É preciso prevenir
Pedro
J. Bondaczuk
O racionamento de energia
elétrica, nas regiões Sudeste, Nordeste e Centro Oeste do País,
determinado pelo apelidado "Ministério do Apagão", entrou
em vigor, no dia 1º deste mês, num clima de indisfarçável
descontentamento popular. Ninguém gosta que lhe digam o que, como e
quando consumir. E, principalmente, as pessoas de brio não admitem
que essa indicação venha (como agora) acompanhada de absurda
coação, feita antes mesmo do apelo haver sido atendido ou recusado.
Mesmo assim, as medidas de
economia de energia elétrica, determinadas pelo governo, vêm
contando com amplo respaldo da população, consciente da necessidade
de poupar para não faltar. Estão aí os números, divulgados pelas
concessionárias, dando conta da majoritária adesão dos brasileiros
(até das regiões não submetidas a racionamento), ao programa de
racionalização do consumo, inclusive antes mesmo que ele fosse
efetivamente implantado.
Alguns ítens, aliás,
eminentemente antipáticos (senão ilegais), foram alterados na
última hora, alterações estas anunciadas, em cadeia nacional de
rádio e televisão, na última segunda-feira, pelo presidente
Fernando Henrique Cardoso, numa tentativa do governo de evitar uma
enxurrada de ações na Justiça. É possível que tenha logrado
êxito. Afinal, ninguém quer briga pela simples briga. Todos
desejamos, isto sim, salvaguardar legítimos e sagrados direitos,
assegurados pela lei máxima do País: a Constituição.
Agora que a coisa está feita,
que os efeitos da omissão das autoridades (e não importa se do
atual governo ou se dos anteriores) no que diz respeito aos
investimentos nessa área tão estratégica estão se fazendo sentir,
não compete discutir (não pelo menos neste momento) de quem é a
culpa. Requer-se competência, pulso firme, conhecimento de causa,
senso prático e sobretudo muito realismo, para que o País passe
quase incólume (ou pelo menos com o mínimo de prejuízo possível),
por essa fase aguda de estiagem, quando os reservatórios de água
das principais hidrelétricas nacionais se encontram perigosamente
vazios. Não temos outra alternativa.
É preciso poupar, poupar e
poupar energia elétrica. Não por receio das odiosas sobretaxas
impostas pelo governo. E nem por medo da perspectiva do cidadão ter
seu fornecimento de eletricidade interrompido, caso não alcance a
meta de economia, de 20% no consumo. É que poupando, não vai
faltar. E todos serão beneficiados, tanto os que concordam, quanto
os que discordam das medidas determinadas pelo Ministério do Apagão.
Ademais, o que for economizado, será um importante reforço no
orçamento doméstico de cada um, o que nunca é de se desprezar.
A discussão lógica, daqui
para frente, não deve se centrar em quem é ou quem não é o
culpado pela atual situação. Até porque, essa "caça às
bruxas" nada irá render de prático e de efetivo a ninguém.
Discussões desse tipo nunca renderam e jamais passaram de mera perda
de tempo. A sociedade deve, isto sim, mobilizar-se para exigir,
mediante todos os meios de que dispõe, que sejam feitos, no tempo
mais curto possível, os investimentos que faltaram até aqui.
Principalmente na expansão da rede de transmissão de energia, o
"calcanhar de Aquiles" do "imbroglio" energético
brasileiro. O resto é blá-blá-blá dos políticos ou dos
politiqueiros.
Não é hora, pois, de chorar
o leite derramado, apesar dos pesados prejuízos econômicos que
certamente o País vai ter, com seriíssimos reflexos sociais. Todo o
empenho deve ser no sentido de evitar que nos próximos invernos,
chuvosos ou não (não importa) tenhamos a repetição do que está
ocorrendo neste. E se nada for feito, se as coisas forem mantidas
rigorosamente como estão, nos anos vindouros o déficit energético
nacional certamente vai se agravar. E o País terá o seu
desenvolvimento, senão totalmente paralisado, pelo menos bastante
reduzido, com prejuízos irrecuperáveis para as novas gerações.
A sensação geral, neste
momento, é das mais desagradáveis: é a de que o Brasil está
andando para trás. E isto acontece justo num momento em que a
economia mostrava inequívocos sinais de recuperação, após anos e
anos de estagnação, ora sob um pretexto, ora sob outro (remember:
crises do México, da Ásia, da Rússia, da Argentina, etc. etc.
etc.).
Desculpas nunca faltaram e
jamais faltarão para justificar a incompetência e o fracasso de
algum projeto, empreendimento ou modelo econômico. E o atual
fracassou, embora seus defensores (ou advogando em causa própria ou
por pura ignorância da realidade), teimem em não admitir. A
História irá punir os verdadeiros culpados pelo que está
acontecendo...
(Editorial da Folha do
Taquaral de 4 de maio de 2001).
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