Sunday, September 30, 2012

Somos, todos, seres múltiplos, mutantes, diferentes hoje do que éramos ontem, e não somente no aspecto físico, dado o envelhecimento, mas, sobretudo, no plano mental. De cada pessoa com que nos relacionamos, absorvemos alguma coisa dela: idéias, hábitos, comportamentos, não importa o quê. E quanto maior for o nosso círculo de relacionamentos, mais mudamos, mais diferentes nos tornamos, sem que sequer nos apercebamos dessas mudanças. Criamos, a cada momento, novo hábito, que se transforma e ganha acréscimos ou decréscimos à medida que o tempo passa e que aprendemos novas coisas com as pessoas com as quais nos relacionamos. Daí ser rigorosamente exata a afirmação de que somos múltiplos. O dramaturgo Samuel Becket afirma, através de um dos personagens de sua peça “Esperando Godot”: “Respirar é um hábito. A vida é um hábito. Ou melhor, a vida é uma sucessão de hábitos, porque o indivíduo é uma sucessão de indivíduos”.

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Terrorismo dá sinais de recrudescimento

Pedro J. Bondaczuk

O terrorismo internacional voltou a agir, ontem, na Europa, mais especificamente em Madri, com a tentativa de explodir um avião israelense da El Al, que deveria ir para Tel Aviv. Felizmente, a segurança do aeroporto de Barajas foi suficiente (ou contou com uma forte dose de sorte) e um mal maior conseguiu ser evitado. A bomba que deveria ser detonada quando o aparelho estivesse no ar, explodiu antes, na esteira de embarque das bagagens, e não matou ninguém.

Mas o terrorismo voltou a mostrar a sua odiosa face, para lembrar que desgraçadamente ainda permanece vivo e atuante, mesmo depois dos bombardeios norte-americanos a Tripoli e Benghazi, em 15 de abril passado. Referimo-nos, obviamente, ao terror vinculado à questão do Oriente Médio. Outras organizações, em diversas partes do mundo, não deram trégua praticamente um só dia. Explodiram bombas, seqüestraram e mataram cidadãos inocentes, alheios às suas exigências e seus rancores, como sempre aconteceu.

Na Colômbia, no Peru, no Sri Lanka e na própria Espanha (através dos separatistas bascos da ETA), a orgia de explosões continuou e, até certo ponto, chegou mesmo a aumentar. Quanto ao terror vinculado à situação do Oriente Médio, este sofreu um certo refluxo, não certamente em decorrência da ação norte-americana contra a Líbia, conforme se chegou a afirmar, mas principalmente em decorrência da dramática redução do fluxo de turistas dos Estados Unidos para a região do Mediterrâneo.

A polícia espanhola ainda está em dúvida acerca da autoria do atentado de ontem, no Aeroporto Barajas. Tem ligeiras suspeitas de que pode ser uma ação da incansável ETA, mas desconfia muito mais de que se trate de um ato de qualquer dos múltiplos grupos de palestinos espalhados pela Europa. As evidências todas conduzem o observador a aceitar muito mais a segunda hipótese.

Se os bascos desejassem realizar algum atentado espetaculoso, dificilmente iriam procurar atingir Israel, país contra o qual não possuem nenhuma espécie de pendência. Tentariam, como sempre vêm fazendo, atacar militares, policiais ou órgãos do governo espanhol. O estilo de ação não condiz, portanto, com as sortidas costumeiras da ETA.

Já os palestinos possuem razões de sobra (ou pensam possuir) para agir dessa forma. Inclusive em abril já haviam tentado algo semelhante, quando uma ingênua arrumadeira de hotel acabou tapeada por seu noivo e sem querer acabou introduzindo uma bomba num avião da El Al, pousado na pista do Aeroporto de Heathrow, em Londres. Felizmente para todos, o artefato foi descoberto a tempo e acabou sendo possível evitar uma provável tragédia.

As circunstâncias da ocorrência de ontem foram parecidas. Apenas com a diferença de que, quem procurava levar o artefato para bordo era um homem, o principal suspeito de ser o mentor do atentado. E dessa vez, embora a bomba viesse a explodir (ao contrário da outra), ela não chegou a entrar no avião. Menos mal.

Se não fosse isso, a esta altura, certamente, o mundo estaria lamentando outra ocorrência trágica, como a verificada com um Jumbo indiano, no ano passado, que explodiu em pleno ar, quando estava próximo da costa da República da Irlanda.

A expectativa, agora, é sobre como o governo israelense irá reagir ao fato. Tudo leva a crer que hoje ou amanhã alguma ação de represália deva ocorrer. Ou no Vale do Bekkaa, no Líbano; ou em Beirute, Tripoli, Saida ou até em locais mais distantes.

Dependendo da intensidade desse "troco" de Israel, podemos ter um recrudescimento da violência terrorista no Oriente Médio que, somado ao aumento das ações na Ásia e na América do Sul, pode transformar 1986 num dos anos mais violentos desta década. Ninguém deseja isso, mas a lógica indica que é a única coisa que se pode prever com razoável dose de acerto. Tomara que estejamos enganados.

(Artigo publicado na página 10, Internacional, do Correio Popular, em 27 de junho de 1986)

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Mestre da sugestão

Pedro J. Bondaczuk

O poeta Mário Quintana é daqueles raros cuja poesia é impossível de ser lida com indiferença. Muitos poemas, de tantos autores mundo afora (e de alguns até famosos e reverenciados) passam batidos à primeira leitura, dessas apressadas que às vezes fazemos em momentos de baixa concentração. Requerem que se os leia com atenção redobrada, duas, três ou mais vezes. Mesmo assim, ficamos sem compreender o que, exatamente, o poeta quis dizer.

Está bem! É certo que o importante na poesia é senti-la e não exatamente compreendê-la. Poemas cifrados, todavia, parecendo que foram escritos em remota língua morta de dois ou três milênios atrás, que ninguém mais consegue decifrar, a não ser quem os compôs (e talvez nem eles) não nos despertam emoção alguma. Não os retemos na memória e muito menos no coração.

Com Mário Quintana isso não acontece. Ele prima pela clareza. Sua linguagem é coloquial, familiar, tête-a-tête e rigorosamente compreensível. Suas metáforas, sumamente criativas e originais, são, no entanto, inteligíveis a qualquer pessoa e não somente a meia dúzia de iniciados. Seu grande segredo é este: a simplicidade, o que, em literatura, é expediente muito mais complicado do que possa parecer aos desavisados. Reitero o que escrevi muitas vezes e que muitos me contestaram, entendendo que eu exagerava: “Senhores, é muito difícil, dificílimo, ser simples!!!”

Outra característica de Quintana que me encanta é o bom-humor que permeia sua poesia, mesmo quando trata de temas, digamos, “árduos”, ou dramáticos, ou tristes ou pavorosos, sei lá. A leitura dos seus poemas passa-nos a impressão de que a vida é simples, e sempre bela, e que nós é que a complicamos com atitudes ilógicas e com visão permanentemente sombria e negativa. Desconfio que ele é que estava certo.

Nunca li nenhum poema dele em que, ao cabo da leitura, não retivesse seu conteúdo por completo, mesmo quando a leitura tenha sido feita com pressa, sem a devida concentração, ou seja, quando distraído, ou cansado ou apenas desatento. Confesso que cheguei a decorar vários deles (os mais curtos, porém), lendo-os somente uma vez. E não atribuo isso a nenhum eventual “prodígio” da minha memória, que nem é tão prodigiosa assim. Prova disso é que esse fenômeno nunca se repetiu com a leitura de outros poetas. Suas mensagens tocam-me fundamente e se aninham bem no centro do mecanismo das emoções.

Quintana escreveu pouco sobre a Primavera, pelo menos especificamente. Essa estação do ano, porém, permeia toda sua obra, mediante o recurso da sugestão. Ela está sempre presente. Por exemplo, no próprio título de um de seus livros mais conhecidos, “Sapato florido”, uma catarata de sensibilidade, ternura, emoção e bom-gosto. Leiam-no e vejam se exagero. Se exagero há, em minha avaliação, este é o de não conseguir transmitir com exatidão a preciosidade que essa obra é (ademais, como todos os livros desse poeta bonachão e positivo).

Entre seus poemas, com os quais me deliciei – li, na verdade reli, por volta de duas centenas ou mais nos últimos dias – encontrei este, alusivo à Primavera:

Canção de Primavera

“Um azul do céu mais alto
Do vento a canção mais pura
Me acordou, num sobressalto
Como a outra criatura…

Só conheci meus sapatos
Me esperando, amigos fiéis
Tão afastado me achava
Dos meus antigos papéis!

Dormi cheio de cuidados
Como um barco soçobrando
Por entre uns sonhos pesados
Que nem morcego voejando...

Quem foi que ao rezar por mim
Mudou o rumo da vela
Para que despertasse assim
Como dentro de uma tela?

Um azul do céu mais alto
Do vento a canção mais pura
E agora… este sobressalto...
Esta nova criatura!”.

Chamo a atenção para um detalhe, que pode ter escapado do leitor desatento. No poema acima, a não ser no título, Quintana não menciona uma única vez a Primavera. Mas escreve sobre ela. Quem lê, sabe de que assunto se trata. E isso apenas confirma minha constatação de que ele foi (e é, pois apesar de já falecido, sua obra permanece mais viva do que nunca, para o deleite dos amantes da poesia) “mestre da sugestão”.

Escrever sobre Mário Quintana e sobre a sua marcante obra não é nada fácil. Não que ambos sejam complicados, complexos, difíceis de serem entendidos. Longe disso. Aliás, o motivo é exatamente o oposto. Ou seja, é a extrema simplicidade de ambos. Para fazê-lo, teremos que nos transportar para sua mente (se é que essa façanha seja possível), pensarmos como pensou e, num esforço sobreumano, sermos, igualmente, simples. Como, porém, nos livrarmos dessa renitente obsessão,dessa mania, desse vício de complicar todas as coisas e, notadamente, todos os sentimentos?

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Saturday, September 29, 2012

As idéias, próprias ou adquiridas, são essenciais para moverem o mundo. Todos as temos em profusão. Elas são o distintivo da racionalidade humana, o que nos distingue dos demais seres da natureza. Alguns, parecem não saber o que fazer com elas. Outros, transformam-nas em atos e fatos e sustentam o edifício do que chamamos, genericamente, de “civilização”. Todavia, as idéias nunca podem existir dissociadas umas das outras, sob pena de se tornarem inócuas e sem sentido. Precisam de um encadeamento lógico, de uma ligação coerente, para que gerem os efeitos pretendidos. Ligadas, formam a magnífica corrente do que convencionamos chamar de “sabedoria”. O jurista italiano Cesare Beccaria afirma, a esse respeito, no seu livro “Do delito e das penas”: “É a ligação das idéias que sustenta todo o edifício humano. Sem ela, a dor e o prazer seriam sentimentos isolados, sem efeito, tão cedo esquecidos quanto sentidos”.

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Resta o sal

Pedro J. Bondaczuk

Nem cuidar e nem descuidar demais
dos perigos que tem este caminho
que, um dia, você trilhará, sozinho,
com os seus sonhos, anseios e ais;

saber resguardar as suas feridas,
sua chaga ressequida e amarela,
sem deixar que o excesso de cautela
o detenha em sua arremetida

rumo à conquista do seu ideal,
será sua atitude mais sensata,
embora seja uma tarefa ingrata

que exige um esforço descomunal.
Seus sonhos, um a um, o tempo mata,
o suor se evapora e resta o sal.

(Soneto composto em Campinas, em 15 de agosto de 1975).

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Sugestão de primavera até no nome

Pedro J. Bondaczuk

A poesia de Florbela Espanca é das mais refinadas e belas da língua portuguesa. Versa, em sua maior parte, sobre a grandeza, as delícias e a transcendência do amor, mas também sobre os tormentos, torturas e decepções que ele, não raro, propicia. Contudo, esse é um sofrimento que, posto ser intenso, por ele não nos arrependemos de passar. Muito pelo contrário. São os espinhos que valorizam e dão até maior encanto a essa mística rosa, fonte da felicidade e da vida. Sobretudo, desta”.

Foi dessa forma que iniciei determinada crônica a propósito desta excelente escritora portuguesa tempos atrás. Não estou certo se divulguei ou não esse texto aqui, neste espaço. Pudera! Escrevo e publico tanta coisa, todas as semanas, em tantos lugares diferentes, que, a menos que tivesse memória de elefante, não me lembraria (como não me lembro mesmo), desse tipo de detalhe. Se vocês já leram essa crônica, melhor. Vão entender bem o que pretendo dizer nestas reflexões. Se não leram, procurarei dar o máximo de indicações possíveis a propósito. para deixar claro e inteligível meu raciocínio.

Por que volto a enfocar essa poetisa, a propósito de textos (na maioria poemas) sobre o tema primavera? Bem, a razão é bastante simples. Nas considerações anteriores, a propósito do assunto, citei versos isolados de um soneto de Florbela Espanca, fora do seu devido contexto, que dizem: “Há uma primavera em cada vida:/É preciso cantá-la assim florida (...)!. Na sequência, fiz um reparo a essa afirmação, que um leitor achou injusto. Provavelmente tenha sido, de fato. Por e-mail, ele solicitou que eu transcrevesse o soneto completo, para que cada qual julgasse por si só se a poetisa foi precisa ou não em suas colocações. Como sou admirador dessa escritora e minha intenção não foi, em momento algum, a de criticá-la, mas a de dar interpretação pessoal à referida citação, achei justo o reparo. Ademais, para mim, o pedido dos leitores é mais do que isso: é uma ordem. Reproduzo, pois, o tal soneto (belíssimo, por sinal):

Amar

“Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: aqui... além...
Mais este e aquele, o outro e a toda gente...
Amar! Amar! E não amar ninguém!

Recordar? Esquecer? Indiferente!...
Prender ou desprender? É mal? É bem?
Quem disse que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!

Há uma primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar.

E se um dia hei de ser pó, cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que eu saiba me perder... pra me encontrar...”

Já que mencionei crônica anterior a propósito da excelente escritora portuguesa que tanto admiro, transcrevo outro trecho, bem de acordo com estas reflexões sobre como a primavera foi e é tratada (e certamente continuará sendo) na literatura. “Seu nome verdadeiro, aquele com que foi registrada, foi Flor Bela de Alma Conceição. Filha ilegítima, o pai, João Maria Espanca, tardou em reconhecê-la como filha. Na verdade, fê-lo tão somente após sua morte, quando a poetisa já era escritora consagrada e bastante requisitada. Dá, certamente, para o leitor imaginar a carga de preconceito que a menina teve que suportar por uma circunstância alheia à sua vontade e ao seu controle, por algo de que não tinha culpa, de que, na verdade, era a grande, se não a única, vítima”.

Alguém pode perguntar: “Que relação essa informação tem com a primavera”? Respondo: a óbvia, ou seja, o nome da poetisa. Ele sugere o maior símbolo dessa estação do ano (“Flor”), acompanhado, de lambuja, por um adjetivo (“Bela”). Aliás, os dois sonetos citados (o anterior e o de hoje), não são os únicos que Florbela Espanca compôs sobre o assunto. Localizei, em seus livros, vários outros, belíssimos e soberbamente compostos. Como o espaço não comporta muitas transcrições, transcrevo apenas um deles, que separei a esmo, já que todos são de qualidade superior:

Primavera

“É Primavera agora, meu Amor!
O campo despe a veste de estamenha;
Não há árvore nenhuma que não tenha
O coração aberto, todo em flor!

Ah! Deixa-te vogar, calmo, ao sabor
Da vida... não há bem que nos não venha
Dum mal que o nosso orgulho em vão desdenha!
Não há bem que não possa ser melhor!

Também despi meu triste burel pardo,
E agora cheiro a rosmaninho e a nardo
E ando agora tonta, à tua espera...

Pus rosas cor-de-rosa em meus cabelos...
Parecem um rosal! Vem desprendê-los!
Meu Amor, meu Amor, é Primavera!...”

Fico com saudável (saudabilíssima) “inveja” destes versos tão delicados e ternos, relacionados à Primavera, que por mais que eu venha tentando compor algo de qualidade mesmo que apenas remotamente parecida sobre o tema, nunca consegui. Como se vê, Florbela Espanca foi soberba poetisa, não sem razão a preferida dos apaixonados. Pudera!

Já que citei tanto minha crônica anterior sobre essa talentosíssima escritora portuguesa, peço licença para transcrever um dos últimos parágrafos do referido texto, em que informo: “(...) após o diagnóstico de um edema pulmonar, (Florbela Espanca) suicidou-se, no dia do seu aniversário, em 8 de dezembro de 1930. Mais esse problema, para ela, foi demais para a sua frágil e tão vulnerável constituição psicológica. Tanto tentou esse recurso extremo, até que conseguiu, para consternação generalizada”. Eu acrescentaria, a título de conclusão: “abrindo lacuna impossível de ser preenchida, não somente na literatura de língua portuguesa, mas na mundial”.

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Friday, September 28, 2012

Pessoas criativas “vêem” certa inteligência nas coisas, nos objetos inanimados, por mais triviais que pareçam, que lhes suscitam idéias inovadoras e maduras reflexões. Parecem dialogar, por exemplo, com uma cadeira, com um carro, com uma parede, com uma pedra ou com qualquer outra coisa sem vida. E não estão malucos. Para evitar más-interpretações, inclusive, mantêm em segredo esses exóticos exercícios mentais. Tais monólogos, porém, que lhes parecem diálogos, são frutos de imaginação fértil, inteligente e criativa. Foi Machado de Assis quem primeiro trouxe o assunto à baila, ao escrever, no romance “Quincas Borba”: “Quem conhece o solo e o subsolo da vida, sabe muito bem que um trecho de muro, um banco, um tapete, um guarda-chuva, são ricos de idéias ou de sentimentos, quando nós também o somos, e que as reflexões de parceria entre os homens e as coisas compõem um dos mais interessantes fenômenos da terra”.

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Perdão da dívida pode beneficiar credores

Pedro J. Bondaczuk

A dívida externa, em especial a dos países do Terceiro Mundo, está, de novo, na ordem do dia, se é que a questão deixou alguma vez de estar, desde 1982, quando os maiores devedores, México e Brasil, perceberam que não teriam condições de honrar seus compromissos da forma como eles haviam sido combinados. O tema ganha maior relevância nas manchetes agora, todavia, por causa da reunião conjunta da próxima semana, em Berlim Ocidental, do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial. A questão adquire muito mais relevo ainda diante do crescimento das adesões à proposta feita pelo presidente francês, François Mitterrand, no encontro dos sete países mais ricos do mundo, ocorrido no Canadá, no primeiro semestre deste ano. O mandatário socialista defendeu, na oportunidade, que parte da dívida, em especial das paupérrimas nações africanas, fosse esquecida pelos credores ou absorvida através de qualquer espécie de mecanismo a ser criado pelas potências econômicas.

Na oportunidade, a tese não foi recebida com muita simpatia pelos seus pares. Todavia, os relatórios divulgados nos últimos tempos, todos mostrando, claramente, a descapitalização crescente do Terceiro Mundo, que paga, em juros e outros "serviços", muitas vezes mais do que recebeu, deixam claro, para os recalcitrantes, que algo nesse sistema (que podia até ser bem intencionado em seu princípio) não funcionou. Que ao invés de se recolher o produto criado pela "galinha dos ovos de ouro", se está a pique de sacrificar a própria ave. E isto não será bom para ninguém.

As nações desenvolvidas precisam das terceiromundistas para impulsionar a sua crescente geração de riquezas. Necessita de mercados para colocar o que produz, sob pena do seu sistema produtivo ter que parar por falta de compradores, levando o problema de fora para suas próprias fronteiras. O crescimento econômico, portanto, é fundamental tanto para os países pobres, quanto para os ricos. Para os primeiros, é uma questão de sobrevivência física. De ter condições de saciar a fome de hoje. Para as potências econômicas, é uma garantia de que sua prosperidade estará assegurada enquanto houver consumidores crescentes para aquilo que produzirem. Ou seja, idéias, tecnologias, capitais. Essa interação é indispensável e fundamental.

O mundo não está e nem pode estar dividido em compartimentos estanques. O que acontece numa determinada parte do Planeta, fatalmente, mais cedo ou mais tarde, atingirá todos os seus recantos. Espera-se, portanto, que as nações industrializadas tenham um lampejo do espírito prático dos seus antepassados, responsáveis pela sua grandeza, aceitando, em teoria, perder um pouco agora, para ganhar muito mais logo adiante. E de quebra, elas acabarão passando por "benfeitoras", quando na verdade estarão sendo, somente, boas negociantes. Do jeito que está, qualquer um vê que não pode ficar.

(Artigo publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 21 de setembro de 1988)

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Despertar da natureza

Pedro J. Bondaczuk

Os poetas costumam comparar as fases da vida às quatro estações do ano. Até aí, eu não disse nada de novo. Isso é mais do que sabido. Talvez você, caríssimo leitor, em algum momento de devaneio (ou de inspiração, como queira), ao compor um poema ou mesmo ao redigir uma crônica, já tenha feito essa comparação, e mais de uma vez. Compara-se, por exemplo, a primavera à infância “cheia de encantos”, mesmo que esta não tenha sido tão encantadora assim e, pelo contrário, haja sido difícil e sofrida, como a de milhões, provavelmente bilhões de pessoas mundo afora. Nem todos (diria poucos) têm esse privilégio. A memória, porém, não retém esses sofrimentos, dificuldades e traumas. Não, pelo menos, explicitamente. Quando os registra, retêm-nos apenas no inconsciente ou no subconsciente (ou em ambos). No plano da consciência, guarda, apenas, o lado bom dessa fase, em que, praticamente, não temos nenhuma responsabilidade ou preocupação.

Já o verão é relacionado à adolescência, repleta de energia; o outono, à maturidade do bom-senso e o inverno, à velhice da solidão e frustrações. Essas comparações foram feitas tantas vezes, por tantas pessoas, que se transformaram em uma espécie de estereótipo, quando não de mero clichê. Discordo, todavia, dela. Prefiro outra, mais positiva e próxima da real. Afinal, as estações do ano repetem-se a cada 365 dias, indiferentes ao fato de estarmos vivos ou não, ao contrário dos estágios da vida.

Relaciono, por exemplo, a primavera à alegria; o verão, ao entusiasmo; o outono; ao bom-senso e o inverno, à experiência que se consegue, apenas, com vivência. Temos essas fases não apenas uma vez na vida, mas inúmeras. Como, aliás, ocorre com as estações do ano, que nada mais são do que conseqüências da posição da Terra em relação ao Sol, em seu giro anual em torno da estrela que nos ilumina, aquece e proporciona condições para que haja vida.

Fôssemos, portanto, escrever sobre as estações do ano racionalmente, sobre o que de fato são, sem recorrermos a símbolos ou metáforas, teríamos pouco a dizer. Quando muito, nosso texto preencheria duas ou três páginas ou, quem sabe, um capítulo mais extenso e só. Tudo o mais que se escrevesse não passaria de repetição, ou de reiteração, como alguns preferem. A Arte, porém, (e não somente a Literatura), multiplica, virtualmente, ao infinito um tema tão banal, limitado e restrito. Para tanto, vale-se da imaginação, que não tem limites e da criatividade, que igualmente tende a ser ilimitada. E disso resultam obras tão belas e expressivas, que nos tocam, sobretudo, a sensibilidade e nos despertam toda uma gama de emoções.

Se todas as estações do ano são importantes para o ciclo de vida na Terra, qual a razão dos artistas preferirem a primavera? Entendo que essa preferência origina-se do hemisfério norte, onde o inverno é muito mais rigoroso, sombrio e duro do que nesse nosso país tropical, com temperaturas não raro oscilando, em alguns lugares, entre 30 e até 50 graus centígrados abaixo de zero e com dias e mais dias de nevascas severas, que afetam todas as atividades. As árvores perdem suas folhas, as flores murcham, os animais buscam refúgio e proteção contra a inclemência do clima e a vida parece parar (evidentemente, não pára, mas reduz bastante seu ritmo). Daí as metáforas comparando o inverno à velhice, fase em que, salvo exceções, reduzimos nosso ritmo ao mínimo, em decorrência do natural desgaste do organismo.

Nesse contexto, a primavera simboliza uma espécie de renascimento, de despertar da natureza após penosa e providencial hibernação. Poucos dias após seu início, os campos, até então crestados e revestidos de cor amarronzada, reverdescem. As raízes brotam, as folhas ressurgem nas árvores, as flores tornam a aparecer, os pássaros despertam e encantam com sua algaravia. A natureza toda se veste de luzes, de sons e de cores, num espetáculo belíssimo que só não sensibiliza os empedernidos e renitentes pessimistas. Há muitos deles por aí que se privam desses encantos gratuitos por razões que só eles conhecem. Desconfio que sejam masoquistas que gostem de sofrer.

Florbela Espanca, entre tantos e tantos poetas, tempo e mundo afora, deixou-nos versos belíssimos a respeito da primavera. Por que a menciono especificamente? Porque tratou-se de mulher sofrida, posto que apaixonada. Porque soube transformar seus sofrimentos em versos pungentes, mas belos. Porque enfrentou circunstâncias de imensa dramaticidade, a tal ponto, que em determinado momento, não conseguiu resistir. Cedeu. Findou por dar cabo da vida, cometendo suicídio. Foi vencida, é verdade, pelo infortúnio, com o que não concordo, embora compreenda. Mas, antes de ceder, fez de suas desventuras belas obras de arte. Sou apaixonado por sua poesia.

Entre seus tantos versos, há um que diz: “Há uma primavera em cada vida: é preciso cantá-la, assim, florida...” Concordo. Apenas discordo dessa limitação: “uma”. Ela não condiz com o que ocorre com a estação que lhe serviu de modelo e de inspiração para a elaboração dessa bela metáfora, pois se repete, desde quando existe o Planeta, com implacável regularidade, todos os anos. Sendo assim, entendo que teremos tantas “primaveras” quantas quisermos (isso, claro, no sentido figurado que a poetisa lhe emprestou), desde que estejamos predispostos a isso. Queiram ou não, o maior desafio que temos é o de fazermos de nossa vida (tão curta, tão efêmera, comparável a um piscar de olhos e muitas vezes tão dramática e sofrida), memorável obra de arte. É possível? Não sei! Mas tento fazer isso com a minha, enquanto ela não se extingue.

Para fazer justiça a Florbela Espanca, partilho com vocês este belíssimo soneto, tendo por mote a primavera, que pincei de um de seus tantos e preciosos livros. Espero que vocês o apreciem tanto quanto o apreciei.

Ruínas

“Se é sempre Outono o rir das primaveras,
Castelos, um a um, deixa-os cair...
Que a vida é um constante derruir
De palácios do Reino das Quimeras!

E deixa sobre as ruínas crescer heras.
Deixa-as beijar as pedras e florir!
Que a vida é um contínuo destruir
De palácios do Reino de Quimeras!

Deixa tombar meus rútilos castelos!
Tenho ainda mais sonhos para erguê-los
Mais altos do que as águias pelo ar!

Sonhos que tombam! Derrocada louca!
São como os beijos duma linda boca!
Sonhos!... Deixa-os tombar... deixa-os tombar...”

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Thursday, September 27, 2012

Cada pessoa tem sua “fórmula” mágica para alcançar a felicidade, mas ela apenas será sentida desde que seja identificada. Muitos têm todos os ingredientes necessários para se sentirem felizes, mas não se sentem. Ambicionam o impossível e, com isso, abrem mão dessa desejável condição. Quatro fatores, porém, estão invariavelmente presentes nos caminhos para a felicidade que pessoas dos mais diversos níveis intelectuais e sociais indicam: vida saudável ao ar livre, o amor, a ausência de ambição e a renovação de ideais. A felicidade não é uma pessoa, um lugar ou um objeto específico, mas uma predisposição espiritual. O escritor Edgar Allan Poe (que foi um sujeito sumamente infeliz) também registrou a sua “fórmula”, ao constatar: “As quatro condições elementares para a felicidade são vida ao ar livre, amor de mulher (para os homens, claro, e vice-versa) ausência de qualquer ambição e a criação de um novo e belo ideal”. Simples assim!

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Em livraria – Em qualquer loja da rede de livrarias Cultura espalhadas pelo País.

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Anote e Confira

SERIADO HISTÓRICO
A Rede Globo, desde ontem, está apresentando um seriado, que tem muito de histórico, intitulado “Shogun”. Narra a época das grandes ditaduras militares japonesas, em que estes tinham poderes absolutos, recebidos diretamente do Imperador. Foi uma época em que o Japão ficou, literalmente, fechado para o mundo. A história baseia-se no best-seller do escritor James Clavell e foi transformado numa das maiores superproduções já feitas pela TV norte-americana. Encabeçam o elenco Richard Chamberlain e o grande ator japonês Toshiro Mifune. É uma boa oportunidade para que se matem dois coelhos com uma só cajadada. Ou seja, que se tenha um bom momento de lazer adquirindo, de quebra, cultura. Rede Globo, canal 12, às 22h20.

(Coluna escrita por mim, sem assinar, publicada na página 22, “TEVÊ”, do Correio Popular, em 14 de agosto de 1984).

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Visões da primavera

Pedro J. Bondaczuk

A primavera, como tema literário, é assunto recorrente. Embora se preste a todos os gêneros – a escritores imaginosos e criativos, óbvio –, é explorado, mais, pelos poetas. Era de se esperar, não é mesmo? Ainda assim, não deixa de ser permanente desafio a quem se aventure a tratá-lo. Como ser criativo e original na abordagem de um tema tão explorado? Com talento, evidentemente. E haja talento!

Há uma semana venho me dedicando a uma deliciosa pesquisa, dessas que dão vontade de tornar permanentes, pela satisfação estética que proporcionam. Explico. Tenho lido, madrugadas adentro, um punhado de antologias poéticas, nacionais e estrangeiras, blogs e sites literários, além de minha vasta hemeroteca, garimpando textos, de poesia ou não, que tenham por tema a primavera.

Encontrei uma quantidade impressionante! Daria para preencher, sem nenhum exagero, uma coleção inteira, de grossos e alentados volumes, só com o que já foi escrito a respeito e que tenho em meu poder. E meu acervo pessoal, embora vasto, é apenas minúscula gota de água em vastíssimo oceano de criação artística. É fascinante ler em conjunto tamanha variação sobre o mesmo tema.

É certo que o conteúdo desses textos se repete, de um escritor para outro, se cuidadosamente filtrado. A forma de ser explanado, todavia, é variadíssima, de acordo com a formação, o talento, a visão de mundo e até as circunstâncias de cada um. Aliás, essa repetição temática pode ser observada não somente na produção de um autor para outro, mas na obra de um mesmo escritor. Pudera! Afinal, não se trata de nenhum tema inesgotável. Por mais criativo que o sujeito seja na invenção de metáforas, o assunto abordado é limitado. E aqui cabe um superlativo (tão ao meu gosto, como vocês certamente já notaram): é limitadíssimo!

Resolvi estender ainda mais a pesquisa e fui ao meu arquivo pessoal para verificar o que já escrevi sobre a primavera. Fiquei, simultaneamente, surpreso e decepcionado com o que encontrei. A surpresa deveu-se à quantidade de textos a respeito, entre crônicas (em menor quantidade) e poesias (uma profusão delas). A decepção ficou por conta da qualidade dessa produção, não a em prosa, porém a em verso. Achei meus poemas (na maioria sonetos), um tanto piegas. Lembrei-me de imediato de uma observação que li, há algum tempo, de Fernando Pessoa, que afirmou que amores bem sucedidos inspiram, via de regra, má poesia.

Deve ser isso! Pode ser também decorrência da forma com que trato minha produção poética, ou seja, da mesma maneira que ajo em relação aos meus diários: como textos rigorosamente íntimos e pessoais, não destinados a consumo externo e, por conseqüência, à divulgação. Nunca me passou pela cabeça, por exemplo, a mais remota intenção de publicar um livro de poesias. Ademais, mesmo que tivesse essa pretensão, seria memorável façanha encontrar editora disposta a publicá-lo, a menos que eu fosse um Victor Hugo, ou Carlos Drummond de Andrade, ou Manuel Bandeira, ou Jorge Luís Borges, entre dezenas de milhares de outros. Como não sou... a probabilidade desse tipo de publicação ser viabilizado beira a zero.

Outra possibilidade é a de eu ser extremamente rigoroso em relação à minha produção poética. Muito poema – que me vi tentado até a destruir – quando avaliado por terceiros, recebeu plena aprovação. Pode ser, claro, que tenha sido aprovado apenas para me agradar. Nunca saberei qual a real intenção alheia. Ninguém sabe.

Constatei que nas últimas duas décadas, não falhei um único ano na composição de poemas sobre a primavera. Minto, não compus, ainda, o de 2012. Todavia, tenho certeza de que o comporei, na esperança de, desta vez, acertar a mão e produzir minha obra-prima, mesmo que seja somente para meu deleite pessoal.

Para não dizerem que morro de medo de me expor ao ridículo, partilho, com vocês, os cinco poemas (no caso, sonetos) sobre a primavera, compostos nos últimos cinco anos, em ordem decrescente, cônscio de suas múltiplas deficiências formais e temáticas, posto que rigorosamente espontâneos e sinceros. Ou seja, eu estava “sentindo” o que escrevi. São, portanto, instantâneos de sentimentos, no momento exato de sua ocorrência, sem tirar e nem pôr. Só peço-lhes complacência (quem sabe, piedade) em seu julgamento.

Promessas e lembranças

Doce amada, há tanta promessa em seu olhar!
Há magia, há ternura, há tanto encantamento,
que jamais poderei esquecer o momento
em que nos amamos sob a luz do luar.

Nossos corpos febris, em perfeita harmonia,
nossas almas fundidas, num só ideal,
nos seus olhos profundos, atônito, eu via
a ciência vedada do bem e do mal.

Como esquecer aquele instante de beleza,
de místico êxtase que nos dominava,
que era incomparável em toda a natureza?!

Repetir aquele instante, ó Deus, quem me dera!
Era noite clara...ao longe, um mocho piava.
O mundo despertava...era primavera!

Dá-me flores

Dá-me flores, minha doce amada,
as flores do seu sorriso lindo,
do seu amor fértil e infindo,
dá-me uma rosa fresca, orvalhada.

Dá-me um cravo, de intenso rubor,
magnólias, hortênsias, margaridas...
Ornemos de flores nossas vidas,
de todos matizes, toda cor.

A natureza, sábia, revela
que viver, afinal, vale a pena.
Dá-me flores, doce amada, bela,

tê-las todas tanto eu quisera:
minha alma, afinal, não é pequena!
Desponta, radiosa, a primavera...

Por bosques floridos

Caminhemos, de mãos dadas, embevecidos,
embriagados, pelos bosques da poesia,
a haurir o perfume deste novo dia,
de intensa luz, por estes caminhos floridos.

Vivamos, sem pudor, o nosso sentimento,
esta nossa absoluta e total comunhão,
congelemos no tempo o peculiar momento
do da alma e do corpo perfeita fusão.

Sejamos um só...assim...indissociáveis,
anjos etéreos, paradigmas da inocência
a viver fantasias inimagináveis.

Doce amada, o momento não comporta espera,
nosso amor urge, deixe de lado a prudência,
amemo-nos com fervor, pois é primavera...

Estação do amor

Veja, amada, de novo renascem as flores.
Quanto encanto! Quanta beleza e poesia!
Que espetáculo ímpar de luzes e de cores!
Você ilumina minha vida... meu dia...

Dos seus olhos emanam mensagens sutis.
Emana toda a inspiração de que preciso.
Nas árvores cantam, em festa, os bem-te-vis,
e eu me embeveço no frescor do seu sorriso.

Esqueço as mágoas, os desencantos, saudades,
e renovo, com fervor, minha tíbia crença,
meus sonhos loucos e todas minhas verdades,

na contemplação do seu juvenil frescor
e no sutil encanto da sua presença.
Afinal, é primavera...estação do amor!

Eterna primavera

Veja, amada, de novo é primavera.
E veio com mais charme desta vez.
Pudera, querida – ah, meu Deus, pudera! –
vê-la vestida de ouro dos ipês!.

Pudera, meu anjo – que veleidade! –
ó doce amada, alma gêmea minha,
dar-lhe o mundo – quanta felicidade! –,
do meu destino fazê-la rainha!

Seria feliz e realizado.
Só busco seu bem e a sua alegria,
apesar de ferido e de cansado

e do desgaste da angustiante espera.
Quero viver com paz, com harmonia,
fazer da vida eterna primavera.

Voltarei, certamente, ao tema, enfocando o tratamento dado por outros poetas (apenas uma meia dúzia deles) a esse recorrente assunto.

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