: “Guarde seus temores para você mesmo, mas compartilhe sua coragem com os outros”. E não é somente isso que devemos compartilhar. Também nosso otimismo, nossas conquistas e nossos sonhos de um mundo melhor podem e devem ser compartilhados. E até nossos bens materiais.
É isso o que fazem pessoas abnegadas, como os voluntários que integram organizações humanitárias, como o “Centro de Defesa da Vida”. Tais indivíduos têm as mesmas perplexidades e temores que todos nós. Enfrentam os mesmos riscos que qualquer cidadão. Estão submetidos aos mesmos desencantos e decepções da maioria. No entanto, não se deixam contaminar pela amargura e pelo derrotismo. E mais que isso, são solidários. Compartilham com o próximo sua esperança e sua fé, evitando que os desesperados descambem para atos extremados. Demovem os desiludidos de cometerem suicídio, mostrando-lhes que alguém se importa com eles.
Ser útil a alguém é muito mais simples do que pode parecer. E mais gratificante. Confere, a quem se dispõe a sê-lo, uma dimensão de grandeza, impossível de dimensionar. Em geral, quem ajuda o próximo acaba mais gratificado, interiormente, do que quem é ajudado. O poeta alemão, Johann Wolfgang Göethe, constatou que “uma vida inútil é uma morte prematura”. Daí a importância de se compartilhar grandeza de sentimentos, com ações abnegadas, para diminuir nossa própria pequenez.
(Capítulo do livro “Por uma nova utopia”, Pedro J. Bondaczuk, páginas 27 e 28, 1ª edição – 5 mil exemplares – fevereiro de 1998 – Editora M – São Paulo).
Sem exageros, trata-se de uma ação prudente e compreensível. Há, todavia, os que levam esse mecanismo de que a natureza nos dotou a extremos, ao exagero. Tornam-se neuróticos, agressivos, amargos, pessimistas, mudando por completo sua personalidade. Deixam de prestar atenção às pequenas coisas do dia-a-dia que, devidamente valorizadas, se constituem em fontes renováveis de satisfação e prazer. Chegam a perder, até mesmo, a perspectiva dos objetivos de vida. Em casos extremados, tornam-se inúteis, na medida em que não conseguem se relacionar com ninguém ou produzir qualquer coisa que não seja para atender suas próprias necessidades. E às vezes, nem isso.
O medo, frise-se, é um mecanismo de proteção contra o perigo de que a natureza nos dotou. Mas é passível de controle. Temos que aprender a dosar essa espécie de escudo contra os riscos que sejam evitáveis. Excessivo, transforma-se em pânico, que é paralisante, doentio, pernicioso. O romancista Robert Louis Stevenson aconselhou a esse respeito: “Guarde seus temores para você mesmo, mas compartilhe sua coragem com os outros”. E não é somente isso que devemos compartilhar. Também nosso otimismo, nossas conquistas e nossos sonhos de um mundo melhor podem e devem ser compartilhados. E até nossos bens materiais.
É isso o que fazem pessoas abnegadas, como os voluntários que integram organizações humanitárias, como o “Centro de Defesa da Vida”. Tais indivíduos têm as mesmas perplexidades e temores que todos nós. Enfrentam os mesmos riscos que qualquer cidadão. Estão submetidos aos mesmos desencantos e decepções da maioria. No entanto, não se deixam contaminar pela amargura e pelo derrotismo. E mais que isso, são solidários. Compartilham com o próximo sua esperança e sua fé, evitando que os desesperados descambem para atos extremados. Demovem os desiludidos de cometerem suicídio, mostrando-lhes que alguém se importa com eles.
Ser útil a alguém é muito mais simples do que pode parecer. E mais gratificante. Confere, a quem se dispõe a sê-lo, uma dimensão de grandeza, impossível de dimensionar. Em geral, quem ajuda o próximo acaba mais gratificado, interiormente, do que quem é ajudado. O poeta alemão, Johann Wolfgang Göethe, constatou que “uma vida inútil é uma morte prematura”. Daí a importância de se compartilhar grandeza de sentimentos, com ações abnegadas, para diminuir nossa própria pequenez.
(Capítulo do livro “Por uma nova utopia”, Pedro J. Bondaczuk, páginas 27 e 28, 1ª edição – 5 mil exemplares – fevereiro de 1998 – Editora M – São Paulo).
Monday, February 20, 2006
Partido Populista Futebol Clube
Pedro J. Bondaczuk
O futebol, no Brasil, há tempos tem servido de trampolim para políticos oportunistas, de diversos partidos e tendências, que surfam nas ondas da sua popularidade. Em termos de Seleção Brasileira, parece que tudo começou em 1958, quando uma geração brilhante de atletas conquistou, contra todos os prognósticos e expectativas, nossa primeira Copa do Mundo, nos gramados da Suécia, após fiascos anteriores, notadamente os de 1954, na Suíça e, principalmente, o de 1950, no Rio de Janeiro.
A arte de Pelé, Didi, Garrincha, Vavá, Newton Santos e Zito, entre outros, levou o País, na ocasião, ao delírio. Nosso decantado pessimismo, que o jornalista Nelson Rodrigues tão bem caracterizou de “complexo de vira-lata”, cedeu lugar à euforia, à exacerbada autoconfiança e à exaltação nacional.
E isso criou um clima dos mais favoráveis à política desenvolvimentista do então presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira, que pretendia resgatar 50 anos de atraso brasileiro em apenas cinco anos, que até então vinha sofrendo ferrenha oposição de grupos conservadores, ligados à ultradireitista União Democrática Nacional (UDN), liderados pelo controvertido jornalista Carlos Lacerda.
Recorde-se que ele quase foi impedido de tomar posse. Primeiro, seus adversários argumentaram que foi eleito com menos da metade dos votos do eleitorado (30%, se não me engano), mesmo contrariando a Constituição, que não previa limite algum para caracterizar vitória eleitoral válida. Posteriormente, ocorreram duas revoltas da Aeronáutica, em Aragarças e Jacareacanga, objetivando um golpe de Estado que fracassou por falta de adesões. Não fosse, porém, o marechal Henrique Teixeira Lott, que seria derrotado por Jânio Quadros nas eleições presidenciais de 1960, Juscelino jamais teria tomado posse. E o País continuaria no seu vexatório atraso. Dificilmente teria sido industrializado e Brasília, certamente, não existiria.
Diga-se de passagem, em favor de JK, que ele nada fez de concreto que caracterizasse a exploração da conquista da Seleção nos gramados da Suécia em seu favor. Jamais afirmou que esse fosse um feito seu (e ademais não foi) ou que tivesse qualquer influência pessoal nele. O que fez, somente, foi aproveitar (aliás, com muito senso político) a predisposição nacional ao otimismo, na ocasião, em decorrência do sucesso dos nossos craques, para a aceitação do seu projeto de nação.
Desde então, futebol e política têm andado de mãos dadas. Athiê Jorge Cury, ex-goleiro do Santos Futebol Clube no primeiro título regional santista (o de 1935), que presidiu esse clube quando ele se tornou a maior “máquina” de jogar bola da história (na era Pelé), foi, durante muito tempo, deputado. O mesmo ocorreu com o folclórico ex-presidente da Federação Paulista de Futebol, João Mendonça Falcão, que rivalizou com o ex-presidente do Corinthians, Vicente Matheus, em termos de gafes em público.
Outros tantos presidentes de times se valeram do mesmo expediente. Foram os casos de Márcio Braga, Zezé Perrela, Eurico Miranda etc.etc.etc. Vários jogadores de futebol, por outro lado, como João Leite, Wilson Piazza, Zé Maria, Biro-Biro e, mais recentemente, Ademir da Guia, lograram se eleger para diversos cargos eletivos, em Câmaras Municipais, Assembléias Legislativas e Câmara de Deputados. Nenhum, a rigor, se destacou em nada. Mas vários se elegeram mesmo sem ter plataforma, propostas, idéias, nada, só com seus “nomes” e seus feitos nos gramados.
É incrível, por exemplo, o número de políticos que se confessam corintianos, ou flamenguistas, por motivos óbvios. No entanto, a maioria não entende absolutamente nada de futebol e talvez nem saiba que a bola utilizada na modalidade seja redonda. E os clubes, que servem de trampolim para esses políticos, a quantas andam? De mal a pior.
Os que ainda não “venderam” seus departamentos de futebol a parceiros, estão falidos, de calças na mão, forçados a negociar, a preço de banana, seus melhores craques. Muitos têm rendas penhoradas ainda na boca das bilheterias, para pagamentos a credores e salários atrasados a ex-jogadores, que ganham, invariavelmente, seus passes na justiça por falta de cumprimento das obrigações trabalhistas. E a grande paixão nacional, dessa forma, corre sérios riscos de até desaparecer, no longo prazo, por obra e graça exclusiva dos que fazem dela mero trampolim para a (má) política. Lamentável!
O futebol, no Brasil, há tempos tem servido de trampolim para políticos oportunistas, de diversos partidos e tendências, que surfam nas ondas da sua popularidade. Em termos de Seleção Brasileira, parece que tudo começou em 1958, quando uma geração brilhante de atletas conquistou, contra todos os prognósticos e expectativas, nossa primeira Copa do Mundo, nos gramados da Suécia, após fiascos anteriores, notadamente os de 1954, na Suíça e, principalmente, o de 1950, no Rio de Janeiro.
A arte de Pelé, Didi, Garrincha, Vavá, Newton Santos e Zito, entre outros, levou o País, na ocasião, ao delírio. Nosso decantado pessimismo, que o jornalista Nelson Rodrigues tão bem caracterizou de “complexo de vira-lata”, cedeu lugar à euforia, à exacerbada autoconfiança e à exaltação nacional.
E isso criou um clima dos mais favoráveis à política desenvolvimentista do então presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira, que pretendia resgatar 50 anos de atraso brasileiro em apenas cinco anos, que até então vinha sofrendo ferrenha oposição de grupos conservadores, ligados à ultradireitista União Democrática Nacional (UDN), liderados pelo controvertido jornalista Carlos Lacerda.
Recorde-se que ele quase foi impedido de tomar posse. Primeiro, seus adversários argumentaram que foi eleito com menos da metade dos votos do eleitorado (30%, se não me engano), mesmo contrariando a Constituição, que não previa limite algum para caracterizar vitória eleitoral válida. Posteriormente, ocorreram duas revoltas da Aeronáutica, em Aragarças e Jacareacanga, objetivando um golpe de Estado que fracassou por falta de adesões. Não fosse, porém, o marechal Henrique Teixeira Lott, que seria derrotado por Jânio Quadros nas eleições presidenciais de 1960, Juscelino jamais teria tomado posse. E o País continuaria no seu vexatório atraso. Dificilmente teria sido industrializado e Brasília, certamente, não existiria.
Diga-se de passagem, em favor de JK, que ele nada fez de concreto que caracterizasse a exploração da conquista da Seleção nos gramados da Suécia em seu favor. Jamais afirmou que esse fosse um feito seu (e ademais não foi) ou que tivesse qualquer influência pessoal nele. O que fez, somente, foi aproveitar (aliás, com muito senso político) a predisposição nacional ao otimismo, na ocasião, em decorrência do sucesso dos nossos craques, para a aceitação do seu projeto de nação.
Desde então, futebol e política têm andado de mãos dadas. Athiê Jorge Cury, ex-goleiro do Santos Futebol Clube no primeiro título regional santista (o de 1935), que presidiu esse clube quando ele se tornou a maior “máquina” de jogar bola da história (na era Pelé), foi, durante muito tempo, deputado. O mesmo ocorreu com o folclórico ex-presidente da Federação Paulista de Futebol, João Mendonça Falcão, que rivalizou com o ex-presidente do Corinthians, Vicente Matheus, em termos de gafes em público.
Outros tantos presidentes de times se valeram do mesmo expediente. Foram os casos de Márcio Braga, Zezé Perrela, Eurico Miranda etc.etc.etc. Vários jogadores de futebol, por outro lado, como João Leite, Wilson Piazza, Zé Maria, Biro-Biro e, mais recentemente, Ademir da Guia, lograram se eleger para diversos cargos eletivos, em Câmaras Municipais, Assembléias Legislativas e Câmara de Deputados. Nenhum, a rigor, se destacou em nada. Mas vários se elegeram mesmo sem ter plataforma, propostas, idéias, nada, só com seus “nomes” e seus feitos nos gramados.
É incrível, por exemplo, o número de políticos que se confessam corintianos, ou flamenguistas, por motivos óbvios. No entanto, a maioria não entende absolutamente nada de futebol e talvez nem saiba que a bola utilizada na modalidade seja redonda. E os clubes, que servem de trampolim para esses políticos, a quantas andam? De mal a pior.
Os que ainda não “venderam” seus departamentos de futebol a parceiros, estão falidos, de calças na mão, forçados a negociar, a preço de banana, seus melhores craques. Muitos têm rendas penhoradas ainda na boca das bilheterias, para pagamentos a credores e salários atrasados a ex-jogadores, que ganham, invariavelmente, seus passes na justiça por falta de cumprimento das obrigações trabalhistas. E a grande paixão nacional, dessa forma, corre sérios riscos de até desaparecer, no longo prazo, por obra e graça exclusiva dos que fazem dela mero trampolim para a (má) política. Lamentável!
Sunday, February 19, 2006
Dia das eleições
Pedro J. Bondaczuk
“O que há de belo na democracia é que ela é uma conquista cotidiana”. Estas palavras foram ditas pelo saudoso Tancredo Neves, numa entrevista concedida em 4 de março de 1978 e servem de corolário para o espetáculo de cidadania dado, ontem, por cerca de 83 milhões de brasileiros, que foram às urnas para compor o Congresso que terá, entre outras tarefas relevantes, a responsabilidade de revisar a Constituição.
Denúncias de fraudes, antes, durante e depois da votação, não faltaram e, certamente, não faltarão. Algumas podem até ser procedentes, as que se referem, principalmente, ao abuso do poder econômico por parte de alguns candidatos. Ainda há, infelizmente, aqueles que não entenderam o significado e o valor da prática democrática. São infiéis (porquanto fraudulentos) no pouco e, sem dúvida alguma, serão também no muito.
Cabe ao eleitor, todavia, na cabine indevassável, dar o cartão vermelho a esses corruptos, que entendem que a vida pública é um eventual prêmio para supostas virtudes pessoais – que eles, paranoicamente, acreditam ter – e não uma tarefa, uma missão, um sacerdócio cívico.
Qualquer pessoa inteligente conclui, com facilidade, sem que ninguém precise lhe dizer, que se alguém gasta rios de dinheiro para se eleger, contrariando a legislação eleitoral brasileira, é porque conta com um retorno multiplicado daquilo que gastou.
Basta, portanto, na hora de votar, que sequer se lembre do nome desse subornador. Não há castigo maior para gente desse tipo do que o ostracismo, o esquecimento, o banimento da política. Somente assim construiremos uma democracia autêntica, um sistema imune a corrupções de toda a sorte.
Não será com a polícia que isso ocorrerá, já que o fraudulento dificilmente deixa rastros do seu delito. O povo tem em suas mãos o instrumento ideal de moralização da vida pública. Basta que não venda o seu voto, mas exerça esse direito de escolha com competência e responsabilidade.
Credibilidade e confiança são fundamentais entre administradores e administrados, entre representantes e representados, pois como disse Tancredo Neves, elas são “as fontes da esperança”. Parodiando esse político, que marcou seu nome na história pela capacidade de conciliação, algum estrangeiro, que tenha passado pelo País ontem e visto o magnífico espetáculo das eleições, poderá dizer, ao regressar à sua pátria: “Vou dizer que hoje o Brasil é uma democracia”.
(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 4 de outubro de 1990)
“O que há de belo na democracia é que ela é uma conquista cotidiana”. Estas palavras foram ditas pelo saudoso Tancredo Neves, numa entrevista concedida em 4 de março de 1978 e servem de corolário para o espetáculo de cidadania dado, ontem, por cerca de 83 milhões de brasileiros, que foram às urnas para compor o Congresso que terá, entre outras tarefas relevantes, a responsabilidade de revisar a Constituição.
Denúncias de fraudes, antes, durante e depois da votação, não faltaram e, certamente, não faltarão. Algumas podem até ser procedentes, as que se referem, principalmente, ao abuso do poder econômico por parte de alguns candidatos. Ainda há, infelizmente, aqueles que não entenderam o significado e o valor da prática democrática. São infiéis (porquanto fraudulentos) no pouco e, sem dúvida alguma, serão também no muito.
Cabe ao eleitor, todavia, na cabine indevassável, dar o cartão vermelho a esses corruptos, que entendem que a vida pública é um eventual prêmio para supostas virtudes pessoais – que eles, paranoicamente, acreditam ter – e não uma tarefa, uma missão, um sacerdócio cívico.
Qualquer pessoa inteligente conclui, com facilidade, sem que ninguém precise lhe dizer, que se alguém gasta rios de dinheiro para se eleger, contrariando a legislação eleitoral brasileira, é porque conta com um retorno multiplicado daquilo que gastou.
Basta, portanto, na hora de votar, que sequer se lembre do nome desse subornador. Não há castigo maior para gente desse tipo do que o ostracismo, o esquecimento, o banimento da política. Somente assim construiremos uma democracia autêntica, um sistema imune a corrupções de toda a sorte.
Não será com a polícia que isso ocorrerá, já que o fraudulento dificilmente deixa rastros do seu delito. O povo tem em suas mãos o instrumento ideal de moralização da vida pública. Basta que não venda o seu voto, mas exerça esse direito de escolha com competência e responsabilidade.
Credibilidade e confiança são fundamentais entre administradores e administrados, entre representantes e representados, pois como disse Tancredo Neves, elas são “as fontes da esperança”. Parodiando esse político, que marcou seu nome na história pela capacidade de conciliação, algum estrangeiro, que tenha passado pelo País ontem e visto o magnífico espetáculo das eleições, poderá dizer, ao regressar à sua pátria: “Vou dizer que hoje o Brasil é uma democracia”.
(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 4 de outubro de 1990)
Saturday, February 18, 2006
Carrossel
Pedro J. Bondaczuk
Tédio...
O Bonde Esperança passou...
O menino grande ficou
sem ter destino.
Tédio...
Estrelas azuis sorriem
e pálidas luas contemplam
a negritude da alma
do menino.
Tédio...
Rouxinóis incolores,
flores pretas,
bondes brancos...
Tédio...vagar...tristeza...
Morreu a estrela do mar
que fez o menino chorar.
Campos roxos,
campas brancas,
sorrisos frouxos,
tristezas francas.
Globo girante,
carrossel gigante
que não pára,
mas sempre volta.
O menino tirou
no carbono do sonho
uma cópia da vida.
Tédio...
O Bonde Esperança passou
e deixou o menino
sem seu destino...
Tédio...
O Bonde Esperança passou...
O menino grande ficou
sem ter destino.
Tédio...
Estrelas azuis sorriem
e pálidas luas contemplam
a negritude da alma
do menino.
Tédio...
Rouxinóis incolores,
flores pretas,
bondes brancos...
Tédio...vagar...tristeza...
Morreu a estrela do mar
que fez o menino chorar.
Campos roxos,
campas brancas,
sorrisos frouxos,
tristezas francas.
Globo girante,
carrossel gigante
que não pára,
mas sempre volta.
O menino tirou
no carbono do sonho
uma cópia da vida.
Tédio...
O Bonde Esperança passou
e deixou o menino
sem seu destino...
Friday, February 17, 2006
Mais que esporte: paixão
Pedro J. Bondaczuk
O futebol, no Brasil, tem um papel que extrapola, em muito, sua finalidade básica, que é o lazer. Vai além, também, de uma outra função que alguns lhe atribuem, a de catarse coletiva, de válvula de escape de tensões e frustrações, como é utilizado, inclusive – ao lado de outros esportes – em diversas outras sociedades nacionais, mesmo aquelas que ostentam estágios de civilização mais avançados do que o nosso
Desperta paixões exacerbadas de amor (pelo clube de coração do torcedor) e de ódio (pelos adversários), como poucas coisas na vida são capazes de despertar. Muitos (diria, a maioria) atribuem-lhe importância igual, quando não maior do que a das religiões. E por que?
Há tempos que o fenômeno carece de um estudo mais profundo de sociólogos, psicólogos e especialistas na ciência do comportamento. Chega a ser, não raro, utilíssimo instrumento político, quando manejado com perícia (diria, com competente demagogia) com resultados impressionantes a quem dele se utiliza com esse fim.
Por ser paixão nacional, o futebol tem servido, especialmente a partir da década de 1950, quando nosso país começou a se destacar nesse esporte em âmbito internacional, como detonador de explosões, que oscilam do otimismo que descamba para a euforia, quando é bem-sucedido, ao derrotismo e conseqüente depressão, quando fracassa em Copas do Mundo.
Por sermos um país bastante jovem, muito extenso e com culturas, costumes e tradições bastante variados nas nossas diversas regiões, temos poucas coisas que nos ligam, indistintamente, e que nos dêem características de nação. Nossa nacionalidade ainda está em fase de maturação e o futebol tem se mostrado importante fator de união nacional, provavelmente o maior de todos.
Basta ver as manifestações de civismo, por ocasião de uma Copa do Mundo, quando o Brasil inteiro – inclusive tribos de índios perdidas na Amazônia ou no Centro-Oeste – se veste de verde e amarelo, e quando bandeiras brasileiras tremulam por toda a parte e o Hino Nacional é cantado, a plenos pulmões, antes de partidas importantes e, principalmente, quando a Seleção consegue retumbantes vitórias, o que se tornou, há muitos anos, cada vez mais comum.
Uma questão intrigante, porém, é a razão de um esporte que nada tinha a ver com nossos costumes e tradições, inventado na Inglaterra, de onde foi importado em fins do século XIX e que foi praticado, por muito tempo, apenas, por aristocratas, ou seja, pela elite, ter caído tanto no gosto popular.
Objetivamente, trata-se de um jogo até monótono, com regras nem sempre muito claras, muitas delas interpretativas e que, quando mal jogado, chega mesmo a dar sono. E no entanto... Há outros esportes muito mais dinâmicos e emocionantes, mas que entre nós não têm um milésimo da popularidade do futebol.
Ressalte-se que essa paixão brotou de forma espontânea, sem que houvesse nenhum planejamento nesse sentido ou qualquer forma subjetiva de indução, e que nem mesmo teve grande divulgação. Todavia, aos poucos, se alastrou não somente nos grandes centros urbanos, como São Paulo e Rio de Janeiro, mas por todo o território nacional, tornando-se mania dos brasileiros. Hoje, até campeonatos indígenas são disputados, com o mesmo entusiasmo de um Campeonato Brasileiro da Primeira Divisão.
Destaque-se que essa expansão sequer se deveu à exposição do futebol nos meios de comunicação, que na época da sua introdução no País, eram poucos, e bastante precários. Quando as primeiras emissoras de rádio, por exemplo, começaram a funcionar no País, por volta de 1922, o esporte já estava bastante popularizado entre nós, isso oito anos antes da disputa da primeira Copa do Mundo, ocorrida em 1930, no Uruguai. No mesmo ano da implantação da televisão no Brasil, nossa seleção deixou escapar por entre os dedos o primeiro título mundial. Mas atraiu para o recém-inaugurado Estádio do Maracanã uma multidão superior a 200 mil pessoas! Que espetáculo consegue hoje façanha desse porte?
Os jornais da época, por seu turno, tratavam o esporte como tratam, hoje, qualquer outro tipo lazer, publicando notas esporádicas sobre jogos em páginas internas, sem sequer dedicar à modalidade uma editoria específica, e muito menos sem lhe dar manchetes garrafais nas primeiras páginas, como ocorre hoje. Muitos clássicos sequer foram noticiados, pelo fato dos editores não lhes atribuírem a mínima importância, o que, inclusive, torna a tarefa dos historiadores de clubes um magnífico desafio. Está aí um excelente filão temático a ser explorado pelos estudiosos. Se é, claro, que o fenômeno possa ter alguma explicação racional. Desconfio que não tem.
O futebol, no Brasil, tem um papel que extrapola, em muito, sua finalidade básica, que é o lazer. Vai além, também, de uma outra função que alguns lhe atribuem, a de catarse coletiva, de válvula de escape de tensões e frustrações, como é utilizado, inclusive – ao lado de outros esportes – em diversas outras sociedades nacionais, mesmo aquelas que ostentam estágios de civilização mais avançados do que o nosso
Desperta paixões exacerbadas de amor (pelo clube de coração do torcedor) e de ódio (pelos adversários), como poucas coisas na vida são capazes de despertar. Muitos (diria, a maioria) atribuem-lhe importância igual, quando não maior do que a das religiões. E por que?
Há tempos que o fenômeno carece de um estudo mais profundo de sociólogos, psicólogos e especialistas na ciência do comportamento. Chega a ser, não raro, utilíssimo instrumento político, quando manejado com perícia (diria, com competente demagogia) com resultados impressionantes a quem dele se utiliza com esse fim.
Por ser paixão nacional, o futebol tem servido, especialmente a partir da década de 1950, quando nosso país começou a se destacar nesse esporte em âmbito internacional, como detonador de explosões, que oscilam do otimismo que descamba para a euforia, quando é bem-sucedido, ao derrotismo e conseqüente depressão, quando fracassa em Copas do Mundo.
Por sermos um país bastante jovem, muito extenso e com culturas, costumes e tradições bastante variados nas nossas diversas regiões, temos poucas coisas que nos ligam, indistintamente, e que nos dêem características de nação. Nossa nacionalidade ainda está em fase de maturação e o futebol tem se mostrado importante fator de união nacional, provavelmente o maior de todos.
Basta ver as manifestações de civismo, por ocasião de uma Copa do Mundo, quando o Brasil inteiro – inclusive tribos de índios perdidas na Amazônia ou no Centro-Oeste – se veste de verde e amarelo, e quando bandeiras brasileiras tremulam por toda a parte e o Hino Nacional é cantado, a plenos pulmões, antes de partidas importantes e, principalmente, quando a Seleção consegue retumbantes vitórias, o que se tornou, há muitos anos, cada vez mais comum.
Uma questão intrigante, porém, é a razão de um esporte que nada tinha a ver com nossos costumes e tradições, inventado na Inglaterra, de onde foi importado em fins do século XIX e que foi praticado, por muito tempo, apenas, por aristocratas, ou seja, pela elite, ter caído tanto no gosto popular.
Objetivamente, trata-se de um jogo até monótono, com regras nem sempre muito claras, muitas delas interpretativas e que, quando mal jogado, chega mesmo a dar sono. E no entanto... Há outros esportes muito mais dinâmicos e emocionantes, mas que entre nós não têm um milésimo da popularidade do futebol.
Ressalte-se que essa paixão brotou de forma espontânea, sem que houvesse nenhum planejamento nesse sentido ou qualquer forma subjetiva de indução, e que nem mesmo teve grande divulgação. Todavia, aos poucos, se alastrou não somente nos grandes centros urbanos, como São Paulo e Rio de Janeiro, mas por todo o território nacional, tornando-se mania dos brasileiros. Hoje, até campeonatos indígenas são disputados, com o mesmo entusiasmo de um Campeonato Brasileiro da Primeira Divisão.
Destaque-se que essa expansão sequer se deveu à exposição do futebol nos meios de comunicação, que na época da sua introdução no País, eram poucos, e bastante precários. Quando as primeiras emissoras de rádio, por exemplo, começaram a funcionar no País, por volta de 1922, o esporte já estava bastante popularizado entre nós, isso oito anos antes da disputa da primeira Copa do Mundo, ocorrida em 1930, no Uruguai. No mesmo ano da implantação da televisão no Brasil, nossa seleção deixou escapar por entre os dedos o primeiro título mundial. Mas atraiu para o recém-inaugurado Estádio do Maracanã uma multidão superior a 200 mil pessoas! Que espetáculo consegue hoje façanha desse porte?
Os jornais da época, por seu turno, tratavam o esporte como tratam, hoje, qualquer outro tipo lazer, publicando notas esporádicas sobre jogos em páginas internas, sem sequer dedicar à modalidade uma editoria específica, e muito menos sem lhe dar manchetes garrafais nas primeiras páginas, como ocorre hoje. Muitos clássicos sequer foram noticiados, pelo fato dos editores não lhes atribuírem a mínima importância, o que, inclusive, torna a tarefa dos historiadores de clubes um magnífico desafio. Está aí um excelente filão temático a ser explorado pelos estudiosos. Se é, claro, que o fenômeno possa ter alguma explicação racional. Desconfio que não tem.
Thursday, February 16, 2006
Drogas e prevenção
Drogas e prevenção
O ex-secretário-geral da Organização das Nações Unidas, o diplomata peruano Javier Perez de Cuellar, destacou, num extenso relatório divulgado ao cabo de sua gestão de dez anos no comando da ONU, que o tráfico e consumo de drogas, ao lado da pandemia mundial da Aids (questões intimamente associadas), são os maiores problemas enfrentados pela comunidade internacional na atualidade. Todavia, enquanto as soluções se mostram extremamente tímidas, quando não tardias, o vício avança por toda a parte. E seus agentes enriquecem à custa da desgraça de milhões, rindo das autoridades e permanecendo impunes na maioria das vezes. Quadrilhas de narcotraficantes formam autênticos exércitos – como ocorre, por exemplo, na Birmânia, ou nos morros do Rio de Janeiro – desafiando o poder constituído.
O Brasil não está a salvo desse flagelo. Pelo contrário. De simples rota do tráfico, o País já se transformou num grande mercado consumidor. O alvo tem sido o indivíduo mais desprotegido e vulnerável da sociedade, o que não dispõe de experiência alguma para evitar as armadilhas dos agentes do vício: os jovens. Ou, o que é pior, crianças na faixa dos 9 aos 11 anos de idade. Em fins de setembro de 1994 foi realizado, em Belo Horizonte, o “1º Congresso Brasileiro de Prevenção ao Uso de Drogas”, que reuniu grandes especialistas na matéria.
Dados altamente preocupantes foram divulgados no encontro, que não se ateve ao diagnóstico do problema, mas apresentou um conjunto de estratégias, para tornar mais eficientes o combate tanto ao uso de entorpecentes e estupefacientes, quanto à sua venda. Uma das constatações dos congressistas foi a de que 25%, em média, dos adolescentes brasileiros já são usuários de algum tipo de substância tóxica, como o crack, a cocaína, a maconha, a morfina, a heroína ou a cola de sapateiro. Isto sem contar o álcool. Em algumas capitais, estas cifras chegam a 30%.
A chamada “Carta de Belo Horizonte” propõe uma série de medidas, tanto na área da repressão dos traficantes, quanto de recuperação de viciados e de prevenção ao vício. Uma delas chama, particularmente, a atenção, pela sua simplicidade e eficácia. Trata-se da proposta de implantação imediata de programas educativos sobre drogas nas escolas públicas e privadas, nos cursos de 1º e 2º graus. A questão é a de que os esclarecimentos sobre os efeitos das substâncias tóxicas sejam incluídos nas disciplinas de Ciência e de Biologia e que o enfoque seja primordialmente científico.
Faz sentido. A própria “Carta de Belo Horizonte” justifica a razão dessa tônica. Propõe uma abordagem “sem dramatismo, sem sensacionalismo, sem terrorismo, sem lições de moral” porque, “se há uma linguagem que o jovem aceita bem é a da ciência”. Contudo, admite que “antes de educar nossos filhos, precisamos educar nossos mestres”. Trata-se de um investimento que precisa ser feito – a par de medidas de repressão ao tráfico, de punição a mais severa possível aos traficantes e de recuperação dos viciados – e com urgência, para prevenir uma situação futura que se torne incontrolável. Cabe aos pais cobrar essas medidas das autoridades de ensino e compete-lhes, sobretudo, estabelecer uma vigilância diligente, sábia, sadia, ininterrupta e inteligente sobre os jovens, para que eles não venham a enveredar por um caminho que na maioria das vezes não tem volta.
(Capítulo do livro “Por uma nova utopia”, Pedro J. Bondaczuk, páginas 23 a 25, 1ª edição – 5 mil exemplares – fevereiro de 1998 – Editora M – São Paulo).
O ex-secretário-geral da Organização das Nações Unidas, o diplomata peruano Javier Perez de Cuellar, destacou, num extenso relatório divulgado ao cabo de sua gestão de dez anos no comando da ONU, que o tráfico e consumo de drogas, ao lado da pandemia mundial da Aids (questões intimamente associadas), são os maiores problemas enfrentados pela comunidade internacional na atualidade. Todavia, enquanto as soluções se mostram extremamente tímidas, quando não tardias, o vício avança por toda a parte. E seus agentes enriquecem à custa da desgraça de milhões, rindo das autoridades e permanecendo impunes na maioria das vezes. Quadrilhas de narcotraficantes formam autênticos exércitos – como ocorre, por exemplo, na Birmânia, ou nos morros do Rio de Janeiro – desafiando o poder constituído.
O Brasil não está a salvo desse flagelo. Pelo contrário. De simples rota do tráfico, o País já se transformou num grande mercado consumidor. O alvo tem sido o indivíduo mais desprotegido e vulnerável da sociedade, o que não dispõe de experiência alguma para evitar as armadilhas dos agentes do vício: os jovens. Ou, o que é pior, crianças na faixa dos 9 aos 11 anos de idade. Em fins de setembro de 1994 foi realizado, em Belo Horizonte, o “1º Congresso Brasileiro de Prevenção ao Uso de Drogas”, que reuniu grandes especialistas na matéria.
Dados altamente preocupantes foram divulgados no encontro, que não se ateve ao diagnóstico do problema, mas apresentou um conjunto de estratégias, para tornar mais eficientes o combate tanto ao uso de entorpecentes e estupefacientes, quanto à sua venda. Uma das constatações dos congressistas foi a de que 25%, em média, dos adolescentes brasileiros já são usuários de algum tipo de substância tóxica, como o crack, a cocaína, a maconha, a morfina, a heroína ou a cola de sapateiro. Isto sem contar o álcool. Em algumas capitais, estas cifras chegam a 30%.
A chamada “Carta de Belo Horizonte” propõe uma série de medidas, tanto na área da repressão dos traficantes, quanto de recuperação de viciados e de prevenção ao vício. Uma delas chama, particularmente, a atenção, pela sua simplicidade e eficácia. Trata-se da proposta de implantação imediata de programas educativos sobre drogas nas escolas públicas e privadas, nos cursos de 1º e 2º graus. A questão é a de que os esclarecimentos sobre os efeitos das substâncias tóxicas sejam incluídos nas disciplinas de Ciência e de Biologia e que o enfoque seja primordialmente científico.
Faz sentido. A própria “Carta de Belo Horizonte” justifica a razão dessa tônica. Propõe uma abordagem “sem dramatismo, sem sensacionalismo, sem terrorismo, sem lições de moral” porque, “se há uma linguagem que o jovem aceita bem é a da ciência”. Contudo, admite que “antes de educar nossos filhos, precisamos educar nossos mestres”. Trata-se de um investimento que precisa ser feito – a par de medidas de repressão ao tráfico, de punição a mais severa possível aos traficantes e de recuperação dos viciados – e com urgência, para prevenir uma situação futura que se torne incontrolável. Cabe aos pais cobrar essas medidas das autoridades de ensino e compete-lhes, sobretudo, estabelecer uma vigilância diligente, sábia, sadia, ininterrupta e inteligente sobre os jovens, para que eles não venham a enveredar por um caminho que na maioria das vezes não tem volta.
(Capítulo do livro “Por uma nova utopia”, Pedro J. Bondaczuk, páginas 23 a 25, 1ª edição – 5 mil exemplares – fevereiro de 1998 – Editora M – São Paulo).
Wednesday, February 15, 2006
Evasão e repetência
Evasão e repetência
Os políticos brasileiros, em especial os candidatos a cargos executivos – prefeituras, governos de Estado e Presidência da República – sempre que em campanha, nomeiam, invariavelmente, a educação como sua prioridade. Não estão errados nessa escolha. Todavia, após eleitos, ou não cumprem suas solenes promessas de palanque, ou mostram que possuem uma visão distorcida, quando não mal-intencionada, da questão ou forjam justificativas descabidas para sua falta de competência. Quando investem nesse setor, invariavelmente o fazem no sentido físico. Ou seja, na construção de prédios escolares, não raro superfaturados, deixando de lado o essencial: o ensino.
Sempre se disse que o principal problema educacional brasileiro era a evasão escolar. Não há dúvida de que é algo a ser levado em consideração. Dados de 1988 davam conta que mais de 80% das crianças em todo o País não completavam o primeiro grau. Informes mais recentes, do Ministério da Educação, que foram repassados este ano ao Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), situam esse percentual em 39%, que ainda assim é alto.
Todavia, um recente estudo, elaborado pelo Laboratório Nacional de Computação Científica do Conselho Nacional de Pesquisa Científica e Tecnológica, sob a orientação do físico e educador Sérgio Costa Ribeiro, detecta um problema ainda mais grave, raramente mencionado ou levado em conta por políticos, pedagogos e planejadores. Trata-se da repetência. O índice dos que repetem é altíssimo e aumenta de ano a ano. Hoje a taxa situa-se em cerca de 50% já na primeira série do primeiro grau.
Nas escolas particulares, além de se constituir num ônus (muitas vezes intolerável para os pais), a reprovação traumatiza os alunos. Alguns têm toda sua vida modificada em decorrência disso. Adquirem complexos, criam bloqueios e não conseguem, de forma alguma, obter as notas necessárias para passar de ano. Recebem (e assumem) a pecha de “burros”. Acabam desistindo de estudar. Nas unidades públicas, a única diferença é a ausência do prejuízo material, da perda total do dinheiro despendido com as mensalidades. Não são poucos os casos de pais que, após a segunda repetência do menino ou menina, concluem, desalentados: “Filho, você não é bom da cabeça. Não dá para o estudo. É melhor aprender uma profissão que não dependa de diploma e arranjar emprego”. E muitas vocações acabam sendo sufocadas dessa maneira.
A culpa, todavia, raras vezes é do aluno. Os autores do estudo supracitado asseguram: “Hoje, parte destas repetências são induzidas pela própria escola com argumentos de que é melhor que o aluno não faça as provas finais porque seus professores já decidiram que ele será reprovado. Uma forma perversa de dizer que o fracasso do aluno é culpa dele, de seus pais, da cor da sua pele ou do nível sócio-econômico de sua família”. Não é por acaso que o Brasil ocupa o último lugar no ranking de ensino básico, que reúne 129 países. Perde para o Gabão, o Haiti e a Arábia Saudita em termos de evasão escolar. A repetência induz à desistência. E o País soma mais alguns pontinhos em seu imbatível recorde mundial de desperdício, ao jogar fora tanto potencial humano.
(Capítulo do livro “Por uma nova utopia”, Pedro J. Bondaczuk, páginas 19 a 21, 1ª edição – 5 mil exemplares – fevereiro de 1998 – Editora M – São Paulo).
Os políticos brasileiros, em especial os candidatos a cargos executivos – prefeituras, governos de Estado e Presidência da República – sempre que em campanha, nomeiam, invariavelmente, a educação como sua prioridade. Não estão errados nessa escolha. Todavia, após eleitos, ou não cumprem suas solenes promessas de palanque, ou mostram que possuem uma visão distorcida, quando não mal-intencionada, da questão ou forjam justificativas descabidas para sua falta de competência. Quando investem nesse setor, invariavelmente o fazem no sentido físico. Ou seja, na construção de prédios escolares, não raro superfaturados, deixando de lado o essencial: o ensino.
Sempre se disse que o principal problema educacional brasileiro era a evasão escolar. Não há dúvida de que é algo a ser levado em consideração. Dados de 1988 davam conta que mais de 80% das crianças em todo o País não completavam o primeiro grau. Informes mais recentes, do Ministério da Educação, que foram repassados este ano ao Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), situam esse percentual em 39%, que ainda assim é alto.
Todavia, um recente estudo, elaborado pelo Laboratório Nacional de Computação Científica do Conselho Nacional de Pesquisa Científica e Tecnológica, sob a orientação do físico e educador Sérgio Costa Ribeiro, detecta um problema ainda mais grave, raramente mencionado ou levado em conta por políticos, pedagogos e planejadores. Trata-se da repetência. O índice dos que repetem é altíssimo e aumenta de ano a ano. Hoje a taxa situa-se em cerca de 50% já na primeira série do primeiro grau.
Nas escolas particulares, além de se constituir num ônus (muitas vezes intolerável para os pais), a reprovação traumatiza os alunos. Alguns têm toda sua vida modificada em decorrência disso. Adquirem complexos, criam bloqueios e não conseguem, de forma alguma, obter as notas necessárias para passar de ano. Recebem (e assumem) a pecha de “burros”. Acabam desistindo de estudar. Nas unidades públicas, a única diferença é a ausência do prejuízo material, da perda total do dinheiro despendido com as mensalidades. Não são poucos os casos de pais que, após a segunda repetência do menino ou menina, concluem, desalentados: “Filho, você não é bom da cabeça. Não dá para o estudo. É melhor aprender uma profissão que não dependa de diploma e arranjar emprego”. E muitas vocações acabam sendo sufocadas dessa maneira.
A culpa, todavia, raras vezes é do aluno. Os autores do estudo supracitado asseguram: “Hoje, parte destas repetências são induzidas pela própria escola com argumentos de que é melhor que o aluno não faça as provas finais porque seus professores já decidiram que ele será reprovado. Uma forma perversa de dizer que o fracasso do aluno é culpa dele, de seus pais, da cor da sua pele ou do nível sócio-econômico de sua família”. Não é por acaso que o Brasil ocupa o último lugar no ranking de ensino básico, que reúne 129 países. Perde para o Gabão, o Haiti e a Arábia Saudita em termos de evasão escolar. A repetência induz à desistência. E o País soma mais alguns pontinhos em seu imbatível recorde mundial de desperdício, ao jogar fora tanto potencial humano.
(Capítulo do livro “Por uma nova utopia”, Pedro J. Bondaczuk, páginas 19 a 21, 1ª edição – 5 mil exemplares – fevereiro de 1998 – Editora M – São Paulo).
Tuesday, February 14, 2006
Comunicação exige bom-senso
Pedro J. Bondaczuk
O profissional de comunicação, seja qual for a área em que atuar, tem um compromisso e uma responsabilidade muito grandes para com o público que pretende atingir. No primeiro caso, trata-se de uma postura voltada para a prestação de serviços à comunidade, esclarecendo-a, orientando-o e atuando como o seu porta-voz. O segundo, por sua vez, decorre do anterior.
Quanto maior for a amplitude do meio que o comunicador utilizar, mais responsável ele terá que ser quanto àquilo que disser ou que escrever. Precisará ter muito critério. Deverá ser guiado por um elenco de pressupostos que vão desde o interesse à qualidade; da técnica usada à utilidade da comunicação, passando, por aí, o bom-gosto, a inteligência e outras coisas mais, que o jornalista e/ou o radialista conhecem, ou deveriam conhecer de sobejo.
Quem não aceitar isso, espontaneamente, sem imposição ou pressões, estará, evidentemente, em profissão errada. A mensagem que o profissional de comunicação passar, embora possa ser endereçada a um determinado público, bastante específico, terá influências as mais variadas possíveis. Tem que atentar o que, como, para que e a quem comunicar.
Isto vai depender das circunstâncias e do perfil psicológico de quem tiver acesso a essas mensagens. Pelo menos, é o que deveria ocorrer. Nem sempre ocorre, claro. Um comunicador irresponsável pode, até mesmo, provocar uma sublevação popular. Veja-se, por exemplo, o que vem ocorrendo nos países muçulmanos, em decorrência da publicação, por parte de um jornal dinamarquês, da caricatura do profeta Maomé.
Que benefício, e a quem, essa divulgação, no fundo, no fundo, preconceituosa, trouxe a quem quer que seja? Qual a necessidade de se mexer com as crenças e convicções alheias, mesmo as que consideremos ridículas e frutos do atraso (não é o caso), utilizando, como pretexto, o direito da liberdade de expressão? Convém ressaltar que um comunicador tem a possibilidade de influenciar idéias, costumes, comportamentos e ações. Quanto mais liberdade tiver, maior será, em contrapartida, a sua responsabilidade.
Estas considerações vêm a propósito do desvirtuamento que se vem fazendo, em determinados canais de televisão (e isso não é de hoje) e em alguns horários nem sempre apropriados, da arte do erotismo. Seu limite, em relação à pornografia, é sutil, sutilíssimo e nem todos os expectadores têm critério ou maturidade suficientes para fazer essa distinção.
Não defendo, evidentemente, nenhum tipo de censura. A própria Constituição brasileira proíbe esse comportamento. O que é necessário é que o próprio comunicador, autor de novela, roteirista de filme ou mesmo escritor de romances tenha autocrítica. Que pergunte, a si mesmo, se tem algo inteligente, proveitoso, interessante e construtivo a dizer (ou a escrever, claro).
Para se destruir algo, seja lá o que for, não é preciso ser criativo, dispor de muita técnica ou ter um pouquinho a mais de massa cinzenta que os mortais comuns. Construir, porém, é tarefa de gigantes, de pessoas especiais, talentosas e de grande visão.
Será que é válido, por uma certa importância em dinheiro (e não importa quanto), um intelectual se expor ao ridículo e alterar (para pior) o comportamento de pessoas mais simples e menos dotadas de capacidade de análise?
A pornografia barata apenas alimenta uma tara, uma doença comportamental, o “voyuerismo” e nada acrescenta a quem quer que seja. Há, evidentemente, quem goste dela. Essas pessoas estão no seu direito – afinal, como preceitua a doutrina do Direito, nem tudo o que é legal é moral e vice-versa – mas elas que procurem veículos adequados para satisfazer sua compulsão: um pornoshop, por exemplo, ou fitas de vídeo, que existem, por aí, em profusão.
Há toda uma indústria voltada à pornografia. Exibir bobagens publicamente, todavia, sob o rótulo de arte, é, antes de tudo, uma fraude, e das mais grotescas e grosseiras. Trata-se de uma enorme tapeação a quem espera do comunicador coisas criativas, originais e, sobretudo, construtivas.
O profissional de comunicação, seja qual for a área em que atuar, tem um compromisso e uma responsabilidade muito grandes para com o público que pretende atingir. No primeiro caso, trata-se de uma postura voltada para a prestação de serviços à comunidade, esclarecendo-a, orientando-o e atuando como o seu porta-voz. O segundo, por sua vez, decorre do anterior.
Quanto maior for a amplitude do meio que o comunicador utilizar, mais responsável ele terá que ser quanto àquilo que disser ou que escrever. Precisará ter muito critério. Deverá ser guiado por um elenco de pressupostos que vão desde o interesse à qualidade; da técnica usada à utilidade da comunicação, passando, por aí, o bom-gosto, a inteligência e outras coisas mais, que o jornalista e/ou o radialista conhecem, ou deveriam conhecer de sobejo.
Quem não aceitar isso, espontaneamente, sem imposição ou pressões, estará, evidentemente, em profissão errada. A mensagem que o profissional de comunicação passar, embora possa ser endereçada a um determinado público, bastante específico, terá influências as mais variadas possíveis. Tem que atentar o que, como, para que e a quem comunicar.
Isto vai depender das circunstâncias e do perfil psicológico de quem tiver acesso a essas mensagens. Pelo menos, é o que deveria ocorrer. Nem sempre ocorre, claro. Um comunicador irresponsável pode, até mesmo, provocar uma sublevação popular. Veja-se, por exemplo, o que vem ocorrendo nos países muçulmanos, em decorrência da publicação, por parte de um jornal dinamarquês, da caricatura do profeta Maomé.
Que benefício, e a quem, essa divulgação, no fundo, no fundo, preconceituosa, trouxe a quem quer que seja? Qual a necessidade de se mexer com as crenças e convicções alheias, mesmo as que consideremos ridículas e frutos do atraso (não é o caso), utilizando, como pretexto, o direito da liberdade de expressão? Convém ressaltar que um comunicador tem a possibilidade de influenciar idéias, costumes, comportamentos e ações. Quanto mais liberdade tiver, maior será, em contrapartida, a sua responsabilidade.
Estas considerações vêm a propósito do desvirtuamento que se vem fazendo, em determinados canais de televisão (e isso não é de hoje) e em alguns horários nem sempre apropriados, da arte do erotismo. Seu limite, em relação à pornografia, é sutil, sutilíssimo e nem todos os expectadores têm critério ou maturidade suficientes para fazer essa distinção.
Não defendo, evidentemente, nenhum tipo de censura. A própria Constituição brasileira proíbe esse comportamento. O que é necessário é que o próprio comunicador, autor de novela, roteirista de filme ou mesmo escritor de romances tenha autocrítica. Que pergunte, a si mesmo, se tem algo inteligente, proveitoso, interessante e construtivo a dizer (ou a escrever, claro).
Para se destruir algo, seja lá o que for, não é preciso ser criativo, dispor de muita técnica ou ter um pouquinho a mais de massa cinzenta que os mortais comuns. Construir, porém, é tarefa de gigantes, de pessoas especiais, talentosas e de grande visão.
Será que é válido, por uma certa importância em dinheiro (e não importa quanto), um intelectual se expor ao ridículo e alterar (para pior) o comportamento de pessoas mais simples e menos dotadas de capacidade de análise?
A pornografia barata apenas alimenta uma tara, uma doença comportamental, o “voyuerismo” e nada acrescenta a quem quer que seja. Há, evidentemente, quem goste dela. Essas pessoas estão no seu direito – afinal, como preceitua a doutrina do Direito, nem tudo o que é legal é moral e vice-versa – mas elas que procurem veículos adequados para satisfazer sua compulsão: um pornoshop, por exemplo, ou fitas de vídeo, que existem, por aí, em profusão.
Há toda uma indústria voltada à pornografia. Exibir bobagens publicamente, todavia, sob o rótulo de arte, é, antes de tudo, uma fraude, e das mais grotescas e grosseiras. Trata-se de uma enorme tapeação a quem espera do comunicador coisas criativas, originais e, sobretudo, construtivas.
Monday, February 13, 2006
Por uma nova utopia
O papel do intelectual e, sobretudo, do escritor, vem sendo cada vez mais questionado nos últimos tempos, dada a enxurrada de obras sofríveis – algumas até de autores de reconhecido talento – que tem invadido as livrarias. A falsa modernidade está desviando muitas pessoas brilhantes do verdadeiro objetivo daquele que faz literatura: o engrandecimento cultural do homem. Os temas explorados, hoje, são variações em geral em torno de um único e mesmo assunto: sexo.
Mas a abordagem dessa temática, válida por sinal, tem sido infeliz e equivocada. Resvala para a degradação do ser humano e lança-o de ponta-cabeça no inferno, contrariando a advertência do poeta Daisaku Ikeda de que esse procedimento é doentio e, mais do que isso, destrutivo. Há que se resgatar a utopia, acreditar na racionalidade do “homo sapiens”, provocar reflexão nos leitores, mas em sentido construtivo, evolutivo, para a busca de solução dos graves problemas contemporâneos, que são solúveis, desde que sejam atacados com vontade e com sabedoria.
Hoje abundam críticas e sobeja o desencanto, numa confissão tácita do homem contemporâneo da sua falta de fibra, do seu medo pânico de se expor às responsabilidades. Pensadores deixaram, através dos tempos, grandes marcos de esperança de um mundo melhor, de uma sociedade perfeita, onde a individualidade fosse respeitada, a solidariedade fosse uma ação até instintiva e a violência em todas as suas formas, da mais ostensiva à mais sutil, fosse banida do convívio social.
Tivemos, por exemplo, “A República”, de Platão, escrita por volta de 330 a.C., onde o sábio grego descreve um Estado perfeito, governado por um rei-filósofo. Santo Agostinho coloca, em sua “A Cidade de Deus”, do século V, a religião como base para uma sociedade ideal e sem atritos. Thomas Morus, por seu turno, publicou, no século XVI, o seu muito citado, mas pouco lido, “Sobre a Melhor Condição do Estado e Sobre a Nova Ilha Utopia”.
Nesse seu mundinho restrito, mas perfeito, a moral seria baseada estritamente na virtude, o trabalho seria dever de todos e distribuído eqüitativamente e o tempo de lazer seria empregado pelo homem no enriquecimento cultural. Esperava-se que uma sociedade, que pelo menos se aproximasse disso, viesse a existir neste século XX. Mas o que se viu no seu transcorrer? Um avanço tecnológico fantástico acompanhado de uma regressão no comportamento às fronteiras da barbárie.
Parte da culpa desse retrocesso deve-se aos intelectuais, aos artistas, aos escritores, e à sua ânsia de inovar, mesmo que a inovação significasse recuo. Muitos endeusaram tiranos e a maioria simplesmente se omitiu. Aleksandr Soljenytsin, todavia, adverte: “se nós, os criadores de arte, nos submetermos obedientemente a este deslize por baixo, se deixarmos de nutrir e valorizar a grande tradição cultural dos séculos passados, juntamente com os fundamentos espirituais dos quais ela surgiu, estaremos contribuindo para a queda extremamente perigosa do espírito humano, para a degeneração da humanidade em direção a alguma espécie de estado inferior, que mais se aproxima do mundo animal”.
Cabe, pois, ao intelectual, ao escritor contemporâneo, sinalizar uma nova utopia, que apesar do seu significado (em grego significa “não existe tal lugar”), pode sair do plano da idealização e se fazer concreta.
(Capítulo do livro “Por uma nova utopia”, Pedro J. Bondaczuk, páginas 13 a 15, 1ª edição – 5 mil exemplares – fevereiro de 1998 – Editora M – São Paulo).
Mas a abordagem dessa temática, válida por sinal, tem sido infeliz e equivocada. Resvala para a degradação do ser humano e lança-o de ponta-cabeça no inferno, contrariando a advertência do poeta Daisaku Ikeda de que esse procedimento é doentio e, mais do que isso, destrutivo. Há que se resgatar a utopia, acreditar na racionalidade do “homo sapiens”, provocar reflexão nos leitores, mas em sentido construtivo, evolutivo, para a busca de solução dos graves problemas contemporâneos, que são solúveis, desde que sejam atacados com vontade e com sabedoria.
Hoje abundam críticas e sobeja o desencanto, numa confissão tácita do homem contemporâneo da sua falta de fibra, do seu medo pânico de se expor às responsabilidades. Pensadores deixaram, através dos tempos, grandes marcos de esperança de um mundo melhor, de uma sociedade perfeita, onde a individualidade fosse respeitada, a solidariedade fosse uma ação até instintiva e a violência em todas as suas formas, da mais ostensiva à mais sutil, fosse banida do convívio social.
Tivemos, por exemplo, “A República”, de Platão, escrita por volta de 330 a.C., onde o sábio grego descreve um Estado perfeito, governado por um rei-filósofo. Santo Agostinho coloca, em sua “A Cidade de Deus”, do século V, a religião como base para uma sociedade ideal e sem atritos. Thomas Morus, por seu turno, publicou, no século XVI, o seu muito citado, mas pouco lido, “Sobre a Melhor Condição do Estado e Sobre a Nova Ilha Utopia”.
Nesse seu mundinho restrito, mas perfeito, a moral seria baseada estritamente na virtude, o trabalho seria dever de todos e distribuído eqüitativamente e o tempo de lazer seria empregado pelo homem no enriquecimento cultural. Esperava-se que uma sociedade, que pelo menos se aproximasse disso, viesse a existir neste século XX. Mas o que se viu no seu transcorrer? Um avanço tecnológico fantástico acompanhado de uma regressão no comportamento às fronteiras da barbárie.
Parte da culpa desse retrocesso deve-se aos intelectuais, aos artistas, aos escritores, e à sua ânsia de inovar, mesmo que a inovação significasse recuo. Muitos endeusaram tiranos e a maioria simplesmente se omitiu. Aleksandr Soljenytsin, todavia, adverte: “se nós, os criadores de arte, nos submetermos obedientemente a este deslize por baixo, se deixarmos de nutrir e valorizar a grande tradição cultural dos séculos passados, juntamente com os fundamentos espirituais dos quais ela surgiu, estaremos contribuindo para a queda extremamente perigosa do espírito humano, para a degeneração da humanidade em direção a alguma espécie de estado inferior, que mais se aproxima do mundo animal”.
Cabe, pois, ao intelectual, ao escritor contemporâneo, sinalizar uma nova utopia, que apesar do seu significado (em grego significa “não existe tal lugar”), pode sair do plano da idealização e se fazer concreta.
(Capítulo do livro “Por uma nova utopia”, Pedro J. Bondaczuk, páginas 13 a 15, 1ª edição – 5 mil exemplares – fevereiro de 1998 – Editora M – São Paulo).
Sunday, February 12, 2006
Carta de um humanista
Carta do Dr. Daisaku Ikeda ao jornalista Pedro J. Bondaczuk
Tóquio, 7 de junho de 1998
Prezado confrade:
Primeiramente, desejo que esta missiva encontre-o desfrutando de ótima saúde em meio ao seu nobre trabalho jornalístico e literário.
Neste ensejo, quero acusar o recebimento de vossa obra POR UMA NOVA UTOPIA, através das mãos do digníssimo Vereador Luiz Carlos Rossini. Este importantíssimo livro foi coroado com sua maravilhosa dedicatória, na qual as palavras são mensageiras de profundo espírito filosófico. Querido confrade: aceite, por favor, meu muitíssimo obrigado!
Não pude conter minha emoção e honra ao ser informado do conteúdo das linhas onde V. Sa. refere-se a meu respeito. Assim, solicitei imediatamente que todas as três páginas fossem traduzidas na íntegra.
O Vereador Rossini expôs-me com grande propriedade sobre a grandiosidade de sua pessoa.
Estou perfeitamente ciente que V. Sa., como legítimo guerreiro da imprensa escrita, tem divulgado a realidade brasileira e mundial, sempre marcada pela coragem e vigorosidade de seus inúmeros artigos e crônicas, ou ainda nas brilhantes palestras, bradando heroicamente seu sublime pensamento para toda sociedade brasileira.
Fui informado também que V. Sa. foi o mais jovem escritor a tornar-se membro da Academia Campinense de Letras.
Estou convicto de que V.Sa., como a pena de ouro do Brasil do século XXI e bravo defensor da justiça, personifica o desejo máximo do povo e a esperança da própria humanidade.
Espero e oro para que algum dia, no futuro, eu seja agraciado com a oportunidade de dialogar com Vossa Senhoria. Até a chegada deste grande dia, estarei enviando continuamente as minhas orações pela boa saúde e pleno êxito nas valorosas atividades desempenhadas pelo meu querido confrade.
Respeitosamente
a) Daisaku Ikeda - Presidente da Sokka Gakkai Internacional
NOTA: O Dr. Daisaku Ikeda é poeta, novelista e ensaísta, dos mais conceituados internacionalmente. É líder da mais importante organização budista do Japão, voltada ao cultivo de valores, que congrega mais de 1,2 milhão de membros em 116 países, inclusive no Brasil. Destaca-se pelo empenho em favor do entendimento entre os povos, pressuposto para a paz no mundo.
Seus principais livros traduzidos no Brasil são os diálogos com personalidades mundiais, com destaque para "Escolha a Vida" (com o historiador Arnold Toynbee), "Antes que seja tarde demais" (com um dos fundadores do Clube de Roma, Aurélio Peccei), "A revolução humana e a condição humana" (com André Malraux), "A terceira ponte do arco-íris" (com Anatoly Logunav) e "A noite clama pela alvorada" (com René Huyghe), que foram vertidos para 14 idiomas. Destacam-se, ainda, os cinco volumes de "A Revolução Humana", os dois de "Uma Paz Duradoura", além dos "Clássicos da Literatura Japonesa".
É detentor de várias dezenas de prêmios internacionais, com destaque para o Prêmio da Paz das Nações Unidas (1983), de dezenas de títulos de doutor e professor "honoris causa" das mais renomadas universidades dos cinco continentes e títulos de cidadania dos Estados do Paraná e Rio de Janeiro e das cidades de Curitiba, São Paulo, Londrina e Campinas.
Tóquio, 7 de junho de 1998
Prezado confrade:
Primeiramente, desejo que esta missiva encontre-o desfrutando de ótima saúde em meio ao seu nobre trabalho jornalístico e literário.
Neste ensejo, quero acusar o recebimento de vossa obra POR UMA NOVA UTOPIA, através das mãos do digníssimo Vereador Luiz Carlos Rossini. Este importantíssimo livro foi coroado com sua maravilhosa dedicatória, na qual as palavras são mensageiras de profundo espírito filosófico. Querido confrade: aceite, por favor, meu muitíssimo obrigado!
Não pude conter minha emoção e honra ao ser informado do conteúdo das linhas onde V. Sa. refere-se a meu respeito. Assim, solicitei imediatamente que todas as três páginas fossem traduzidas na íntegra.
O Vereador Rossini expôs-me com grande propriedade sobre a grandiosidade de sua pessoa.
Estou perfeitamente ciente que V. Sa., como legítimo guerreiro da imprensa escrita, tem divulgado a realidade brasileira e mundial, sempre marcada pela coragem e vigorosidade de seus inúmeros artigos e crônicas, ou ainda nas brilhantes palestras, bradando heroicamente seu sublime pensamento para toda sociedade brasileira.
Fui informado também que V. Sa. foi o mais jovem escritor a tornar-se membro da Academia Campinense de Letras.
Estou convicto de que V.Sa., como a pena de ouro do Brasil do século XXI e bravo defensor da justiça, personifica o desejo máximo do povo e a esperança da própria humanidade.
Espero e oro para que algum dia, no futuro, eu seja agraciado com a oportunidade de dialogar com Vossa Senhoria. Até a chegada deste grande dia, estarei enviando continuamente as minhas orações pela boa saúde e pleno êxito nas valorosas atividades desempenhadas pelo meu querido confrade.
Respeitosamente
a) Daisaku Ikeda - Presidente da Sokka Gakkai Internacional
NOTA: O Dr. Daisaku Ikeda é poeta, novelista e ensaísta, dos mais conceituados internacionalmente. É líder da mais importante organização budista do Japão, voltada ao cultivo de valores, que congrega mais de 1,2 milhão de membros em 116 países, inclusive no Brasil. Destaca-se pelo empenho em favor do entendimento entre os povos, pressuposto para a paz no mundo.
Seus principais livros traduzidos no Brasil são os diálogos com personalidades mundiais, com destaque para "Escolha a Vida" (com o historiador Arnold Toynbee), "Antes que seja tarde demais" (com um dos fundadores do Clube de Roma, Aurélio Peccei), "A revolução humana e a condição humana" (com André Malraux), "A terceira ponte do arco-íris" (com Anatoly Logunav) e "A noite clama pela alvorada" (com René Huyghe), que foram vertidos para 14 idiomas. Destacam-se, ainda, os cinco volumes de "A Revolução Humana", os dois de "Uma Paz Duradoura", além dos "Clássicos da Literatura Japonesa".
É detentor de várias dezenas de prêmios internacionais, com destaque para o Prêmio da Paz das Nações Unidas (1983), de dezenas de títulos de doutor e professor "honoris causa" das mais renomadas universidades dos cinco continentes e títulos de cidadania dos Estados do Paraná e Rio de Janeiro e das cidades de Curitiba, São Paulo, Londrina e Campinas.
Um jornal das sensações
Pouco sei da biografia pessoal de Pedro Bondaczuk, exceto que foi radialista e trabalhador de indústria, que escreve contos e poemas, especializou-se num jornalismo multímodo e tem uma grande biblioteca. Seu único livro até aqui publicado, “Quadros de Natal”, circula por aí em edições sucessivas, sob o selo de um colégio preparatório. E isso é tudo o que sei.
Mas não é preciso muito para imagina-lo por trás de sua escrivaninha de escriba, consciente de um método que é só dele, seguro de uma lucidez que não se entrega. Basta acompanhar sua produção através das páginas do “Correio Popular”, caudalosa, variada e sempre informativa. Tem-se a impressão de que dando-lhe espaço ele encheria um jornal inteiro, diariamente, com seu repertório inesgotável. Balzac o colocaria num romance, Diderot gostaria de tê-lo a serviço de sua Enciclopédia.
Assim como pululam, em todas as épocas, os cronistas da negatividade, Pedro Bondaczuk é positivo até mesmo quando critica. Não perde ocasião de rechaçar as frases feitas dos céticos, recusa-se a acreditar na surrada lenda que diz que “os tempos atuais” são os piores, nega-se a “fazer da angústia um estilo de vida”. Mas tampouco pactua com os pares que, para edulcorar seu próprio cotidiano, tratam de extrair “riqueza da miséria, nobreza da canalhice, ética da imoralidade”.
Pode-se dizer que, homogêneo na variedade de suas peças, este livro é bem o retrato de seu autor, nele transparecendo sua concepção de vida, a clareza de suas idéias, a profundidade de seus conhecimentos e a riqueza de suas esperanças. Seus temas tanto podem ser a cidade que o acolheu e lhe deu um título de cidadania quanto aos progressos da ciência, a poetisa que morreu prematuramente, os rumos do País à porta do novo milênio ou os mistérios da realidade circundante “que, de tão fantástica, chega a humilhar a ficção”.
Trata de reis e crianças abandonadas, tanto cita Tolstoi quanto poetas de província.
Mas, generoso, é severo com os grandes e indulgente com os pequenos. Claramente para ele não contam o dinheiro, o prestígio ou o poder, mas sim “o ato de viver, de apreciar esta maravilhosa aventura (da vida), que tem mais valor por ser única”. Não por acaso há nele ressonância de Krishnamurti e Daisaku Ikeda, mas é na frase de Roland Barthes – “Nenhum poder, algum saber, muito sabor” – que acharemos talvez a melhor definição para a escolha filosófica de Bondaczuk, cujo texto é sempre um incitamento ao exercício de viver, às possibilidades da existência.
Creio que a certa altura o autor se coloca a questão que para ele deve ser crucial: escritor-jornalista ou jornalista-escritor? Parece-me que a questão se resolve naturalmente na medida em que todo o texto jornalístico de Bondaczuk se inclina para a literatura e, como tal, apresenta características de durabilidade que o jornalismo puro não tem. Não por acaso ele passeia da poesia à ética, da biologia à história, da sociologia ao romance. Ninguém é capaz de fazê-lo sem contar com um senso de orientação apurado e sem o domínio das formas breves da linguagem literária. E ele os tem.
Brevidade, concisão, clareza. Eu diria que são estas suas principais qualidades.
Homem de muitos instrumentos, Bondaczuk prefere todavia o solo da flauta – o conto, o poema, a crônica. Está no seu elemento, conhece as complexidades do gênero e as domina. Isso lhe permite falar consigo mesmo e com seus leitores, sondar-lhes os sentimentos, ouvir sua respiração e, a partir dessa intensa troca de códigos cotidianamente o diário de suas sensações, como um jornal que, refletindo as pompas e as misérias do mundo, ecoasse tam,bem o fragor da alma.
Eustáquio Gomes – Jornalista, escritor, mestre em Letras pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), cronista semanal da revista “Metrópole” do Correio Popular, autor de dez livros, entre os quais “Febre Amorosa” (romance, recentemente traduzido para o russo), “Cavalo Inundado” (poesia), “A mulher que virou canoa” (contos), “Os jogos de junho” (novela), “Hemmingway: sete encontros com o leão” (ensaio biográfico), “Jonas Blau” (romance) e “O mapa da Austrália” (romance).
(Prefácio do livro “Por uma nova utopia”, Pedro J. Bondaczuk, páginas 9 a 11, 1ª edição – 5 mil exemplares – fevereiro de 1998 – Editora M – São Paulo).
Mas não é preciso muito para imagina-lo por trás de sua escrivaninha de escriba, consciente de um método que é só dele, seguro de uma lucidez que não se entrega. Basta acompanhar sua produção através das páginas do “Correio Popular”, caudalosa, variada e sempre informativa. Tem-se a impressão de que dando-lhe espaço ele encheria um jornal inteiro, diariamente, com seu repertório inesgotável. Balzac o colocaria num romance, Diderot gostaria de tê-lo a serviço de sua Enciclopédia.
Assim como pululam, em todas as épocas, os cronistas da negatividade, Pedro Bondaczuk é positivo até mesmo quando critica. Não perde ocasião de rechaçar as frases feitas dos céticos, recusa-se a acreditar na surrada lenda que diz que “os tempos atuais” são os piores, nega-se a “fazer da angústia um estilo de vida”. Mas tampouco pactua com os pares que, para edulcorar seu próprio cotidiano, tratam de extrair “riqueza da miséria, nobreza da canalhice, ética da imoralidade”.
Pode-se dizer que, homogêneo na variedade de suas peças, este livro é bem o retrato de seu autor, nele transparecendo sua concepção de vida, a clareza de suas idéias, a profundidade de seus conhecimentos e a riqueza de suas esperanças. Seus temas tanto podem ser a cidade que o acolheu e lhe deu um título de cidadania quanto aos progressos da ciência, a poetisa que morreu prematuramente, os rumos do País à porta do novo milênio ou os mistérios da realidade circundante “que, de tão fantástica, chega a humilhar a ficção”.
Trata de reis e crianças abandonadas, tanto cita Tolstoi quanto poetas de província.
Mas, generoso, é severo com os grandes e indulgente com os pequenos. Claramente para ele não contam o dinheiro, o prestígio ou o poder, mas sim “o ato de viver, de apreciar esta maravilhosa aventura (da vida), que tem mais valor por ser única”. Não por acaso há nele ressonância de Krishnamurti e Daisaku Ikeda, mas é na frase de Roland Barthes – “Nenhum poder, algum saber, muito sabor” – que acharemos talvez a melhor definição para a escolha filosófica de Bondaczuk, cujo texto é sempre um incitamento ao exercício de viver, às possibilidades da existência.
Creio que a certa altura o autor se coloca a questão que para ele deve ser crucial: escritor-jornalista ou jornalista-escritor? Parece-me que a questão se resolve naturalmente na medida em que todo o texto jornalístico de Bondaczuk se inclina para a literatura e, como tal, apresenta características de durabilidade que o jornalismo puro não tem. Não por acaso ele passeia da poesia à ética, da biologia à história, da sociologia ao romance. Ninguém é capaz de fazê-lo sem contar com um senso de orientação apurado e sem o domínio das formas breves da linguagem literária. E ele os tem.
Brevidade, concisão, clareza. Eu diria que são estas suas principais qualidades.
Homem de muitos instrumentos, Bondaczuk prefere todavia o solo da flauta – o conto, o poema, a crônica. Está no seu elemento, conhece as complexidades do gênero e as domina. Isso lhe permite falar consigo mesmo e com seus leitores, sondar-lhes os sentimentos, ouvir sua respiração e, a partir dessa intensa troca de códigos cotidianamente o diário de suas sensações, como um jornal que, refletindo as pompas e as misérias do mundo, ecoasse tam,bem o fragor da alma.
Eustáquio Gomes – Jornalista, escritor, mestre em Letras pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), cronista semanal da revista “Metrópole” do Correio Popular, autor de dez livros, entre os quais “Febre Amorosa” (romance, recentemente traduzido para o russo), “Cavalo Inundado” (poesia), “A mulher que virou canoa” (contos), “Os jogos de junho” (novela), “Hemmingway: sete encontros com o leão” (ensaio biográfico), “Jonas Blau” (romance) e “O mapa da Austrália” (romance).
(Prefácio do livro “Por uma nova utopia”, Pedro J. Bondaczuk, páginas 9 a 11, 1ª edição – 5 mil exemplares – fevereiro de 1998 – Editora M – São Paulo).
Saturday, February 11, 2006
Pontes
Minha vida tem sido uma busca
por justiça e pela criação
de liames, de pontes concretas
que liguem o real ao ideal.
Constante pesquisa do que sou,
de olho no que possa vir a ser,
sem pensar no que esperam de mim.
Muitas vezes perco-me em vazios,
fico sem ter referenciais
e ao tentar livrar-me do atoleiro
vacilo e atolo-me mais e mais.
Sob os pés que trilham este trecho
esquecido e singular do tempo,
abrem-se fundas, famintas valas,
perdem-se esperanças e crenças.
Mas volto a lançar pontes de barro,
renovo com freqüência o alento
e, munido de exemplar paciência,
disponho-me a recomeçar.
E os dias, com suas circunstâncias,
macetes e peculiaridades,
as horas, passageiras fugazes,
as muitas ausências e distâncias,
são valas escuras e profundas,
famintas, insaciáveis gargantas.
Hienas famélicas e vorazes,
encurvadas, sempre a gargalhar
dos meus tolos sonhos infantis:
devoram toda e cada esperança
nova. Forçam a me renovar.
Não houvesse você, alma gêmea,
que partilha ilusão e a vida,
sonhos, sorte, azar e destino,
fé e tudo o quanto ainda sou;
não houvesse você, companheira,
que segue através do meu caminho
repisando os rastros dos meus passos,
e jamais eu lançaria pontes
sobre abismos e valas profundos
e ao invés de apenas meus desejos
eles destruiriam meu ser.
Vem para meus braços, doce amada.
Sinta...Sinta o mudo desespero
que vibra na fragílima carne.
Sinta...Sinta na sua estrutura
minha virilidade, euforia,
meu carnal e instintivo amor.
Acolhe neste seu ventre fértil
sementes sagradas do amanhã.
Faça gerar em suas entranhas,
para lançar sobre o fundo abismo
a nossa concretíssima ponte
entre o efêmero humano e Deus.
(Poema composto em Campinas em 5 de abril de 1971)
por justiça e pela criação
de liames, de pontes concretas
que liguem o real ao ideal.
Constante pesquisa do que sou,
de olho no que possa vir a ser,
sem pensar no que esperam de mim.
Muitas vezes perco-me em vazios,
fico sem ter referenciais
e ao tentar livrar-me do atoleiro
vacilo e atolo-me mais e mais.
Sob os pés que trilham este trecho
esquecido e singular do tempo,
abrem-se fundas, famintas valas,
perdem-se esperanças e crenças.
Mas volto a lançar pontes de barro,
renovo com freqüência o alento
e, munido de exemplar paciência,
disponho-me a recomeçar.
E os dias, com suas circunstâncias,
macetes e peculiaridades,
as horas, passageiras fugazes,
as muitas ausências e distâncias,
são valas escuras e profundas,
famintas, insaciáveis gargantas.
Hienas famélicas e vorazes,
encurvadas, sempre a gargalhar
dos meus tolos sonhos infantis:
devoram toda e cada esperança
nova. Forçam a me renovar.
Não houvesse você, alma gêmea,
que partilha ilusão e a vida,
sonhos, sorte, azar e destino,
fé e tudo o quanto ainda sou;
não houvesse você, companheira,
que segue através do meu caminho
repisando os rastros dos meus passos,
e jamais eu lançaria pontes
sobre abismos e valas profundos
e ao invés de apenas meus desejos
eles destruiriam meu ser.
Vem para meus braços, doce amada.
Sinta...Sinta o mudo desespero
que vibra na fragílima carne.
Sinta...Sinta na sua estrutura
minha virilidade, euforia,
meu carnal e instintivo amor.
Acolhe neste seu ventre fértil
sementes sagradas do amanhã.
Faça gerar em suas entranhas,
para lançar sobre o fundo abismo
a nossa concretíssima ponte
entre o efêmero humano e Deus.
(Poema composto em Campinas em 5 de abril de 1971)
Friday, February 10, 2006
Gula fatal
Pedro J. Bondaczuk
A natureza tem regras inflexíveis, gerais, válidas para absolutamente todos os seres vivos, que não podem ser burladas impunemente. Muitos até que tentam burlar. Contudo, quem se arrisca a passar por cima delas paga, invariavelmente, um preço, que não raro pode significar a perda prematura da vida. Nem tudo o que agrada os sentidos e nos dá prazer é saudável. Aliás, a maioria não é.
Lembro-me que um dos grandes sucessos de Roberto Carlos, nos anos 70, era uma canção cuja letra dizia, em determinado trecho: "...Porque tudo o que é bom é ilegal, imoral ou engorda" (talvez não seja literalmente isso o que escreveu o letrista, mas o sentido é esse). Pessoas de hábitos austeros, com alimentação frugal, dedicadas ao trabalho e ao raciocínio, parecem viver mais. Pareciam... Agora, já há prova concreta, baseada em estudos sérios e meticulosos, de que não se trata apenas de impressão, mas de certeza.
Estas considerações vêm a propósito de uma notícia, publicada pela imprensa, dando conta de que pesquisadores norte-americanos descobriram o tão desejado "elixir da longa vida". E o que isso tem a ver com as regras da natureza, ou com os hábitos alimentares (saudáveis ou não) das pessoas? Tem tudo!
Essa "fonte da juventude", que Ponce de Leon acreditava ter descoberto na Flórida, e que centenas de aventureiros procuraram em vão pelo mundo afora, não se situa em qualquer lugar remoto e perdido do Planeta, como muitos pensavam (e ainda podem pensar). Está em nosso organismo, no âmago das nossas células. Trata-se da proteína que os cientistas batizaram de "Sir2", responsável pela longevidade dos animais. E, por conseqüência, dos homens... É essa maravilhosa substância que impede a superutilização dos genes e, com isso, evita que as pontas dos cromossomas se desgastem, os preservando da degradação. Com isso, aumentam o tempo de vida dos que a possuem.
Até aí, tudo bem. Ocorre que essa mágica proteína só está presente no organismo das pessoas que se submetem a "regimes drásticos de alimentação". Em outras palavras, daqueles que, no dizer dos nossos avós, "comem para viver e não vivem para comer". Bem que se diz que não é apenas o peixe que "morre pela boca". E não é mesmo. Hoje, esses dois grupos (os que ingerem alimentos em quantidade muito maior do que a necessária e os que vegetam em permanente inanição) equivalem-se em quantidade. "E como sabemos disso?", perguntará o leitor céptico, que seja dado à prática da glutonaria. Mediante a divulgação, pela imprensa, de uma outra pesquisa, intitulada "A Epidemia Global da Má Nutrição", levada a efeito pelo Instituto Worldwatch dos Estados Unidos.
Os autores deste estudo concluíram que o número de pessoas desnutridas no mundo (famintas, na verdade), que é de 1,2 bilhão de indivíduos, é, por incrível coincidência, o mesmo que o de obesos (os que comem em demasia e alimentos inadequados). Portanto, fica claro que mais de um terço da humanidade (2,4 bilhões dos 6 bilhões de habitantes da Terra), não sabem (ou não podem) comer direito.
O primeiro grupo paga um preço intolerável pela gula do segundo. E este, por sua vez, paga o inflexível preço, cobrado pela natureza, pelos excessos que comete. Tudo, provavelmente, ficaria bem se ambos partilhassem os seus extremos. Ou seja, se os gulosos comessem menos e se a parte que deixassem de comer fosse destinada aos que não têm recursos para comprar a comida de que precisam. Essa possibilidade, contudo, não passa de utopia.
Os "regimes drásticos de alimentação", responsáveis pela existência no organismo da proteína da longevidade, não significam, evidentemente, a privação de alimentos. Caso significassem, os mais pobres entre os pobres da Terra teriam vidas longas, no mínimo centenárias, e não morreriam precocemente de doenças de fácil combate, que ceifam multidões, nos chamados Quarto e Terceiro Mundo. Alimentar-se bem é, portanto, questão de "qualidade", não de "quantidade".
No Brasil, a Worldwatch detectou que 36% da população já estão no time dos "gordinhos", ou seja, naquele grupo de risco, que precisa fechar, urgentemente (pelo menos um pouco mais), a boca, se não quiser morrer de forma repentina e prematura. É a justa punição da natureza para aqueles que participam do indecente e absurdo processo de exclusão, que nos faz duvidar da existência de uma genuína civilização no mundo, nesta véspera do terceiro milênio. Na África, por outro lado, há 150 milhões de crianças desnutridas, com seu desenvolvimento físico e mental seriamente comprometido, sob o risco de morrerem de inanição ou das seqüelas da subnutrição! O consolo está na conclusão de que dois terços da humanidade (a maioria, portanto) alimentam-se de forma adequada e saudável, de acordo com o referido estudo. Tomara que os extremos finalmente se toquem. E que a fome, esse flagelo filho do egoísmo e da injustiça social, seja, um dia, banida da face da Terra...É improvável, mas tomara que aconteça. A natureza faz a sua parte para promover esse equilíbrio. Falta o homem...
A natureza tem regras inflexíveis, gerais, válidas para absolutamente todos os seres vivos, que não podem ser burladas impunemente. Muitos até que tentam burlar. Contudo, quem se arrisca a passar por cima delas paga, invariavelmente, um preço, que não raro pode significar a perda prematura da vida. Nem tudo o que agrada os sentidos e nos dá prazer é saudável. Aliás, a maioria não é.
Lembro-me que um dos grandes sucessos de Roberto Carlos, nos anos 70, era uma canção cuja letra dizia, em determinado trecho: "...Porque tudo o que é bom é ilegal, imoral ou engorda" (talvez não seja literalmente isso o que escreveu o letrista, mas o sentido é esse). Pessoas de hábitos austeros, com alimentação frugal, dedicadas ao trabalho e ao raciocínio, parecem viver mais. Pareciam... Agora, já há prova concreta, baseada em estudos sérios e meticulosos, de que não se trata apenas de impressão, mas de certeza.
Estas considerações vêm a propósito de uma notícia, publicada pela imprensa, dando conta de que pesquisadores norte-americanos descobriram o tão desejado "elixir da longa vida". E o que isso tem a ver com as regras da natureza, ou com os hábitos alimentares (saudáveis ou não) das pessoas? Tem tudo!
Essa "fonte da juventude", que Ponce de Leon acreditava ter descoberto na Flórida, e que centenas de aventureiros procuraram em vão pelo mundo afora, não se situa em qualquer lugar remoto e perdido do Planeta, como muitos pensavam (e ainda podem pensar). Está em nosso organismo, no âmago das nossas células. Trata-se da proteína que os cientistas batizaram de "Sir2", responsável pela longevidade dos animais. E, por conseqüência, dos homens... É essa maravilhosa substância que impede a superutilização dos genes e, com isso, evita que as pontas dos cromossomas se desgastem, os preservando da degradação. Com isso, aumentam o tempo de vida dos que a possuem.
Até aí, tudo bem. Ocorre que essa mágica proteína só está presente no organismo das pessoas que se submetem a "regimes drásticos de alimentação". Em outras palavras, daqueles que, no dizer dos nossos avós, "comem para viver e não vivem para comer". Bem que se diz que não é apenas o peixe que "morre pela boca". E não é mesmo. Hoje, esses dois grupos (os que ingerem alimentos em quantidade muito maior do que a necessária e os que vegetam em permanente inanição) equivalem-se em quantidade. "E como sabemos disso?", perguntará o leitor céptico, que seja dado à prática da glutonaria. Mediante a divulgação, pela imprensa, de uma outra pesquisa, intitulada "A Epidemia Global da Má Nutrição", levada a efeito pelo Instituto Worldwatch dos Estados Unidos.
Os autores deste estudo concluíram que o número de pessoas desnutridas no mundo (famintas, na verdade), que é de 1,2 bilhão de indivíduos, é, por incrível coincidência, o mesmo que o de obesos (os que comem em demasia e alimentos inadequados). Portanto, fica claro que mais de um terço da humanidade (2,4 bilhões dos 6 bilhões de habitantes da Terra), não sabem (ou não podem) comer direito.
O primeiro grupo paga um preço intolerável pela gula do segundo. E este, por sua vez, paga o inflexível preço, cobrado pela natureza, pelos excessos que comete. Tudo, provavelmente, ficaria bem se ambos partilhassem os seus extremos. Ou seja, se os gulosos comessem menos e se a parte que deixassem de comer fosse destinada aos que não têm recursos para comprar a comida de que precisam. Essa possibilidade, contudo, não passa de utopia.
Os "regimes drásticos de alimentação", responsáveis pela existência no organismo da proteína da longevidade, não significam, evidentemente, a privação de alimentos. Caso significassem, os mais pobres entre os pobres da Terra teriam vidas longas, no mínimo centenárias, e não morreriam precocemente de doenças de fácil combate, que ceifam multidões, nos chamados Quarto e Terceiro Mundo. Alimentar-se bem é, portanto, questão de "qualidade", não de "quantidade".
No Brasil, a Worldwatch detectou que 36% da população já estão no time dos "gordinhos", ou seja, naquele grupo de risco, que precisa fechar, urgentemente (pelo menos um pouco mais), a boca, se não quiser morrer de forma repentina e prematura. É a justa punição da natureza para aqueles que participam do indecente e absurdo processo de exclusão, que nos faz duvidar da existência de uma genuína civilização no mundo, nesta véspera do terceiro milênio. Na África, por outro lado, há 150 milhões de crianças desnutridas, com seu desenvolvimento físico e mental seriamente comprometido, sob o risco de morrerem de inanição ou das seqüelas da subnutrição! O consolo está na conclusão de que dois terços da humanidade (a maioria, portanto) alimentam-se de forma adequada e saudável, de acordo com o referido estudo. Tomara que os extremos finalmente se toquem. E que a fome, esse flagelo filho do egoísmo e da injustiça social, seja, um dia, banida da face da Terra...É improvável, mas tomara que aconteça. A natureza faz a sua parte para promover esse equilíbrio. Falta o homem...
Thursday, February 09, 2006
Indivíduo e sociedade
Pedro J. Bondaczuk
O ser humano, individualmente, é um dos animais mais frágeis e desprotegidos, no aspecto físico, entre todos os que existem na natureza. Conta, é verdade, com instintos básicos, de preservação da vida, de perpetuação da espécie e outros tantos, que se desenvolvem, todavia, apenas com um par de anos após seu nascimento. Todos precisamos de alguém, por algum motivo, em todos os estágios da nossa vida, para sobrevivermos.
Nossos sentidos são muito mais frágeis do que os da maioria (para não dizer, totalidade) dos animais. Um cavalo, um bezerro, um leão etc., por exemplo, conseguem ficar de pé, por seus próprios meios, alguns minutos após o nascimento. E dão os primeiros passos logo a seguir, acompanhando a mãe. E nós?
Um bebê precisa de cerca de dois meses somente para se virar de lado, por seus próprios meios, no berço. E assim mesmo é preciso que se fique atento para impedir que ele sufoque. Senta-se aos quatro ou cinco meses e, só a partir daí, começa a engatinhar. Dá os primeiros e vacilantes passos, com o amparo dos pais, entre dez meses e um ano. Se nesse período fosse deixado sozinho, por sua conta e risco... certamente não sobreviveria.
Precisa ser ensinado de tudo, desde comer, a falar; desde como se livrar dos pequenos e grandes perigos, até sobre noções elementares, como o próximo, a família, a escola, a sociedade e o País. É um processo lento, vagaroso, de longo prazo, que exige completa atenção, paciência e amparo dos pais. Portanto, tem dependência absoluta de semelhantes que já se tenham desenvolvido.
Mesmo depois de adulto, o ser humano dificilmente sobreviveria sem a companhia de outros indivíduos da espécie. Precisa, pois, associar-se, pois ninguém é dotado de todos os talentos, de todas as habilidades e de todas as potencialidades que garantam a satisfação de suas necessidades (materiais e espirituais) e, por extensão, sua sobrevivência.
Em qualquer aspecto que se encare, quer físico, quer psicológico, quer emocional, pessoa algum sobreviveria se tivesse que se virar sozinha, só, por sua conta e risco. Santo Tomás de Aquino enquadrou os solitários (e ninguém o é por completo, frise-se) em três categorias: “excellentia naturae”, “corruptio naturae” e “mala fortuna”.
No primeiro caso, estariam os que optam livremente por um retiro, pelo isolamento, pelo afastamento da sociedade para meditação, livrando-se dos desejos materiais para se dedicar às coisas do espírito. Os segundos, seriam aqueles indivíduos tão corrompidos e daninhos, que precisariam ser banidos, para não ameaçar e nem prejudicar os outros. E os terceiros, seriam frutos da má sorte, com capacidade insuficiente para conquistar seu espaço no contexto social e que cairiam na indigência e, por isso, optariam (ou seriam forçados pelas circunstâncias) pelo isolamento.
A vida em sociedade, no entanto (e pensamos numa que seja ideal, justa e solidária, e não na real, nesta que aí está), inibe, quando não sufoca, a individualidade. Os interesses coletivos, que teoricamente ganham prevalência, não raro se chocam com os individuais. Apesar dos grupos haverem instituído regras, preceitos e leis reguladoras, a tão apregoada (e pouco praticada) igualdade de direitos e deveres, constante em todas as Constituições do mundo, é meramente retórica e há muito não passa de utopia.
Somos frutos da educação que recebemos, cujas diretrizes são determinadas pelos detentores do poder. Infelizmente, quer no lar, quer na escola, quer na sociedade, não somos educados para desenvolver e exercer plenamente nossas potencialidades, físicas, mentais e espirituais, mas meramente “adestrados” para determinadas tarefas que uma entidade abstrata, chamada Estado, nos determina.
Mesmo que não venhamos a nos dar conta, somos despersonalizados. Poucos se importam com nossas sensações e emoções pessoais, com nossas carências ou necessidades, e muito menos se sentimos fome, sede, dor, saudade, alegria, tristezas, iras etc. Somos tratados como ferramentas utilitárias de produção de bens e serviços, que podem ser descartadas a qualquer momento, tão logo percam a utilidade ou reduzam a produtividade ou quando os poderosos de plantão assim decidam.
Adam Smith alertou, no livro “A Riqueza das Nações”, que “nenhuma sociedade pode ser florescente e feliz se a grande maioria de seus membros for pobre ou miserável”. Poucas, todavia, pouquíssimas (diria, nenhuma), atingem esse grau de excelência. E mesmo as que conseguem se aproximar desse estágio ideal, contam com imensos contingentes de miseráveis, sem lugar para morar, sem roupa adequada para se aquecer, sem alimentos fartos e nutritivos para assegurar a saúde e a força etc.
Embora informalmente, os homens se dividem em castas. Há uma minoria que nada faz e tudo tem, em detrimento de uma imensa maioria, que tudo produz e, contudo, tem que se contentar com meras migalhas do produto do seu trabalho. Impera, na verdade, no mundo, a lei da selva, a do mais forte (e não necessariamente no aspecto físico).
Teoricamente, ao nascermos, todos firmamos um pacto tácito, tendo por procuradores os nossos pais, em que abrimos mão de parcela de nossos direitos individuais, em favor do coletivo. Na teoria isso até que soa bem. Mas na prática...Funciona? Claro que não!
Urge, caso se queira, de fato, fazer justiça (e esse suposto desejo, por enquanto, se limita só a palavras) que a maioria dos pretensos “sócios” (todos nós, sem exceção e nem distinção de sexo, raça, religião, posição social ou crença política) seja, de fato e de direito, integrada à “sociedade”, e tratada como tal, conquistando cidadania plena, pois este é o único caminho real para o desenvolvimento e até para a sobrevivência do que se convencionou chamar de civilização. Pôr isso em prática, todavia, é que são elas. Será que um dia o homem conseguirá?
O ser humano, individualmente, é um dos animais mais frágeis e desprotegidos, no aspecto físico, entre todos os que existem na natureza. Conta, é verdade, com instintos básicos, de preservação da vida, de perpetuação da espécie e outros tantos, que se desenvolvem, todavia, apenas com um par de anos após seu nascimento. Todos precisamos de alguém, por algum motivo, em todos os estágios da nossa vida, para sobrevivermos.
Nossos sentidos são muito mais frágeis do que os da maioria (para não dizer, totalidade) dos animais. Um cavalo, um bezerro, um leão etc., por exemplo, conseguem ficar de pé, por seus próprios meios, alguns minutos após o nascimento. E dão os primeiros passos logo a seguir, acompanhando a mãe. E nós?
Um bebê precisa de cerca de dois meses somente para se virar de lado, por seus próprios meios, no berço. E assim mesmo é preciso que se fique atento para impedir que ele sufoque. Senta-se aos quatro ou cinco meses e, só a partir daí, começa a engatinhar. Dá os primeiros e vacilantes passos, com o amparo dos pais, entre dez meses e um ano. Se nesse período fosse deixado sozinho, por sua conta e risco... certamente não sobreviveria.
Precisa ser ensinado de tudo, desde comer, a falar; desde como se livrar dos pequenos e grandes perigos, até sobre noções elementares, como o próximo, a família, a escola, a sociedade e o País. É um processo lento, vagaroso, de longo prazo, que exige completa atenção, paciência e amparo dos pais. Portanto, tem dependência absoluta de semelhantes que já se tenham desenvolvido.
Mesmo depois de adulto, o ser humano dificilmente sobreviveria sem a companhia de outros indivíduos da espécie. Precisa, pois, associar-se, pois ninguém é dotado de todos os talentos, de todas as habilidades e de todas as potencialidades que garantam a satisfação de suas necessidades (materiais e espirituais) e, por extensão, sua sobrevivência.
Em qualquer aspecto que se encare, quer físico, quer psicológico, quer emocional, pessoa algum sobreviveria se tivesse que se virar sozinha, só, por sua conta e risco. Santo Tomás de Aquino enquadrou os solitários (e ninguém o é por completo, frise-se) em três categorias: “excellentia naturae”, “corruptio naturae” e “mala fortuna”.
No primeiro caso, estariam os que optam livremente por um retiro, pelo isolamento, pelo afastamento da sociedade para meditação, livrando-se dos desejos materiais para se dedicar às coisas do espírito. Os segundos, seriam aqueles indivíduos tão corrompidos e daninhos, que precisariam ser banidos, para não ameaçar e nem prejudicar os outros. E os terceiros, seriam frutos da má sorte, com capacidade insuficiente para conquistar seu espaço no contexto social e que cairiam na indigência e, por isso, optariam (ou seriam forçados pelas circunstâncias) pelo isolamento.
A vida em sociedade, no entanto (e pensamos numa que seja ideal, justa e solidária, e não na real, nesta que aí está), inibe, quando não sufoca, a individualidade. Os interesses coletivos, que teoricamente ganham prevalência, não raro se chocam com os individuais. Apesar dos grupos haverem instituído regras, preceitos e leis reguladoras, a tão apregoada (e pouco praticada) igualdade de direitos e deveres, constante em todas as Constituições do mundo, é meramente retórica e há muito não passa de utopia.
Somos frutos da educação que recebemos, cujas diretrizes são determinadas pelos detentores do poder. Infelizmente, quer no lar, quer na escola, quer na sociedade, não somos educados para desenvolver e exercer plenamente nossas potencialidades, físicas, mentais e espirituais, mas meramente “adestrados” para determinadas tarefas que uma entidade abstrata, chamada Estado, nos determina.
Mesmo que não venhamos a nos dar conta, somos despersonalizados. Poucos se importam com nossas sensações e emoções pessoais, com nossas carências ou necessidades, e muito menos se sentimos fome, sede, dor, saudade, alegria, tristezas, iras etc. Somos tratados como ferramentas utilitárias de produção de bens e serviços, que podem ser descartadas a qualquer momento, tão logo percam a utilidade ou reduzam a produtividade ou quando os poderosos de plantão assim decidam.
Adam Smith alertou, no livro “A Riqueza das Nações”, que “nenhuma sociedade pode ser florescente e feliz se a grande maioria de seus membros for pobre ou miserável”. Poucas, todavia, pouquíssimas (diria, nenhuma), atingem esse grau de excelência. E mesmo as que conseguem se aproximar desse estágio ideal, contam com imensos contingentes de miseráveis, sem lugar para morar, sem roupa adequada para se aquecer, sem alimentos fartos e nutritivos para assegurar a saúde e a força etc.
Embora informalmente, os homens se dividem em castas. Há uma minoria que nada faz e tudo tem, em detrimento de uma imensa maioria, que tudo produz e, contudo, tem que se contentar com meras migalhas do produto do seu trabalho. Impera, na verdade, no mundo, a lei da selva, a do mais forte (e não necessariamente no aspecto físico).
Teoricamente, ao nascermos, todos firmamos um pacto tácito, tendo por procuradores os nossos pais, em que abrimos mão de parcela de nossos direitos individuais, em favor do coletivo. Na teoria isso até que soa bem. Mas na prática...Funciona? Claro que não!
Urge, caso se queira, de fato, fazer justiça (e esse suposto desejo, por enquanto, se limita só a palavras) que a maioria dos pretensos “sócios” (todos nós, sem exceção e nem distinção de sexo, raça, religião, posição social ou crença política) seja, de fato e de direito, integrada à “sociedade”, e tratada como tal, conquistando cidadania plena, pois este é o único caminho real para o desenvolvimento e até para a sobrevivência do que se convencionou chamar de civilização. Pôr isso em prática, todavia, é que são elas. Será que um dia o homem conseguirá?
Wednesday, February 08, 2006
Solidão a dois
Pedro J. Bondaczuk
A comunicação entre as pessoas é um dos exercícios mais freqüentes, indispensáveis e, no entanto, frustrantes do cotidiano. Nem sempre o que se diz é o que de fato se sente. Romances têm início, e também terminam, com base em equívocos, em erros de avaliação, em expressões e ações subjetivas, mesmo que pretendamos lhes dar a maior objetividade possível, ao tentarmos comunicar nossos pensamentos, emoções ou sentimentos.
Até os gestos mais espontâneos, inocentes e que não escondam nenhuma segunda intenção, correm o risco de serem mal-interpretados e nos trazerem aborrecimentos, não somente nos relacionamentos amorosos, mas no dia-a-dia. Palavras, por sua vez, são ambíguas, com sentidos muitas vezes bastante vagos, quando não opostos aos que pretendemos lhes emprestar, e mais complicam do que favorecem a genuína comunicação.
Quantas vezes, por exemplo, um elogio é interpretado como galhofa pelo nosso (ou pela nossa) interlocutor (ou interlocutora), gerando tensões, conflitos, rompimentos, quando não coisa pior! E a recíproca, claro, é verdadeira. Por isso, esse ato supremo de racionalidade é o que mais me fascina e foi o que determinou, inclusive, o meu rumo na vida, a minha atividade à qual dedico 24 horas por dia, a minha paixão e a minha profissão.
Escrevi, recentemente, uma crônica, em que tentei demonstrar o acerto do escritor francês André Malraux, que disse que integramos o que pode ser denominado de “a civilização da solidão”. Não, é claro, no sentido em que o termo é usualmente compreendido, ou seja, da falta de companhia, mas num outro mais profundo, intrínseco, espiritual: o de não sermos entendidos em nossas palavras, ações e, notadamente, intenções pelos que nos cercam ou que convivem conosco.
Creio que não há quem nunca não tenha se sentido só, absoluta e irremediavelmente só, mesmo caminhando em uma rua apinhada de gente de alguma gigantesca metrópole, ou num teatro superlotado, durante um show de música popular, ou num estádio de futebol, em dia de grande clássico ou em tantos outros lugares, caracterizados pelo grande afluxo de pessoas.
Há, porém, uma forma de solidão mais comum e muito mais incômoda e dolorosa. Não raro, ela deixa marcas profundas em nossa mente, tanto no consciente quanto, e principalmente, no subconsciente, e é causa de grande sofrimento, que não raro se transforma em complexos de inferioridade, neuroses, psicoses ou coisas piores. Tem motivado, inclusive, tragédias, como agressões físicas e/ou morais, assassinatos, suicídios etc. Refiro-me à chamada “solidão a dois”.
Todo relacionamento afetivo, que não objetive, somente, uma ocasional relação sexual, começa sob os melhores augúrios e expectativas. Principalmente quando achamos que encontramos o amor da nossa vida. Alguns conseguem, bem ou mal, expressar esse afeto, e receber reciprocidade. Nesses casos, a união se torna estável, cresce, se consolida e dura até que um dos parceiros venha a morrer. Outros se acomodam, assumem a postura de “donos” do seu par, ou experimentam aventuras extraconjugais que machucam e não raro sufocam e findam por matar o afeto, mas por questões familiares, mantêm, nominalmente, o casamento. Tornam-se infelizes (e geram infelicidade a quem juraram “amor eterno”). Instala-se, num relacionamento desse tipo, a terrível solidão a dois em que, fisicamente, os parceiros permanecem juntos. Mas psicológica e afetivamente...
Há casos e casos, todos com final infeliz. Existem pares, por exemplo, que mesmo se amando reciprocamente, não sabem expressar o que sentem. Findam por se separar, em meio a ressentimentos, mágoas, recriminações e surdo (mas onipresente) rancor mútuo.
E tudo por que? Por falta de diálogo. Pelo fato dos dois (ou de um deles pelo menos) se esquecerem que o amor é auto-doação mútua, total, irrestrita e permanente. Por não se darem conta que o relacionamento amoroso não se trata de mera transação, do tipo dá cá, toma lá. Por não entenderem que ele não é um jogo de interesses, não importa de que natureza, e que não implica em dominação e conseqüente servidão, mas exige absoluta igualdade, quer de comportamento, quer de sentimentos, entre os parceiros.
Quem raciocina de forma egoísta, julgando-se o centro do universo e, portanto, “senhor” da companheira (ou “senhora” do companheiro, claro), faz com que o relacionamento fique doentio, vicioso, asfixiante e assuma caráter de terrível instabilidade, mesmo que ambos se amem, genuína e sinceramente. Quem agir dessa forma, certamente irá conhecer as agruras e o terror da solidão a dois. Sua aposta, mesmo que não se dê conta ou que negue, será no fracasso.
Por isso, é de rara felicidade o que Vinícius de Moraes escreveu, em um dos seus antológicos e mais inspirados poemas, conhecido pela maioria. Ou seja, que “o amor é eterno... enquanto dura”. Para uns, adquire a durabilidade que se estende por toda a vida (e, quem sabe, além dela). Para outros...pode durar poucos anos, quando não meses, semanas ou mesmo alguns parcos dias.
A comunicação entre as pessoas é um dos exercícios mais freqüentes, indispensáveis e, no entanto, frustrantes do cotidiano. Nem sempre o que se diz é o que de fato se sente. Romances têm início, e também terminam, com base em equívocos, em erros de avaliação, em expressões e ações subjetivas, mesmo que pretendamos lhes dar a maior objetividade possível, ao tentarmos comunicar nossos pensamentos, emoções ou sentimentos.
Até os gestos mais espontâneos, inocentes e que não escondam nenhuma segunda intenção, correm o risco de serem mal-interpretados e nos trazerem aborrecimentos, não somente nos relacionamentos amorosos, mas no dia-a-dia. Palavras, por sua vez, são ambíguas, com sentidos muitas vezes bastante vagos, quando não opostos aos que pretendemos lhes emprestar, e mais complicam do que favorecem a genuína comunicação.
Quantas vezes, por exemplo, um elogio é interpretado como galhofa pelo nosso (ou pela nossa) interlocutor (ou interlocutora), gerando tensões, conflitos, rompimentos, quando não coisa pior! E a recíproca, claro, é verdadeira. Por isso, esse ato supremo de racionalidade é o que mais me fascina e foi o que determinou, inclusive, o meu rumo na vida, a minha atividade à qual dedico 24 horas por dia, a minha paixão e a minha profissão.
Escrevi, recentemente, uma crônica, em que tentei demonstrar o acerto do escritor francês André Malraux, que disse que integramos o que pode ser denominado de “a civilização da solidão”. Não, é claro, no sentido em que o termo é usualmente compreendido, ou seja, da falta de companhia, mas num outro mais profundo, intrínseco, espiritual: o de não sermos entendidos em nossas palavras, ações e, notadamente, intenções pelos que nos cercam ou que convivem conosco.
Creio que não há quem nunca não tenha se sentido só, absoluta e irremediavelmente só, mesmo caminhando em uma rua apinhada de gente de alguma gigantesca metrópole, ou num teatro superlotado, durante um show de música popular, ou num estádio de futebol, em dia de grande clássico ou em tantos outros lugares, caracterizados pelo grande afluxo de pessoas.
Há, porém, uma forma de solidão mais comum e muito mais incômoda e dolorosa. Não raro, ela deixa marcas profundas em nossa mente, tanto no consciente quanto, e principalmente, no subconsciente, e é causa de grande sofrimento, que não raro se transforma em complexos de inferioridade, neuroses, psicoses ou coisas piores. Tem motivado, inclusive, tragédias, como agressões físicas e/ou morais, assassinatos, suicídios etc. Refiro-me à chamada “solidão a dois”.
Todo relacionamento afetivo, que não objetive, somente, uma ocasional relação sexual, começa sob os melhores augúrios e expectativas. Principalmente quando achamos que encontramos o amor da nossa vida. Alguns conseguem, bem ou mal, expressar esse afeto, e receber reciprocidade. Nesses casos, a união se torna estável, cresce, se consolida e dura até que um dos parceiros venha a morrer. Outros se acomodam, assumem a postura de “donos” do seu par, ou experimentam aventuras extraconjugais que machucam e não raro sufocam e findam por matar o afeto, mas por questões familiares, mantêm, nominalmente, o casamento. Tornam-se infelizes (e geram infelicidade a quem juraram “amor eterno”). Instala-se, num relacionamento desse tipo, a terrível solidão a dois em que, fisicamente, os parceiros permanecem juntos. Mas psicológica e afetivamente...
Há casos e casos, todos com final infeliz. Existem pares, por exemplo, que mesmo se amando reciprocamente, não sabem expressar o que sentem. Findam por se separar, em meio a ressentimentos, mágoas, recriminações e surdo (mas onipresente) rancor mútuo.
E tudo por que? Por falta de diálogo. Pelo fato dos dois (ou de um deles pelo menos) se esquecerem que o amor é auto-doação mútua, total, irrestrita e permanente. Por não se darem conta que o relacionamento amoroso não se trata de mera transação, do tipo dá cá, toma lá. Por não entenderem que ele não é um jogo de interesses, não importa de que natureza, e que não implica em dominação e conseqüente servidão, mas exige absoluta igualdade, quer de comportamento, quer de sentimentos, entre os parceiros.
Quem raciocina de forma egoísta, julgando-se o centro do universo e, portanto, “senhor” da companheira (ou “senhora” do companheiro, claro), faz com que o relacionamento fique doentio, vicioso, asfixiante e assuma caráter de terrível instabilidade, mesmo que ambos se amem, genuína e sinceramente. Quem agir dessa forma, certamente irá conhecer as agruras e o terror da solidão a dois. Sua aposta, mesmo que não se dê conta ou que negue, será no fracasso.
Por isso, é de rara felicidade o que Vinícius de Moraes escreveu, em um dos seus antológicos e mais inspirados poemas, conhecido pela maioria. Ou seja, que “o amor é eterno... enquanto dura”. Para uns, adquire a durabilidade que se estende por toda a vida (e, quem sabe, além dela). Para outros...pode durar poucos anos, quando não meses, semanas ou mesmo alguns parcos dias.
Tuesday, February 07, 2006
A praça é do povo
Pedro J. Bondaczuk
As praças, nas grandes cidades brasileiras, vêm perdendo a função para a qual foram originalmente criadas. Ou seja, a de servirem de referências, de pontos de concentração do povo, onde as pessoas iam para se distrair, para reivindicar, para protestar, para rever amigos, para entabular namoros, etc. Atualmente, dada a violência urbana, esses locais se tornaram perigosos, especialmente à noite, e são cada vez menos freqüentados. Tornaram-se enormes calçadões, grandes espaços vazios, ilhados entre avenidas, por onde as pessoas apenas transitam, apressadas e distraídas e onde camelôs montam suas banquinhas e apregoam seus produtos. Pelo menos as de Campinas são assim. Há, claro, um ou outro aposentado que se arrisca a se sentar em seus bancos para apreciar o movimento ou ler calmamente seu jornal.
Mesmo estes corajosos (ou distraídos), todavia, escasseiam cada vez mais, muitos por terem passado por experiências traumatizantes, como assaltos em plena luz do dia. No período noturno...Nem é bom falar. Só os malucos se arriscam a freqüentá-las. Hoje, as praças (há exceções, claro), transformaram-se em pontos de traficantes e de viciados, de travestis e de prostitutas, em focos de vícios, de violência e conseqüentemente de perigo. Deixaram de ser do povo, para se tornar dos marginais. Em algumas cidades do interior elas ainda têm coretos, mas sem retretas. Estes lhes servem, somente, de bizarros ornamentos.
O tempo das bandinhas já passou, como o de tantas outras coisas boas que, por uma razão ou outra, foram abandonadas e substituídas por outras piores ou simplesmente esquecidas. Namoros já não começam nesses jardins. O chamado "footing" há tempos não existe mais e a moçada de hoje sequer sabe o que a palavra significa. Aliás, nem mesmo se namora hoje em dia, no sentido que a minha geração e as anteriores emprestavam a esse ritual de conquista. As regras tácitas nesse sentido estão completamente alteradas. A iniciativa, por exemplo, não cabe mais ao homem. Ou não a ele exclusivamente. E a dinâmica antiga, quando se levava uma eternidade para a ocorrência dos primeiros contatos físicos entre os casais, há muito deixou de existir. Atualmente, entre a apresentação e a cama é questão de horas, quando não de minutos.
Mas nosso tema não é bem este. Platão, em seus escritos, defendia que a população ideal de uma cidade era de 5.440 habitantes. Ou seja, o total de pessoas que preenchiam a principal praça de Atenas, tamanha era a importância que dava a esses locais. Era neles que os decretos dos governantes eram divulgados aos cidadãos, em um período em que as comunicações eram orais, diretas, boca-a-boca. Era ali que notícias sobre expedições militares vinham a público, dando conta dos sucessos e insucessos das guerras (que nunca faltavam) ou do que se passava em outras comunidades vizinhas ou países. Nesses lugares prestígios eram firmados ou derrubados. Poetas e menestréis divulgavam as suas obras ao povo. Reivindicações e reclamações populares ganhavam vida e consistência.
Castro Alves tem um poema célebre a respeito, (transformado em letra de uma musiquinha de Carnaval muito cantada na Bahia). Em certo trecho, o poeta acentua: "A praça! A praça é do povo/como o céu é do condor!/É o antro onde a liberdade/cria guias em seu calor./Senhor, pois quereis a praça?/Desgraçada a populaça!/Só tem a rua de seu.../Ninguém vos rouba os castelos,/tendo palácios tão belos.../Deixai a terra ao Anteu". Hoje, nem isso o povo possui. A não ser os pobres entre os pobres, os indigentes, os "humilhados e ofendidos", que fazem das praças seu lar.
Outro ponto a destacar é a ausência de monumentos exaltando os heróis populares. O rádio, inicialmente, e a televisão, de 1950 para cá, quando foi inaugurado o primeiro canal no País (a TV Tupi de São Paulo), criaram vários deles, entre cantores, atores, jogadores de futebol, etc. Ou seja, gente verdadeiramente ligada ao povo e amada por ele. No entanto, apenas "vultos" da história, muitos dos quais absolutamente desconhecidos para a atual geração, continuam merecendo estátuas e bustos de bronze nos locais públicos. A vontade popular não é respeitada sequer nesses lugares que teoricamente pertencem ao cidadão anônimo. Por isso, ninguém se identifica com as praças como ocorria há não muito tempo. Por essa razão elas perdem mais e mais suas funções. Afinal, são as pessoas humildes, e não os figurões, que fazem de fato a história e consagram ou derrubam reputações.
Faltam em nossas praças estátuas de uma Carmem Miranda, de um Chico Alves, de um Orlando Silva, de uma Ellis Regina, de um Garrincha, de um Heleno de Freitas, de um Ayrton Senna, de um Tom Jobim e de tantos outros brasileiros, que com seu talento e suas vidas, bem ou mal, ajudaram a erigir a cultura e o esporte deste País. Já é tempo dos governantes entenderem que para a população, os verdadeiros heróis não são os que fazem a guerra, mas os que promovem e consolidam a paz.
As praças, nas grandes cidades brasileiras, vêm perdendo a função para a qual foram originalmente criadas. Ou seja, a de servirem de referências, de pontos de concentração do povo, onde as pessoas iam para se distrair, para reivindicar, para protestar, para rever amigos, para entabular namoros, etc. Atualmente, dada a violência urbana, esses locais se tornaram perigosos, especialmente à noite, e são cada vez menos freqüentados. Tornaram-se enormes calçadões, grandes espaços vazios, ilhados entre avenidas, por onde as pessoas apenas transitam, apressadas e distraídas e onde camelôs montam suas banquinhas e apregoam seus produtos. Pelo menos as de Campinas são assim. Há, claro, um ou outro aposentado que se arrisca a se sentar em seus bancos para apreciar o movimento ou ler calmamente seu jornal.
Mesmo estes corajosos (ou distraídos), todavia, escasseiam cada vez mais, muitos por terem passado por experiências traumatizantes, como assaltos em plena luz do dia. No período noturno...Nem é bom falar. Só os malucos se arriscam a freqüentá-las. Hoje, as praças (há exceções, claro), transformaram-se em pontos de traficantes e de viciados, de travestis e de prostitutas, em focos de vícios, de violência e conseqüentemente de perigo. Deixaram de ser do povo, para se tornar dos marginais. Em algumas cidades do interior elas ainda têm coretos, mas sem retretas. Estes lhes servem, somente, de bizarros ornamentos.
O tempo das bandinhas já passou, como o de tantas outras coisas boas que, por uma razão ou outra, foram abandonadas e substituídas por outras piores ou simplesmente esquecidas. Namoros já não começam nesses jardins. O chamado "footing" há tempos não existe mais e a moçada de hoje sequer sabe o que a palavra significa. Aliás, nem mesmo se namora hoje em dia, no sentido que a minha geração e as anteriores emprestavam a esse ritual de conquista. As regras tácitas nesse sentido estão completamente alteradas. A iniciativa, por exemplo, não cabe mais ao homem. Ou não a ele exclusivamente. E a dinâmica antiga, quando se levava uma eternidade para a ocorrência dos primeiros contatos físicos entre os casais, há muito deixou de existir. Atualmente, entre a apresentação e a cama é questão de horas, quando não de minutos.
Mas nosso tema não é bem este. Platão, em seus escritos, defendia que a população ideal de uma cidade era de 5.440 habitantes. Ou seja, o total de pessoas que preenchiam a principal praça de Atenas, tamanha era a importância que dava a esses locais. Era neles que os decretos dos governantes eram divulgados aos cidadãos, em um período em que as comunicações eram orais, diretas, boca-a-boca. Era ali que notícias sobre expedições militares vinham a público, dando conta dos sucessos e insucessos das guerras (que nunca faltavam) ou do que se passava em outras comunidades vizinhas ou países. Nesses lugares prestígios eram firmados ou derrubados. Poetas e menestréis divulgavam as suas obras ao povo. Reivindicações e reclamações populares ganhavam vida e consistência.
Castro Alves tem um poema célebre a respeito, (transformado em letra de uma musiquinha de Carnaval muito cantada na Bahia). Em certo trecho, o poeta acentua: "A praça! A praça é do povo/como o céu é do condor!/É o antro onde a liberdade/cria guias em seu calor./Senhor, pois quereis a praça?/Desgraçada a populaça!/Só tem a rua de seu.../Ninguém vos rouba os castelos,/tendo palácios tão belos.../Deixai a terra ao Anteu". Hoje, nem isso o povo possui. A não ser os pobres entre os pobres, os indigentes, os "humilhados e ofendidos", que fazem das praças seu lar.
Outro ponto a destacar é a ausência de monumentos exaltando os heróis populares. O rádio, inicialmente, e a televisão, de 1950 para cá, quando foi inaugurado o primeiro canal no País (a TV Tupi de São Paulo), criaram vários deles, entre cantores, atores, jogadores de futebol, etc. Ou seja, gente verdadeiramente ligada ao povo e amada por ele. No entanto, apenas "vultos" da história, muitos dos quais absolutamente desconhecidos para a atual geração, continuam merecendo estátuas e bustos de bronze nos locais públicos. A vontade popular não é respeitada sequer nesses lugares que teoricamente pertencem ao cidadão anônimo. Por isso, ninguém se identifica com as praças como ocorria há não muito tempo. Por essa razão elas perdem mais e mais suas funções. Afinal, são as pessoas humildes, e não os figurões, que fazem de fato a história e consagram ou derrubam reputações.
Faltam em nossas praças estátuas de uma Carmem Miranda, de um Chico Alves, de um Orlando Silva, de uma Ellis Regina, de um Garrincha, de um Heleno de Freitas, de um Ayrton Senna, de um Tom Jobim e de tantos outros brasileiros, que com seu talento e suas vidas, bem ou mal, ajudaram a erigir a cultura e o esporte deste País. Já é tempo dos governantes entenderem que para a população, os verdadeiros heróis não são os que fazem a guerra, mas os que promovem e consolidam a paz.
Monday, February 06, 2006
Sem medo da vida
Pedro J. Bondaczuk
Todas as coisas, na vida, como já dizia Eclesiastes, têm o seu tempo certo. Inclusive as que escapam à nossa competência, como o nascer e o morrer... É necessário que tenhamos uma postura de permanente participação, sempre, a cada momento, enquanto tenhamos um sopro vital, por menor que seja, e nunca se restringir à mera contemplação. Individualmente, não somos nada.
Poucos animais na natureza são, fisicamente, mais dependentes do que o homem. Mas nenhum opera as maravilhas de que ele é capaz, quando se prepara adequadamente e quando manifesta sua vontade e suas aptidões através de atos. É tolice esse mito da juventude, de que esta seja a fase mais criativa e produtiva da vida.
Até se explica essa postura, que não foi, de forma alguma, imposta pelos jovens. Ocorre que em certa fase da vida brasileira, a taxa de natalidade por aqui era muito elevada. O País era um dos que tinham o maior contingente mundial de pessoas entre zero e 21 anos, que chegou a representar, em determinado período, de 70% a 75% do total da população. Os homens de negócio viram nesse mercado enorme um bom filão para auferir grandes lucros. E com razão. Do resto, a propaganda e a publicidade se encarregaram..."Business", como diriam os norte-americanos...
Com isso, criaram-se modas e modismos voltados exclusivamente, ou quase, para essa faixa de brasileiros. Ocorre que esses jovens cresceram, amadureceram e inverteram o perfil etário do Brasil. Hoje, o patamar dos idosos é o que mais cresce. E crescerá muito mais nos anos vindouros. Logo, estejam certos, a indústria e o comércio vão atentar para esse fenômeno. E toda a propaganda e publicidade estarão voltadas (e a inversão já está começando) para os cidadãos de maduros para velhos, que eufemisticamente são chamados de integrantes da "3ª idade".
Assim é a vida. Cada fase dela tem suas vantagens e desvantagens. E mesmo que não tivesse, o controle do processo de envelhecimento não está em mãos humanas. É um ciclo biológico inevitável. De nada adiante se rebelar contra ele.
O Marquês de Maricá, conhecido por seus aforismos, citados em profusão nos antigos almanaques de laboratórios – hoje desaparecidos – tem um que fala a esse respeito. Diz: "Os velhos ruminam o pretérito, os moços antecipam e devoram o futuro". Tanto um, quanto o outro, estão errados. Ambos deveriam viver o aqui e o agora na sua plenitude. Ruminar o passado não o traz de volta e é, portanto, perda de tempo, que poderia ser melhor utilizado para coisas úteis, como por exemplo, para construir, a cada dia, um novo instante de felicidade. Antecipar o que é meramente potencial, por sua vez, é uma forma de apressar a velhice.
Um fruto, por mais saboroso que seja, só é saudável e próprio para o consumo quando está no ponto certo. Verde, amarra a boca. Podre... Assim também é a vida. E, igualmente, o que se entende por poder. Para que não seja simples miragem, este precisa de um período de maturação. O escritor, principalmente, deve ser sempre atemporal. Não pode, sob pena de fracassar, voltar suas mensagens apenas para pessoas de sua própria faixa etária. Tem que escrever para todo o tipo de leitor. Quanto maior a quantidade, tanto melhor. Terá mais "poder" para a difusão de idéias. Deve, sobretudo, compreender o comportamento dos indivíduos em cada etapa de sua vida, e nas variadas formas existentes, para incorporar em seus personagens e dessa forma dar-lhes verossimilhança. E em que parâmetro se basear? Na observação e, sobretudo, na memória. Deve recorrer à lembrança de como se comportava em cada idade pela qual passou.
Honoré de Balzac, profundo conhecedor da alma, sentenciou: "Todo poder humano é um misto de paciência e tempo". Claro que a juventude é fascinante, quando quem está nela tem as condições ideais de saúde, ambiente e educação. Quando conta com uma família esclarecida, que lhe balize o caminho a seguir. Mas é repleta de armadilhas e sobressaltos. É cheia de espinhos e sofrimentos, de perplexidade e de abandono quando não se tem nada disso. Os meninos de rua brasileiros (e de outras partes carentes do mundo) que o digam... Guimarães Rosa escreveu: "...Juventude? É uma maravilha. A juventude é quase tudo. É a humanidade, é a esperança recomeçando". De fato, é tudo isso. Mas para a burguesia. Para as classes alta e média. Generalizar essa "maravilha" não passa de alienação.
Mas seja qual for a nossa idade ou nossa condição social, a postura que tivermos face à vida vai contar muito para nosso sucesso ou fracasso, para nossa alegria ou tristeza, para nossa vitória ou frustração. Essa é uma tarefa solitária que apenas nós mesmos poderemos exercer. De pouca valia têm os conselhos, se não nos conscientizarmos daquilo que é o melhor para nós. Egon Krenz, um dos últimos líderes da extinta Alemanha Oriental, em pronunciamento que fez em 18 de janeiro de 1989, disse uma coisa muito importante a esse respeito. Observou: "Precisamos reconhecer os sinais do tempo e reagir, do contrário seremos punidos pela vida. Só correm perigo os que temem a vida". Não a temamos, portanto. Livremo-nos desse risco. Bebamos desse cálice milagroso até a derradeira gota...
Todas as coisas, na vida, como já dizia Eclesiastes, têm o seu tempo certo. Inclusive as que escapam à nossa competência, como o nascer e o morrer... É necessário que tenhamos uma postura de permanente participação, sempre, a cada momento, enquanto tenhamos um sopro vital, por menor que seja, e nunca se restringir à mera contemplação. Individualmente, não somos nada.
Poucos animais na natureza são, fisicamente, mais dependentes do que o homem. Mas nenhum opera as maravilhas de que ele é capaz, quando se prepara adequadamente e quando manifesta sua vontade e suas aptidões através de atos. É tolice esse mito da juventude, de que esta seja a fase mais criativa e produtiva da vida.
Até se explica essa postura, que não foi, de forma alguma, imposta pelos jovens. Ocorre que em certa fase da vida brasileira, a taxa de natalidade por aqui era muito elevada. O País era um dos que tinham o maior contingente mundial de pessoas entre zero e 21 anos, que chegou a representar, em determinado período, de 70% a 75% do total da população. Os homens de negócio viram nesse mercado enorme um bom filão para auferir grandes lucros. E com razão. Do resto, a propaganda e a publicidade se encarregaram..."Business", como diriam os norte-americanos...
Com isso, criaram-se modas e modismos voltados exclusivamente, ou quase, para essa faixa de brasileiros. Ocorre que esses jovens cresceram, amadureceram e inverteram o perfil etário do Brasil. Hoje, o patamar dos idosos é o que mais cresce. E crescerá muito mais nos anos vindouros. Logo, estejam certos, a indústria e o comércio vão atentar para esse fenômeno. E toda a propaganda e publicidade estarão voltadas (e a inversão já está começando) para os cidadãos de maduros para velhos, que eufemisticamente são chamados de integrantes da "3ª idade".
Assim é a vida. Cada fase dela tem suas vantagens e desvantagens. E mesmo que não tivesse, o controle do processo de envelhecimento não está em mãos humanas. É um ciclo biológico inevitável. De nada adiante se rebelar contra ele.
O Marquês de Maricá, conhecido por seus aforismos, citados em profusão nos antigos almanaques de laboratórios – hoje desaparecidos – tem um que fala a esse respeito. Diz: "Os velhos ruminam o pretérito, os moços antecipam e devoram o futuro". Tanto um, quanto o outro, estão errados. Ambos deveriam viver o aqui e o agora na sua plenitude. Ruminar o passado não o traz de volta e é, portanto, perda de tempo, que poderia ser melhor utilizado para coisas úteis, como por exemplo, para construir, a cada dia, um novo instante de felicidade. Antecipar o que é meramente potencial, por sua vez, é uma forma de apressar a velhice.
Um fruto, por mais saboroso que seja, só é saudável e próprio para o consumo quando está no ponto certo. Verde, amarra a boca. Podre... Assim também é a vida. E, igualmente, o que se entende por poder. Para que não seja simples miragem, este precisa de um período de maturação. O escritor, principalmente, deve ser sempre atemporal. Não pode, sob pena de fracassar, voltar suas mensagens apenas para pessoas de sua própria faixa etária. Tem que escrever para todo o tipo de leitor. Quanto maior a quantidade, tanto melhor. Terá mais "poder" para a difusão de idéias. Deve, sobretudo, compreender o comportamento dos indivíduos em cada etapa de sua vida, e nas variadas formas existentes, para incorporar em seus personagens e dessa forma dar-lhes verossimilhança. E em que parâmetro se basear? Na observação e, sobretudo, na memória. Deve recorrer à lembrança de como se comportava em cada idade pela qual passou.
Honoré de Balzac, profundo conhecedor da alma, sentenciou: "Todo poder humano é um misto de paciência e tempo". Claro que a juventude é fascinante, quando quem está nela tem as condições ideais de saúde, ambiente e educação. Quando conta com uma família esclarecida, que lhe balize o caminho a seguir. Mas é repleta de armadilhas e sobressaltos. É cheia de espinhos e sofrimentos, de perplexidade e de abandono quando não se tem nada disso. Os meninos de rua brasileiros (e de outras partes carentes do mundo) que o digam... Guimarães Rosa escreveu: "...Juventude? É uma maravilha. A juventude é quase tudo. É a humanidade, é a esperança recomeçando". De fato, é tudo isso. Mas para a burguesia. Para as classes alta e média. Generalizar essa "maravilha" não passa de alienação.
Mas seja qual for a nossa idade ou nossa condição social, a postura que tivermos face à vida vai contar muito para nosso sucesso ou fracasso, para nossa alegria ou tristeza, para nossa vitória ou frustração. Essa é uma tarefa solitária que apenas nós mesmos poderemos exercer. De pouca valia têm os conselhos, se não nos conscientizarmos daquilo que é o melhor para nós. Egon Krenz, um dos últimos líderes da extinta Alemanha Oriental, em pronunciamento que fez em 18 de janeiro de 1989, disse uma coisa muito importante a esse respeito. Observou: "Precisamos reconhecer os sinais do tempo e reagir, do contrário seremos punidos pela vida. Só correm perigo os que temem a vida". Não a temamos, portanto. Livremo-nos desse risco. Bebamos desse cálice milagroso até a derradeira gota...
Sunday, February 05, 2006
Civilização da solidão
Pedro J. Bondaczuk
Os tempos atuais são caracterizados, entre outras tantas coisas, por uma profunda solidão, que se abate sobre grandes contingentes de pessoas, gerando infelicidade, carências afetivas, neuroses, depressão e outros males psíquicos e físicos.
“Mas como?!”, perguntará, admirado, o atento leitor, como que duvidando da sanidade do cronista. “Afinal, já somos mais de 6,3 bilhões de tripulantes na espaçonave Terra e, atualmente, nascem mais de três bebês por segundo em todo o mundo”, dirá, com convicção, o mais bem-informado, como se apresentasse um argumento decisivo, que pusesse fim à conversa.
De fato, é o que ocorre. “Ademais”, acrescentará, “os meios de comunicação são cada vez mais sofisticados, aproximando pessoas de todos os continentes; como os jornais e revistas que se multiplicam pelo mundo afora; os computadores, cada vez mais rápidos, simples e popularizados; o rádio e a televisão, onipresentes em nosso dia-a-dia; e o telefone celular, que permite a qualquer um falar diretamente com milhões de interlocutores, estejam onde estiverem”.
Isto, é fato, não há como negar. Desde que acordamos, até o momento de nos recolhermos de novo, para dormir, mantemos contatos diretos e/ou indiretos com dezenas, centenas e, não raro, com milhares de pessoas em nosso convívio, quer familiar, quer profissional, quer social. Ainda assim...sem que na maioria das vezes venhamos a nos dar conta, estamos, de fato, real e irremediavelmente sós.
Tanto que o escritor francês André Malraux (1901-1976), especializado em assuntos políticos, de comportamento e de cultura (em 1959 assumiu o então recém-criado Ministério das Questões Culturais no governo do general Charles De Gaulle), assegurou, do alto da sua experiência e conhecimento, que de fato integramos “a civilização da solidão”.
As comunicações que mantemos em nosso cotidiano raramente são pessoais, íntimas e intensas. Caracterizam-se, em geral, pelo formalismo, pela impessoalidade, pela frieza e pela formalidade. Parecem atos, gestos e palavras ensaiados, como se estivéssemos representando uma peça teatral num palco. E, de fato, estamos, mesmo que não saibamos ou não admitamos.
Raros se preocupam, de verdade, com o que o interlocutor é, com o que pensa e, principalmente, com o que sente. E a recíproca é verdadeira. Poucas vezes temos a oportunidade (e a confiança suficiente), para abrirmos, de fato, nossos corações a alguém, até mesmo aos cônjuges ou aos pais, para expressarmos, sem pudor, sem freios e nem restrições, nossas angústias, carências, temores, fraquezas e idéias. Em geral mostramos o que não somos e o que não pensamos, por medo de críticas e recriminações. Felizes os que encontram um ouvido generoso ou um ombro amigo e acolhedor para as suas confidências
Não raro, vivemos anos sob o mesmo teto com um punhado de pessoas sem que nos conheçamos, de fato, naquilo que realmente importa. Por isso, embora residindo em superpovoadas concentrações urbanas, algumas com populações equivalentes à de países (São Paulo, por exemplo, tem uma vez e meia o número de habitantes de Portugal), apesar de termos nosso espaço vital cada vez mais restrito e encolhido e da privacidade ter se tornado, literalmente, uma impossibilidade, somos, ou pelo menos nos sentimos, cada vez mais sós. Irremediavelmente sós!
Ademais, sem que sequer nos apercebamos, nos vemos coagidos a abrir mão da nossa individualidade, dos nossos gostos, do nosso jeito de ser, induzidos, sutilmente (pelo que se convencionou chamar de “educação”), quando não coagidos, à massificação. Concordemos ou não, temos que nos enquadrar em determinado sistema, ideológico, político, econômico, religioso e/ou social. Somos forçados a aderir ao que se convencionou chamar de “moda”, que nos impõe o que e como se vestir, que tipo de alimento consumir, que espécie de lazer praticar e, até mesmo, como amar uma pessoa.
Experimente, por exemplo, caro leitor, sair à rua trajando fraque, cartola e usando um pince-nez. A primeira interpretação de quem o vir com esses trajes será a de que você está vestido para um baile de fantasias, principalmente se for tempo de Carnaval, ou para participar, como ator, de alguma peça de teatro. Mesmo que você aprecie esse traje, portanto, jamais o usará no dia-a-dia, a menos que não se importe de se expor ao ridículo.
Esta civilização, como assinalou Malraux, separa inflexivelmente, de todas as anteriores, “a posse dos gestos humanos”. Massa. Temos que nos enquadrar na massa, mesmo que não concordemos com o que nos for imposto. Ou nos enquadramos, ou nos tornamos marginais, discriminados e, quem sabe, confinados num manicômio, como loucos perigosos.
Eminentes filósofos, como Aristóteles e Santo Tomás de Aquino, afirmaram que o homem jamais está, de fato, só e que nunca deve ficar, já que é um animal basicamente social, sobretudo político. A solidão, todavia, pode ter dupla interpretação. Do ponto de vista físico, num mundo com mais de 6,3 bilhões de habitantes, não há, de fato, como estar sozinho. Todavia, espiritualmente...Se levarmos em conta nossas diferenças de gostos, de sentimentos e de emoções, o processo genuíno de comunicação, salvo exceções, torna-se quase que mera abstração. Não somos entendidos e, em contrapartida, não entendemos os que nos cercam. E nos sentimos irremediavelmente sós...
Os tempos atuais são caracterizados, entre outras tantas coisas, por uma profunda solidão, que se abate sobre grandes contingentes de pessoas, gerando infelicidade, carências afetivas, neuroses, depressão e outros males psíquicos e físicos.
“Mas como?!”, perguntará, admirado, o atento leitor, como que duvidando da sanidade do cronista. “Afinal, já somos mais de 6,3 bilhões de tripulantes na espaçonave Terra e, atualmente, nascem mais de três bebês por segundo em todo o mundo”, dirá, com convicção, o mais bem-informado, como se apresentasse um argumento decisivo, que pusesse fim à conversa.
De fato, é o que ocorre. “Ademais”, acrescentará, “os meios de comunicação são cada vez mais sofisticados, aproximando pessoas de todos os continentes; como os jornais e revistas que se multiplicam pelo mundo afora; os computadores, cada vez mais rápidos, simples e popularizados; o rádio e a televisão, onipresentes em nosso dia-a-dia; e o telefone celular, que permite a qualquer um falar diretamente com milhões de interlocutores, estejam onde estiverem”.
Isto, é fato, não há como negar. Desde que acordamos, até o momento de nos recolhermos de novo, para dormir, mantemos contatos diretos e/ou indiretos com dezenas, centenas e, não raro, com milhares de pessoas em nosso convívio, quer familiar, quer profissional, quer social. Ainda assim...sem que na maioria das vezes venhamos a nos dar conta, estamos, de fato, real e irremediavelmente sós.
Tanto que o escritor francês André Malraux (1901-1976), especializado em assuntos políticos, de comportamento e de cultura (em 1959 assumiu o então recém-criado Ministério das Questões Culturais no governo do general Charles De Gaulle), assegurou, do alto da sua experiência e conhecimento, que de fato integramos “a civilização da solidão”.
As comunicações que mantemos em nosso cotidiano raramente são pessoais, íntimas e intensas. Caracterizam-se, em geral, pelo formalismo, pela impessoalidade, pela frieza e pela formalidade. Parecem atos, gestos e palavras ensaiados, como se estivéssemos representando uma peça teatral num palco. E, de fato, estamos, mesmo que não saibamos ou não admitamos.
Raros se preocupam, de verdade, com o que o interlocutor é, com o que pensa e, principalmente, com o que sente. E a recíproca é verdadeira. Poucas vezes temos a oportunidade (e a confiança suficiente), para abrirmos, de fato, nossos corações a alguém, até mesmo aos cônjuges ou aos pais, para expressarmos, sem pudor, sem freios e nem restrições, nossas angústias, carências, temores, fraquezas e idéias. Em geral mostramos o que não somos e o que não pensamos, por medo de críticas e recriminações. Felizes os que encontram um ouvido generoso ou um ombro amigo e acolhedor para as suas confidências
Não raro, vivemos anos sob o mesmo teto com um punhado de pessoas sem que nos conheçamos, de fato, naquilo que realmente importa. Por isso, embora residindo em superpovoadas concentrações urbanas, algumas com populações equivalentes à de países (São Paulo, por exemplo, tem uma vez e meia o número de habitantes de Portugal), apesar de termos nosso espaço vital cada vez mais restrito e encolhido e da privacidade ter se tornado, literalmente, uma impossibilidade, somos, ou pelo menos nos sentimos, cada vez mais sós. Irremediavelmente sós!
Ademais, sem que sequer nos apercebamos, nos vemos coagidos a abrir mão da nossa individualidade, dos nossos gostos, do nosso jeito de ser, induzidos, sutilmente (pelo que se convencionou chamar de “educação”), quando não coagidos, à massificação. Concordemos ou não, temos que nos enquadrar em determinado sistema, ideológico, político, econômico, religioso e/ou social. Somos forçados a aderir ao que se convencionou chamar de “moda”, que nos impõe o que e como se vestir, que tipo de alimento consumir, que espécie de lazer praticar e, até mesmo, como amar uma pessoa.
Experimente, por exemplo, caro leitor, sair à rua trajando fraque, cartola e usando um pince-nez. A primeira interpretação de quem o vir com esses trajes será a de que você está vestido para um baile de fantasias, principalmente se for tempo de Carnaval, ou para participar, como ator, de alguma peça de teatro. Mesmo que você aprecie esse traje, portanto, jamais o usará no dia-a-dia, a menos que não se importe de se expor ao ridículo.
Esta civilização, como assinalou Malraux, separa inflexivelmente, de todas as anteriores, “a posse dos gestos humanos”. Massa. Temos que nos enquadrar na massa, mesmo que não concordemos com o que nos for imposto. Ou nos enquadramos, ou nos tornamos marginais, discriminados e, quem sabe, confinados num manicômio, como loucos perigosos.
Eminentes filósofos, como Aristóteles e Santo Tomás de Aquino, afirmaram que o homem jamais está, de fato, só e que nunca deve ficar, já que é um animal basicamente social, sobretudo político. A solidão, todavia, pode ter dupla interpretação. Do ponto de vista físico, num mundo com mais de 6,3 bilhões de habitantes, não há, de fato, como estar sozinho. Todavia, espiritualmente...Se levarmos em conta nossas diferenças de gostos, de sentimentos e de emoções, o processo genuíno de comunicação, salvo exceções, torna-se quase que mera abstração. Não somos entendidos e, em contrapartida, não entendemos os que nos cercam. E nos sentimos irremediavelmente sós...
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