Saturday, October 28, 2006

Cantinho da memória


Pedro J. Bondaczuk

Minha memória sai ao sol,
num passeio pelo trigal dourado,
pelo lago cristalino e azul,
pela fonte luminosa da praça.

Minha memória quer banhar-se
nas águas do Rio Santa Rosa,
aspirar o aroma dos bosques,
ouvir a algaravia das aves.

Retorna, com minhas lembranças,
à varanda da casa de vovô,
perfumada pelo aroma adocicado
das flores de laranjeira,
preservada, num cantinho do passado,
como meu Éden particular,
minha alvorada para a vida,
meu paraíso indevassável
de beleza e encantamento,
indestrutível momento fatal.

Retorna e reencontra
todos jovens outra vez,
preservados dos desgastes
e alucinações do Tempo,
todos vivos e saudáveis,
como antes,
mais que antes,
num cantinho do passado,
em algum recanto ignoto,
em alguma dimensão da vida.

Não tem limitações no espaço,
derruba as barreiras do Tempo,
invade os campos do infinito,
tenta desbravar a eternidade
pois, quando me sinto triste,
triste, triste, triste mesmo,
pensando até em morrer,
minha memória (doce essência)
me abandona, simplesmente,
e, nas asas da recordação,
sai só, a passear ao sol..

(Poema composto em Campinas, em 15 de agosto de 1974)
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