Tuesday, November 29, 2011







Por dentro da TV


NOVA ESTRELA NO FIRMAMENTO DA SAUDADE

O rádio acaba de perder uma de suas mais gratas promessas, com o trágico acontecimento que envolveu a locutora da Jovem Pan II (FM) e Rádio Transamérica, ambas de São Paulo, Mírian Lane, na madrugada de sexta para sábado, quando ela foi alvejada a bala por dois marginais, vindo a falecer nesta terça-feira, em conseqüência dos ferimentos recebidos.

A triste ocorrência ganha mais relevo para nós, quando se sabe que essa excelente profissional militou no meio radiofônico campineiro. Para o público de Campinas, ouvinte da Educadora (ou como no meu caso, seu ex-companheiro de trabalho), ela era simplesmente Mírian Tavares, a "doce Mírian".

Os leitores, certamente, se lembram bem dela, principalmente em virtude do seu inesquecível programa das 17 horas, "Nossa Canção". Nele, além das músicas de Roberto Carlos, este fenômeno em termos de sucesso, estava surgindo para o rádio uma figura excepcional, cujas características marcantes eram a simpatia e o romantismo, típicos dos poetas.

Surgia uma apresentadora que trazia nova proposta para o microfone, se impondo pela voz suave e gostosa, quase uma carícia e por uma responsabilidade profissional rara nos dias que correm. Esses fatores, reunidos, redundaram, como era lógico de se esperar, em vastíssima audiência para o programa, não apenas em Campinas e Região, mas em todo o Sul de Minas, onde as potentes ondas da Educadora chegam com som local, fato que pude constatar, pelo número de cartas que a locutora recebia.

Lembro-me, nitidamente, da sua figura, morena, bonita, sempre sorrindo (Mírian sorria com os olhos, profundos, românticos e sonhadores), ora brincando com a turma do Departamento de Esportes e de Jornalismo, ora se divertindo com as piadas do Ari Costa, ou trocando idéias com a Lucinha de Fátima na discoteca, sobre determinada canção do seu ídolo, ou pedindo algum esclarecimento ao nosso chefe, o Alair Beline, quando não mexendo com o pessoal da Técnica, o Wagnaldo Silva, o Carioca, o Joãozinho ou o Marcelo de Almeida.

Ela irradiava simpatia, quebrando um pouco aquele clima sisudo, que muitas vezes nos dominava. Estava sempre bem-humorada e alegre, como se a vida não tivesse as coisas feias que a gente sabe que tem, como a ignorância, a cobiça, as desigualdades sociais e, principalmente, a violência. A cega e irracional violência, que acabou por subtraí-la (para nosso profundo desgosto), brutalmente, do nosso convívio, na flor dos seus promissores 21 anos de idade.

Falar da competência de Mírian Tavares chega a ser redundante. Basta afirmar que, em termos de FM, chegar à Jovem Pan é o grande objetivo de qualquer profissional que milite no rádio. Já é algo extremamente difícil e seletivo. Mas trabalhar no horário nobre dessa emissora é uma façanha reservada apenas àqueles profissionais de fantástica tarimba, adquirida ao longo de muitos anos de sacrifícios. Ou é coisa para quem conte com um talento fenomenal.

E Mírian conseguiu as duas coisas. Ingressou na emissora líder de audiência em São Paulo em FM no mês de abril do ano passado e em pouco tempo transformou-se na autêntica "namorada de São Paulo", conquistando o melhor horário e preenchendo de sonhos bonitos e fantasias alegres (coisas que só o rádio tem o condão de fazer) as madrugadas vazias e solitárias de tanta gente infeliz.

Hoje Mírian já não está mais no nosso convívio. Foi para o paraíso encantado que a sua presença permitiu que as pessoas idealizassem. Repito, agora, o que afirmei quando da morte de Altemar Dutra: um artista, esse modelador de sonhos, que transforma maravilhosas fantasias em realidades, nunca morre. Vira estrela no céu e permanece brilhando no firmamento da nossa saudade. E Mírian Tavares, na sua profissão, era mais do que uma simples locutora. Era musa inspiradora, que enchia com beleza o nosso mundo cinzento do dia a dia...

(Coluna escrita por mim, sem assinar, publicada na página 26, editoria TEVÊ, do Correio Popular, em 2 de fevereiro de 1984).

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1 comment:

Unknown said...

Bom ler isso. Miriam foi minha vizinha no Cambuí em Campinas quando morava numa republica com o namorado Pablo, o amigo Renato Leal e outros. Grande mulher e ótima amiga. Saudades