Sunday, July 28, 2013

Tendência confirmada


Pedro J. Bondaczuk


A vitória do Partido Socialista na França, ocorrida exatamente um mês depois que os trabalhistas de Tony Blair "pulverizaram" os conservadores na Grã-Bretanha, é a continuidade de uma tendência que se consolida na Europa. Tanto que entre os 15 membros da União Européia, somente dois têm governos compostos exclusivamente pela direita: Alemanha e Espanha.

Todos os 13 demais, ou estão em mãos somente da esquerda (três), ou têm esquerdistas envolvidos em coalizões. O que tem determinado essa reviravolta é um fator comum: o desemprego que assola o continente.

Levas de trabalhadores vêm sendo demitidas, unidades inteiras de grandes indústrias (por exemplo, a Renault na Bélgica), estão sendo fechadas, com conseqüentes demissões em massa.

Os salários, na maioria dos países, permanecem rigorosamente congelados e os governos buscam fazer ajustes, com políticas impopulares de austeridade, para adequar suas respectivas economias à implantação da moeda única na Europa dos 15, prevista para 1999.

Na França, a taxa de desemprego, determinante direta da derrota da coalizão de centro-direita, de 12,8%, é a maior do pós-guerra. E novas demissões, em especial nas estatais, estão programadas, para reduzir o déficit público, sem aumento de impostos, o que agravaria ainda mais a situação das empresas, forçadas a cortar custos para competir nesta era da globalização.

O presidente Jacques Chirac poderia perfeitamente aguardar mais dez meses para a realização das eleições no prazo normal. Tinha cômoda maioria parlamentar, que lhe garantia a aprovação daquilo que bem entendesse. Avaliou mal a situação do país.

Não teve sensibilidade para detectar o grau de descontentamento dos franceses em relação à sua política voltada para a integração européia, mesmo tendo enfrentado, nos seus dois anos de mandato, sucessivas greves, que atribuiu, arrogantemente, a "grupinhos inexpressivos" de agitadores, como chegou a insinuar.

Em vista do equívoco no diagnóstico, precipitou as coisas. Dissolveu a Assembléia Nacional em abril passado e antecipou as eleições, para o tira teima com a esquerda, à qual havia humilhado ao ser eleito presidente. Deu-se mal. As "cartas" que tinha nas mãos eram insuficientes para a jogada decisiva que pretendia. Blefou e perdeu. Agora, terá que se contentar com a incômoda "coabitação" com os socialistas, como quando foi primeiro-ministro de François Mitterrand.


(Artigo publicado no Correio Popular em 1 de junho de 1997).



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