Pedro J. Bondaczuk
A tradição esotérica diz que a humanidade já atingiu, por dez ou doze vezes ao longo do tempo, o ápice da civilização e retroagiu às cavernas, em conseqüência de catástrofes provocadas pela ganância, pela insensatez e, sobretudo, pela estupidez do homem. O cinema tem explorado muito essa possibilidade. Filmes como o “Planeta dos Macacos”, por exemplo, abordaram, posto que de maneira superficial, esse tipo de hipótese ou de fantasia, sei lá.
Está provado, cientificamente, que as grandes hecatombes aterrorizam de tal forma as pessoas nelas envolvidas, que ocorre uma espécie de amnésia coletiva entre os que conseguem sobreviver a elas. O instinto de sobrevivência sobrepõe-se a todos os valores, quer sejam éticos, morai, legais ou comportamentais. E a parte animal do ser humano prevalece, invariavelmente, sobre a razão, em detrimento desta.
Mitos? Lendas? Pode ser! Mas pode ser que não sejam. Não há como provar nem uma coisa e nem outra. O mais provável é que descrições de algumas dessas civilizações extintas, feitas por poetas, por escritores, por místicos ou por filósofos (como a da Atlântida, descrita por Platão, com base em supostos relatos feitos por um sacerdote egípcio ao líder ateniense Solon), sejam resquícios de memória coletiva adormecidos, que emergem na mente de indivíduos superiormente dotados.
Há muitos deles no mundo atual, como que escondidos, temendo falar sobre o que sabem, com receio de exposição ao ridículo. Essas pessoas, porém, têm uma responsabilidade muito grande, pelo fato de terem uma acuidade mental privilegiada. Compete-lhes guiar as massas pelos caminhos da virtude e do bem, para impedir que um novo ciclo civilizatório (o atual), em iminente perigo, se encerre abruptamente, com outra catástrofe, provavelmente nuclear. E que tudo tenha que começar de novo, virtualmente do “zero”, penosamente, por longos milênios a fio, como que num "moto perpétuo" de evolução espiritual e material e profundo e abrupto retrocesso.
O novelista espanhol, Fernando Sanchez Dragó, observa a este propósito: "Há uma determinada classe de seres humanos que são portadores da chama, por assim dizer, que formam uma confraria universal acima das idéias, acima das fronteiras; pessoas que, sem se conhecerem se reconhecem quando se vêem...e são os que se salvarão, os que estão preparados para viver, são os Noés, por assim dizer, que levam toda sua vida construindo uma arca e essas pessoas são convocadas a erigir um novo mundo".
Considero jornalistas (alguns), pelo nível de informação e de consciência que a atividade que exercem os obriga a alcançar, como sendo membros dessa “confraria da clandestinidade”, como a denomina Dragó, dessa casta especial de homens esclarecidos, desses “Noés” contemporâneos. A maioria, porém, abre mão dessa prerrogativa. Opta por exercer sua função de forma preguiçosa, convencional e burocrática, quando não arrogante. E estes, infelizmente, são os que levam vantagem nas redações e fazem estragos imensos, mesmo que não pretendam conscientemente isso.
A quanta informação fundamental, por exemplo, vedada à grande maioria das pessoas, eles têm acesso, sem que ao menos a tentem transmitir à população! É certo que, via de regra, sofrem coação – não raro da direção das empresas a que estão vinculados – para que omitam determinadas denúncias, que não deveriam omitir. Para preservar o emprego, todavia, submetem-se docilmente. Satisfazem, dessa forma, os interesses de quem os paga, em detrimento daqueles a que (pretensamente) se dispuseram a servir: o público.
Assim, muita coisa que poderia (e deveria) ser evitada, acaba não sendo. Guerras que poderiam morrer no nascedouro (como a do Iraque), merecedoras do repúdio generalizado (como todas, por sinal) por sua inutilidade e perversidade, acabam sendo aceitas passivamente, por uma população mal informada e desinteressada, e até apoiadas por ela, mesmo que “beneficiem” somente à poderosa indústria de armamentos, de olho apenas em lucros, não importa a que preço.
Esses jornalistas, convocados a erigir um novo e maravilhoso mundo, que por uma razão ou por outra abrem mão dessa convocação, contribuem, com sua omissão (para não dizer covardia), para que os riscos se multipliquem. Que tal se pelo menos aproveitassem o que já está feito e tentassem melhorar o que aí está?!
Que tal se buscassem – mas sinceramente, e com todo o empenho – mudar o coração dos tiranos, dos néscios, dos arrogantes, dos alienados, dos violentos, dos obcecados pela cobiça e dos ignorantes, para que a catástrofe não sobreviesse e a civilização, em vez de morrer, e dos sobreviventes (caso haja, é claro), em vez de terem de recomeçar do zero, aperfeiçoassem o que já existe, e erigissem sociedades justas, harmoniosas e equilibradas?! Utopia? Pelo que se vê hoje em dia, sem dúvida alguma! Mas poderia não ser!
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