Sunday, October 15, 2017

Otimismo está em alta

Pedro J. Bondaczuk

O Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope), em pesquisa divulgada na segunda-feira, revelou que, se as eleições presidenciais fossem hoje, o eleito seria Luís Inácio Lula da Silva, que goza da preferência de 20% dos entrevistados. Até aí, nada de mais.

A constatação não causa nenhuma surpresa se for levado em conta que o líder petista teve uma performance notável no pleito de 1989, chegando, inclusive, ao segundo turno. O surpreendente é a revelação que José Sarney seria o segundo colocado, com 17%, à frente de Paulo Maluf (12%), Leonel Brizola (11%), Orestes Quércia (6%) e Antônio Carlos Magalhães (6%).

É claro que, fora de época de campanha, esses resultados não garantem que o ex-presidente viesse a obter essa segunda colocação se as eleições fossem hoje. Mas a pesquisa indica uma tendência e demonstra que muitos brasileiros estão tão desencantados com a política e, principalmente, com os políticos, que veem no mentor do Plano Cruzado uma das melhores opções para o País.

Trata-se de uma “ressurreição” do senador maranhense que, ao deixar a Presidência, em 15 de março de 1990, entregou o governo ao seu sucessor com uma inflação recorde de 84% ao mês. O Ibope revelou, também, outros dados interessantes. Por exemplo, 43% dos entrevistados confessaram que nem esperam que o País venha a melhorar nos próximos anos e nem que piore.

Creem que tudo continuará como está. Vinte e nove por cento, porém, está otimista, o que não deixa de ser um índice bastante positivo, dado o clima de desencanto que toma conta da maioria dos brasileiros. Os pessimistas, aqueles que acreditam num retrocesso ainda maior, principalmente em termos econômicos e sociais, são 22% dos pesquisados, que não é uma taxa muito elevada.

A pesquisa mostra que para a maioria, ou seja, 27%, o combate à inflação deve ser a principal tarefa do governo, vindo a seguir um problema intimamente relacionado, que é o da luta contra a fome e a miséria, na opinião de 22% dos que foram ouvidos. Como se observa, melhorou bastante o humor do brasileiro e sua confiança no futuro, não fosse a esperança a grande característica do nosso povo.

Isto chega a ser sintomático. Caso a maré crescente de otimismo não venha a ser frustrada por alguma ação desastrada do governo ou alguma das características declarações intempestivas do presidente Itamar Franco, que nos quase seis meses de sua gestão efetiva na Presidência têm sido as detonadoras de crises, o momento da virada nacional pode estar chegando.

As políticas recessivas postas em prática desde 1984, a pretexto de combater a inflação, apenas conseguiram empobrecer o País. Em 1990, por exemplo, a população de pobres no Brasil superava, em muito, o número total de habitantes de potências europeias, como a Grã-Bretanha e a França, e era de 69,8 milhões de pessoas. E isto antes de sentirmos os efeitos do flagelo, que foram os dois anos de governo, de tristíssima memória, do ex-presidente Fernando Collor.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 28 de maio de 1993).



Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk

No comments: