Friday, February 02, 2007

Voz da experiência


Pedro J. Bondaczuk


O professor Sólon Borges dos Reis é uma personalidade que muito prezo e admiro, pelo seu dinamismo, pelo espírito cívico que sempre demonstrou e, sobretudo, pela sabedoria dos simples de que é dotado, virtudes que há anos vem colocando a serviço do magistério e da categoria profissional que representa: a dos abnegados "apóstolos" da educação.

Conheço-o, de nome, há mais de 40 anos, quando era ainda jovem estudante, com a cabeça cheia de planos e com a alma "intoxicada" de ideais. Hoje, confesso, continuo idealista, mas tenho, infelizmente, os pés mais plantados ao chão. Perdi a ousadia dos moços, embora tenha ganhado em experiência. Um pouco daquela chama da juventude arrefeceu, é verdade, mas graças a Deus não se extinguiu. Não se extinguirá jamais!

Acompanho, nessas quatro décadas, as memoráveis campanhas do professor Sólon pela valorização do magistério e, principalmente, das abnegadas pessoas que nele militam. Mas só vim a conhecê-lo, pessoalmente, há pouco mais de cinco anos, na redação do Correio Popular, apresentado pela minha amiga e cronista desse jornal, Célia Siqueira Farjallat.

Na oportunidade, o querido mestre ofertou-me, gentilmente, um dos seus inspirados livros de poesia, "Carrossel", que "devorei" sofregamente. Deliciei-me com seus versos mágicos e líricos e com os temas, sempre oportunos, que abordou. Foi nessa ocasião que descobri sua vinculação com Campinas, onde residiu, mais especificamente na Rua Luzitana, fato perpetuado em memorável poema de sua autoria.

Mesmo sem manter novos contatos, continuei acompanhando sua bem sucedida trajetória na vida pública, revestida de competência, de idealismo e de profundo senso ético. Sólon Borges dos Reis, para quem não sabe, foi várias vezes deputado, tanto estadual quanto federal, representando, e bem, o professorado paulista.

Culminou sua carreira política na função de vice-prefeito de São Paulo, a terceira maior cidade do mundo, na recente administração de Paulo Maluf. Quando pensei que nunca mais manteria contato pessoal com o nobre professor (dada a minha humilde posição profissional), eis que, para a minha surpresa e enorme privilégio, recebi, por estes dias, uma amável correspondência dele.

Você nem imagina, mestre, a satisfação e o orgulho que me deu com a gentil lembrança! Ao abrir, afobado e emocionado como um menino que ganhasse o seu primeiro presente de aniversário, o envelope, dei de cara com uma série de pensamentos de sua lavra, que intitulou "Pontos de Vista". São verdadeiras pérolas para reflexão, a quem, como eu, é dado a esse régio exercício.

Sua memória é simplesmente fenomenal! Conversamos, há cinco anos, não mais do que quinze minutos e Sólon lembrou, tanto tempo depois, da minha mania por citações. É muita gentileza, mestre!

Tivesse esta coluna maior espaço, e eu reproduziria todas essas lições de vida e de sabedoria com que o professor me brindou, com tamanha generosidade. Algumas, todavia, não resisto à tentação de reproduzir. São curtas, simples, diretas e sumamente verdadeiras.

Como esta: "Torcer é uma forma leiga de rezar". Ou esta: "Parece-me mais justo sermos mais tolerantes com o próximo e mais exigentes conosco mesmo". Ou esta: "Só o afetivo é efetivo". Ou esta outra: "A convivência faz parte da natureza humana. Se, por uma hipotética catástrofe, só você sobrevivesse, conseguiria suportar a solidão?". Claro que não, mestre!

Aliás, é exatamente graças a essa necessidade vital de convívio, que tive a grata satisfação de receber sua amável correspondência e que, espero, não se limite a uma única carta. Conto trocarmos, amiúde, impressões sobre temas que a ambos empolgam, como educação, solidariedade, justiça social, responsabilidade, honestidade, tolerância, calor humano, arte, cultura, poesia, etc.

Claro que neste apelo vai muito de egoísmo da minha parte. Provavelmente, o único beneficiado, nesses nossos possíveis futuros contatos, serei eu, que só tenho a aprender com um homem do seu valor, culto, preparado, inteligente, respaldado por uma sólida obra ao longo de mais de meio século de magistério e outro tanto na vida pública e que, como todo sábio, é, além de tudo, humilde.

Sua trajetória de vida, seus livros (tenho dois, de poesias) e sua postura digna e humana, fazem-me lembrar esta citação do dramaturgo Berthold Brecht ( não me recordo em qual de suas peças): "Há homens que lutam um dia e são bons. Há homens que lutam um ano e são muito bons. Há homens que lutam muitos anos e são melhores. Mas há os que lutam toda a vida: esses são imprescindíveis". É o seu caso, sem dúvida, querido professor Sólon Borges dos Reis.

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