Monday, October 08, 2018

DIRETO DO ARQUIVO - Vitória é da união


Vitória é da união



Pedro J. Bondaczuk


A conquista do tetracampeonato, por parte da seleção brasileira, uma das mais limitadas, em termos técnicos, entre as que obtiveram sucesso nas Copas do Mundo e mesmo algumas que ficaram pelo caminho --- como as de 1950, 1978 e 1982 --- traz, entre outros benefícios, ao esporte em si e ao próprio ego da população (na medida em que lhe restitui a autoestima abalada), um exemplo positivo que deve ser seguido por todos.

Entre as várias virtudes que esse grupo mostrou, uma sobressaiu: a união. O êxito nos campos dos Estados Unidos provou que quando há espírito de equipe, com todos remando na mesma direção, podemos realizar até os sonhos aparentemente mais irrealizáveis ou menos prováveis.

Outro aspecto da conquista é que, desta vez, ao contrário de outras oportunidades, o cidadão parece estar entendendo que o título não vai apagar, como num passe de mágica, nossos graves problemas comportamentais nem as distorções sociais.

Isso foi ressaltado pelos próprios jogadores em entrevistas dadas depois da memorável partida contra a Itália. Não será o tetra, em si, que vai acabar com a fome, com a violência, com o descaso em relação à criança, com a miséria, etc., etc., etc.

O Brasil não ganhou nada mais do que uma competição esportiva. Foi só. E isso basta. É verdade que o tetracampeonato trouxe um pouquinho de alegria a um povo que tem poucas razões para se alegrar. E que, alegres, podemos encarar e solucionar problemas com mais facilidade.

Até porque, o pessimismo só atrapalha. Bloqueia as ações criativas. Caso resolvesse alguma coisa, este País seria um paraíso, tamanho foi o desencanto dos seus habitantes nos derradeiros anos.

O brasileiro não é nem menos nem mais capaz do que qualquer outro povo no que quer que seja. Talvez participe menos da vida nacional do que vários deles. Talvez cobre menos do que deveria dos políticos e dos administradores. Talvez espere demais dos outros em vez de tomar as decisões que lhe competem. Talvez não seja tão unido quanto deveria ser.

O desejável é que as justas comemorações por esse feito esportivo sejam acompanhadas de maduras reflexões. O futebol, ou qualquer outro tipo de diversão, não deve jamais se transformar numa espécie de ópio. A realidade, difícil e amarga, deve ser encarada e enfrentada e jamais camuflada, por qualquer meio ou razão.

(Editorial publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 19 de julho de 1994).



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