Saturday, January 14, 2017

Mentalidade inflacionária



Pedro J. Bondaczuk


O índice de inflação de setembro, de 12,85%, embora tenha significado um retrocesso, em relação a julho, no combate a esse monstro que devora as economias populares, até que não foi tão desastroso, se forem levadas em conta as circunstâncias e se for considerada a conjuntura mundial, nada favorável, que se desenhou após a invasão iraquiana do Kuwait.

Taxas inflacionárias altas – para os padrões do Primeiro Mundo – foram, igualmente, registradas nos Estados Unidos, na Grã-Bretanha e em boa parte da Europa Ocidental, com perspectivas ainda mais sombrias para os meses subseqüentes.

Entre nós, todavia, essa marca poderia ser menor, mais comportada, caso ainda não estivesse presente na sociedade brasileira um certo tipo de mentalidade, difícil de ser extirpado. Bastou que o governo liberasse os tabelamentos e controles de preços, para que se verificasse, em alguns setores fortemente cartelizados, verdadeira orgia altista.

Quem age dessa forma o faz como se gozasse de absoluta auto-suficiência em tudo. Se esquece que, ao aumentar o seu produto, cobrando mais do que ele vale, forçará os que o provêm de tudo o mais que precisa a procederem da mesma forma.

Se fizer um cuidadoso cálculo, perceberá que, nessa corrida para cima, estará perdendo, ao invés de lucrar. O dinheiro a mais que ganhar não passará de vento. Ou seja, de inflação. Não se deve generalizar. Há situações em que os preços ficaram defasados e precisaram ser recompostos. Afinal, ninguém de bom-senso arrisca um capital que não lhe traga retorno. O lucro, desde que lícito, é a mola-mestra da atividade econômica.

Nos países que estão em estágio econômico e social mais avançado, os empresários já entenderam que o consumidor é o elemento fundamental para a sua sobrevivência. Ali, a concorrência é feroz e quem não apostar suas fichas no binômio “qualidade e preço”, estará com os dias contados.

A idéia predominante é a de lucrar na quantidade vendida e na freqüência das vendas, nunca num único negócio ou unitariamente. É o que se define como “produção em escala”. Entre nós, todavia, essa expressão, salvo raras e honrosas exceções, ainda soa como um palavrão.

Esta mentalidade ainda trará muitos sofrimentos e decepções, enquanto não for mudada e, um dia, fatalmente, terá que ser. O mundo atual não comporta mais ineficiências e nem ganâncias desmedidas. O sistema de mercado, com sua lei natural de oferta e de procura, impõe-se por si só, pela sua inflexível lógica. Veja-se o que ocorre em todo o Leste Europeu. Atuar contra ele é ficar na contramão da história e ser atropelado pelos que buscam queimar etapas para chegar ao desenvolvimento.    

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 2 de outubro de 1990)


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