Saturday, December 03, 2005

O Escrevinhador

O Escrevinhador
Este poema escrevi em março de 1981 e quero compartilhar com vocês.

Por uma identidade


João queria revolucionar
o mercado inflacionário do sonho.
Resolveu que iria comprar
com seu parco salário-mínimo
um mundo encantado para Maria.
Um planeta inteiro, onde
milhares de girassóis dourados
iluminariam os dias oníricos
e as girândolas, como carrosséis
coloridos, seriam as estrelas noturnas

Compraria um vestido de seda
fiado na roca da vontade,
tingido com a mais pura púrpura
de um contido bem-querer
em que as formas de Maria
seriam realçadas. Sem as
estrias roxas das varizes
nas suas pernas fortes,
de canelas fininhas,
que o dono da tecelagem
lhe deu, através dos anos,
como abono-produção.
Sem as marcas da celulite,
da falta da luz do sol.
Sem os sinais de desnutrição,
presentes de debutante,
dados pelos seus pais,
no dia em que completou
seus verdes quinze anos.

Compraria, para Maria,
um diadema dourado
para prender seus cabelos
que o tempo, tinhoso, pintou.
Marfim do mais fino, genuíno,
que substituísse a dentadura,
enegrecida pelas cáries,
borrada de nicotina,
prêmio macabro
a marcar-lhe o sorriso
que a miséria lhe outorgou.

Compraria um véu diáfano
para cobrir de mistérios,
ao estilo oriental,
o rosto magro de Maria,
sulcado de cicatrizes,
textura de pergaminho
onde a vida escreveu
uma história banal.
Apagada. Triste.
Comum. Proletária,
de anos de posses minguadas,
e de filhos para criar.

Na fila modorrenta do INPS,
João Tibúrcio da Silva,
nordestino, com a graça de Deus,
portador da senha de atendimento
de número trezentos e sessenta e cinco,
esperava para receber
o décimo auxílio-natalidade.

Mas queria, por causa de Maria,
sofrida, pisada e grávida,
revolucionar o mercado
inflacionário do sonho
e conquistar, não se sabe a que custo,
a própria identidade!

Apresentação

Também estou entrando na onda dos blogs. Neste espaço, pretendo apresentar minha visão de realidade, divulgar minhas crônicas (já publicadas em outros espaços ou escritas especialmente para este cantinho), além de meus poemas e comentários políticos, esportivos, econômicos etc.etc.etc.
Sou um palpiteiro de primeira e costumo dar meus "pitacos" sobre os mais variados assuntos. Para quem não me conhece (a esmagadora maioria) me apresento: sou jornalista, com quase 63 anos anos de idade (que vou completar em 20 de janeiro de 2006) e 44 anos de profissão (comecei muito cedo nessa estrada, por isso, creio, conheço todos os seus atalhos).
Comecei a carreira em rádio, na cidade de Santo André, no ABC paulista e em Campinas, trabalhei na antiga Rádio Educadora, atual Band Campinas. Trabalhei nos dois jornais diários de Campinas, o Diário do Povo (por quatro anos) e o Correio Popular (por 20 anos). Atualmente, trabalho na Arte Brasil Publicidade e não tenho a mínima intenção de pendurar a chuteira. Acredito que tenho ainda muita lenha para queimar (pelo menos é o que espero).
Tenho divulgado, com regularidade, meus textos em vários sites da internet. Os dois principais são o Comunique-se, onde há quase quatro anos divulgo um artigo sobre comunicação por semana e o Planeta News, de Miami (voltado à comunidade brasileira no Exterior), no qual sou cronista semanal há dois anos completos. Não me importo com as reproduções dos meus textos, desde, claro, que conste a minha autoria.
Sou gaúcho, da cidade de Horizontina, mas resido em Campinas há 42 anos. Sou apaixonado por literatura e tenho dois livros publicados: "Por uma nova utopia" (ensaios) e "Quadros de Natal" (contos). Tenho outros 18 escritos e engavetados e, caso haja alguma editora interessada, não se faça de rogada: entre em contato. Garanto que é venda assegurada, pois tenho um público cativo e bastante fiel (graças a Deus).
Sou apaixonado por esporte, em especial o futebol, e o meu time de coração, há quase meio século, é a gloriosa Associação Atlética Ponte Preta que completou, em agosto passado, 105 anos de existência. Sou casado, pai de quatro filhos e tenho um neto, meu xará, que sem dúvida nenhuma é a minha grande paixão. Aceito críticas numa boa, só nãop tolero burrice e muito menos agressões gratuitas e sem sentido. Este sou eu, num "retrato" de corpo inteiro. Conto com o prestígio da sua leitura e com seus comentários e observações (a favor ou contra aquilo que eu escrever).