Pêndulo
emocional
Pedro J. Bondaczuk
O amor funciona como uma espécie de pêndulo que controla todas as
outras emoções: em determinado momento, nos leva à extrema
alegria, à euforia mais livre e desbragada e... no momento seguinte,
pode provocar uma tristeza tão grande que nos pareça insuportável.
Tende a nos arremessar, como uma boneca de pano, nas garras da
depressão. Mas não falarei, especificamente, sobre esse soberano
sentimento, embora, subjetivamente, ele se faça presente nestas
reflexões.
Vocês já notaram como há pessoas que nos parecem sempre tristes e
que nunca vimos dar expansão a nenhuma espécie de alegria, como se
houvessem sido condenadas a eterno sofrimento? O curioso é que a
maioria é até privilegiada, sem grandes carências materiais, ou
afetivas. E por que são assim? Porque, em geral, colocam seus
desejos muito acima das possibilidades de satisfazê-los e se
frustram. Isolam-se, então, do mundo, encaram a vida como castigo e
são candidatas potenciais a doenças, para as quais estão
psicologicamente predispostas. E nestes casos, não é tristeza de
amor não correspondido ou que se rompeu, que até daria para se
entender. É fruto exclusivo de frustração, de querer mais do que
se pode alcançar e se sentir perdido quando não se consegue esse
intento.
Qual, pois, o antídoto para essa ou qualquer outra tristeza? São
vários, todos ao alcance de qualquer um de nós. Uma das condições,
provavelmente a principal, é preencher a mente com pensamentos
positivos e o tempo com atividades que não permitam pensar bobagens.
Outra, é valorizar o que se é e o que se tem. É nutrir esperanças
e ter fé de que a vida lhe será pródiga em satisfações. E se a
pessoa tiver talento para a poesia, pode aproveitar esse estado ruim
para escrever um belo poema. Afinal, como diz a letra de uma canção
muito popular nos anos 50, consagrada na voz de Nelson Gonçalves: “o
poeta só é grande se sofrer”. Ou seja, se for triste. Exagero,
claro. Mas há poemas belíssimos que rescendem a pura melancolia.
Pelo menos essa é uma forma de se descartar da tristeza. É maneira
clássica de se fazer com o limão que as circunstâncias nos
atiraram uma gostosa limonada.
Mas, falando sério, a melhor maneira que conheço de mostrarmos
apreço e veneração pela vida, esse magnífico mistério, que é,
ao mesmo tempo, privilégio e desafio, é cultivarmos a alegria. É
jamais nos deixarmos abater pelo que de ruim nos aconteça (e a
probabilidade é que isso ocorra centenas, milhares de vezes), ou que
ocorra ao nosso redor. A atitude mais sábia, coerente e saudável,
até para conservarmos nossa saúde física e mental, é sempre
extrair lições dos sofrimentos e tragédias e tornar o negativo
sumamente positivo. Como? Sei lá! Dando um jeito!
É atentarmos para os pequenos episódios benignos do dia a dia que,
somados, se revelam maiúsculos, mas que, muitas vezes, entregues a
tolas mágoas e estúpidos rancores, não sabemos valorizar
devidamente. Viver é bom, é magnífico, é transcendental, sejam
quais forem as circunstâncias. Afirmei isso inúmeras vezes e o
farei novamente sempre que julgar oportuno. Viver é motivo, sempre,
de alegria, por tratar-se de um privilégio. Brindemos cada vitória
da vida com aquilo que caracteriza com perfeição esse sucesso: a
inarredável alegria. Difícil? Sem dúvida! Impossível? Jamais!
Devemos viver alegres e otimistas cada momento, mesmo (ou
principalmente) os de aflição e de dor, que todos temos, reitero,
em nosso caminho, e quando menos esperamos. Nestes casos, uma postura
alegre e positiva torna mais suave a travessia desses instantes ruins
que, como tudo na vida, também são passageiros. Não conheço uma
única pessoa, por mais amarga e infeliz que seja, que não defenda,
pelo menos da boca para fora, a alegria. A diferença é que tais
indivíduos consideram que essa condição é para os “outros”,
não para eles. Ou seja, não vivem o que pregam. São dos que deixam
implícito o célebre “faça o que falo, não o que faço”.
Podemos (e devemos), estar permanentemente predispostos ao bom humor,
à beleza e à alegria de viver. Com esta postura, podemos, é
verdade, não resolver todos os problemas que eventualmente surjam no
nosso caminho, mas, pelo menos, não os agravaremos, o que não deixa
de ser considerável ganho. Temos que resistir à tentação de
estarmos sempre com um pé atrás em relação ao próximo,
tratando, quem não conhecemos, como inimigo em potencial. Cautela e
desconfiança são duas coisas muito distintas.
E o que o amor tem a ver com essa questão de tristeza e alegria? Tem
muito, contudo, não tratarei, pelo menos hoje, desse assunto. Vou,
isto sim, valer-me do pretexto de citar o soberano dos sentimentos
para reproduzir este magnífico poema de Mauro Sampaio, que faço
questão de partilhar com os leitores, intitulado “Não sou no meu
amor”:
Não sou
No meu amor
A tristeza mansa
Das samambaias!
Nem os dedos de esperança
Da música que dança,
Da música que fala!
Nem a cordura
Dos corações que se curvam
Com a voz dos sinos!
Eu te amo
Com o mesmo ódio dos maus,
Com a mesma sanha dos assassinos.
O meu amor
É maior do que eu sou!
Não te amo apenas com a alma.
Eu te amo
Como fria tempestade
Que desce sobre o aflito,
Ou a mão que sufoca
Da angústia o grito.
O meu amor
É como doença que grassa,
E que fere e que mata.
Sou o eco da desgraça!...
Eu te amo
Com criminoso amor.
Eu te amo
Como a violência que se alça,
Ou como um espasmo de dor!
Se um amor tão grande trouxer-lhe tão intensa tristeza quanto é o
seu tamanho e intensidade, você precisará de um antídoto na mesma
proporção para se tranquilizar. “O homem, hoje, para ser salvo,
só tem necessidade de uma coisa: abrir o coração à alegria”,
foi o que escreveu o filósofo e ativista britânico Sir Bertrand
Russell. Por isso, convém dar-lhe ouvidos. Ele escreveu essas
palavras quando já tinha 96 anos de idade. Elas são, portanto,
frutos, sobretudo, da sua experiência. A maioria das pessoas é
viciada no negativo, na ira, na cobiça e na tristeza. Todavia, só
há um caminho que nos conduz à felicidade. É apostar todas as
nossas fichas no positivo e abrir o coração, sem reservas, à
alegria.
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