Tuesday, September 20, 2016

Reunião de Genebra leva marca da intransigência



Pedro J. Bondaczuk


As conversações que vão ocorrer amanhã, em Genebra, entre o secretário de Estado norte-americano, James Baker, e o ministro de relações exteriores iraquiano, Tarik Aziz, com o objetivo de se conseguir uma solução pacífica de última hora para a crise do Golfo Pérsico, evitando, dessa maneira, uma guerra na região, antes mesmo da sua realização estão marcadas pelo signo do fracasso.

A menos que nas próximas horas surja algum fato novo, de caráter espetacular, algum gesto de flexibilização de qualquer das duas partes, o encontro servirá, somente, para confirmar a ocorrência de um perigoso conflito armado que, como todos dessa natureza, está cercado de riscos e incertezas. E, o pior, com data marcada para começar, mas não para terminar.

A despeito das milhares e milhares de lições inscritas na História a esse respeito, os líderes mundiais ainda não entenderam que o argumento da força jamais serviu para solucionar pendência alguma. Sempre trouxe, apenas, morte, destruição, dor e desolação.

Objetivamente, não há como se comparar o poderio bélico dos Estados Unidos com o do Iraque, tal é a disparidade entre ambos. Teoricamente, portanto, uma ação militar, tendente a expulsar os soldados invasores do território ocupado do Kuwait, é para ser rápida e fulminante.

Todavia, quem se detém em estudar guerras e batalhas anteriores – e estas jamais faltaram nos mais de 13 mil anos de civilização – conclui, facilmente, que na prática a teoria é outra. Nenhuma confrontação é vencida na véspera.

Quem, em 1961, poderia imaginar, por exemplo, que o Vietnã resistiria à monumental máquina militar norte-americana? No entanto, não somente resistiu, como expulsou a superpotência ocidental do seu território. O mesmo ocorreu no Afeganistão, onde o Exército Vermelho soviético entrou arrasador, controlando os pontos-chaves do país invadido em menos de 24 horas, mas levou dez anos para se livrar do atoleiro, perdendo milhares de jovens nessa aventura, levada a cabo por nada.

Há, evidentemente, quem esteja torcendo pelo sucesso norte-americano no Golfo Pérsico, e da forma como o Pentágono planeja: de forma rápida e decisiva. Somente dessa maneira, o mundo ficaria livre do espectro de Saddam Hussein, ditador que desde que subiu ao palco maior dos acontecimentos mundiais, em 1979, sempre foi sinônimo de encrenca.

O ideal, todavia, seria colocar o truculento general em fuga por outros meios, que não o das armas. Isto já foi feito muitas vezes no passado. Embora muita gente não se dê conta disso, o mundo corre sérios riscos com essa guerra, de conseqüências absolutamente imprevisíveis. E, à medida em que o tempo passa, sem que as partes arredem pé de sua intransigência, mais e mais a humanidade se aproxima de outro grande drama deste século, marcado, todo ele, pela violência.         

(Artigo publicado na página 13, Internacional, do Correio Popular, em 8 de janeiro de 1991)


Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk       

No comments: