Tuesday, May 31, 2011










O comunicador, antes de tudo, é o que poderíamos chamar, figurativamente, de “fazedor de cabeças”. O texto, em geral, adquire maior credibilidade do que a palavra oral. Além de tudo, permanece, ao contrário daquilo que dizemos, que entra por um ouvido, sai por outro, e em geral, acaba esquecido minutos depois. Ou, quando é algo de fato relevante, deixa uma ou outra informação gravada na memória, de forma truncada, já que muitos detalhes (alguns essenciais) se perdem. Para que possamos “fazer cabeças”, diz a lógica, é preciso que, antes, tenhamos a nossa cabeça feita. O papel em branco numa máquina de escrever (ou tela vazia do monitor do microcomputador, hoje em dia o instrumento por excelência do redator) é um desafio aos que fazem desse ato de inteligência e comunicação uma espécie de estilo de vida. Que o façam com competência, generosidade e desprendimento, sempre com o objetivo de orientar, consolar e construir.

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Por dentro da TV


NOVOS TIPOS NO "VIVA O GORDO"

O programa "Viva o Gordo", que já melhorou muito este ano, em relação a 1983, deverá sofrer mais evolução ainda, com a criação de vários tipos novos, que prometem ser sensacionais. Aliás, como todos aqueles que o Jô Soares costuma fazer. Para estudar as alterações o humorista, inclusive, marcou reunião com sua equipe, especialmente com o redator Max Nunes e o diretor Cecil Thiré, para começo de fevereiro. Na segunda quinzena desse mês, as gravações devem ter início, para que o programa retorne remodelado, em março, ao ar. A produção ficará a cargo de Mozart Régis, o Pituca, e o empenho nessa temporada deverá ser, inclusive, maior do que nos outros anos. Afinal, em 1985 ocorre o vigésimo aniversário da Globo e Jô pretende marcar firme presença na programação.

SUPERSTIÇÃO DE ROBERTO

Roberto Carlos é mesmo uma pessoa muito supersticiosa. Uma de suas manias é achar que a cor marrom traz um azar danado. E ele não usa, nem admite perto dele, nada que tenha essa coloração. Durante as gravações de seu especial de fim de ano, que vai ao ar na próxima semana, o rei chegou a dar até vexame. É que na suíte do estúdio, onde algumas cenas deveriam ser gravadas, havia um grosso tapete no chão. Até aí, tudo bem. Acontece que ele era da cor...Vocês já adivinharam. O tapete era marrom. E quem diz que Roberto Carlos entrava naquela bendita suíte? Enquanto o tapete não foi removido, o rei não entrou naquele recinto de maneira alguma. É o tal negócio, mania é mania e ponto final!

A CIGARRILHA DO FELIPE

Outro dia, no barzinho da Globo, no Jardim Botânico, Felipe Carone aprontou um "fuzuê" danado. É que o ator tem a mania de fumar umas cigarrilhas fininhas e de um cheiro de tontear qualquer um. Felipe gosta tanto delas, que as distribui a todos os amigos que encontra. Foi o caso de Nuno Leal Maia, que mesmo não tendo o vício de fumar, por insistência do colega, resolveu experimentar a decantada cigarrilha. Gpzador como é, Nuno saiu soltando baforadas de fumaça pelo bar, sem tragar, mas poluindo o ambiente. Por uns bons tempos, após essa "dedetização", o barzinho estará a salvo de insetos...

(Coluna escrita por mim, não assinada, publicada na página 22, de TV, do Correio Popular em 21 de dezembro de 1984)

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Fonte de reflexão

Pedro J. Bondaczuk


Permita-me, caríssimo leitor, o atrevimento de invadir sua privacidade, para perguntar: por que você lê? Por que é obrigado por seus professores? Para aprender? Para se divertir? Ou por todos estes motivos juntos? É óbvio que, se não for dado ao hábito da leitura, não estará lendo este questionamento. Por isso, não terá como respondê-lo. Para tudo há uma razão e para este saudabilíssimo exercício (na verdade supremo privilégio), também há. Machado de Assis, no livro “Cartas fluminenses”, capítulo I, intitulado “A opinião pública”, confessa: “Leio por instruir-me; as vezes por consolar-me. Creio nos livros e adoro-os”.

Meu motivo para a leitura é semelhante. Só aduziria que, além de instruir-me e de consolar-me, leio para exercitar a capacidade de reflexão. Sobretudo sobre este insondável mistério, que é o atinente à minha origem e ao meu fim, ou seja, à vida e à morte. Detesto temas mórbidos e, sempre que posso, fujo deles. Conheço, e muito, qual meu destino final, mas recuso-me a pensar nele, pelo menos com freqüência ou espontaneamente. Temo a morte, embora tenha plena consciência que jamais conseguirei fugir dela. Todavia, mesmo consciente de que um dia (que felizmente não sei quando e nem como) passarei por essa experiência definitiva, não vejo sentido em pensar nela e sofrer por antecipação.

Vida e morte são temas constantes e recorrentes na literatura e nem poderia deixar de ser. Todos os escritores, em todos os livros, não importa o gênero, falam, de uma forma ou de outra, ou explicitamente, ou nas entrelinhas, dessa origem e desse fim. Percorri a esmo uma das estantes da minha caótica biblioteca, abri a esmo vários volumes, de escritores os mais variados, de estilos e épocas diferentes, e pincei estas citações, sobre esses dois misteriosos fenômenos, ambos interditos à nossa vontade, que partilho com vocês.

O norte-americano John Updike, por exemplo, no romance “O Encontro”, escreveu a propósito: “Somos na nossa maior parte uns monstros. As pessoas falam em gostar da vida. A vida é como um doido furioso”. Pessimismo à parte, é assim que ela se apresenta muitas vezes. Felizmente, porém, nem sempre. Mas que, em determinadas ocasiões, a vida parece um doido furioso, disso não tenho como negar.

Já o psicanalista Carl Gustav Jung mostra-se mais objetivo a respeito e traça esta pitoresca metáfora a tal propósito: “Tão intensamente e incansavelmente como a vida sobe antes de atingir a metade de seu curso, desce ela agora a outra vertente, pois sua meta não está no ápice, mas no vale onde começou a subida”. E não tem razão? Engraçado como não nos damos conta dessa realidade.

Outra avaliação pessimista que colhi é desta declaração de um dos personagens do romance “A cidade e as serras”, do português Eça de Queirós: “Miséria do corpo, tormento da vontade, fastio da inteligência – eis a vida!”. O fato de citar este desabafo, não quer dizer que concorde com ele. Claro que tem seu fundo de verdade. A vida, todavia, não é apenas isso, ou seja, “miséria do corpo e fastio da inteligência”. E o que é, no final das contas? Quem sou eu para definir isso, ainda mais com precisão?!

Do filósofo norte-americano Will Durant pincei definição a propósito da morte, que ele qualifica como uma espécie de “remoção do lixo” do Planeta, promovida pela natureza. Em certo aspecto, ele não deixa de ter razão, embora eu considere a metáfora um tanto forte. Esse notável pensador escreveu, em seu livro clássico “Filosofia da vida”: “Se fôssemos viver eternamente, o crescimento da raça se paralisaria, e as folhas novas não encontrariam espaço na terra. A morte, como o estilo literário, não passa da remoção do lixo, do inútil. Por meio do amor transmitimos nossa vitalidade a formas novas antes que a nossa forma pereça”. Faz sentido, não é fato?

O poeta alemão, Stefan George, por seu turno, vê magia no fato de sobrevivermos. Face à imensa quantidade de riscos à sobrevivência não apenas da nossa espécie, mas de todas sem exceção, que sequer nos damos conta, mas que são concretas e reais, acho felicíssima a constatação. O escritor escreveu a propósito: “Só a magia mantém a vida acesa”. Estranho é o fato de haver tanta gente que não se dê conta disso. Essas pessoas são, simultaneamente, homicidas e suicidas potenciais, como apologistas da morte. Credo! Mas o que fazer? Há gosto para tudo!

Outro que analisa a questão com racionalidade e objetividade é o psicanalista Erich Fromm, que escreveu a respeito: “O homem é dotado de razão; é ‘a vida consciente de si mesma’; tem consciência de si, de seus semelhantes, de seu passado e das possibilidades de seu futuro. Essa consciência de si mesmo como entidade separada, a consciência de seu próprio e curto período de vida, do fato de haver nascido sem ser por vontade própria e de ter de morrer contra sua vontade, de ter de morrer antes daqueles que ama, ou estes antes dele, a consciência de sua solidão e separação, de sua incompetência ante as forças da natureza e da sociedade, tudo isso faz de sua existência apartada e desunida uma prisão insuportável. Ele ficaria louco se não pudesse libertar-se de tal prisão e alcançar os homens, unir-se de uma forma ou de outra com eles, com o mundo exterior”.

E a forma de união aos semelhantes por excelência são os livros. É a literatura, quando encarada em seu devido contexto. Em vez de pensarmos na morte, que é fatalidade biológica, e nos preocuparmos com ela, o que é inútil porquanto ela é inevitável, o mais sensato e inteligente é desenvolvermos o gosto de viver. Só nós podemos fazer isso. Quem conhece, por exemplo, os livros de Bertrand Russell, sabe o quanto esse filósofo inglês era realista. Tinha os pés no chão, como se costuma dizer.

Muitos vêem, até mesmo, em sua obra, profundo pessimismo. No entanto, em 1962, ao completar 90 anos de idade, Russell deu a seguinte declaração, em entrevista a jornalistas, que desmente a impressão que eu tinha sobre ele: “À medida que o tempo passa, aumenta o meu gosto pela vida. Tenho a impressão de que estou ficando até mais belo. Os dez últimos anos foram para mim muito bons. E acredito que os próximos dez anos vão ser ainda melhores”. E foram, ou quase. Russell aproximou-se da idade centenária (morreu com 98 anos), lúcido e produtivo e, acima de tudo, atuante como ativista contrário às armas nucleares.

Para encerrar este nosso bate-papo diário, cito outro filósofo norte-americano da minha preferência, cuja obra exerce profunda influência na minha forma de encarar a vida. Refiro-me a Ralph Waldo Emerson, cujas mensagens iluminaram-me dezenas, centenas, milhares de manhãs ao longo dos anos com seu lúcido otimismo. Ele escreve, no trecho que pincei de um de seus livros: “A vida consiste naquilo em que o homem pensa todo dia”. E para mim, ela é uma excitante (posto que perigosa) aventura, que não tem reprise e que por isso tem que ser gozada com plenitude. Pena que não possa ser eterna. Agora vocês entendem por que (a exemplo de Machado de Assis), “creio nos livros e os adoro”?




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Monday, May 30, 2011










A tarefa da comunicação se complica, para muitos, quando feita através de texto. Implica, a priori, no conhecimento da grafia das palavras, das regras gramaticais, do significado exato de cada termo. A principal virtude de um bom redator é a clareza, seguida da concisão. É indispensável que se faça entendido. Além disso, o que escreve precisa ser interessante, tem que atrair o leitor, e prender a sua atenção. O comunicador precisa, sobretudo, atentar para o essencial: o que vai comunicar e para quem. O que tem a dizer vai esclarecer os leitores, ajudar a formar uma opinião, servir de acréscimo ao seu acervo cultural, ou se trata, somente, de um conjunto de lugares-comuns, de um rosário de críticas inconseqüentes, ou de lamúrias neuróticas? Caso não vá construir, ajudar ou orientar, o melhor é sequer escrever. A comunicação é importante demais para ser feita de forma desleixada, incompetente e desastrada.

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PERFIL


ÍSIS DE OLIVEIRA


Quem viu Ísis de Oliveira atuando nas quatro novelas que fez na Rede Globo, “Plumas e Paetês”, “O Amor é Nosso”, “Sétimo Sentido” e “Champanhe”, nem imagina que a sua carreira começou, prarticamente, graças a uma série de acasos. Em princípio, a sua beleza foi a chave que lhe abriu as portas do mundo da TV, para onde entrou através da atividade de modelo.
Ísis trabalhava no escritório de uma empresa de venda de condicionadores de ar, quando uma conhecida, ligada a determinada agência de manequins, reparou no seu porte e fez uma sugestão para que ela fizesse um teste. AS atriz, entretanto, decidiu fazer, também, o curso de modelo e, como não dispunha de recursos para pagar uma escola particular, acabou indo para o Senac, no Rio de Janeiro.
Concluído o aprendizado, Ísis foi trabalhar numa firma de modelos, onde ficou conhecendo a Alcione Mazzeo. Por sugestão desta, decidiu fazer um teste na Globo, que estava selecionando moças para o “Fantástico”. E não deu outra: foi aprovada.
Passou, então, a integrar a linha de shows da emissora, até que apareceu a oportunidade na novela “Plumas e Paetês”, que abordava, justamente, a profissão de manequim. Embora ainda exerça a atividade de modelo, Ísis de Oliveira sonha mais alto. Sem abandonar essa carreira, pretende lançar-sae, em breve, nos palcos de teatro e, para tanto, está estudando canto, jazz e balé clássico.
Este é o perfil de uma atriz de garra e de muito talento, nascida no interior fluminense, na cidade serrana de Friburgo, e que está a poucos passos do estrelato.

(Coluna escrita por mim, sem assinar, publicada na página 22, TV, do Correio Popular, em 9 de agosto de 1984).

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Apropriação de personagens

Pedro J. Bondaczuk

O que você acha da nova tendência que começa a se manifestar na literatura, de um determinado escritor se apropriar de personagens criados por outro, embora (como seria de se esperar) tenha estilo muito diferente do que os criou? Da minha parte, não gosto. Considero, até, como uma espécie de plágio. Além do que, revela falta de imaginação para criar seus próprios tipos. Mas, acompanhando o noticiário do mundo das letras, fiquei sabendo de pelo menos dois casos desses, e não de apenas um, revivendo personagens famosos e já consagrados.
Na Inglaterra, por exemplo, o personalíssimo detetive Sherlock Holmes volta à ativa, vivendo novas aventuras de mistério e de suspense, mas, desta vez, não através da pena hábil e inspirada de seu criador, o escritor Arthur Conan Doyle, mas de seu compatriota e admirador Anthony Horowitz. O romance, com esse ícone das histórias policiais, está previsto para ser lançado em setembro de 2011. O livro, que ainda não tem título, certamente irá vender bastante, até em decorrência da curiosidade. Leitores compulsivos de Conan Doyle, entre os quais me incluo, certamente irão ler a história do “renascimento” de Sherlock Holmes em busca de semelhanças e diferenças do original.
Posso estar sendo muito severo e radical. É bem possível que os leitores discordem da minha opinião (o que, aliás, é bastante saudável, desde que essa discordância ocorra em alto nível, de forma educada e respeitosa), mas considero a atitude de Horowitz, escritor bastante jovem (tem 46 anos de idade), uma grande apelação. É verdade que ele não se apropriou, sem mais e nem menos, do célebre personagem, mas obteve autorização para agir assim dos detentores dos direitos autorais de Conan Doyle. Ainda assim... Está aí um bom assunto, suficientemente polêmico, para vocês opinarem.
Mas não será, apenas, Sherlock Holmes que vai ser “ressuscitado”, na indefectível companhia do seu excêntrico e fidelíssimo parceiro, o Doutor Watson. James Bond, o acrobático e cheio de truques agente 007, criado pelo também britânico Ian Fleming, terá, igualmente, esse “privilégio” (ou seria “desgosto”?). O escritor que escreverá um novo romance, contando suas aventuras, é o norte-americano Jeffery Deaver. Este livro, ao contrário do de Horowitz, já está esboçado e tem até mesmo título: “Carte Blanche”. Será lançado, simultaneamente, na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos no mesmo dia (se não fosse, aliás, não seria simultâneo, não é mesmo?), em 26 de maio de 2011. As editoras, porém, são diferentes. No reino da Rainha Elizabeth II, é a Hodder & Stoughton. Já na terra de Tio Sam, a publicação ficou a cargo da Simon & Schuster.
Jeffery, a exemplo de Horowitz, também conta com a autorização dos detentores dos direitos autorais de Ian Fleming. Mas há uma diferença entre ambos. O primeiro, foi apenas “autorizado”. Ou seja, tomou sozinho a iniciativa de reviver o Sherlock. Já Deaver ressuscitará James Bond a pedido da família de seu criador. E o agente 007 vai viver sua nova aventura na localidade da moda atual, ou seja, em Dubai, nos Emirados Árabes.
Aliás, recentemente, Sebastian Faulks já trouxe o espião cheio de truques do serviço secreto britânico de volta, no livro “Devil Mary Care”, que logo, logo estará nas telas do cinema. A bem da verdade, embora ninguém tenha informado a respeito, estou certo de que o enredo de Jeffery logo, logo, também ganhará sua versão cinematográfica.
No caso do excêntrico detetive inglês, Horowitz observou, em recente entrevista que concedeu à rede BBC de rádio e televisão, em Londres: “Apaixonei-me pelas histórias de Sherlock Holmes quando tinha 16 anos e eu as leio e releio desde então muitas vezes”. O escritor, porém, assumiu solene compromisso com os amantes deste conhecidíssimo (e amado) personagem: “O Holmes será exatamente o Holmes dos livros de sir Arthur Conan Doyle. Não quero tomar liberdade com um personagem tão icônico”.
Mas isto é possível? Afinal, os contextos e circunstâncias de vida dos dois escritores são absolutamente diferentes. E, por conseqüência, as mentalidades de ambos. Conan Doyle viveu em uma Inglaterra poderosa, governada pela Rainha Vitória, que centralizava um império “onde o sol jamais se punha”.
Horowitz\, por seu turno, nasceu e vive num país que perdeu muito da sua importância internacional, que agora se restringe, praticamente, à sua ilha e um ou outro território fora dela . Está longe, muito longe, de ser a potência que já foi. Teve que abrir mão de praticamente todas suas colônias, que, a rigor, sustentavam seus luxos e extravagâncias no passado.
Da minha parte (e não me entendam mal, não quero me comparar nem a Ian Fleming e muito menos a Conan Doyle), não gostaria que ninguém, por mais talentoso que seja e por melhores que sejam suas intenções a meu respeito, se apropriasse de personagens que já criei, estou criando e que ainda vou criar. Que cada qual invente suas histórias, e seus protagonistas, sem se apropriar das idéias de ninguém (e principalmente das minhas que, embora canhestras, são muito íntimas e particulares). Mas que Deaver e Horowitz têm tudo para faturar alto e engordar ainda mais suas respectivas contas bancárias, ah, isso têm de fato, não dá para negar.





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Sunday, May 29, 2011













O ato de comunicar um pensamento, um sentimento, uma idéia ou uma informação implica em maiores dificuldades que um leigo pode imaginar. A deficiência de comunicação tende a provocar enormes contratempos, que não raro descambam para conflitos, entre as pessoas, gerando antagonismos e brigas, na maioria das vezes evitáveis. Isto é válido desde as relações pessoais do dia-a-dia (no lar, no trabalho, no lazer e na convivência social), até o relacionamento entre povos. Muito marido indispõe-se com a esposa por não saber lhe comunicar corretamente uma emoção. Ou por não se fazer entendido ao lhe prestar determinada informação sobre os seus atos. O mesmo acontece com pais, com filhos, com patrões, com empregados, com amigos etc. A palavra é poderosa, quando manejada com perícia. Contudo, pode tornar-se uma faca de dois gumes se utilizada de maneira desastrada. Pense nisso...

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Ideais que ainda são retórica

Pedro J. Bondaczuk

Os ideais da Revolução Francesa (cujo ápice das comemorações de seu bicentenário ocorre nesta semana em Paris) ainda estão para ser concretizados em alguma parte do mundo, qualquer que ela seja, embora não se possa, em circunstância nenhuma, negar a sua importância. O lema dos revolucionários, !liberdade, igualdade e fraternidade”, é mais retórico do que nunca nos dias atuais, em que dois terços da humanidade lutam desesperadamente para sobreviver, para que o um terço restante goze das benesses do trabalho da imensa maioria.
Nem mesmo nas sociedades mais evoluídas do Planeta, como a dos Estados Unidos ou dos países industrializados da Europa Ocidental, há algo que sequer pareça com este dístico. Por toda a parte em que se olhe, em maior ou menor grau, o egoísmo, a prepotência e a injustiça campeiam. Daí o clima de desesperança, de ceticismo e até de um cínico conformismo caracterizarem a nossa era.
Caso os ideais dos revolucionários franceses pudessem ser implantados, não somente na França, mas em todo o mundo, certamente não teríamos, por exemplo, um bilhão de seres humanos carecendo de um teto sobre suas cabeças. Nem 750 milhões de analfabetos, sem perspectivas que não sejam a de serem reduzidos a meras bestas de carga por parte dos demais. Nem cerca de 50 milhões de desabrigados, das diversas guerras civis, movimentos de libertação e “revoluções salvadoras”. Nem haveria quarenta crianças morrendo de fome, a cada minuto, planeta afora, enquanto há tanto desperdício dessa dádiva generosa da terra (os alimentos que ela produz, desde que devidamente cultivada).
Caso os ideais da Revolução que empolgou a França, há 200 anos, e que lançou os fundamentos da Declaração Universal dos Direitos Humanos – endossada nas Nações Unidas por quase todos os países do mundo, mas rigorosamente não respeitada por nenhum – estivessem vigorando, não teríamos tanta gente encerrada em calabouços, por causa de convicções políticas ou religiosas ou por serem etnicamente discriminadas.
Não haveria nenhuma forma de tortura. Não existiria a pena de morte, um instrumento de crueldade e de vingança, e nunca uma estratégia para a reeducação dos que infringem as leis, muitas vezes criadas por homens iníquos e corruptos, que legislam em causa própria.
Não se dividiria o Planeta em Primeiro, Segundo e Terceiro Mundos e nem haveria barreiras nacionais, que ao contrário de atuarem no sentido da promoção do homem, fazem dele meras peças de diabólicas engrenagens que o reduzem à servidão.
As sementes para uma existência melhor foram lançadas, mas não caíram em terreno fértil. O caminho para o Paraíso está balizado, mas enormes abismos abriram-se sob os pés dos que o desejam trilhar. A grande “Revolução do Amor” ainda está por ser feita. Isto, se a demência não levar a humanidade ao temido, e previsível, “doomsday” nuclear.

(Artigo publicado na página 16, Internacional, do Correio Popular, em 11 de julho de 1989)

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Painel de ideias e de culturas

Pedro J. Bondaczuk

O Prêmio Príncipe das Astúrias de Letras e um dos mais cobiçados e prestigiosos, dos tantos que há mundo afora. É sumamente democrático e aceita a candidatura de todos os escritores, independente de sua nacionalidade ou do idioma em que produzam suas obras, desde que satisfaçam suas únicas condições, ou seja, “cujo trabalho de criação ou de pesquisa represente uma contribuição relevante à cultura universal nos campos da literatura e da lingüística”.
Dos vários prêmios literários de que tenho conhecimento, este é um dos que têm mais amplo caráter internacional. Seu âmbito de abrangência é, virtualmente, ilimitado, o mundo. Provavelmente, nesse aspecto, seja superado, apenas, pelo Nobel de Literatura. Trata-se, pois, de um prêmio que qualquer escritor de sucesso gostaria de incluir em seu currículo, pelo prestígio que dá.
Para que vocês tenham uma idéia de sua abrangência, a edição de 2011 contará, conforme leio num despacho da agência de notícias espanhola EFE, com 32 candidatos. Até aí, nada de mais. Há prêmios com número superior de candidaturas. O que chama a atenção, todavia, é o fato desses postulantes procederem de 25 países diferentes, de todos os continentes.
As localidades representadas são: Argentina, Áustria, Austrália, Bósnia, Brasil, Canadá, Cuba, Chile, China, Estados Unidos, França, Guatemala, Grécia, Holanda, Irã, Itália, Líbano, Macedônia, México, Portugal, Reino Unido, Romênia, República Checa, África do Sul e Espanha.
Como se vê, os 19 juradoa terão pela frente uma tarefa digna dos “doze trabalhos de Hércules”. Têm, diante de si, um painel das principais tendências literárias do mundo na atualidade, com imensa variedade de idéias, costumes, tradições, estilos, personagens, enredos e formas de expressão os mais variados e complexos possíveis. Lendo as obras dos escritores candidatos, teríamos um painel praticamente completo do panorama literário mundial de hoje. É uma tarefa complexa, não restam dúvidas, no entanto, fascinante.
Para um julgamento que envolve tamanha multiplicidade, que, neste caso, é, sobretudo, subjetivo, o júri conta com escritores, jornalistas, professores de literatura, críticos literários e até mesmo um empresário, no caso um banqueiro. Creio que a mescla foi inteligente e suficientemente variada. Este, no meu entender, é um tipo de disputa em que não há vencedores e nem vencidos. Claro que o objetivo de todos os candidatos é o de obter o prêmio máximo. Mas só o fato de participar de uma premiação de tamanha envergadura e abrangência já é um ponto positivo para todos os 32, para enriquecerem seus respectivos currículos.
O ganhador do prêmio em 2010 foi Amin Maalouf, escritor e jornalista (mantendo a tradição da nossa profissão de produzir excelentes autores de ficção) libanês, ex-che de redação da prestigiosa e reputada revista “Jeune Afrique”, autor de vários livros de sucesso, como “Leão, o africano”, “Samarcanda”, “Os jardins da luz”, “O périplo de Baldassera”, “Origens” e “O amor de longe”, entre outros.
Além de literatura (com os 32 candidatos de 25 países), o Prêmio Príncipe das Astúrias, promovido pelo Instituto de mesmo nome, em homenagem ao herdeiro da coroa espanhola, tem, também, as seguintes premiações, igualmente atribuídas a cada ano, desde 1983: Artes, Comunicação e Humanidades, Cooperação Internacional, Ciências Sociais, Esportes, Pesquisa científica e Técnica e Concórdia.
A literatura brasileira, ao contrário do que ocorre com o Prêmio Nobel, já foi contemplada, o que atesta sua inegável qualidade e a alta criatividade dos nossos escritores. Quem ganhou essa premiação para o Brasil foi a imortal da Academia Brasileira de Letras, entidade que já chegou a presidir, a carioca Nélida Piñon, em 2005. Como se vê, fomos otimamente representados.
Entre os nomes mais famosos, que já ganharam esse prêmio, estão alguns ganhadores do Nobel. Os que chamam mais a atenção são: Juan Rulfo (1983), Mário Vargas Llosa (1986, junto com Rafael Lapusa), Camilo José Cela (1987), Carlos Fuentes (1994), Doris Lessing (2001), Arthur Miller (2002), Susan Sontag (2003, junto com Fatama Memissi), Paul Auster (2006), Amos Oz (2007) e Ismail Kadaré (2009).
Aos vencedores, em todas as categorias, é oferecida, anualmente, uma escultura do magnífico e genial artista catalão Joan Miró. Estarei atento, estejam certos, ao resultado, notadamente da categoria Literatura (a “nossa praia) e torcendo, sem dúvida alguma, pelo sucesso do representante brasileiro (que infelizmente não consegui apurar quem é).



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Saturday, May 28, 2011










Há pessoas absolutamente crédulas, que acreditam em tudo o que ouvem, lêem ou vêem, sem o mínimo senso crítico. Com isso, jamais chegam à verdadeira sabedoria, que fica misturada, em suas mentes, a falsidades e superstições. No outro extremo estão os céticos empedernidos, que não crêem em nada, mesmo que haja irrefutável comprovação da verdade daquilo que duvidam. São piores do que o apóstolo Tomé. Mesmo pondo os dedos nas chagas de Cristo, não acreditam que estejam diante do Mestre. Deixam, portanto, de ser sábios, por não reconhecerem a sabedoria. O ideal é a média desses dois comportamentos: nem acreditar cegamente e nem descrer liminarmente. O gênio de Stratford-upon-Avon, William Shakespeare, afirmou, há quase 500 anos: “A dúvida prudente é considerada o farol do sábio”. Duvidar, no primeiro instante, sim, mas com prudência. Contudo, quando algo for comprovado, descrer dele é colocar permanente venda nos olhos.

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Sangue de Lucifer

Pedro J. Bondaczuk

Metal maldito,
sangue das chagas
de Lucifer, ferido
pelo arcanjo Miguel.

Metal demoníaco
que desperta instintos
vis e sanguinários,
vírus de cupidez.

Inanimado monstro,
simulacro de Baal,
‘que se alimenta
de cadáveres,
de vísceras,
do sangue
dos oprimidos.

Divindade dos tíbios,
dos escravos do erro,
de vida nada exemplar,
que de sua substância
erigiram o bezerro
diante do qual se prostrar.

Lágrimas do sol
corrompidas, cáusticas,
vertidas pelos
filhos de Inca.

Fonte de ambições
desenfreadas que
selou o epitáfio
de Montezuma
e sua civilização.

Ditadora de vontades,
implacável tirana
que escraviza mortais
que se julgam eternos.

Cornucópia de Pandora,
de todos males da terra,
que dissimula, com
vilania, as benesses
bem vindas de Ceres.

Monstruosa geratriz
de demência que
trucida a justiça
e pisoteia a moral,

Frágil fio que
sustenta a
Espada de Damócles
da corrupção
e do engano.

Fonte de dissenções
inspiradora de guerras,
que extingue a moral,
a justiça e a bondade.
Homicida e corruptora.

Metal maldito,
sangue das chagas
de Lucifer, ferido
Pelo arcanjo Miguel.
Fútil, ilusório tesouro,
mera pedra inanimada,
matéria prima de
homicidas e vilões,
demônio louro,
sagaz e tentador
mais conhecido como
jóia ou como ouro!

(Poema composto em Campinas, em 7 de maio de 1975).


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Divisão do indivisível

Pedro J. Bondaczuk

A vida do escritor no Brasil não anda nada fácil. Há exceções, claro, mas refiro-me à maioria, a que tem que batalhar muito para chegar ao seu destinatário e árbitro supremo da sua produção, esse ente sem rosto e sem nome (às vezes sem alma, sem piedade e até sem cérebro), mas sem o qual não há razão alguma para se escrever. Claro que vocês já concluíram que me refiro ao leitor. Estou até planejando, a exemplo do que fez o escritor argentino Ricardo Piglia, escrever um livro, exaltando, nas entrelinhas, a importância dessa figura fundamental.
Parodiando Euclides da Cunha, em “Os Sertões”, quando se refere ao sertanejo, constato que “o escritor brasileiro é, sobretudo, um forte”. E tem que ser para superar os obstáculos dessa verdadeira selva em que se constitui o mercado editorial. Pelo menos o nosso, que teoricamente está ao nosso alcance. Raros são os autores nacionais cujos livros ocupem, já nem digo o topo da relação semanal dos mais vendidos, mas até mesmo modesto décimo lugar. Nosso principal problema (se é que posso me expressar dessa maneira), na verdade, não é um só, mas são dois: distribuição e divulgação.
Raramente conseguimos algum espaço na imprensa para divulgar nossos lançamentos. Às vezes, com muito custo, conseguimos a façanha de ter publicada uma escondida e despretensiosa notinha de pé de página, referente aos nossos livros, nas editorias de cultura dos grandes jornais. E se, por uma infelicidade, aquilo que escrevemos com tanto sacrifício, mas com tamanha esperança, interessar algum crítico, mas por razões que não sejam a de qualidade e se ele desancar nosso romance (ou seja lá qual for o gênero), aí que a tragédia é total. Caímos em desgraça de vez. Nossos livros se tornam candidatos mais do que certos a se constituírem em contundentes encalhes nas prateleiras das livrarias. E as portas se fecham de vez para nós.
As coisas, é verdade, já foram piores, muito piores para nós, antes do advento da internet. Hoje, pelo menos, podemos ter um blog, por exemplo, e abastecê-lo com nossa produção literária. Mas o acesso a ele é, também, lotérico. Pode passar muito tempo sem que ninguém visite nosso espaço e, por conseqüência, conheça nossa forma de escrever e as mensagens que temos a transmitir (se a tivermos, óbvio). Mas é melhor do que sequer dispor desse recurso.
Baseado em um poema de Carlos Drummond de Andrade (que o poeta dedicou a outro “monstro sagrado” das letras nacionais, Manuel Bandeira), intitulado “Política literárias”, classifico os escritores pelo alcance de suas obras. Há, por exemplo, os “municipais”, conhecidos, apenas, nos arredores de onde vivem e às vezes nem mesmo ali. E conheço vários que mereceriam projeção não apenas nacional, como até internacional, pela qualidade e relevância de suas obras. E por que não têm? Mistério! Provavelmente por estarem adstritos àquilo que o filósofo José Ortega y Gasset denomina de “circunstâncias”.
Na sequência dessa escala, e em quantidade muito menor que a anterior, há os escritores que chamaria de “estaduais”. São conhecidos bem além dos limites de suas “aldeias”, mas muito aquém do que mereceriam pelos seus talentos e méritos literários. O acesso destes às editoras é menos traumático0, bem como às redações dos jornais. Mas estes também não têm vida fácil.
Finalmente, vem a “elite”, a categoria dos escritores “federais”, cujo número gira em torno de uma centena, se tanto. São bajulados pelas editoras e pela imprensa e, ainda assim, não são, necessariamente, campeões de venda. Não me refiro, claro, às exceções, aos que extrapolam o cenário e mercado nacional e se projetam no mundo todo, traduzidos para dezenas de idiomas e que vendem milhões e milhões de exemplares. Escritores como Paulo Coelho, atualmente, e como foi por muitos anos o baiano Jorge Amado, são fenômenos. Raros de nós podem se ombrear com eles (se é que podemos).
Para quem não se lembra do citado poema de Drummond, refresco sua memória. Diz: “O poeta municipal/discute com o poeta estadual/qual deles é capaz de bater o poeta federal./Enquanto isso o poeta federal/tira ouro do nariz”. Nem sei se Drummond quis dar ao seu poema a conotação que lhe dei. Desconfio que não. Em todo o caso, serve bem ao propósito desta reflexão. Só substituo a palavra “poeta” por “escritor” e uso-o como metáfora dessa divisão do indivisível, que é a literatura.
Aliás, não dá (salvo honrosíssimas exceções) para se viver exclusivamente dessa atividade no País. Quem tentar... terá que conviver não com a miséria, mas com seu extremo, a indigência. Para muitos (e põe muitos nisso), ela é ainda mero bico, e pessimamente remunerado. Para outros tantos, não passa de “hobby”, para se cultivar nas horas vagas. Poucos de nós, por exemplo, recebemos das editoras pagamento adiantado por livros que ainda nem escrevemos e que existem (quando existem) apenas em nossas cabeças.
Não podemos, como muitos medalhões estrangeiros, alugar, por exemplo, um confortável chalé, à beira de algum lago suíço, para na paz, no silêncio e no sossego, escrevermos o que quisermos. Somos forçados a roubar horas e mais horas de sono, vararmos madrugadas após madrugadas, e tudo isso sem a menor certeza (aliás, sem nenhuma) de que pelo menos encontraremos editora que faça nossas obras chegarem a seus destinatários. E ainda assim, nossa literatura é viva, dinâmica, original e pujante, sem ficar nada a dever para a de nenhum outro país (embora nenhum escritor brasileiro tenha, jamais, conquistado um Prêmio Nobel de Literatura). Somos ou não somos, pois, sobretudo. “uns fortes”?! E ai de nós se não formos.

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Friday, May 27, 2011










A oração, seja qual for nossa crença, para ser válida e eficaz, tem que ser uma “conversa” franca, honesta e constante com Deus. Não deve se restringir a momentos críticos da nossa vida, quando precisamos de socorro de quem está acima de tudo e de todos. Também não pode se limitar a pedidos, mas deve incluir agradecimentos pelos bens que nos são concedidos, como a vida, a saúde, a amizade, o amor etc. Se atentarmos bem, temos muito mais a agradecer do que a rogar. Há quem faça da oração uma espécie de “chantagem” com Deus. Muitos prometem mundos e fundos caso tenham algum pedido atendido. Não é por aí. George Bernard Shaw, célebre por suas tiradas, não raro irônicas, escreveu: “A gente comum não ora, apenas pede”. Só tenho uma restrição a fazer às declarações do eminente autor de “Pigmalião”. Não é apenas gente comum que age assim e deixa de orar, para se limitar a pedir. Diria que a maioria tem essa atitude.

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O que comprar:

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Disc-Notas


*** - Três brasileiros estão, atualmente, em paradas de sucesso de cinco países diferentes da América Latina. O disco “Concavo y Convexo”, de Roberto Carlos, é o 5º mais vendido em Bogotá, na Colômbia, mas seu LP de maior sucesso no exterior é “El Amor y La Moda”. Este álbum está em 5º lugar no México e em 4º em Santiago do Chile. Os outros discos brasileiros bem colocados são: “Olímpia”, com Sérgio Mendes, liderando a parada em Lima, no Peru e “Es de Chocolate”, com Emilinha e Robertinho, que é o 6º em Montevidéu, no Uruguai.
*** - Moraes Moreira de LP novo na praça. Trata-se do disco “Mancha de dendê não sai”, lançado no início deste mês.
*** - Luís Carlos Miéle sempre foi conhecido como showman, compositor e humorista. Agora, ele entra de sola no mundo fonográfico com o lançamento do LP “A aventura de gravar um disco”, pela gravadora Polygram. Mas Miele não perde o seu pique de humorista. O LP reúne dez músicas extremamente bem-humoradas e de bom gosto como, aliás, é o próprio showman.

(Coluna escrita por mim, sem assinar, publicada na página 22, “TEVÊ”, do Correio Popular, em 20 de julho de 1984).

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Varinha mágica ou borboleta

Pedro J. Bondaczuk

A poesia, para mim, é um gênero mágico. Primeiro, porque permite que eu divague, quer ao compor um poema. quer ao ler algum composto por outro poeta, sem precisar, necessariamente, fixar-me em um único assunto. Segundo, por prescindir de explicações, que muitas vezes me torna prolixo, monótono e cansativo em minhas abordagens. A poesia é para ser sentida e não propriamente para ser entendida. E a terceira razão da minha preferência por esse gênero é o fato dele estimular a divagação. Em certos momentos da vida, isso não somente é delicioso e estimulante, como é, até, necessário para a manutenção da sanidade mental.

É a leitura ideal, por exemplo, para dias, como o de hoje, em que me encontro com a mente lassa, cansada, dispersiva, sem conseguir a desejada concentração em um tema definido para abordar com vocês. Quero tratar de uma porção de coisas ao mesmo tempo, mas sei que isso faria uma bagunça no cérebro do leitor e o levaria a buscar outra ocupação que não a de ler este meu blá-blá-blá. Por mais específica que seja, ainda assim a poesia é genérica, pelo menos mais do que a crônica, o ensaio ou os gêneros ficcionais: romance, conto e novela.

Atribuo-lhe uma série de epítetos, de conformidade com o meu estado de espírito no momento. Há ocasiões em que a considero como uma espécie de varinha mágica, que tem o condão de transformar até a suprema feiúra em beleza. Em outras, ela me insinua tratar-se de uma borboleta. Como esse estranhíssimo inseto, emerge bela, livre e gloriosa do que é, em princípio, asqueroso verme. A poesia é assim. Transforma palavras comuns e banais em pérolas preciosas, em diamantes, esmeraldas e safiras.

Por falar em borboleta, folheando uma antologia de poetas franceses, deparei-me com este inteligente poema, escrito por Miguel Zamacois – tão bem traduzido por Raimundo Magalhães Junior –, intitulado “A desconhecida”, que diz: “Certo dia, faz muito, há séculos talvez,/voou uma borboleta, – era a primeira vez,//tão bela que, em redor, as coisas, espantadas,/ficaram como que, a um tempo, alucinadas.//Vendo o inseto passar, purpúreo, azul, dourado,/perguntaram: ‘Que é esse objeto dourado?’//A terra disse ao vê-la, faiscante como brasas,/’é uma pedra rara a que nasceram asas!’//A diligente abelha assim depois falou:/’Um pedaço, talvez, do arco-íris, que tombou!’//’É um raio irisado’, – eis o que a rocha pensa, –/’como um dos meus cristais que a luz do sol condensa’.//Logo um pássaro diz: ‘Coisa igual jamais vi!/É a síntese ideal, supera o colibri!’//E a rosa diz, por fim: ‘É um prodígio esta flor./Pois, cem vezes já vi lhe transmutar a cor!’”.

Confesso que não conhecia esse poeta francês até topar com este precioso poema. Precioso e inteligente. É desnecessário dizer que me encantei com esses versos e que iniciei, após sua leitura, paciente e meticulosa pesquisa em busca de outros poemas do mesmo autor. E gostei do que pude ler. Ele consegue manter o nível.

Fiquei imaginando com meus botões: “Como um poeta dessa envergadura é quase um ilustre desconhecido (pelo menos aqui no Brasil) enquanto tanto charlatão, mestre em lugares-comuns e obviedades goza de prestígio que não lhe caberia gozar?! Nem sempre o árbitro das nossas produções, o leitor, é criterioso, sábio e justo. Este é um dos mistérios dessa atividade que tanto amo, mas que tantas frustrações já me causou: a literatura.

É verdade que Zamacois se destacou mais como dramaturgo, com várias peças de sucesso encenadas, notadamente na França, na primeira metade do século XX (nasceu em 1866 e morreu em 1940, em plena Segunda Guerra Mundial, durante a ocupação nazista do seu país). É, a poesia, embora gênero da minha predileção, é, mesmo, cruel com seus produtores. Poucos poetas conseguem o prestígio que merecem. Por isso, a classificação metafórica que lhe dou, a de “borboleta”, cai-lhe à perfeição, como uma luva.

E por que? Muito simples. Porque nasce, não raro, de emoções caóticas, de paixões indomáveis, de sentimentos não raro ruins. Hiberna no cérebro do autor por um determinado período, em que passa por miraculosa metamorfose. E, em determinado dia, emerge à luz do sol, colorida, gloriosa e bela, encantando os olhos e os corações. Mas, em boa parte das vezes (talvez na maior), tem vida efêmera, curta, curtíssima, quiçá de 72 horas ou menos.

Como a borboleta, a poesia é, simultaneamente, “pedra rara a que nasceram asas”; “pedaço do arco-íris que tombou”; “um raio irisado”; “síntese ideal que supera o colibri” e “um prodígio de flor que transmuta centenas de vezes de cor”. Pode ser inútil, como o inseto (embora eu a ache utilíssima); pode ser tão frágil que se despedaçaria ao mínimo toque; pode ser efêmera, mas é de magnífica beleza, enquanto dura...

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Thursday, May 26, 2011










Muitos de nós temos obsessão pelo dia de amanhã. Planejamos, nos preparamos e investimos nosso cabedal de conhecimentos e capacidades não para encararmos o cotidiano, mas de olho num hipotético futuro, cujos limites indeterminamos. Trata-se de um erro, que pode trazer conseqüências danosas para quem age assim. O futuro se constrói hoje, fazendo o melhor possível em cada instante que vivemos e gozando as muitas e muitas delícias que a vida tem a nos oferecer. Da soma do que fizermos e do que gozarmos no dia a dia é que construiremos um amanhã melhor e mais promissor. O escritor Jonathan Swift constatou: “Muitos poucos são os que vivem no presente: a maioria se prepara para viver mais tarde”. Não se trata de abrir mão de planos a longo prazo, longe disso. O que não podemos é adiar esses projetos indefinidamente, sacrificando nossa alegria e felicidade e a dos que nos amam e conosco convivem. Reitero: o amanhã se constrói hoje!

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Cultura e subcultura na TV


Pedro J. Bondaczuk


Existe muita confusão por aí entre o que vem a ser "colonialismo" cultural e "subcultura" passada em grandes quantidades, pelos nossos canais de televisão, aos telespectadores. Dizer que um bom programa estrangeiro leva nosso povo à descaracterização do seu modo de ser e de agir, é grossa bobagem. Cultura, no sentido mais amplo, em seu real significado, não tem pátria e nem nacionalidade. É universal. É soma de talentos e de conhecimentos. É, simplesmente, cultura, sem ser brasileira, norte-americana, francesa, afegã ou swaili. E o intercâmbio entre os vários centros de produção cultural não faz mal a ninguém e, pelo contrário, é bastante saudável.

Entretanto, "subcultura" (e uma dose enorme dela é passada, diariamente, ao público, através do vídeo), como o próprio termo diz, é algo inferior, de nível menor e nocivo, influenciando, nitidamente, tanto as crianças, como àquela faixa da população que, por problemas sociais (que não cabe aqui analisar) é menos esclarecida (e ela é, infelizmente, bastante ampla em nosso País). Também é conhecida como "cultura popular" ou, de forma mais contundente e depreciativa, como "lixo cultural".

Essa manifestação distorcida e sem qualidade também não tem nacionalidade. Tanto pode ser produzida aqui, quanto alhures. A burrice é democrática e universal. É apátrida. Via de regra, a maior parte das bobagens que temos que "engolir", infiltrada, sem que nos peçam licença, em nossos lares, vem do Exterior. Provém de filmes sem qualquer mensagem positiva, sem nada de construtivo, calcados, quase sempre, nos mesmos estereótipos, que nos trazem uma visão irreal, maniqueísta e tola da convivência entre as pessoas e dos vários conflitos que as afetam. Seus objetivos são, declaradamente, comerciais.

Essas "obras" distinguem, nitidamente, o herói --- bonitão, atlético, másculo, defensor intransigente da justiça e dos bons costumes --- do vilão, sempre um personagem feio (ou negro, ou latino ou portador de qualquer deficiência física), protótipo do mal, que urge ser combatido. Os enredos, quando existem, são ridículos, piegas e sem imaginação. Repetem-se. Teoricamente, esses filmes, produzidos às toneladas, estariam apresentando exemplos dignos de imitação. Ou seja, a defesa do justo, do belo e do legal. O crime não compensa (infelizmente compensa!), o bem e a justiça sempre prevalecem, etc.etc.etc. A vida, convenhamos, não é assim.

Com o pretexto de apresentar virtudes dignas de imitação, são exibidos, na verdade, na totalidade dos nossos canais de televisão, em tempos variáveis, autênticos festivais de violência gratuita, que já começa pelos "inocentes" desenhos animados, voltados às nossas crianças, e passam pelos filmes, novelas e até pelos noticiários, cada vez mais centralizados em notícias policiais.

Os defensores desses "filmecos", que nada acrescentam, em termos culturais (alguns sequer divertem), e os há aos montes, comprados aos lotes por uma bagatela (na verdade, de graça já seriam caros), dizem que essas produções são no mínimo úteis. Argumentam que levam o telespectador a um processo de catarse, transferindo para os heróis das histórias exibidas a violência que acumulam e reprimem no dia a dia. Balela, todos sabem.

Alguém já disse que a televisão tem poder hipnótico sobre a maior parte das pessoas. É um poderoso olho (a Bandeirantes adotou esse órgão como símbolo). Não podemos provar, mas provavelmente, pela intensa luminosidade, que atrai irresistivelmente nossa atenção, por atingir nossos sentidos principais de contato com o mundo (visão e audição), as mensagens diretas ou indiretas veiculadas por esse poderoso órgão de comunicação calam mais fundo em nossas consciências (ou no inconsciente, ou no subconsciente talvez).

Não é a toa que o aprendizado, com a utilização do vídeo, se mostra tão eficiente. As formas de violência sugeridas pelos filmes e programas exibidos na TV também são captadas com maior facilidade. Assim, se a pessoa não for dotada de autocontrole (e poucas são), quando surgirem situações idênticas ou parecidas às dos enredos assistidos, as reações tenderão, subconscientemente, a ser as do "mocinho" ou do "bandido", dependendo da tendência de cada um.

Coincidência, ou não, o incremento da violência nas grandes metrópoles mundiais guarda estreita relação com o tipo de programação de TV exibida nessas cidades. O leitor pode fazer sozinho a experiência em sua casa, não precisa acreditar em nós. Sempre que a televisão exibe grandes quantidades de filmes, desses sumamente violentos, no estilo Rambo, as ocorrências policiais, de lesões corporais (agressões, homicídios, estupros, etc.) aumentam na mesma proporção. Claro que a TV não é a causa, mas contribui, com grande parcela, para tornar a sociedade mais violenta. É o efeito "imitação".

A responsabilidade dos que fazem as programações, portanto, é muito grande, bem maior do que a que costumam assumir ou podem supor. Não adiante, por exemplo, censurar determinados programas, limitando-os a certos horários ou certas faixas etárias. Censura não funciona. No atual processo de desagregação familiar, em que a autoridade dos pais é questionada, quando não ignorada, poucas regras são respeitadas na maioria dos lares. E uma que não o é, em absoluto, é a que determina o que uma criança pode, ou não pode, assistir na TV.

A maioria dos pais não impõe nenhuma restrição a qualquer horário ou tipo de programa. Sequer se preocupa com isso e tem lá os seus motivos. Portanto, exibir um filme não recomendável às 21 horas, por exemplo, anunciando-o como não recomendável, digamos, para menores de 12 anos, é o mesmo que convidar crianças dessa faixa etária a assisti-lo. Elas vão querer descobrir o motivo da proibição. E, desde que o homem surgiu na face da Terra, o "proibido sempre foi o melhor".

Muito desenho animado, exibido pela manhã ou no período vespertino, supostamente voltado ao público infantil, é bastante mais nocivo do que os filmes mais violentos, ou pornográficos que possam ser exibidos. Algumas dessas "obras", dessas "maravilhas" de uma imaginação doentia, têm, inclusive, causado graves traumas em crianças mais sensíveis (exemplos não faltam ed eu já tive a oportunidade de comprovar esse fato pessoalmente).

Outra providência que não surte qualquer efeito é a de programar a exibição desses filmes que fazem a apologia da violência (quase todos, em graus variáveis, exibidos na TV), que nada de útil têm a ensinar a quem quer que seja, para horários em plena madrugada. Isto também não funciona. Atitude como esta só consegue mesmo é quebrar, ainda mais, a já restrita disciplina familiar, fazendo com que as crianças durmam bem mais tarde do que fazem habitualmente, pois as freqüentes "chamadas" para esse tipo de programa, feitas pelas emissoras, despertam a curiosidade da meninada.

Eu tive a felicidade (rara) de assistir, em 1950, ao primeiro programa de televisão apresentado no Brasil, aquele que inaugurou o antigo (e de saudosa memória) Canal 3 (depois Canal 4), TV Tupi de São Paulo. Desde essa época, acompanho atentamente a evolução desse importantíssimo meio de comunicação, não apenas por motivos profissionais, mas por prazer. Em várias oportunidades envolvi-me em polêmicas para defender determinados programas ou programações inteiras de algum canal, quando julguei que eram alvos de críticas injustificadas.

Por isso, sinto-me bem à vontade para criticar o que entendo ser nocivo, deprimente, pernicioso e de qualidade, no mínimo, duvidosa. E a carga de "subcultura" lançada diariamente, sem nenhuma cerimônia ou consideração, pelas emissoras de TV, em nossas casas é tão grande, que merece não apenas críticas ou reparos, mas o ostracismo por parte do telespectador.

(Comentário publicado na página 17, editoria de Artes, do Correio Popular, em 27 de janeiro de 1984).

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Seres meteorológicos

Pedro J. Bondaczuk

O clima afeta diretamente cada um de nós e agimos e pensamos de maneiras diferentes no verão, outono, inverno e primavera. Somos, antes de tudo, seres meteorológicos. Escrevi a respeito em uma crônica já bem antiga, em que apresento argumentos que julgo serem sólidos para comprovar essa tese que, aliás, nem é minha, tanto meus, quanto de outros especialistas. Desconheço quem foi que levantou o tema pela primeira vez. E isso importa? Muda o rumo das coisas? Claro que não!
Simplesmente li essa constatação em algum lugar, raciocinei a respeito e concluí que faz sentido. Como? Simples, tomando a mim mesmo como parâmetro. Analisando sentimentos e reações meus em cada estação do ano. Auscultando as sensações táteis face a dias de intenso frio ou de escaldante calor, extremos que, por mais que tentemos minimizar, produzem efeitos peculiares em nosso corpo e, por conseqüência, na mente.
Sempre gostei do verão (nasci nele afinal), mas não dos tão calorentos quanto o atual. E nem tão chuvosos. Os dias de chuva, que caracterizam, notadamente, o mês de janeiro, deixam-me deprimido e triste. Gosto do sol, mas não quando causa tamanho calor que dificulta até a respiração. A depressão aumenta, evidentemente, face às notícias das tragédias causadas pelos temporais deste período, notadamente das que vêm ocorrendo na zona serrana do Rio de Janeiro, onde aconteceu o maior desastre climático da história do Brasil.
A tendência, diante do ocorrido, é a de procurar culpados, acusando autoridades por não haverem adotado medidas de cautela e até as vítimas, insinuando, nas entrelinhas, que elas seriam suicidas em potencial. De quem a culpa? De todos e de ninguém. No frigir dos ovos, é da humanidade, que desde o século XVIII, do início da tal “Revolução Industrial”, vem depredando, e depredando e depredando o Planeta, agindo como se, ao destruir este nosso frágil domo cósmico, tivéssemos outro, novinho em folha, à nossa espera, para nos abrigar. Obviamente, não temos.
Os estudiosos do clima, com base em estudos meticulosos, concluíram que 2010 foi o ano mais quente da história recente do Planeta. Isso diz alguma coisa? Aos alienados, aos burros e aos mesquinhos que reduzem tudo a cifrões sem pensar nas conseqüências, não diz absolutamente nada. Mas aos que têm mais do que dois neurônios funcionando, diz, e muito. Diz que é preciso mudar o atual estilo de vida caso desejemos garantir a sobrevivência da espécie. Que temos que atentar para a superpopulação e fazer alguma coisa para detê-la.
Isso seria lutar contra os instintos, notadamente o básico, de reprodução da espécie? Em parte sim. Mas com inteligência e autocontrole, é possível limitar a natalidade, sem, contudo, impedir a reprodução, ou seja, sem acabar com ela. Afinal de contas, raios, para quê nos serve nossa propalada inteligência, a tal da razão, se não para solucionar problemas como este?!
Meu poeta predileto, o saudoso amigo Mauro Sampaio, compôs excelente poema em que destaca de quem seria a culpa do atual desequilíbrio climático, causador de tragédias como a da zona serrana do Rio de Janeiro ou como as enchentes que assolam a Austrália. Seu título? “O homem”, e diz: “Quando toda a terra, de todos os continentes/for uma terra só, desolada e triste,/nessa tristeza e desolação única/estará estampada a certeza/de que por ela passou o homem!”. E já estamos quase chegando lá, infelizmente.
Voltando ao tema da influência do clima sobre nosso humor e raciocínio (pelo menos sobre o meu), fiz breve (mas meticulosa) análise sobre meus arquivos de textos literários e pude constatar que minha produção, em todos os anos, baixa sensivelmente, tanto em quantidade quanto em qualidade, no verão e, sobretudo, no inverno. Em contrapartida, cresce exponencialmente na primavera para “explodir”, em todos os aspectos, no outono. E esta é a estação mais amena, quase a ideal, pelo menos na região em que moro, ou seja, na desta metrópole interiorana que é Campinas. Seria apenas coincidência? Não creio!
Neste verão causticante e chuvoso, com tantas notícias ruins (e todos os anos é a mesma coisa, variando, apenas, em intensidade e no número de mortos e desabrigados), sou levado a fazer um esforço mental imenso para redigir um reles texto, como este. E, mesmo exibindo-o publicamente, neste oceano de informações que é a internet, desconfio se tratar de considerações pífias, cheias de falhas e contradições, que não condizem com o prestígio que conquistei. É nesta época que minha autoconfiança se evapora e resta a angústia de não escrever como gostaria e como sei fazer. Vários colegas já me confessaram que, nesta época, se sentem assim também. Muitos, é verdade, negaram que haja essa influência climática em sua produção. Pudera! Não produzem nada! Se escreveram dez textos em suas vidas foi muito. Enfim...

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Wednesday, May 25, 2011










A palavra “orgulho” tem duas conotações antagônicas: uma positiva e outra negativa. No primeiro caso, caracteriza apreciação por alguém ou por alguma coisa que tenhamos feito bem. Por exemplo: “tenho orgulho dos livros que escrevi, dos meus amigos, da minha família e do meu país”. Não vai, nessa expressão, como se vê, nenhum menosprezo a quem quer que seja. Mas há, também, um significado negativo da palavra. É o que caracteriza o ato de manifestar soberba, empáfia e menosprezo pelos outros. Pessoas que agem assim arrotam “superioridade”, que de fato não têm. O povo cunhou uma expressão para quem tem essa atitude: “metido”. Alexandre Herculano, no romance “Eurico, o presbítero”, desabafa, em relação a essa postura que alguns exibem por aí: “Orgulho humano, qual és tu mais – feroz, estúpido ou ridículo?”. Creio que seja tudo isso, somado, e simultaneamente. Tenhamos, pois, “orgulho”, mas apenas de não sermos tolos assim.

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