Vitória é da união
Pedro J. Bondaczuk
A conquista do
tetracampeonato, por parte da seleção brasileira, uma das mais
limitadas, em termos técnicos, entre as que obtiveram sucesso nas
Copas do Mundo e mesmo algumas que ficaram pelo caminho --- como as
de 1950, 1978 e 1982 --- traz, entre outros benefícios, ao esporte
em si e ao próprio ego da população (na medida em que lhe restitui
a autoestima abalada), um exemplo positivo que deve ser seguido por
todos.
Entre as várias virtudes que
esse grupo mostrou, uma sobressaiu: a união. O êxito nos campos dos
Estados Unidos provou que quando há espírito de equipe, com todos
remando na mesma direção, podemos realizar até os sonhos
aparentemente mais irrealizáveis ou menos prováveis.
Outro aspecto da conquista é
que, desta vez, ao contrário de outras oportunidades, o cidadão
parece estar entendendo que o título não vai apagar, como num passe
de mágica, nossos graves problemas comportamentais nem as distorções
sociais.
Isso foi ressaltado pelos
próprios jogadores em entrevistas dadas depois da memorável partida
contra a Itália. Não será o tetra, em si, que vai acabar com a
fome, com a violência, com o descaso em relação à criança, com a
miséria, etc., etc., etc.
O Brasil não ganhou nada mais
do que uma competição esportiva. Foi só. E isso basta. É verdade
que o tetracampeonato trouxe um pouquinho de alegria a um povo que
tem poucas razões para se alegrar. E que, alegres, podemos encarar e
solucionar problemas com mais facilidade.
Até porque, o pessimismo só
atrapalha. Bloqueia as ações criativas. Caso resolvesse alguma
coisa, este País seria um paraíso, tamanho foi o desencanto dos
seus habitantes nos derradeiros anos.
O brasileiro não é nem menos
nem mais capaz do que qualquer outro povo no que quer que seja.
Talvez participe menos da vida nacional do que vários deles. Talvez
cobre menos do que deveria dos políticos e dos administradores.
Talvez espere demais dos outros em vez de tomar as decisões que lhe
competem. Talvez não seja tão unido quanto deveria ser.
O desejável é que as justas
comemorações por esse feito esportivo sejam acompanhadas de maduras
reflexões. O futebol, ou qualquer outro tipo de diversão, não deve
jamais se transformar numa espécie de ópio. A realidade, difícil e
amarga, deve ser encarada e enfrentada e jamais camuflada, por
qualquer meio ou razão.
(Editorial publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 19 de julho de 1994).
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
No comments:
Post a Comment